A vida de Pierre Verger faz lembrar os mitos dos heróis, as histórias dos peregrinos, eremitas,
xamãs, santos, pessoas que abandonam o lugar de origem e o ambiente familiar para empreenderem uma
jornada pelo desconhecido, rumo ao totalmente oposto ou diferente. Sendo branco e europeu, Verger viveu
entre negros da África e do Brasil, após conhecer boa parte dos cinco continentes. Nascido em Paris, numa
família burguesa, optou por morar de forma despojada em espaços como o modesto sobradinho do morro do Corrupio em Salvador, cidade brasileira pela qual trocou a então “capital cultural” do mundo. Educado
segundo a racionalidade cartesiana, envolveu-se profundamente com a espiritualidade do candomblé,
religião de possessão e sacrifício ritual. Tendo abandonado o curso secundário, tornou-se doutor em
Etnologia pela Sorbonne.
As escolhas que fizeram da vida de Verger uma espécie de odisséia em busca da liberdade de ser -
na qual o herói mítico enfrenta desafios propostos por si mesmo ou pelas circunstâncias – não foram,
entretanto, segundo suas palavras, resultados de objetivos conscientemente perseguidos. De qualquer
modo, as histórias quando contadas a posteriori, seja em primeira ou terceira pessoa, permitem ao narrador
sublinhar momentos, rearranjar fatos e motivações e especular a respeito das inúmeras possibilidades
oferecidas pelo passado, observando, com os olhos de hoje, o ser de ontem.
Na história de Pierre Verger, os fios narrativos se multiplicam, pois sua vida foi marcada por
constantes rupturas e acontecimentos inesperados, deslocamentos de cenário e coincidências curiosas. Como
nas várias versões de um mito, as diferentes faces de sua vida – a de estudante indisciplinado, dândi
parisiense, viajante solitário, fotógrafo, babalaô, “mensageiro entre dois mundos”, etnólogo e historiador,
entre outras - parecem expressar o leitmotiv do “renascimento” contínuo. Significativamente, esse leitmotiv
é a tônica da religião na qual Verger encontrou seu porto seguro: o candomblé. Nesta religião, o
“renascimento” espiritual do indivíduo acontece através da passagem por inúmeras etapas, das as quais a
DO AFRO AO BRASILEIRO: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E CULTURA NACIONAL - UMA ABORDAGEM EM HIPERMÍDIA, Saída de Iaô1 é exemplar. Por esta razão, optamos por apresentar a trajetória de vida de Pierre Verger por meio da alusão aos diferentes momentos deste ritual iniciático, homenageando-o, assim, com o reconhecimento de que sua vida e importância neste mundo religioso, e deste em sua vida, não se separam.
jornada pelo desconhecido, rumo ao totalmente oposto ou diferente. Sendo branco e europeu, Verger viveu
entre negros da África e do Brasil, após conhecer boa parte dos cinco continentes. Nascido em Paris, numa
família burguesa, optou por morar de forma despojada em espaços como o modesto sobradinho do morro do Corrupio em Salvador, cidade brasileira pela qual trocou a então “capital cultural” do mundo. Educado
segundo a racionalidade cartesiana, envolveu-se profundamente com a espiritualidade do candomblé,
religião de possessão e sacrifício ritual. Tendo abandonado o curso secundário, tornou-se doutor em
Etnologia pela Sorbonne.
As escolhas que fizeram da vida de Verger uma espécie de odisséia em busca da liberdade de ser -
na qual o herói mítico enfrenta desafios propostos por si mesmo ou pelas circunstâncias – não foram,
entretanto, segundo suas palavras, resultados de objetivos conscientemente perseguidos. De qualquer
modo, as histórias quando contadas a posteriori, seja em primeira ou terceira pessoa, permitem ao narrador
sublinhar momentos, rearranjar fatos e motivações e especular a respeito das inúmeras possibilidades
oferecidas pelo passado, observando, com os olhos de hoje, o ser de ontem.
Na história de Pierre Verger, os fios narrativos se multiplicam, pois sua vida foi marcada por
constantes rupturas e acontecimentos inesperados, deslocamentos de cenário e coincidências curiosas. Como
nas várias versões de um mito, as diferentes faces de sua vida – a de estudante indisciplinado, dândi
parisiense, viajante solitário, fotógrafo, babalaô, “mensageiro entre dois mundos”, etnólogo e historiador,
entre outras - parecem expressar o leitmotiv do “renascimento” contínuo. Significativamente, esse leitmotiv
é a tônica da religião na qual Verger encontrou seu porto seguro: o candomblé. Nesta religião, o
“renascimento” espiritual do indivíduo acontece através da passagem por inúmeras etapas, das as quais a
DO AFRO AO BRASILEIRO: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E CULTURA NACIONAL - UMA ABORDAGEM EM HIPERMÍDIA, Saída de Iaô1 é exemplar. Por esta razão, optamos por apresentar a trajetória de vida de Pierre Verger por meio da alusão aos diferentes momentos deste ritual iniciático, homenageando-o, assim, com o reconhecimento de que sua vida e importância neste mundo religioso, e deste em sua vida, não se separam.
Por: Rita Amaral & Vagner Gonçalves da Silva
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