Introdução
Os deuses africanos vieram para esse continente
através dos negros escravos, que
aqui chegando estabeleceram uma grande legião de
seguidores, da cultura e
religião Afro. A internet por ser um veículo de
grande penetração e informação,
tem ajudado a divulgar e esclarecer os verdadeiros
objetivos e dogmas do
Candomblé, até então mal compreendidos e
interpretados. Com isso, novos adeptos
de todas as camadas sociais vem sendo atraídos a
esse maravilhoso mundo dos
deuses africanos. O Candomblé é uma religião
brasileira, oficialmente
reconhecida, que presta culto aos deuses que nos
legaram os africanos que para
aqui vieram no séc. XVI. É o termo genérico que
define o coletivo de nações
(tribos) africanas, no Brasil. Em nosso país, essas
nações foram denominadas
como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá, etc.
Apesar de ser divididos em
diversas nações, o Candomblé mantém uma unidade no
âmago de sua
originalidade, que acredito ser da época
pré-histórica. A finalidade dessa home
page é dar uma parcela de contribuição para o
melhor conhecimento da cultura dos
povos africanos que deram origem ao culto dos
Voduns no Brasil, colocando para
os leitores e pesquisadores o resultados das minhas
pesquisas investigativas para
achar minhas raízes, histórias e tradições no
Brasil e na África. Graças a Deus e
aos deuses, tive oportunidade de entrar em contato
com algumas pessoas do Benin
e EUA que se tornaram meus amigos e têm me ajudado
muito nesse trabalho
enviando-me material de pesquisas e respondendo as
minhas indagações. Também
no Brasil, encontrei pessoas de conhecimento e boa
vontade, que deram sua
contribuição. Penso que é chegada à hora do povo
Jeje se unir e começar a
SOMAR. A divisão quase extinguiu nossa nação. Vamos
aprender juntos a
lindíssima cultura dos Voduns.
Agradeço a todos que de alguma forma me forneceram
subsídios para que essa
home page se tornasse uma realidade. Peço que me
auxiliem enviando suas críticas
e sugestões através de um e-mail ou assinando meu
bookmark.
Yatemi Jurema de Yansã
O Jeje na África
A história do desenvolvimento do império crescente
do Dahomey é indispensável
para compreendermos os Voduns, precisamente a
quebra e a migração do
Ewe/Fon. Alguns estudiosos da cultura africana
achavam que todos os Voduns
cultuados em Dahomey eram deuses originários dos
yorubanos. Um equívoco!
Trata-se simplesmente de uma troca de atributos
culturais de cada região. Em todas
as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam
ancestrais ou vindos de outras
regiões, mas preferencialmente cada região cultua
seus próprios deuses, os
ancestrais. Os deuses estrangeiros podem ser
aceitos inteiramente nos santuários
dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como
estrangeiros. O mesmo
tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns
originários de outras regiões.
Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o principal
reino da história do atual Benin.
Seu poderio militar formado por bravos guerreiros e
amazonas era temido por
todos os reinos vizinhos que foram sendo
conquistados. O exército do rei era
dividido em duas partes: o regimento permanente e o
regimento das coletas tribais
(prisioneiro). Esses prisioneiros eram treinados
para serem guerreiros do rei e as
mulheres, em especial, eram enviadas ao regimento
das amazonas onde aprendiam
a lutar. Os prisioneiros que se negavam a aderir as
causas do rei eram
sumariamente executados ou vendidos como escravos.
Os chefes das tribos
conquistadas ficavam reservados para serem
executados durante o festival anual de
ancestrais, em memória dos reis mortos. Suas
cabeças eram decapitadas e seu
sangue oferecido aos falecidos reis. Essa pratica
aconteceu do séc. XVI até o séc.
XVII. O reino de Dahomey foi o maior exportador de
escravos para o nome
mundo. Adja-Tado foi quem começou esse grande
império de Dahomey. Primeiro
conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei,
casou e teve 3 filhos. Quando seus
filhos já eram guerreiros, Adja-Tado foi a Allada
junto com eles e estabeleceu o
reino de Allada. Seus filhos se dividiram e
estabeleceram reinos separados e
tornaram-se reis. O primogênito Zozergbe foi rei de
Porto Novo, o segundo filho
foi sucessor de Adja-Tado no trono de Allada e o
terceiro filho, Aklim fundou o
que mais tarde seria o principal reino da região.
Aklin foi para Ghana e Bahicon
(agora Benin, sul-central), com seu exército, e
estabeleceu uma outra dinastia, a
cidade de Abomey, que foi a capital do império
militar, conhecida como Dahomey.
Dahomey foi governada por um total de treze reis
divinizados, por quase dois
séculos. Agassu, que era um dos líderes do império,
dizia ser filho de um leopardo
com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela teria sido
encantada por esse leopardo
originando o nascimento de Agassou. Agassou teve
três filhos e deu início a uma
linhagem de homens leopardo.
Jeje Brasil
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que
significa estrangeiro, forasteiro
e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa
como “inimigo”, por parte dos
povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu
exército. Quando os
conquistadores eram avistados pelos nativos de uma
aldeia, muitos gritavam dando
o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os
jejes estão chegando!). Quando
os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como
escravos, aqueles que já
estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou
okan, djedje hum wa!”; e
assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil
“nação Jeje”. Dentre os
daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina
Pessoa, natural da cidade
Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para
fundar três templos na Bahia. Ela
fundou: um templo para Dan; “Ceja Hundê”, mais
conhecido como o “terreiro do
Ventura” ou “Axé Pó Zehen” (pó zerrêm) em Cachoeira
de São Felix; um templo
para Hevioso “Zoogodo Bogun Male Hundô” em Salvador
e um templo para
Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado.
Esse é o segmento jeje-mahi do
povo Fon. O templo de Ajunsun/Sakpata foi fundado
mais tarde pela africana
Gaiacu Satu, em Cachoeira de São Felix e recebeu o
nome de Axé Pó Egi, mais
conhecido por Corcunda de Ayá. São os Jejes Savalu
ou Savaluno. Sakpata era rei
da cidade Savalu/África, segundo alguns
historiadores, Sakpata foi o único rei que
preferiu o exílio a se render aos conquistadores de
Dahomey. O dialeto dos savalus
também é o Fon. No Maranhão encontramos a Casa das
Minas fundada por Maria
Jesuína, segundo informação de Sergio Ferreti.
Creio que esta casa dispensa
comentários, pois é com certeza a mais conhecida
casa de jeje do Brasil. Esse é o
segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashanti
fundada por Euclides
Menezes Ferreira. Esse é o segmento
jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de
Ghana.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku
Rosena, natural de Allada, o
“Terreiro do Pó Dabá” no bairro da Saúde, que foi
herdado por sua filha Adelaide
do Espírito Santo, mais conhecida como Mejitó que
transferiu a casa de santo para
o bairro Coelho da Rocha. Depois veio Antonio.Pinto
de Oliveira. “Tata
Fomutinho” que fundou o Ceja Nassó, no bairro de
Santo Cristo, depois mudou-se
para Madureira na Estrada do Portela, depois para
São João de Meriti onde
finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem os
mais velhos, que Mejitó,
ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida
de santo aqui no Rio de
Janeiro. Tata Fomutinho deixou uma legião de
filhos, netos e bisnetos. Dentre
esses, meu pai Jorge de Yemanja que fundou o Kwe
Ceja Tessi, Pai Zezinho da
Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora
dos Navegantes, Tia Belinha
que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô que
é aquele tio que está
sempre disposto a nos atender e nos ajudar com suas
memórias e conhecimentos.
Vodum
Vodou – Vodoun – Vodum – Voodoo – Voudun – Vodu –
Vudu – Hoodoo - etc.
A palavra vodou é de origem Ewe/Fon e significa
força divina, espírito, força
espiritual. É usada pelo povo do oeste da África
para designar os deuses e
ancestrais divinizados. No século XVIII o rei Agajá
consolidou as crenças de
vários clãs e aldeias, formando um “sistema
espiritual dos Voduns”. Isso gerou
uma enorme variação do termo, devido a quantidade
de dialetos usados por esses
clãs e aldeias, que somado a influência francesa,
passaram a falar como entendiam.
Essa diversificação fonética dá-se também por conta
dos idiomas de pesquisadores
que “invadiram” a África, em busca de conhecimento
sobre o Vodou. No Brasil,
por exemplo, usamos o fonema Vodum. A palavra
Hoodoo não é uma variante de
Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana similar as
que existem no Benin
(Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde
pessoas são preparadas para
ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando
elementos da flora, da fauna e do
mineral. Como sou brasileira usarei daqui por
diante o termo “Vodum”. Quando
foi estabelecido o grande reino de Dahomey, lá não existia
o culto de Voduns.
Nessa época, o atual rei sentia a necessidade de
uma assistência espiritual que o
ajudasse a combater os problemas que o atormentava.
Mandou chamar um bokono
(adivinho) e pediu que esse consultasse os
oráculos. A conselho dos oráculos
mandou vir de diversas regiões os Voduns e
construiu seus templos. Com isso
Dahomey passou a sitiar diversos clãs e aldeias de
Voduns. Anos mais tarde, o rei
Agajá fez a consolidação, como já foi dito. No
período da escravidão, muitos
daomeanos foram levados para o novo mundo e com
eles a cultura e o culto dos
Voduns. Os Voduns cultuados no Brasil são
originário da África, sua práticas e
tradições se mantiveram intacta como era no Dahomey
(atual Benin) desde o
começo dos tempos. A nação Jeje sofreu por alguns
anos uma queda em seus
cultos, devido a falta de informações. Os mais
antigos preferiram levar para o
túmulo seus conhecimentos a passá-los aos que
poderiam perpetuar os Voduns no
Brasil. Dos filhos de Jeje que ficaram perdidos,
sem conhecimento sobre Voduns,
uns mudaram de nação e outros resolveram
investigar, buscar, pesquisar suas
origens e levantar a bandeira da nação. Hoje,
graças a essas pessoas, a nação Jeje
voltou a crescer e a seguir a cultura que foi
deixada pelos escravos. Hoje,
encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o
Culto dos Voduns, esses
aprenderam na “própria carne” a passar seus
conhecimentos e não deixar que nossa
nação venha a sofrer novos abalos ou quedas. Com a
proliferação de estudos e
pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais velhos
que ainda estão vivos
resolveram colaborar e nos passar alguns
conhecimentos. A primeira coisa que os
adeptos do Jeje devem aprender é a diferença entre
Voduns e Orixás, (esse assunto
vocês encontram no tópico Jeje África). Vodum é
Vodum, Orixá é Orixá; Oya não
é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja,
etc. Assim como na África,
também fazemos Orixás dentro dos templos de Vodum,
mas isso não os transforma
em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros,
aceitos em nossos templos.
Esses Orixás são tão respeitados e venerados quanto
os Voduns. Não existe
discriminação nenhuma em relação aos dois deuses
(Voduns/Orixás). Em templos
de Orixás, também encontramos Voduns feitos, a
única diferença é que no Jeje,
não mudamos os nomes dos Orixás. Para nós Oya,
Yansã são conhecida
exatamente como Oya, Yansã. Já os Voduns em templos
de Orixás mudam de
nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome
de Oxumarê, Sakpata
recebe o nome de Omolu, etc. Esse diferença também
é registrada na Nigéria,
então, não é “coisa de brasileiro”. Falar sobre os
Voduns é uma tarefa de muita
responsabilidade. No meu caso é o resultado de 30
anos vividos dentro do culto,
somado as minhas pesquisas e estudos. Os Voduns são
agrupados por famílias;
Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se
subdividem em linhagens. A
sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto
é, dá-se por linha paterna; o
homem é casado com diversas mulheres. A sociedade
organiza-se em sibs, grupos
de irmãos que têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem
base territorial própria e
subdividem-se em famílias. No Brasil, as casas de
santo cultuam todas as famílias,
porém, os Voduns são interligados entre si com
comportamentos, costumes, gostos
e atitudes sempre gerados pelo ancestre ou chefe de
da casa. Em minhas pesquisas
encontrei mais de 450 Voduns; alguns cultuados no
Brasil outros não. Acredito que
com esse resgate poderemos ampliar nossos cultos e
voltar a reverenciar Voduns,
que tinham desaparecido devido a falta de
informações, assim como admitir em
nossos templos esses Voduns encontrados. O Brasil
herdou vastos panteões de
divindades que ficaram regionalizados de maneira
que somente alguns Voduns
tiveram domínio nacional A cultura dos Voduns é
belíssima; penso que todos nós,
filhos da nação Jeje, devemos procurar aprender
cada dia mais. Afirmo que, os
maiores fundamentos de Voduns estão embutidos nessa
cultura. Comprovem!...
DAN YEWA FA
TOGUN TOHOSSOU NOHÊ
AIKUNGUMAN
TOBOSSI SAKPATA VODUNS DA
RIQUEZA
HEVIOSO AVEJI DA NANÃ
NAES DAS AGUAS
OCEANICAS
NAES DAS AGUAS
DOCES EKU E AVUN
VODUM DAN/BESSEN
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje
os maiores deuses.
Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem
refletida nas águas oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o
espírito de Vodum Dan.
Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A
coroa de Dan é chamada de
Coroa de Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode
ser um Vodum feminino,
porém para tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos
que cuidar sempre do casal. Como
dizem os antigos "cobra não anda sozinha, seu
parceiro esta sempre por perto".
Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) – A
"Cobra–Mãe". Essa
Vodum não pode ser feita em mais de duas pessoas
num mesmo país. Os velhos
vodunos contam que ela é originária da Palestina.
Em uma outra versão,
encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher
de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na
África encontramos muito
mais que isso. Essa família é muito grande.
Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos,
muito orgulhoso e teimoso.
Quando tratado corretamente, dá tudo aos seus
filhos e a casa de santo, mas se
tratado de maneira errada ou se for esquecido
castiga severamente. Vodum Dan é
muito fiel a casa e a mãe/pai de santo que o fez.
Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente
pithon, o traken ou draka,
patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm).
Seu principal atinsa (atinsá) dentro
de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é
onde o arco-íris se encontra
com a terra ("panela lendária do
tesouro!"). Dan usa muitos brajás feitos de búzios.
As aighy (aigri), são importantissimas em seus
assetamentos e atinsas.
Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da
vidência, é ele junto com
Vodum Fa, quem dá aos bakonos o poder do oráculo,
assim como deu a Yewa e a
Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e
quando eles se agitam
provocam catástrofes como os terremotos. Eles fazem
parte da criação do mundo,
pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa.
Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos
Voduns Dan.
Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos
para que esse Vodum venha
sempre em forma humana e nunca em forma de
serpente, pois entendemos que na
forma humana ele é menos perigoso e entende melhor
os homens, podendo assim
atender suas necessidades e suprí-las. Na forma de
serpente torna-se muito
perigoso.
De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a
doenças, principalmente de
olhos. São pessoas vaidosas, ambiciosas,
"perigosas", espertas e inteligentes. São
muito dedicados ao santo e dificilmente saem da
casa onde foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam
cores verde bem clarinho,
prateado, ou tecido liso com o arco-íris estampado.
Seus fios de conta variam de
acordo com cada Vodum, não existe um modelo padrão.
Sua louvação principal é: A Hho bo boy =
"Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy
= Dans, serpentes, cobras).
Abaixo citarei alguns Voduns Dans.
Aido Wedo - (encontramos várias formas de escrever
o nome dele) - Deus do
Arco-íris
Dambala - esposa de Aido-Wedo, seu reflexo nas
águas.
Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como
Oxalá. Conhecida no
Brasil como Dan Inkó.
Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte
branca do arco-íris e
reina no arco-íris da lua, também junto com Yewa.
Frekwen - feminina, guardiã do arco-íris em volta
do sol. Também
conhecida como Frekenda.
Bosalabe - toqüeno, feminina, irmã gêmea de Bosuko,
irmã de Yewa. Muito
alegre e faceira, mora nas águas doce. Muito
confundida com
Oxum. também conhecida como Vodum Bosa (bôssá).
Ijykun - feminina, mora nas enseadas. Muito
confundida com Yewa.
Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa
Akotokwen - masculino, considerado o pai de muitos
Dans.
Afronotoy - masculino, mora no rio.
Vocabulário
traken ou draka - ferramenta pequena que Dan tras
nas mãos
dahun - conjunto de 3 tambores brancos paramentados
com rafia
lilás
takara - arma que Dan tras nas mãos, parecendo um
pequena espada,
com feitio próprio.
ason (assôm) - chocalho feito com uma cabaça e com
as vertebras de cobra
aigry (aigri) - pedras que representam o excremento
de Dan e são deixadas
por ele no chão, à sua passagem; dizem que elas
valem peso
de ouro. Um mito nos conta que os excrementos de
Dan
transformam os grãos de milho em búzios.
1 - Dan no Benin - Ouidah
O culto de Dangbé conheceu seu apogeu em Ouidah,
onde está seu templo até os
dias de hoje. Os Dadas, seus adeptos, anualmente,
faziam sacrifícios de bois,
cabritos e frangos para a python. Atualmente,
devido à escassez de animais para
sacrifício, os adeptos arriscam-se caçando roedores
Logo que um não adepto descobre uma Dangbé em sua
casa, previne o sacerdote
Dangbénon ou a uma pessoa que conheça os costumes
deste réptil. Eles pegam a
cobra como um fetiche em sua mãos ou ao redor do
pescoço e levam-na, silencioso
e concentrado, até o templo. Eles acreditam que a
picada da python traz imunidade
contra qualquer veneno
Dan é, freqüentemente, representado por uma
serprente (python) ou um arco-íris.
A primeira vista, alguns historiadores comentam
tratar-se de ofiolatria. Mas a
serpente de que se trata aqui é um espírito que
habita o espaço e cujo deslocação
determina os ciclones. Dan apreende-se do princípio
vital do qual depende os seres
humanos para manterem-se vivos e a terra em
equilíbrio.
Para escapar de Dan, basta friccionar o corpo com
boldos de cebola ou xingá-lo
com palavras bem grosseiras. Ainda sob a forma
humana, Dan pode entrar em
casas. Os que o acolhem são recompensados com
tesouros mas, quem o afasta, é
amaldiçoado.
Dan é muito guloso, grande apreciador de bananas e
óleo de palma. Recebe estas
oferendas na frente de um pequeno par de
assentamentos que representam Dan
macho e Dan fêmea
-
Sua morada é o firmamento, onde se encontra sob a
forma de arco-íris (Aido
Wedo). Não se mostra nunca sem sua fêmea. Conta-se
que há dois arco-íris,
mesmo que só consigamos ver um, e que antes de sua
ascensão, teria vivido 41
anos no nosso mundo.
A configuração dos países, o lugar das cidades, os
acidentes geográficos (montes,
vales), são os vestígios de sua estada prévia em
nosso mundo e o arco-íris,
vestígios de sua estada remota.
Os homens (sobretudo os caçadores) que Dan quer
enriquecer, conduzem-no por
uma força invisível ao local onde é chamado o rabo
do arco-íris e são induzidos a
tocarem na terra. Os homens têm como efeito desta
força invisível, um desejo de
fazerem uma profunda escavação no que acham ouro,
pérolas, toda sorte de
tesouros.
Dan protege nomeadamente o Danson, o Dansi e o
Dannou. A pessoa consagrada
ao Dangbé é um Dangbési.
2 - A Floresta Sagrada
A floresta foi consagrada pelo rei Kpassé, Ouidah,
onde fizeram um círculo
mágico, silencioso, transparente ao ar. Os grandes
deuses fixam seus duros olhos.
Heviosso, Dan, Sakpata. E também os Voduns reais
como Dâguessou, protetor do
rei Ghézo, com seus poderes contidos em pequenas
cabaças, fetiches em forma de
bracelete.
À entrada, o grande Legba figura numa expressão
profana sob os irokos
centenários, Tokougagba conta com os irmãos e todo
o panteão dos Voduns.
E toda a rota dos escravos é demarcada por
esculturas de pedra, limite de uma
memória fascinante e triste.
Meus comentários: (Yatemi Jurema de Yansã)
Alguns segmentos Jeje no Brasil, não concordam que
se deva tratar do casal de
Dans. Outros usam esse procedimento somente para
alguns Dans.
Pelo que aprendi e pelo que lemos sobre o culto de
Dan no Benin, podemos
constatar que o correto é tratar do casal
realmente.
Vodum Dan (Haiti) O Haiti pertenceu ao índios de
Taino, antes do encontro com
Columbus. Muito da cultura (filosofia e prática) do
povo Taino, foram absorvidos,
mas tarde, à Vodou, como mostra o retrato místico
do panteão da serpente,
realizado como um deus Afro-Taino. Para os
haitianos, Danbala, a divina serpente
patriarcal, é um espírito antigo da água associado
com a chuva, a sabedoria e a
fertilidade. Aprece entrelaçado, geralmente, com
sua esposa Ayida Wedo, o arcoíris.
Danbala é sincretizada com St. Patrick (quem
dominou as serpentes), outras
vezes com Moisés, o patriarca dos dez mandamentos
cristão. Em muitos templos,
uma bacia com água é permanentemente mantida para
este Lwa. Muitas
representações desta divindade incluem o principal
alimento sacrificial de Danbala
- um ovo. As bonecas de Voodoo Um objeto simpático,
foram usadas em muitas
culturas, desde os primórdios tempos. O homem
pré-histórico foi conhecido
criando bonecas que representavam sua caça, para
enfraquecê-las antes de saírem
para caça-las. Os reis e antigos guerreiros também
usavam a "força" destas bonecas
antes de irem ao encontro de seus inimigos, nas
grandes batalhas. Hoje, os
praticantes de Voodoo e as bruxas utilizam este
objeto mágico e obtêm resultados
rápidos e eficazes para uma variedade de
finalidades. Entretanto, as bonecas
Voodoo não possuem nenhuma mágica, elas são usadas
como uma ferramenta para
canalizar energias pessoais para um objetivo
específico. Danbala O espírito de
Danbala é a serpente e o arco-íris, uma força de
vida. Aido Hwedo, um macho, é
descrito às vezes, como uma criatura, serpente e
arco-íris, que engole sua própria
cauda. No Haiti, onde os ritos ancestrais e os
cultos público se fundiram, Danbala
Hwedo e seu marido se fundiram e foram consagrados
um deus superior na
hierarquia espiritual. Transformou-se no mais velho
e respeitado de todos os Lwas.
Juntos, formam o grande arco-íris que cobre o
oceano. Alternadamente, o arco-íris
e seu reflexo na água, que fazem o movimento de
giro em um círculo. Alguns
dizem que Danbala tem um pé firmado no fim do
arco-íris, na umidade da água, e
o outro pé plantado firmemente nas montanhas do
Haiti. Danbala move-se assim,
entre os opostos da terra e da água, como as
serpentes, unido-os em sua rotação,
movimentos urobóricos, gerando a vida. Danbala cava
túneis também através da
terra, como as serpentes, conectando a terra acima
com as águas abaixo. Antes de
se casarem, seus seguidores oferecem-lhe
sacrifícios. textos traduzidos de Sites do
Haiti. Se você souber os endereços basta enviar-me
um e-mail que colocarei aqui.
TOGUM
Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye
através do mistério do ferro.
Desta forma, pode criar cidades na selva, a
evolução com o desenvolvimento da
tecnologia do metal
Há um estudo científico que diz que a oxidação do
ferro no fundo do oceano, gerou
bactérias de onde surgiram os primeiros seres no
começo da evolução. Não se pode
afirmar que tenha sido o ferro o gerador desse
fenômeno, mas algum tipo de
mineral simbolizado pelos pontos de ferro.
Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que
usa um pó vermelho
extraído de uma árvore que simboliza a procriação
primordial para a sobrevivência
e essa é uma das razões dele não gostar que, em
seus assentamentos, hajam
ahuinhas. É dono de todos os metais, principalmente
o ferro e o aço além de todos
os objetos cortantes: akiriké, farim, magoge, etc.
Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem
fronteiras, entra em qualquer
lugar em busca do inimigo e da vitória. Nessas
investidas, Togum conta sempre
com Legbá, seu companheiro e amigo incansável, que o
ajuda nos combates mas
que se diverte com a fúria de Togum.
Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é muito
impaciente e quer tudo a tempo e a
hora. Tem, em sua natureza, um sentido de
competição, de vigor, de expansão e de
agressividade, sempre pela sobrevivência. É muito
severo com seus filhos no
cumprimento de suas obrigações.
Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se
encontrar alguma coisa fora do
lugar, fica bravo e chama a atenção, exigindo que
tudo esteja corretamente em seus
lugares. Algumas vezes, ele mesmo faz tudo,
colocando as coisas em ordem
Togum toma para si a guarda do kwe onde mora,
disputando com Legba a
segurança. Em uma ahuan(guerra), Togum mostra toda
a sua fúria e poder de luta.
Dificilmente um kwe de Jeje perde uma ahuan, pois
Togum, com todo o seu
humpayme, garantem a vitória.
Todos os narrunos são regidos por Togum. Na África,
somente os vodunos de
Togum podem oficiar o ritual de narruno. No Brasil,
apenas algumas casas
tradicionais seguem o modelo africano.
O número três está intimamente ligado à Togum. É um
número fudamental
universalmente. Exprime uma ordem intelectual e
espiritual, em AvieVodum, no
cosmo ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser
vivo ou resulta da conjunção de
um e de dois, produzindo, neste caso, a união do
orum e do aiye. A cólera e a
irritação de um guerreiro, no seio de uma guerra,
manifestam-se através de três
rugas que se formam na testa: então, ninguém ousa
aproximar-se ou falar.
Existem vários Voduns pertencentes a linhagem de
Togum. O mais velho deles é o
Vodum Guyugu que, como os demais Voduns, participou
de várias batalhas,
saindo-se sempre vitorioso.
As cores das contas de Togum, variam de acordo com
o Vodum. Podem ser:
azulão, azulão e branco, vermelho, verde e branco,
podendo sofrer mudanças se o
Vodum feito assim desejar.
Suas vestimentas podem ser: branca, azul, dourada
ou estampada, que é a sua
preferencia.
Seus dias de culto são: segunda ou terça-feira,
dependendo do Vodum. Sua folha
predileta é a abre-caminho, sendo que existem
muitas folhas para Togum.
Togum é quem abre o portal para o desenvolvimento
da nossa verdade.
AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de
energia mais pura que os demais
Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo
Dahome, atual Benin. Eram
cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão,
até a década de 60.
As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças
e falavam em dialeto
africano, diferente dos Voduns adultos, o que
dificultava muito entendê-los. Sem
contar que, muitas das palavras elas falavam pela
metade.
Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas
grandes, que duravam vários
dias.
A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a grande
matriarca da família Davice,ancestral
da família real de Dahome, é considerada a mãe de
TODOS os Voduns.
As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala
grande ou no quintal, sem os
tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar
presentes e brincarem com
bonecas e panelinhas.
Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e
tinham o costume de dar
doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em
esteiras.
Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois
dançavam. Gostavam de dançar no
quintal, em volta do pá de ginja delas.
Por serem crianças puras, tinham mais afinidade com
o corpo permitindo assim,
uma ligação mais direta que os Voduns, que são
adultos. Não tinham falhas, não se
irritavam.
Seu papel no culto era só "brincadeira".
Eram espíritos perfeitos e mais elevados.
Os Voduns podem ter falhas, as meninas não.
Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí,
diferente dos Voduns que
deixavam as filhas muito cansadas.
Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por
serem mais delicadas,
porém os Voduns são mais importantes por terem mais
obrigações.
Podemos observar similaridade entre as Tobossis do
Mina Jeje e os Erês dos
Candomblés da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco,
pelo comportamento infantil.
No entanto, os Erês apresentam-se tanto com
características femininas quanto
masculinas e as Tobossis são, exclusivamente,
femininas, dengosas e mimadas.
FEITURA DAS TOBOSSIS
O processo de feitura das Tobossis inicia-se,
normalmente, com o Vodum principal
da Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas
anteriormente, as voduncirrês,
para a feitura de Tobossi.
As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que
tem a duração de quinze
dias, nos quais há algumas festas. É uma feitura
própria, um novo rito de passagem
na graduação da iniciada no Mina Jeje.
O barco composto dessas voduncirrês é chamado de
Barco das Novidades, Barco
das Meninas ou Rama.
Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para
receberem suas Tobossis,
passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só
são recebidas pelas voduncirrês
gonjaí.
O último barco que se tem conhecimento foi
realizado em 1913-1914.
No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas
de sinhazinhas e, somente
ao fim das feituras, é que davam seus nomes
africanos. Também eram por nomes
africanos que elas chamavam as filhas da Casa.
Esses nomes eram escolhidos pelas
Tobossis junto com os Voduns e esses nomes eram
divulgados no dia da "Festa de
dar o Nome".
Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta
morria, elas não vinham
mais, sua missão ali se encerrava.
Desde a morte das últimas gonjaí, por volta dos
anos 70, as Tobossis não vieram
mais.
As Tobossis só incorporam em suas gonjaí após os
Voduns terem "subido". Elas
chegavam alegres, batendo palmas e acordando a
Casa.
No Peji, há um lugar para as obrigações das
Tobossis, que é uma feitura muito fina
e especial.
VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS
Os trajes e apetrechos das Tobossis são muito
elaborados.
As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam
pulseiras chamadas dalsas,
feitas com búzios e coral, pano-da-costa colorido,
o agadome, sobre os seios,
deixando o colo e os ombros livres para o ahungelê,
uma manta de miçangas
coloridas, presa no pescoço, objeto de grande valor
e significado. O ahungelê
também era chamado de tarrafa de contas, gola das
Tobossis ou manta das
Tobossis, sendo considerado um distintivo
étnico-cultural do Jeje. Ele conta a
história particular da Tobossi vinculada ao Vodum,
sua família e a iniciada, gonjaí.
As Tobossis usavam ainda, vários rosários,
fios-de-contas e o cocre, colar de
miçangas curto, junto ao pescoço como uma
gargantilha, usado pelas Tobossis e
pelas gonjaí durante o ano de feitura, cuja cores
variam de acordo com seus
Voduns, semelhante ao quelê dos terreiros de
Candomblé.
No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito
vistosas, aparecendo o
agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados
em sandálias finas.
Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma
construção artesanal, que
segue com rigor uma linguagem cromática, própria e
do domínio das Tobossis.
A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS
Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham
cumprir certas obrigações,
destacando-se a festa do Carnaval.
As Tobossis vinham três vezes por ano:
- Nas festas de Nochê Naé - em junho e no fim do
ano
- No Carnaval
As grandes festas duravam vários dias.
O Carnaval é uma comemoração da qual participavam
os membros do Barracão e
visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite
do domingo até as 14 hs da
quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns
Voduns vinham visitá-las. Eram
recebidos pelas outras filhas da Casa, as
voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das
frutas do arrambam, obrigação
também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos
terreiros de Candomblé.
As frutas ficavam no Peji para serem distribuídas
na quarta-feira de cinzas.
Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e
confete mas tinham medo de
bêbados e mascarados.
Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e
na quarta, pela manhã, dançavam
em volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em
folhas de "cuinha" e depois
despachadas.
Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham
durante nove dias, entre os
dias de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam
durante o dia, cantavam suas
cantigas próprias, dançavam na sala grande e no
quintal e brincavam com seus
brinquedos.
O reconhecimento de cada festa/obrigação está no
vestuário e nos alimentos. O
alimento é uma marca identificadora, compõe a
divindade, seu papel, suas
características no contexto da ligação com os
deuses e estabelecendo, ainda com o
alimento, uma forma de comunicação com os
iniciados, visitantes e amigos do
Barracão.
Fontes de consulta:
O Povo Do Santo - Raul Lody
Querebentam de Zomadonu - Sérgio Ferretti
Hevioso
As informações mais antigas que encontrei sobre os
Voduns do panteão do trovão,
datam do final do séc. XV e princípio do séc XVI.
Nas aldeias lacustres, nos
arredores do atual Allada, era cultuado o Vodum
Setohoun (espírito da laguna).
Quando Setohoun chegou a aldeia de Hevie (reviê),
os nativos o batizaram com o
nome de Hevioso ou Hebyoso (na minha opinião
Hevioso seria o mais correto,
visto a sua tradução ser: hevi: nome da cidade e
oso ou so: raio = raio de Hevie).
Em Dahomey ele recebeu o nome de Xevioso, quando
chegou trazido por uma
nativa da aldeia de Hevie. Na cidade de Mahi era
cultuado o Vodum Djiso (djisô)
na tribo Djétovi. Nesta mesma cidade, também eram
cultuados os Voduns: Gbameso
(bamé-sô) que tudo indica ser o mesmo Bade que
conhecemos no Brasil;
Akhombe-so (acrombé sô);
Ahoute-so (aroutêsô) e Djakata-so (djacatá-sô). Vale
assinalar que em toda a região do Dahomey atual
Benin, até os dias de hoje, todos
esses Voduns inclusive o Orixá Shango são chamados
de SO (sô), que quer dizer
raio. Sogbo era e ainda é, para o povo daometanos a
grande deusa, mãe de todos os
Voduns So e irmã de Hevioso. Junto com seu irmão
lidera a família. A partir do
meado do séc. XVI o culto desses Voduns se espalhou
por todas as regiões do
Dahomey. Com essa expansão, novos Voduns foram
surgindo. Vejamos alguns
deles: Adantohun (adantôrrum) (seria o que
conhecemos como Soboadan?!)
Ahuangan (arruangam) Alansan (alansam) Kasu Kasu
(cassu cassu) Saho (sarrô)
Aden (feminina) Gbwesu (buêssu) Akele (aquêlé) Besu
(bêssu) Ozo (ôzô) Kunte
(cuntê) feminina Naete (naêtê) feminina) Beyongbo
(beionbó) (feminina)
Avehekete (averequéte) Dawhi (dauri) Hungbo (rumbó)
Salile (salilê) Agbe (abê)
(feminina) Ahuangbe (arruambé) Contam os vodunos e
Hunos que devido as tribos
litorâneas que prestavam culto aos xwala-yun
(deuses do mar) adotarem o culto a
So, Agbe e Naete foram designadas a se
estabelecerem no mar junto ao grande
Vodum Hun e que a partir daí, o culto dos dois
panteões se fundiram nos cultos.
Ao nível de Brasil, por tudo que pude constatar em
minhas pesquisas, não vi muita
diferença entre nosso culto e o dos africanos. A
maioria dos So que existem no
Benin existe aqui também.
No Brasil é comum as pessoas chamarem todos os
Voduns do panteão do fogo de
“Sobo”. Vejamos alguns Voduns e suas
características:
Kasu Kasu (cassucassu) - Guerreiro que defende as
aldeias e ou casas de santo
onde é cultuado. Os inimigos têm pavor de Kasu.
Dizem que quando em luta ele
cospe fogo sobre os inimigos. Quando em guerras,
Kasu coloca-se a frente da
aldeia e ou casa de santo e abre seus braços
criando assim um obstáculo que
impede os inimigos de atacar. A tradução de seu
nome é barreira.
Sogbo (sobo) - Vodum feminina considerada a mãe de
todos os So. Faz trovejar
para alertar os homens que os deuses julgadores e
da justiça estão insatisfeitos e
que o trovejar é sinal do castigo que está por vir.
Djakata-so (djacatásô) - Muito forte. Em sua ira
arranca as árvores e as joga sobre
os inimigos e aldeias. Defende seus filhos mesmo
que eles estejam errados, só não
podem errar com ele.
Hevioso (reviossô) - Seus raios rasgam os céus
acompanhados dos trovões,
destruindo cidades inteiras e fulminando os
inimigos. Dizem os Hunos que é
preciso oferecer sacrifícios ao deus do trovão para
aplacar sua fúria. Ele odeia
ladrões e malfeitores e os mata. Quando esta,
satisfeito, Hevioso dá a chuva e o
calor que tornam férteis a terra e o homem.
Akholongbe (acrolombé) - Ataca os inimigos ou
castiga o homem enviando
granizo, ë faz os rios transbordarem. É ele quem
controla a temperatura do mundo.
Quando está calmo e satisfeito, ajuda o homem
dando-lhe bons movimentos
financeiros.
Ajakata (ajacatá) - O grande guardião dos céus.
Somente ele possui as chaves que
permite a entrada dos homens nos céus. Quanto
aborrecido envia as chuvas
torrenciais.
Gbwesu (buêssu) - É uma das mais calmas, é o
murmúrio dos trovões no horizonte.
Akele (aquêlé) - É quem puxa as águas do mar para o
céu e a transforma em chuva.
Alasan (alassam) - Talvez o mais velho de todos.
Ensinou ao homem o culto de So.
Gbade (badé) - Jovem, guerreiro, brigão,
implicante, muito barulhento. Adora
beber e quando o faz arruma bastante confusão
deixando todos atordoados. Adora
esconder as coisa (pertences) e se diverte em ver
as pessoas procurando. No trovão
ouve-se sua voz gritando para que os homens
consertem o que está errado. Sua
morada são os vulcões.
Adeen (adêêm) - É ela quem faz escurecer os céus e
envia os relâmpagos que
fulminam. Sua mãe Sogbo ralha com ela dizendo: -
Ahunevi anabahanlan! (não
mate as pessoas).
Aden (adêm) - Vodum masculino do panteão do trovão,
que veste roupa branca.
Dá as chuvas finas que faz as árvores frutificarem
e, em conseqüência, é guardião
das árvores frutíferas. É o mesmo Vodum Adaen
conhecido no Brasil. Em um
combate, mata os inimigos pelas costas, não a
traição. Todo cuidado é pouco para
lidar com esse Vodum, pois a primeira vista ele não
demonstra seus desagrados.
Ahuanga (arruanga) - Vodum masculino muito velho e
grande feiticeiro do panteão
do trovão, filho de Saho. Em um salto transforma–se
em fogo para proteger seus
adeptos e queimar seus inimigos, depois disso
desaparece numa moringa. Tudo que
é seu é enterrado.
Auanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do
trovão, irmão de Avehekete.
Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os
ladrões.
São muitos os Voduns desse panteão.
Os So ou Sobos não gostam de malfeitores e ladrões
de um modo geral eles se
irritam e matam esses elementos.
A água da chuva depositada nos telhados é um dos
seus maiores beko (becó
(kisilas)). Também não gostam de feiticeiros e
bruxos e se esses se meterem com
seus protegidos Ele os fulmina.
Os akututos (eguns) não constituem um beko para
esses Voduns, mas eles também
não gostam muitos dos mesmo. Quando é necessária a
presença de um deles para
afastar esses espíritos, se fazem presente e com
muita energia os afugentam.
Sua principal dança é o hundose (rundôssé (Brasil))
e o dogbahun (dôbarrum
( África)). Pela descrição dessa ultima, acredito
que seja o mesmo hundose que
conhecemos no Brasil.
Sosiovi (sôssiôvi) é nome do chocalho de So ou
Sobo.
Sokpe (sopé) é o machado de Hevioso, feito com
pedras de raio.
Os Sos ou Sobos representam vida, saúde,
prosperidade e vitórias.
fontes de pesquisa; Centro cultural Ceja Neji
Pierre Verger
Lê Herrisé
Voduns das Águas Oceânicas
O oceano abriga uma variedade imensa de entidades,
dentre estas, encontramos
muitos Voduns masculinos e femininas.
Para falarmos sobre as Naês (mães) que habitam o
oceano, torna-se necessário
falarmos dos Voduns masculinos que moram com elas.
Para os adeptos do culto Vodum o oceano é o grande
Hu-Non (ru-nom),
considerado o maior de todos os Voduns.
Naete (naêtê) e seu esposo Vodum Hou (rou) são os
deuses que reinam esse
universo oceânico. Enquanto Naete fica nas águas
calmas, Vodum Hou desbrava
todas as regiões e dá a cada Vodum suas tarefas.
Naete (naêtê) - Vodum feminino do panteão do trovão
que habita as águas calmas
antes da arrebentação, esposa de Vodum Hou.
Hou (rou) - Vodum masculino do panteão do trovão
casado com Naetê, pai de
Aveheketi, trindade muito cultuada e honrada nos
templos do Trovão. Sua morada
são as volutas bramantes das ondas que arrebentam
no litoral.
Cada Vodum habita uma região do oceano e têm uma
função. Assim vamos
encontrar:
Vodum Nate (natê) - Vodum do panteão do trovão que
habita o mar. Adorado
pelos pescadores e por todos que trabalham no mar.
É o grande guardião que habita
em todo o oceano, mar e praias.
Sayo (saíô) - Vodum feminina do panteão do trovão,
irmã de Avhekete. Habita as
ondas do mar que fazem o nível do oceano subir.
Considerada como uma sereia
Vodum Tokpodun (tópôdum) - Vodum feminina, deusa do
rio. Seu frescor traz
claridade para as cabeças e sua tranqüilidade traz
a paz. Símbolo de beleza,
feminilidade, fertilidade, graça e caráter. Filha
de Naete deusa do oceano, irmã de
Avhekete. Foi expulsa do oceano por seus irmãos por
seu caráter forte indo então,
morar no rio.
Vodum Tchahe (tchárrê) - Vodum feminina do panteão
do trovão, irmã de
Avhekete. Habita o marulhar das ondas das águas
oceânicas.
Vodum Agboê (abôê) - Vodum masculino do panteão do
trovão, filho de Saho.
Realiza tudo através de um talismã que preparou
junto com seu pai. Dança com
muito vigor, gira em torno de si mesmo e
transforma–se na água que é Hu, o mar.
Depois disso sai e pede a uma vodunsi que recolha
água do mar, coloque em um
ponte e a esquente. O resultado disso é o huladje,
o sal.
Vodum Avehekete (averequéte) - Vodum masculino do
panteão do trovão,muito
agitado, habita a arrebentação marinha. É quem leva
as mensagens de seu pai,
Vodum Hou, às divindades marítimas e aos homens.
Costuma roubas as chaves de
sua mãe para da-las aos homens.
Voduns gêmeos Dôtsê e Saho (dôtissê e Sarrô) -
Dôtse nasceu à noite e Saho de
manhã. Ela tem um olho em um lado da terra e Saho
no outro lado. Considerados
os Voduns que olham o mundo. Panteão do trovão,
habitam sobre o mar.
Vodum Yedomekwe (iêdômêqüê) - Vodum feminina que
faz chover. Habita na
evaporação das águas oceânicas.
Goheji (gôrêji) - Vodum jovem muito alegre e
falante, habita o encontro das águas
das lagoas com o mar. Essa mãe gosta muito de
passear pelas lagoas e lagos
misturando-se com os patos d'água em seu bailado e
fica muito aborrecida se
algum caçador mata ou fere uma dessas aves. Veste
roupas azul, verde água,
prateado com rosa clarinho ou azul. Gosta de
adornos prateados, pérolas e
perfumes suave. Pertence ao panteão da terra.
Quando Goreji resolve passear em
águas oceânicas, os cavalos marinhos que a adoram
ficam ao seu dispor para
transportá-la e passear com ela. Em seu assentamento
podemos colocar bonecas
coloridas e outros brinquedos de menina.
Vodum Aboto - habita as águas doces profundas que
desembocam no mar. É
sempre confundida tanto como Oxum quanto como
Yemanja. Uma das Voduns
mais velha do panteão da terra. Veste branco,
branco com amarelo, amarelo
clarinho, suas contas são amarelo pálido. Gosta de
adornos dourados e perfume.
Não gosta de muito barulho perto dela. Fica
fascinada com o barulho dos búzios
em movimento com as águas e faz desses seu oráculo.
Os gêmeos Dazodje (dázôdjê) e Nyohuewe Ananu
(niôrruêuê ananú) - habitam nas
riquezas depositadas no fundo do mar e são
considerados os Voduns da Riqueza.
Não são feitos na cabeça de ninguém.
Erzulie (erzúliê) - Vodum feminino que habita o
reino abissal, pertence ao panteão
da terra. É considerada a mãe de Agué e Olokwe.
Essa Vodum também é
conhecida como Erzulie-Dantor, poderosa conhecedora
da alta magia. Dizem os
bakonos que ela se assemelha a Netuno, pois está
sempre tentando levar toda a
humanidade para habitar o oceano. Ela diz que todos
os humanos têm a capacidade
dos anfíbios e que todos se originaram do fundo do
mar. Alguns acreditam que é
um Vodum andrógino. Em momento de afogamento
devemos chamar por Vodum
Abe (abê) e Vodum Sayo para que essas convençam
Erzulie que nosso lugar é na
terra.
Oulisa (oulissá) - Vodum masculino que habita as
águas claras e frias do oceano.
Esse Vodum é sempre muito confundido com Lisa
(lissá) ou Oxala. Veste branco
com detalhes prateado ou dourado. É um Guerreiro
dos Mares. Panteão da terra.
Abe (abê) - Vodum feminina irmã de Bade, panteão do
trovão. Habita as águas
revoltas do oceano. Sempre que acontece um
naufrágio é ela junto com Vodum
Sayo que tentam salvar os náufragos. Considerada
uma das mais velhas mães do
mar, sempre substitui Naete, quando essa precisa se
ausentar do reino. Noche Abe
é considerada a palmatória do mundo, cabe a ela
mostrar as verdades e não deixar
que essas sumam nas águas, dizem os antigos que o
ditado "A verdade sempre
anda sobre as águas, nunca afunda, um dia ela
aparecerá na praia" foi dito por Abe.
Assim como Erzulie, Abe é conhecedora de alta
magia. Veste branco, azul muito
clarinho.
Existe uma grande confusão entre o nome desta Vodum
com as Voduns Abe Huno
(abé runô), Abe Gelede (abé geledê), Abe Afefe (abé
afêfê) que são Voduns
guerreiras dos raios, tempestades e ventos.
Naê Aziri - Vodum das águas doces que muito se
assemelha ao Orixa Oxum.
Panteão da terra. Essa Vodum é muito confundida com
a Vodum Azihi-Tobosi
(aziri-tobossi) que habita o alto mar e é a
protetora de todas as embarcações que
navegam no oceano.
Afrekete (afrequéte) - é a mais jovem e mimada
Vodum do panteão do trovão,
habita em todo o oceano. Junto com Nate(natê)
desempenha o papel de Legba,
guardando os mares. Protege os pescadores e pune
todos aqueles que insultam os
deuses e habitantes do mar. Quando vê uma
embarcação pirata, agita as águas para
que essa naufrague e após esse, entrega todo o
tesouro encontrado aos Voduns da
riqueza e os mortos à Abe Gelede (abé).
Aouanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do
trovão, irmão de Avehekete.
Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os
ladrões.
Agoen (agôêm) - Vodum filho de Saho, reina na areia
branca que cobre o chão das
praias e oceanos.
Agwe (agüê) - Vodum feminina do panteão da terra
que habita sobre as águas
oceânicas. Muito afetuosa, está sempre atenta as
necessidade alimentares do
homem e os ajuda a prover sua mesa, usando sua arma
principal, a dam (rede).
São tantos os Voduns que habitam as águas oceânicas
que torna-se impraticável
descrever todos aqui nesse espaço.
Temos em nosso culto uma linda cerimônia denominada
GOZIN (gozim) onde
fazemos oferendas à todas as divindades que habitam
as águas. É um momento
muito sublime, de uma energia indescritível. Quando
"gritamos" Agoki-Agoka
(agôqui-agôcá) podemos perceber a chegada de cada
um deles.
Não poderia deixar de citar o mito do monstro
marinho Mokele-Mbenbe
(môquêlêbêmbê), animal do tamanho de um elefante,
um pescoço longo, um único
chifre e uma enorme calda envolada que ataca as
embarcações. Muito temido e
respeitado em todo o Dahomey até os dias de hoje.
E na Hou nule ye! (Ê ná rou nûlê iê!) (Que os
deuses do oceâno abençoem vocês!)
Yewa
Yewa é um vodum feminino da família Dambirá. Filha
de Toy Azonze e Dambala,
irmã de Boçalabê nasceu para ser o símbolo da
pureza e da beleza dos deuses. Do
nascimento a fase adulta Yewa viveu na família de
Dan onde representava a faixa
branca do arco-íris onde também mora Ojiku. Recebeu
de Dan Wedo o poder da
vidência, da riqueza, e todos os corais que
existiam no mar que ela pegava com seu
arpão.
A beleza física de Yewa encantava a todos que
olhassem em seus olhos, mas essa
nunca se encantava com ninguém pois era o símbolo
da virgindade e da pureza.
Muitos homens se apaixonaram por ela e todos foram
punidos pelos deuses pois
sabiam que era proibido amar a grande Virgem.
Yewa adorava ver o por do sol e sempre saía a
passear pelos campos floridos
acompanhada por dois bravos guardiões que não
permitiam que ninguém se
aproximasse dela. Era um casal de gansos branco,
lindos e majestosos. Certo dia,
estava Yewa a apreciar o por do sol, quando uma
galinha, se aproveitando da
distração dos gansos, aproximou-se e ciscou muita
terra sobre as vestes brancas de
Yewa, essa se enfureceu e amaldiçoou a galinha e
daí para frente nunca mais quis
ver uma em sua frente como também resolveu mudar
suas roupas para as cores do
por do sol.
Certo dia, Yewa avistou um belo homem, um guerreiro
e se encantou por ele.
Yewa enfrentou e desafiou todos os deuses por amor
a esse homem e teve como
castigo o exílio. Foi expulsa da família de Dan e
considerada a cobra má. Durante
seu exílio, Yewa teve que fugir e esconder-se da
fúrias dos deuses.
Em sua primeira fuga, Yewa contou com a ajuda de um
grande caçador e
guerreiro, Odé, que a escondeu nas profundeza das
matas escuras, em terras
yorubanas.
Vendo-se em um lugar sombrio e sem recursos de
sobrevivência a sua disposição,
Yewa aceitou um ofá que Odé ofereceu-lhe. Aprendeu
a caçar junto com ele e com
os demais caçadores.
A beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos
demais que viviam nas matas,
pois eles sabiam que não podiam se apaixonar por
ela, temiam a fúrias dos deuses.
Odé então, fez para Yewa uma coroa de dans e folhas
de palmeiras desfiadas.
Mandou que ela a coloca-se, assim ninguém se
aproximaria dela com medo das
dans e as folhas desfiadas da palmeira esconderiam
sua beleza contagiante. Yewa
gostou do presente pois viu nesse, a possibilidade
de esconder-se dos deuses e
livrar-se de sua fúria.
Com o uso dessa coroa Yewa pode sair da escuridão
das matas e ir apreciar o que
mais ela amava e representava ... o por do sol.
Faltava-lhe seus guardiões, pediu
ajuda a Odé e esse caçou para ela um casal de
gansos negros, pois foram os únicos
que encontrara. E assim, Yewa passou a ver e a
viver o por do sol novamente em
seu exílio.
Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir
por sua filha Yewa que já
tinha sido por demais castigada. Depois de muitos
pedidos e oferendas aos deuses,
esses concederam a Azonze a guarda de Yewa que
deveria morar com ele. Azonze
embrenhou-se nas matas a procura de sua filha e a
encontrou junto a Odé.
Como agradecimento por tudo que fez por Yewa, Toy
Azonze deu a Odé um par
de chifres e o poder de chamá-lo e aos espíritos da
caça quando assim precisasse.
Yewa foi morar no reino dos mortos junto com Azonze
e com esse passou a exigir
o cumprimento da moral e dos bons costumes. Em sua
nova morada Yewa recebeu
o caracolo/aracolê onde guarda os segredos dos
ancestrais e os invoca quando é
necessário, e o eruxim com o qual espanta os egum
para o caminho de Oya.
Sempre que possível, Yewa engana Eku e salva uma
vida.
Yewa é um Vodum raríssimo de ser encontrado no TA
(cabeça) de alguém. A
feitura de Yewa deve ser sempre em TA de virgens e
nunca em TA de homens.
Por ter o poder da vidência, Yewa tem o poder de
nos livrar do "olho grande" e das
invejas. Quem sabe cuidar desse Vodum, se livra
facilmente dos invejosos.
Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas matas e
mundos subterrâneos
(aquático e terrestre), mas seu local preferido é
sempre o horizonte, onde o por do
sol faz o encontro dos dois mundos e o céu se
encontra com a terra, "Isso é Yewa"
dizem os antigos.
Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito confundido
com Yewa, assim como
Boçalabê que é sua irmã. Ojiku é considerado a
Cobra branca e Boçalabê é uma
Vodum das água doces, muito confundida com Oxum. Em
muitas pesquisas e
entrevistas que fizemos pudemos constatar a
confusão e controvérsias que as
pessoas fazem em relação a Yewa e esses dois
Voduns.
Tohossou:
Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais
Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas
em circunstâncias especiais,
eram mortas pois eram segregadas e rotuladas como
seres de mau agouro, diabos
ou que perpetuavam a miséria e o sofrimento de suas
famílias, tornando-se assim,
um estôrvo para seus pais. Eles eram assassinados,
conforme estabelecido pelo
grupo, para serem poupados de uma vida com olhares
fixos e rejeições sociais.
Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida
familiar cuidando dessas
crianças carregadas de circunstâncias tão
especiais.
Esta situação também estava presente na cultura
dahomeana, até que um Vodum
especial, nomeou Tohossou para encarregar-se de
mudar essa situação.
Os Tohossous são congregados de antepassados reais
que surgiram durante o
reinado do Rei Akaba, o segundo rei do Dahomey
(1685-1708). Eram conhecidos
como "as crianças e o guardião dos três
rios", um lugar onde todos os antepassados
viviam, e todos que morriam passavam a viver neste
sagrado reino subaquático.
Este Tohossou foi considerado muito poderoso e,
frequentemente, era chamado
para batalhas quando tudo já havia falhado, pois
era um vencedor certo com uma
rajada de sua poderosa espada.
O Tohossou é agrupado com o "Neusewe"
dahomeano, grupo da maioria dos mais
antigos antepassados, hoje conhecido como
"Loko".
A primeira criança nascida com má formação física e
a fazer parte desse grupo foi
Zomadonu, filho mais velho Acoicinacaba.
Zomadonu é quem comanda este poderoso grupo de
Trowo (espíritos ancestrais) .
Para este grupo eram feitos sacrifícios e honras
especiais.
Infelizmente, foi durante o reinado do rei Glele
que deu-se a maior perseguição às
famílias dessas crianças. Elas eram sacrificadas
afim de poupar o reinado e suas
famílias.
O mais significativo, é que esses antepassados
reais eram, frequentemente,
ignorados e negligenciados pelos próprios reis.
Muitas tentativas foram feitas por
esses antepassados para atrairem a atenção dos reis
em incentivá-los a dar-lhes as
homenagens como era a tradição, mas os reis se
recusavam veementemente, então
esses antepassados se tornaram enfurecidos.
Um dia, irritados, desceram na corte real, nos
corpos dos adultos fisicamente mal
formados e começaram a destruição, a devastação e a
exalarem um cheiro forte e
desagradável e, acima de tudo, muita confusão e
desespero, destruindo a corte e
vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bakonons de Fa para
verificarem qual era o
problema e o que poderia ser feito para acalmar
esses espíritos poderosos e
irritados.
Após um consulta cuidadosa, Tohossou começou a
falar. Além de exigirem que
todos os reis erguessem um santuário ao Vodum
maior, Zomadonu, para que eles
lhes pagassem as devidas homenagens, exigiram
também que a repercussão da
"fama" que os física e mentalmente
abalados tinham fosse cessada. Declarou ainda
que daquele momento em diante eles eram os seus
guardiões protetores. Por
último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas
condições, suas famílias
deveriam erguer um pequeno santuário em suas casas
e, os que assim fizessem,
seriam recompensados e abençoados com prosperidades
especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem
com má formação física ou
deficiências mental têm uma cerimônia especial e,
em suas casas, um pequeno altar
é consegrado aos Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e
emocional às suas famílias,
trazem bençãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido a idade,
ferimentos ou doenças, também
ficam sob a proteção dos Tohossous.
Sakpatá
Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey,
por Agajá, no século XVIII,
vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente,
da aldeia de Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de
Sakpatá, são da família Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que
se tem notícia é Toy
Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan
(esteira). Dizem os mais velhos,
que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá à
eles inspirações para a
descoberta das fórmulas mágicas que curarão as
doenças e as pestes. Ele é a
própria "doença e cura", como também um
excelente conselheiro.
Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo
que Toy Akossu. Seu
assentamento fica em local bem isolado do Kwe,
sendo proibido tocá-lo. Somente
UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar
desse assentamento. É Toy
Azonce quem sempre faz todas as honras para seu
irmão Toy Akossu, quando ele
está em terra.
Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu,
que gosta de comer
quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar
cachimbo de barro. Toy Abrogevi
gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele.
Foi com Badé que aprendeu a
comer e a gostar de quiabo.
São tantos Voduns desse panteão que seria
praticamente impossível descrever cada
um aqui.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e
os bons costumes. Nunca
admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz
essa fiscalização para eles é
Ewá, filha de Toy Azonce.
As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns
podem variar de acordo com
o gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de
palha da costa sendo umas mais
curtas e outras mais compridas. Sakpatá usa todas
as cores e o estampado, sempre
com a presença das cores escuras.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da
costa é a fibra da ráfia, obtida de
palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome
científico é raphia vinifera.
No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é
considerada a "esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira,
ganha o simbolismo universal de
ascensão, de regenerescência e da certeza da
imortalidade da alma e da
ressurreição dos mortos. Um símbolo da alma. Além
de proteger a vulnerabilidade
do iniciado, sua utilização também é reservada aos
deuses ancestrais, numa
reafirmação de sua ancestralidade, eternização e
transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o
bastão, a lança, o illewo ou
ainda, uma pequena espada. A maioria deles gostam
de manter o rosto coberto pela
palha da costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos
gostam muito de usar
búzios e chaorôs (guizos).
O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que
é confirmado pela sua relação
com as águas e seu desenvolvimento espiralóide a
partir de um ponto central.
Simboliza as grandes viagens, as grandes evoluções,
interiores e exteriores.
É associado as divindades ctonianas, deuses do
interior da terra. Por extensão, o
búzio simboliza o mundo subterrâneo e suas
divindades.
O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do
sino, sobretudo pela percepção
do som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido
percebe, o som, que é reflexo da
vibração primordial. A repercussão do chaorô é o
som sutil da revelação, a
repercussão do Poder divino na existência. Muitas
vezes têm por objetivo fazer
perceber o som das leis a serem cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de
purificação, afasta as influências
malignas ou, pelo menos, adverte da sua
aproximação. Sem dúvida, simboliza o
apelo divino ao estudo da lei, a obediência à
palavra divina, sempre uma
comunicação entre o céu e a terra, tendo também o
poder de entrar em relação com
o mundo subterrâneo.
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do
chifre do búfalo. Tem o sentido de
eminência, de elevação, símbolo de poder, um
emblema divino. Ele evoca o
prestígio da força vital, da criação periódica, da
vida inesgotável, da fecundidade.
Devemos lembrar que chifre, em hebraico
"querem", quer dizer, ao mesmo tempo,
chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria
imagem do poder que Sakpatá
tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do
lakidibá e do deus Sakpatá,
descobrimos um processo de anexação da potência, da
exaltação, da força, das
quatro direções do espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e
branco. Ele também contém a
bondade, a calma, a força, a capacidade de trabalho
e de sacrifício pacífica do
chifre do búfalo, de onde origina-se. Rústico,
pesado e selvagem, o búfalo é
também considerado divindade da morte, um
significado de ordem espiritual, um
animal sagrado.
Na África, o búfalo (assim como o boi), é
considerado um animal sagrado,
oferecido em sacrifício, ligado a todos os ritos de
lavoura e fecundação da terra.
O lakidibá é entregue ao adepto somente na
obrigação de sete anos.
Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu
(pipoca) representaria as
doenças de pele eruptivas, cujo aspecto lembra os
grãos se abrindo. Jogar o duburu
assumi o valor e o aspecto de uma oferenda,
destreza e resistência. O ato de jogar
se mostra sempre , de modo consciente ou
inconsciente, como uma das formas de
diálogo do homem com o invisível. Tem por alvo
firmar uma atmosfera sagrada e
restabelecer a ordem habitual das coisas, é
fundamentalmente um símbolo de luta,
contra a morte, contra os elementos hostis, contra
si mesmo.
Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser
feitos com o sol forte e cada um
deles especifica o que querem comer. Isso quer
dizer que, não existe uma única
maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho
de fogos de artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as
Divindades do Panteão de
Sakpatá, onde devemos comer, dançar e cantar junto
com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são
convidados a compartilhar
desse banquete. Os jejes acreditam que, com essa
cerimônia oferecida a essas
divindades, todas as doenças são despachadas do
caminho do Kwe e de seus filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do
quarto onde mora Sakpatá e os
demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vêm
saudar o Deus da varíola
e seus descendentes, comer e dançar junto com eles
e, ali mesmo, é servido o
banquete para todos os presentes.
Após essa cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns,
vestem suas roupas de festa e
vão para a Sala (barracão) comemorarem seu grande
dia, junto com a comunidade
que os aguardam. Quando entram na Sala, todos
gritam louvores à eles, dançam e
cantam, louvando o Deus da varíola, que traz a cura
de todas as doenças.
Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes,
as doenças e a cura das
mesmas. Algumas falam das lutas que esses Voduns
enfrentaram com a rejeição
das comunidades com sua presença e outras falam das
vitórias que tiveram sobre
todas as comunidades que a eles vieram pedir ajuda.
Os Sakpatás trabalham muito e têm um
importantíssimo papel nas feituras de
Voduns. Do início ao fim de uma ahama (barco de
yaô), eles atuam com rigidez e
vigor, mantendo o bom andamento, principalmente dos
bons costumes morais e,
cobram "feio" caso alguém cometa alguma
falha. Eles são, na verdade, as
testemunhas de uma feitura. Após a feitura, se um
filho negar alguma coisa que
tenha sido feita, eles são os primeiros a cobrarem
desse vodunci a mentira que ele
está dizendo, assim como também cobram a quebra de
segredos.
Todas as folhas refrescantes para ferimentos,
pertencem a esses Voduns.
Vale alertar que existem Orixás e Inkices também
ligados a cura e doenças porém,
não são os mesmos deuses que os Voduns da família
Dambirá, da nação Jeje.
Muitas confusões são feitas e, encontramos várias
bibliografias relatando origens,
especificações e costumes que nada têm a ver com o
Vodum Sakpatá.
AVEJI DA
Ligadas as tempestades, raios, furacões,
redemoinhos, ciclones, tufões, maremotos,
erupções vulcânicas, aos ancestrais e a guerra,
todas as Voduns guerreiras são
conhecidas como Aveji da. Até mesmo Oya dos
yorubanos, é assim denominada
em território daometano.
Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas feita de
Oya se intitulam filhas de
Vodum Jò. Digo erroneamente porque Oya é um Orixá
yorubano e Vodum Jò é um
ToVodum do panteão de Aveji-da, assim como Jò
Massahundo também.
Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e dos
ventos.
Podemos encontrar as Aveji-da tanto na família
Dambirà quanto na família
Heviosso.
As Aveji-da, da família Dambirà estão ligadas
diretamente ao cultos dos akututos,
sendo que cada uma tem sua função. Algumas reinam
na fronteira do djenukom
com o aikungúmã, outras nos ekúchomê, outras no
hou, ôtan e tódôum., outras em
humahuan, outras junto com Naê Nana, outras junto
aos kpame e "possuídos" -
essas, "talvez", sejam as que mais
trabalham (opinião minha) - outras se
encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e
pedidos feitos pelo povo encarnado
e desencarnados, a quem de direito e tentam trazer
as soluções para cada um -
normalmente conseguem. Enfim, é uma infinidade de
atribuições que essas
Voduns têm, todas sempre em prol daqueles que pedem
e precisam do auxílio
delas, sejam encarnados ou desencarnados.
Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por
akututòs. Elas têm todos os
poderes sobre o reino dos mortos e junto com
Sakpata e Nae Nana, controlam a
vida e a morte.
As Aveji-da da família Heviosso, estão mais ligadas
aos fenômenos da natureza,
como o furacão, ciclone, maremotos, erupções
vulcânicas, etc. onde os eguns
recém desencarnados nesses fenômeno são
encaminhados imediatamente por elas
as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois Heviosso
e demais Sobos não abrem
suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas
tem que ser rápido e eficiente,
para não contrariar o grande Heviosso.
Contam os velhos Vodunos e Bakonos que a fúria de
Aveji-da e de Heviosso
contra as heresias humanas é que provocam esses
fenômeno onde muitos
sucumbem. Nessas ocasiões é que devemos recorrer a
Velha Vodum Guerreira que
com sua sabedoria e magia sabe aplacar a fúria dos
deuses e acalma-los.
Essa Velha Vodum Guerreira mora junto com as demais
Yamis e todas as Aveji-da
prestam culto a mesma e tomam seus conselhos e usam
sua magia quando
precisam. Ela é um velha Aveji-da que se esconde
nas sombras e adora a noite. Os
pássaros são seu encanto. Junto com Ágüe visita os
kwes em sua rondam noturna e
se encontrar demandas ela ai se detem nos para
ajudar ou cobrar. A fúria dessa
Vodum destrói os inimigos e fecha um kwe.
Dificilmente um kwe fechado por ela
consegue se reerguer. Somente através de Baba Egum
se consegue chegar a ela
para aplacar sua fúria. As Aveji-da são mulheres
muito vaidosas, gostam do belo,
adoram a natureza, apreciam quando suas filhas
imitam suas vaidades. São todas
muito vaidosas e autoritárias, não gostam de
receber ordem de ninguém
principalmente dos homens, mas quando fazem suas
vontades e caprichos tornamse
dócies e carinhosas. São muito maternais, perdoam
com facilidade seus filhos e
os defende com toda a garra de guerreiras. Gostam
de disputar com os Voduns
Guerreiros quem luta melhor e esses sempre acabam
cedendo aos encantos dessas
mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As
Aveji-da comem cabra ou
cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros
bichos. Gostam de abara, acarajé,
alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés recheado
com quiabo - existe um
infinidade de comidas para elas - Seus apetrechos
são o erugim, adaga, espada de
lança curta com a ponta em forma de meia lua, faca,
chicote, chifre de búfalo e de
boi, fogareiro de ferro, abano de palha, abano
confeccionado em tecidos finos ou
pena (leque), abanos confeccionados em madeira,
bonecas(fetiche), maruo... Usam
todas as cores em suas vestimentas. Seus colares ou
fios de conta são das mais
variadas cores e formato. Gostam de todos os
metais, sendo que o ferro, o cobre e a
prata são seus preferidos. Vale ressaltar que a
confecção de apetrechos,vestimentas
e fios de contas são determinados pelas próprias
Voduns, portanto não existe uma
"receita" para esses itens. As Oyas
feitas dentro do culto de Voduns aderem todas
as características das nativas, porém recebem
também o que lhes são de direito
dentro de suas origens.
Vocabulário:
djenukom - céu (orum)
aikungúmã - terra (aiye)
ekúchomê - cemitério
tódôum -rio
hou - mar
ôtan - lago, lagoa
ahuan - guerra, batalha
humahuan - campo de batalha (guerra)
kpame - doentes, enfermos
akututòs - ancestrais, egungum ekùs – eguns
Tobossis/Naês/Mami Wata
Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns
femininas das ezins jeçuçu,
jevivi e salobres. Aqui falaremos, especificamente
,das belas Naês das ezins doces
e salobres.
Em todas as famílias de Voduns encontramos Naês,
sendo que, a maioria delas, são
da família Dambirá, panteão da terra.
No Brasil, convencionou-se chamar Oxum, dentro das
casas Jeje, de Tobossi.
Tobossis são Voduns femininos, infantis e, como
elas tem muito a ver com as
Naês, acredita-se que foi daí que o brasileiro
passou a chamar Oxum de Tobossi.
Como a maioria dos adeptos do Candomblé sabem, Oxum
é um Orixá da nação
Ijexá, muito cultuada por todas as nações,
inclusive o Jeje mas, temos que entender
que existem Oxum e Naês. Quando, dentro da nação
Jeje, uma pessoa é feita de
Oxum, dizemos que ela é feita de Orixá, quando a
pessoa é feita de Naê, dizemos
que ela é feita de Vodum.
As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer
entidade que mora nas
ezins. Nesse habitat não existe separação de
nações.
As Naês ou Mami Watas, são mulheres vaidosas,
exigentes, caridosas, algumas são
guerreiras, outras caçadoras. Gostam do brilho das
pedras e do ouro, adoram se
enfeitar com colares, pequenas conchas e caramujos,
pulseiras, pequenas penas
coloridas. Normalmente, seus adornos são feitos por
elas mesmas, caso alguém
queira fazer para elas, essas exigem que seja feito
exatamente como elas fariam.
Algumas Naês gostam de ficar a beira dos tódôum,
sentindo e recebendo a energia
do guhê, das atinçá, do djóom, da sum, etc.. Essas
são muito falantes, gostam de
dançar, cantar, caçar junto com Otolu, pescar junto
com Ajaunsi, macerar folhas
junto com Agué, comer amalá com Sobo, Aveheketi e
Ahevessul, etc. Gostam de
caminhar pelas matas, praias e lagoas, ondem
residem outras Naês.
Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde
a paz reina com toda a
plenitude da natureza, essas não gostam de se expor
aos olhos de curiosos e são de
falar muito pouco.
As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais
guerreiras, cultuam os
ancestrais, lidam com eguns e a magia é seu forte.
Dizem os antigos, que é nas
lagoas que se escondem os grandes mistérios da
magia das Naês, pois ali se
encontram as duas energias, a das ezins jeçuçu e a
das ezins jevivi. Fá sempre
aconselha seus bakonos a irem à lagoa conversarem
com as Naês quando existe a
necessidade da magia ser usada.
As Naês usam roupas de várias cores sendo que,
algumas delas, adoram o dourado,
daí confeccionar-se roupas com tecido amarelo, o
que não está totalmente correto.
As roupas das Naês devem obedecer a uma série de
exigências das mesmas.
Podemos até fazer uma roupa amarela ou dourada, mas
nunca podemos esquecer
os detalhes que virão complementar a simbologia da
roupa a ser usada.
Seus assentamentos podem ser feitos em louças, em
bustos de madeira, argila ou
cô, dependendo da Vodum que se está assentando.
Comem: bò, catraio, marreca, kôkôlo, uhui, caças,
eché.
Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu
(abebê), pena, ofá, lira, eché (de
preferência vivo), cobra, espada ou adaga.
Em todos os estudos que fizemos na África,
encontramos a SEREIA simbolizando
as Mami Wata/Naês, tanto das água doces quanto das
águas salgadas e salobre. É
comum encontrarmos, em qualquer estabelecimento
comercial e residencial, a
figura de uma sereia cultuada (podemos comparar com
os santinhos católicos que
os brasileiros cultuam aqui em pequenos altares em
seus estabelecimentos).
Vocabulário
kôkôlo - galinha
bò - cabra ou cabrito
có - barro
eché - pássaro
uhui - peixe
ezim - água
atinçá - árvores, folhas
sum - lua
djóom - vento
tódoum - rio
catraio - galinha da angola
guhê - sol
jevivi - salgada
jeçuçu - doce
A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÇÃO
Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui
dezesseis olhos e é um deus
andrógino.
Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de
palma, no Orum, a fim de
observar os reinos do mar, da terra e do céu. Mais
tarde, Mawu lhe diria os deveres
que deveria executar.
Gbadu está sempre na árvore.
A noite, quando dorme, seus olhos se fecham e
depois não pode abri-los sozinho.
Legba foi encarregado por Mawu, para escalar a
árvore de palma, a cada manhã,
para abrir os olhos de seu irmão.
Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta
primeiro a Gbadu que olhos
deseja ter aberto, se os detrás, da frente, da
direita ou da esquerda. Ao ouvir a
pergunta, Gabdu presta atenção ao reino do mar, da
terra e do céu; não quer falar
porque outros podem ouvir.
Em resposta a Legba, põe semente da palma em sua
mão. Se colocar uma semente,
significa que deseja abrir um de seus olhos e se
forem duas sementes, Gabdu
deseja que dois de seus olhos sejam abertos.
Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de
perto o que está
acontecendo no mar e na terra e prometeu a Gbadu, a
quem nós também chamamos
de Fa, que relataria tudo à ele, inclusive o que
acontece no domínio de Mawu, o
Orum. E dests maneira aconteceu.
Depois de um tempo, Gbadu começou a gerar crianças.
A primeira criança era
Minona, uma filha. A segunda criança também era uma
filha. Todas as outras
crianças eram filhos e foram chamados de: Aovi,
Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e
Zose.
Um dia, Gabadu confidenciou a Legba que estava
incomodado porque Mawu ainda
não tinha lhe designado seu trabalho.
O único que conhecia a língua de Mawu era Legba e
este prometeu a Gbadu que o
ensinaria.
Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia
uma grande guerra na
terra, no mar e no céu e que, se Gbadu ficasse
apenas olhando do alto, esses três
reinos seriam logo destruídos.
A água do mar não sabia seu lugar e a chuva não
soube cair.
Isto estava acontecendo porque os donos daqueles
reinos não compreendiam a
língua de Mawu.
Mawu perguntou: "O que deve ser feito?".
Legba disse que o melhor seria enviar
Gbadu à terra. Mas Mawu respondeu: "Não, deixe
Gbadu permanecer aqui, mas
darei a compreensão de minha língua à alguns homens
na terra, dessa maneira, os
homens saberão o futuro e como
comportarem-se".
Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu.
Antes que essas crianças de Gabdu fossem para a
terra, Mawu entregou as chaves
do futuro para Gabdu. Disse-lhe que aquela era uma
casa com dezesseis portas e
que cada uma correspondia aos olhos de Gabdu.
A árvore de palma em que Gbadu descansou foi
chamada de Fa. Assim, quando
Gbadu recebeu as chaves, Mawu disse que Legba era o
"inspetor" do mundo e que
desejava que Gbadu fosse o intermediário entre os
três reinos e ela mesma.
Quando os homens desejarem saber o futuro a fim de
guiarem suas ações,
deveriam pegar as sementes e jogá-las
aleatoriamente e isto abriria os olhos de
Gbadu que corresponde ao número de sementes e a
ordem em que caíram. Porque
as sementes abririam o olho que correspondesse a
uma porta na casa do futuro, o
destino para quem fossem jogadas poderia ser visto.
O que cada casa do futuro continha foi ensinado às
três crianças que foram
enviadas à terra.
As crianças escolhidas para ligarem a terra Gbadu e
Legba, consequentemente a
Mawu, foram Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos
homens como usá-las.
Ensinaram e disseram a cada homem o que era seu
sekpoli (destino). Disseram que
o sekpoli é a alma que Mawu deu a tudo, mas antes
de chamar esta alma, deve-se
abrir os olhos de Gbadu. É necessário saber o
número de olhos de Gbadu que estão
abertos antes de chamar esta alma, de modo que se
um homem souber o número de
linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu sekpoli.
Foi dito que nenhum santuário era necessário para a
adoração de sekpoli porque o
próprio corpo humano já é seu santuário.
Quando os três tinham terminado de ensinar aos
homens, voltaram ao céu.
Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de Gbadu
à terra. Foram conduzidos
por Legba, que os instalou.
Quando voltaram, Zose recebeu o título de Faluwono,
também conhecido como
Bakonon, que quer dizer "possuidor dos
segredos de Fa", que Gbadu tinha lhe
dado.
Minona tornou-se uma deusa e reside na casa das
mulheres, onde ela tece algodão
em seu eixo.
Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas
de Pa (crianças de Agbadu),
enquanto Kiti e Duwo foram ajudar Zose, que é
Faluwono, fazer seu trabalho.
Zose joga as sementes da palma. Ele tem somente um
pé e, no começo, quando
traçava linhas do destino, as pessoas não
acreditavam nele.
Seu irmão, Aovi, o azarado, foi encarregado de
fazer com que as pessoas
respeitassem o culto.
Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer,
chama-se Aovi para puni-lo. Então você
deve respeitar o Fa.
Pa fez uma figura pequena de argila de Legba e
colocou-a de um lado de sua casa ,
Aghannukwe. Abi foi chamado para dar a Minona a
mesma função que Aovi tem
para o Fa.
Abi é cinzas, combustão. É isso que faz com que as
mulheres respeitem Minona.
Quando uma mulher cozinha e Minona está irritada
com ela, o fogo queima-a ou
sua casa pega fogo.
E é por esta razão, que quando na cerâmica é ateado
fogo está se chamando Abi,
porque as cinzas, a combustão, são abundantes.
Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o
"novo sistema" e porque
Aovi é muito severo, o culto passou a ser
respeitado.
Assim, o culto do Fa espalhou-se em toda parte.
Um dia, veio na terra visitar o culto do Fa com
Gbadu. Como era seu hábito,
compartilharam da mesma esteira para dormir. Mas,
tarde da noite, levantou-se
secretamente e foi à Minona. Entretanto, Gbadu
acordou e descobriu que Legba o
tinha enganado com sua própria filha.
Discutiram e foram para o Orum levar o caso a Mawu.
Legba não admitiu que tinha dormido com Minona.
Mawu então, mandou que se
despisse. Quando estava nú, Mawu viu que seu pênis
estava ereto e disse: "Você
me enganou e deitou-se com sua irmã. Por este
motivo eu ordeno que seu pênis
será sempre ereto e você não poderá mais
saciar-se".
Legba mostrou indiferença a esta punição porque
jogou com Gbadu antes que
Mawu o repreendesse, ordenando que seu pênis
ficasse ereto para sempre, assim já
sabia o que ia acontecer.
É por esta razão, que as danças de Legba são
semelhantes a este acontecimento,
tentando-se ver o que toda mulher tem na mão.
Nohê Aikunguman
(Mãe terra)
No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de
tudo que é fundamento.
Acreditamos que somente Aikunguman pode sustentar
uma base sólida para apoiar
e firmar um templo de Voduns.
Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de
Aikunguman, porém existem
aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma.
Dependendo do que se pretende
fazer, invocamos o Vodum correspondente. Como
exemplo podemos citar:
Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes
mercados. - Ë costume em todo
Benin, quando nasce uma criança, levar a mesma ao
mercado e lá fazer os
mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois
acreditam que esse ritual dará muito
boa sorte à vida da criança. Esse procedimento
também se dá aos casais de noivos.
Os familiares das duas partes ser reúnem e vão
juntos com os noivos ao mercado.
Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos
trazem para casa um pouco de
terra e a coloca no solo de suas casas para que a
fartura e a prosperidade façam
sempre parte de suas vidas.
Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos
membros reina em uma
parte da terra, inclusive o mundo ctônico
(subterrâneo) e abissal (subterrâneo
aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori
de ninguém, assim como
Aizan. Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é
"garantir a vida" dentro da casa
de santo. Intoto é responsável pela putrefação das
carnes e dos alimentos em geral;
por essa razão temos que saber cultuá-lo abaixo do
solo para que essa atribuição
dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso.
Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas,
este Vodum tem um papel
importantíssimo dentro do culto Aikunguman pois é
ele quem a fertiliza e a
alimenta com suas sementes e magias. Em uma casa de
santo cabe a ele levar o
"sabor" de cada vodunci e o apresentar à
Aikunguman na passagem de sua vida
profana para a religiosa, isso é, no seu
renascimento.
Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes
guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto de Aikunguman, é ele quem
dá à mesma o kun (sangue)
dos animais sacrificados. Junto com Vodum Yian,
Guiogu garante que o kun
humano não será derramado dentro daquela casa.
Baseados nessa pequena explanação, podemos entender
o porquê de usarmos
"poeiras", "terras" de
determinados lugares para fazermos assentamentos de Santos
e Legbas. Como eu disse, cada membro da família de
Aizam, rege um local - feiralivre,
mercados, açougue, bancos, cemitérios, estradas,
rios, mar, cachoeira, etc.
Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a principal
deusa da terra, ela é a própria
terra.
Deuses da Riqueza
(Daometanos)
Na cultura daometana, encontramos como Deuses da
Riqueza, um casal de gêmeos
que foram enviados à terra por Mavu e Lissa, para
que ajudassem a humanidade.
Os gêmeos Da Zodji e Nyohwe Ananu foram os
primeiros Voduns a nascerem e
após chegarem a terra, deram origem a uma linhagem
de Voduns ricos e
guerreiros.
Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas
pessoas que recorrerem a Da
Zodje e a Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso
é, caso algum caminho ou
energia do solicitante estiver atrapalhando o
intercâmbio entre ele e os Deuses da
Riqueza, esses Voduns mostram os ebós que deverão
ser feitos para que ele
alcance os Deuses gêmeos.
Quando chegaram a Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu
habitaram o mar, onde
acharam as maiores riquezas da Terra. Nyohwe Ananu,
muito feminina, encantouse
com as conchas e os caramujos que encontrou e
ficava extasiada ao ouvir o som
do mar dentro dos caramujos. Seu irmão mandou que
trouxessem todos os
caramujos e conchas para o palácio deles para
agradar Nyohwe Ananu.
De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse
o som dos caramujos esse
atendeu seu apelo e também se encantou. Daí por
diante, os dois passavam todo o
tempo ouvindo esse som e não mais prestavam atenção
aos pedidos das pessoas.
Incomodados com essas atitude dos Deuses gêmeos,
seus descendentes resolveram
consultar um bakono.
O bakono consultou Fá e esse mandou que todos
pegassem um caramujo para si e
que quando quisessem falar com os Deuses da
riqueza, falassem dentro do casco
do caramujo, pois somente assim Da Zodji e Nyohwe
Ananu os ouviriam.
Os descendentes obedeceram a Fá e passaram a falar
com os Deuses dentro dos
caramujos e, alguns deles, começaram a colecionar
caramujos por acreditarem que
quanto mais caramujos tivessem, mais poderiam
conversar com eles.
Esse procedimento causou um pouco de confusão na
vida dos Deuses da Riqueza
pois, quando as pessoas falavam com Da Zodji a irmã
também ouvia e vice-versa.
Então, eles estabeleceram o seguinte: "Que
cada um tivesse em seu poder dois
caramujos. Um deveria ficar deitado e nesse, os
pedidos à Nyohwe deveriam ser
feitos e o outro caramujo deveria ficar em pé e
nesse, os pedidos à Da Zodji
deveriam ser feitos".
Deram também a opção de usarem os caramujos de uma
maneira só e se
comunicarem apenas com um dos Deuses.
NANÃ
Nanã é considera por todos os adeptos do Culto
Vodum como a grande Mãe
Universal que criou o mundo e deu vida aos Voduns.
É chamada carinhosamente
de vó Misan (missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da
qual o homem em especial, foi
tirado. Mistura de água e terra, a lama une o
princípio receptivo e matricial (a terra)
ao princípio dinâmico da mutação e das
transformações. Sua ligação com a água e
a lama, associa Nanã à agricultura, a fertilidade e
aos grãos (vide simbologia dos
grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o
dialeto usado: Bouclou,
Buukun, Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê
onde está localizado seu
principal templo, Ela é conhecida como Nanã Buruku
(lê-se, buluku).
No Brasil, também existem variações de nomes para
Nanã: Buruku, Naê Naité,
Yabainha, Naê, Anabiocô, etc.
Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte).
Ela recebe em seu seio os ghedes
(mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno,
renascimento)
Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre
a Nanã que ensina a
"fórmula mágica", o remédio de ervas que
deve tomar, os ebós e oferendas que
devem ser feitos.
Se um doente recorre a Nanã, imediatamente obtém o
remédio curador.
Na África quando uma família ou alguém obtém um
favor de Nanã, fica com o
compromisso de oferecer um membro da família ao
culto de Nanã e esse, após sua
iniciação, receberá na frente de seu nome a palavra
Nanã; assim como a criança
que nasce com a ajuda da Grande Mãe também. Todos
os sacerdotes e sacerdotisas
de Nanã têm na frente de seus nomes a palavra Nanã.
Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das
ervas. Alguns de seus
sacerdotes e sacerdotisas são preparados para serem
curandeiros. Em Ghana existe
a Sociedade dos Jou-Jou, em Allada e Dahomey a
Sociedade do Bo, etc.. Nessas
sociedades as pessoas escolhidas são preparadas para
a prática da medicina através
das ervas. Nanã diz que além do uso terapêutico das
folhas e de alguns produtos
animais, as doenças devem que ser tratadas em sua
origem espiritual, para que a
cura seja concretizada. É lastimável que no Brasil
essa parte do culto a Nanã não
tenha sido trazida. Em outros países como Estados
Unidos, Canadá, Jamaica e
Haiti encontramos essa prática.
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã
requer uma série de cuidados
especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim,
esse é o mais difícil culto de
Vodum. Nanã Buruku não é feita na cabeça de
ninguém.
Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku,
que são feitos nos iniciados.
Todos esses Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku
e são tão exigentes quanto
Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é
exigido a abstinência de sexo,
bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo
menos dois meses antes (na
África são exigidos 3 meses), de todos que irão
participar do processo de
renascimento do iniciado. Nesse período, são feitos
vários ebós no iniciado e
alguns poucos nos participantes e na casa de santo.
A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro beko de
Nanã. Se durante o processo de
iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada
imediatamente de Nanã e
ficar reclusa em um lugar especial, fora do templo,
até que cesse esse período.
Na África as mulheres menstruada são proibidas de
entrar no Templo de Nanã ou
de participar de qualquer preceito, seja de rituais
ou simplesmente fazer uma
comida de santo. Nanã diz que a bogami é um sangue
impuro e aconselha as
mulheres não cozinharem para seus maridos nesse
período.
Por ter muita ligação com egungum é necessário
saber tratar muito bem de Buku,
entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma
feitura, não é permitido a sua
presença, mas, ele deve ficar aposto, sua função
será tomar conta de todos, para
que nenhuma exigência da Grande Mãe seja
desobedecida, principalmente a
abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem
ser tratados corretamente
para garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos
rituais e preceitos. Ebós e
oferendas específicas devem ser feitos para essas
duas entidades.
Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos
participantes e da casa de santo não
podem ser esquecidos em hipótese alguma!
Antes, durante e depois da iniciação de uma Nanã
devemos fazer muitos ebós,
oferendas e preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho
de prosperidade e
crescimento para a casa de santo, do iniciado e dos
participantes.
De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou
cultuada é que se determina,
se comerá bichos macho ou fêmea. Existem Voduns
dessa linhagem que não
comem bicho de quatro pés, outros preferem comer
somente o Igby. Nanã Buruku,
por exemplo, não gosta de muito kun (sangue)
Vários textos têm sido publicados, citando o
carneiro como o bicho oferecido a
Nanã, mas, se observarmos as fotos que acompanham
esses texto, veremos que se
trata de cabra e cabritos. O sacrifício de carneiro
é o maior beko (kisila) de Nanã.
Para essa Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e
não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e outros metais nos nahunos e
preceitos de Nanã devem-se ao
fato de Ela ser muito mais velha que esses metais.
Por seu caráter conservador,
quando o ferro e outros metais apareceram, ela
preferiu manter o que já conhecia
em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns dos Voduns da linhagem de
Buruku. e algumas curiosidade
ligadas a Grande Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu – Segundo os Fons esse
Vodum é um deus
andrógino e seria o lado macho ou marido de Buruku.
É muito cultuado nos rituais
de Mami Wata onde é considerado o maior de todos os
deuses, os Fons o compara
a Olokun. Muitos antropólogos têm atribuído
erronêamente Densu a um deus
hindu, devido seus fetíches e assentamentos
apresentarem três cabeças. Esse
Vodum é muito rico e farto. Costuma presentear seus
adeptos com suas riquezas.
Não é feito na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi
(assuô giêbi) – Vodum
masculino velho, que habita os rios. Muito popular
em Ghana e tido como o
protetor das crianças africanas que foram
escravizadas. Esse Vodum pediu aos seus
sacerdotes que o levasse para os países onde os
africanos foram escravizados afim
de que pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi
assentado em templos de Akonedi
nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) – Vodum feminina
muito velha, cultuada em
Ghana, Cotonou e Allada. Dizem os mais velhos que
essa Vodum morreu de parto
e que por isso a missão dela é proteger e tratar as
mulheres grávidas assim como
seus filhos
Nanã Adade Kofi (adadê côfi) – Vodum masculino, tem
a função de proteger e
defender todos os templos de Nanã. É um Vodum
guerreiro, ligado ao ferro e
outros metais. Cultuado em Ghana, Allada, Cotonou,
Porto Novo, etc. É o Vodum
da força e perseverança. Sua espada é usada pelos
adeptos de Nanã, para prestarem
juramentos de obediência, submissão e devoção a
Grande Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) – Vodum feminina jovem,
cultuada em Ghana. Tem o poder
de tirar feitíços das pessoas e lugares. Tem grande
conhecimento no uso
terapêuticos e ritualísticos das ervas. Muito
alegre e faceira, gosta de dançar e
cantar, mas fica muito séria e aborrecida quando
encontra malfeitores e ladrões; ela
os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) – Vodum feminina
guerreira, cultuada na região
Fanti em Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres)
e os azon (doentes). Detesta
quem faz aze (azê - bruxarias) ou qualquer mau a um
ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) – Vodum
feminina, cultuada em Togo.
Grande curandeira, trata das pessoas com ervas,
ebós e gri-gris. É uma grande
Azeto (azétó - feiticeira) e seu culto talvez seja
um dos mais complexo. Em seus
nahunos, os sacerdotes prostam-se no chão ao lado
dos bichos mortos e fingem
estarem mortos também, assim permanecem até que
Wango incorpore em um deles
e os ressuscite. Todos levantam, os bicho são
suspensos e preparados. Nanã Tongo
dança com muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas
com as peles dos
bichos sacrificados para ela. Seus adeptos costumam
presentear Wango com
muitas jóias, enfeites, roupas e talismãs que a
agradam. Antes de começar os
nahunos para Wango, corujas são atadas às árvores.
Nanã Akonedi Abena –
Vodum feminina jovem, cultuada em diversas partes
da África. Seu principal
templo fica em Later, cidade de Ghana. Quando
Akonedi chega ela percorre a vila,
esconde-se em arbustos e sobe em telhados à procura
de feitíços, feiticeiros e
malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo
libações e curando os doentes.
Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça Seu corpo
é coberto com um pó
branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é
descoberto, na cabeça usa um torço,
no corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de
lenha. Sua dança é selvagem e
desenvolve-se dentro de um quadrado divino,
dividido em outros quadrados
menores feito com riscos do mesmo pó que cobre seu
corpo. Esse conjunto de
quadrado também é usado por suas sacerdotisas
durante as danças. Seu
assentamento fica em um buraco dentro da terra,
ficando somente a tampa deste
aparecendo. Os sacerdote e adeptos de Akonedi
carregam-na nos ombros numa
espécie de desfile, para que todos possam admirar e
louvar a grande deusa da
Justiça. Terça-feira é o dia consagrado a essa
Vodum. O Culto de Akonedi foi
levado para alguns países, a pedido dos governantes
desses. Quem levou o culto de
Akonedi para o novo mundo foi a maior autoridade
religiosa do culto, Nanã
Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995. Mmoetea
– Aldeia de pigmeus
que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma
sociedade secreta especializada no
uso das ervas para diversos fins. Desenvolveram a
capacidade de curar qualquer
doença física, mental e espiritual. Trabalham com
os espíritos da natureza e seu
maior deus é Nanã. Os espíritos da floresta deram
aos Mmoeta o poder de ler a
mente dos homens e dos animais. São grandes
curandeiros e poderosos feiticeiros.
Buku – Assistente de Nanã e Sakpata que mata os
doentes infectados pela varíola.
“Toma conta e presta conta” do comportamento moral
das pessoas durante os
cultos de Nanã e Sakpata.
Legba Aghamasa – Vodum Legba masculino, reina nos
portais da morte onde
reside Nanã Buruku.
Odom – Bolsa feita com pele de cabra não curtida,
enfeitada com búzios, penas e
sangue. Nessa bolsa são colocados os gris-gris
venenoso e não venenoso que
decidem uma questão de justiça. Quando duas pessoas
brigam pela mesma “coisa”
e recorrem a Nanã para saber quem tem razão, sua
sacerdotisa pede um galo a cada
um dos queixosos, quando esses animais chegam,
esses gris-gris são oferecido aos
animais. O galo que comer o venenoso, o dono dele
perde a causa. Além desses
gri-gris, outros segredos de Nanã são guardados na
Odom. A Odom fica sempre
nos pés do assentamento de Nanã, nunca vai a
público e não pode jamais ser
tocada por homens. Abuk (abuquê) – De acordo com a
cultura Fon, foi a primeira
mulher a surgir. Patrona das mulheres e dos
jardins, seu fetíche é uma pequena
serpente. (teria alguma coisa a ver com Nanã?!!)
Asase (assassê) – Deusa da criação dos homens e
receptadora dos mesmos na
morte. Cultura Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) – Vara ou haste simbólica de Nanã,
representa seus filhos mortos e os
ancestrais.
Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis -
búzios) e palha, dificilmente
cobrem seus rostos.
Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa das mais
difíceis, pois são tantas as
história a ser contadas, que somente um livro
poderia caber.
Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar
muita reverência a Nanã. Em
seus cânticos e danças devemos nos alegrar e nos
sentirmos honrados em poder,
aqui no Brasil, participar dessa parte que na
África é reservada somente aos seus
sacerdotes e sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!
EKU E AVUN
No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus
acompanhado sempre de um
avun. Essa é uma das razões que, dentro dos Templos
de Voduns, a entrada desse
animal é proibida. Porém, os sacerdotes reservam
uma área fora dos templos, onde
esses animais são criados para que sejam os
guardiões das almas, impedindo-as de
entrarem nos Templos além de encaminhá-las. Os
Vodunos, Bokonos, Ahougans,
Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que Vodum Ewa
sempre espreita o temido
Deus Eku para que esse nunca pegue ninguém
desprevenido, além de sempre tentar
desviá-lo de seu caminho. Os velhos Vodunos
contam-nos várias histórias para
justificar a proibição de avuns em Templos Voduns.
Vejamos algumas delas: 1 -
Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um
balaio com muitos uhui, que
levaria para sua aldeia, para saciar a fome dos
seus. Daí, enquanto ele estava
distraído em sua pescaria, os avuns vieram e sem
que ele os visse, devoraram todos
os uhui. Quando Aveheketi terminou sua pescaria e
voltou-se para o balaio, o
encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se
afastando com seus uhui. Desse
dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de
avuns em seus domínios, ato esse
que foi seguido por toda a sua família que é a de
Heviosso. Nos kwes de Jeje,
principalmente aqueles regidos por Heviosso ou
mesmo Xangô, é proibido a
presença de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que
tem avuns, nenhum membro
da família Heviosso comparece. 2 - Um avun roubou o
fogo de Dan, de Dan Wedo,
das divindades celestes ou do Grande-Espírito para
trazê-lo na ponta de sua husi, e
por isso, os Voduns têm pavor de avuns. 3 - A
repulsa ao avun nos Templos dos
Voduns, é a interdição implacável sofrida por esse
animal, pelos muçulmanos,
povo que muito influenciou a cultura africana. Eles
fazem do avun, a imagem
daquilo que a criação comporta de mais vil. O avun,
devorador de oku é um animal
impuro. Por essa razão também, acreditam que os
deuses jamais entram em um
Templo onde se encontra um avun. Não há, sem
dúvida, mitologia alguma que não
tenha associado o avun à morte, aos infernos, ao
mundo subterrâneo, aos impérios
invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou
selênicas. A primeira função
mítica do avun universalmente atestada, é a de guia
do homem na noite da iku,
após ter sido seu companheiro no dia da vida.
Vemos, em muitas culturas, o avun
emprestar seu rosto a todos os grandes guias de
almas. Têm por missão aprisionar
ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas
dos locais sagrados, reino dos
okus, país de gelo e de trevas. Algumas tradições
chegam a criar avuns
especialmente destinados a acompanhar e a guiar os
okus no Além. Atribui-se
também ao avun como intercessor entre este mundo e
o outro, atuando como
intermediário quando os vivos querem interrogar os
okus e as divindades
subterrâneas do país dos okus. Na África, o avun
possui a dom da clarividência e,
além de sua familiaridade com iku e com as forças
invisíveis da noite, é
considerado um grande feiticeiro. É um costume
africano, em seus banquetes
funerários, oferecerem aos avuns a parte que
caberia ao oku, após ter pronunciado
estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo
Ébe ti eke oku sòa tiwo hoho ti bo"
"Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas
agora que estás morto, é tua
alma que come!" Também na cultura africana,
encontramos feiticeiros com trajes
feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o
poder divinatório outorgado a esse
animal. Em Porto Novo, Maupoil, num de seus
relatos, conta que um de seus
informantes, confiou-lhe o seguinte: a fim de
reforçar o poder de seu oráculo
divinatório, ele o deixaria enterrado durante
alguns dias dentro da barriga de um
avun que imolara especialmente com essa finalidade.
Enfim, seu conhecimento do
mundo do Além, bem como do mundo em que vivem os
seres humanos, faz do
avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado a
iku, a clarividência, a
feitiçaria e as forças invisíveis.
Vocabulário:
Vodunos - sacerdotes
Bakonos - sacerdote de Fá
Ahougan - sacerdote feito de Vodum
Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos
de Voduns (yao)
Avun - cão
Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda
Uhui - peixe
Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris
Oku - cadáver, morto
Itans
A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans
belíssimos que não poderíamos deixar
de divulgar. Estaremos sempre disponibilizando
nesta página esta cultura tão rica
que a todos encanta.
Colocaremos também belíssimos Mitos Africanos.
ITANS MITOS
Borboleta Anansi
Os Primeiros Voduns Árvore da Vida
Hevioso salva Dahomey A Colheita de Estrelas
Serpente - Visão do Fim A árvore que não tinha medo
do céu
Promessa feita aos Voduns A Tartaruga e o Macaco -
FA
KLAMKLAMLE
(As Borboletas)
Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em
seu touboumé, um exército
de klamklamle que sobrevoam os mundos e voltam para
contar-lhes seus feitos ao
mesmo tempo que trazem outras klamklamle que nada
mais são do que as almas
que ali irão residir.
Dizem que a própria Aveji-da, quando está muito
preocupada, se transforma em
uma linda klamklam e sai pelos mundos a voar para
observar melhor o djenukom e
o aikungumã.
Fá disse a um bakono que sempre que uma Aveji-da
recebe uma oferenda, uma
klamklam aparece para confirmar a presença dela.
A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante.
Uma ligeireza sutil, de espírito
viajante.
A klamklam brincando entre as flores é a alma da
deusa nos humahuan. A deusa
acompanha o guhê na primeira metade de seu curso
visível, até o guhemê. Em
seguida, desce de volta à aikungumã sobe a forma de
uma klamklam.
Há uma associação analógica da klamklam e da chama,
de suas cores e do bater de
suas asas tal qual a duwe de Aveji-da.
Aveji-da, assim como todas as deusas do fogo,
associa-se a obsidiana, uma kpeizó,
seu emblema.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da
alma dos achólupêle, a
klamklam é também um símbolo do guhê-du,
atravessando os mundos
subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim,
símbolo do fogo ctoniano
oculto, ligado a noção de sacrifício, de morte e de
ressurreição. É então a
klamklam, atributo das divindades ctonianas,
associadas à morte. Ela ilustra, ao
mesmo tempo, a analogia alma-borboleta e a passagem
do símbolo à imagem.
O homem segue, da vida à morte, o ciclo da
klamklam. Ele é, na sua infância, uma
pequena lagarta, uma grande lagarta na sua
maturidade; ele se transforma em
crisálida na sua velhice; seu túmulo é o casulo de
onde sai a sua alma que voa sob
a forma de uma klamklam. A postura de ovos dessa
klamklam é a expressão de sua
reencarnação.
Dizem os velhos Vodunos:
- Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na klamklam!
(- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma
de uma borboleta)
Quando uma klamklam aparece no templo dos Voduns,
todos saúdam a bela Deusa
do degi, dos johon, e das djizônukon num só grito
"Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!".
Vocabulário
klamklam - borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam)
Klamklamle - borboletas
Touboumé - reino
Djenukom - céu (orum)
aikungumã - terra (aiye)
Humahuane - guerra, campo de batalha
Guhê - sol
Guhemê - meio-dia
Duwe - dança
Guhê-du - sol negro
kpe-izó - pedra de fogo
achólupê - soldado, guerreiro
achólupêle - soldados, guerreiros
Oku - morto, cadáver
Ete - que
Ekùs - alma, egum
jo - deixar
Nhû - corpo físico
Bochiô - forma, escultura
Na - uma (artigo)
Degi - ar
Johon - vento
Mikan - salve!
djizônukon - tempestade
OS PRIMEIROS VODUNS
De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu
é um deus supremo e
criador. Mawu representa a lua que traz a noite e a
temperatura fresca, no mundo
africano. Reside no oeste e é descrita como uma
velha fria e indiferente o que é
considerado pelos povos Fon, sinônimo de sabedoria
e idade.
Alguns itans contam que Mawu tem um irmão gêmeo
chamado Lisá, em outros,
encontramos que se trata de um deus andrógino, que
sua parte feminina é Mawu e
a parte masculina é Lisá. Lisá é tido, pelos povos
africanos, como feroz e áspero,
residente no leste, representa o sol.
Mawu e Lisá são considerados como uma unidade
inseparável na base do universo,
representantes do uno e da ordem. Foram trazidos
por Nanã, que criou o mundo.
Quando há um eclipse do sol ou da lua, os povos de
Fon acreditam que Mawu e
Lisá estão fazendo amor. E conceberam... As
primeiras crianças a nascerem,
gêmeos, foi um menino chamado Da Zodji e
uma menina chamada Nyohwe Ananu.
O segundo a nascer, teve a mesma característica de
seus pais, andrógeno, era Sobo.
O terceiro nascimento, também gemeos, foi um
menino, Agbe e uma menina,
Naete.
O quarto a nascer era velho e experiente.
O quinto, também era um homem, Gu. Todo em forma de
corpo, não tinha cabeça.
No lugar da cabeça, uma enorme espada saía de sua
garganta e seu tronco era uma
pedra.
O sexto nascimento não foi de um ser. Era Djo, o
ar, a atmosfera, o necessário para
criar os homens.
O sétimo a nascer tinha chifre, era Legba. Era o
preferido de Mawu, por ser o mais
novo.
Um dia, Mawu-Lisá reuniu todas as crianças a fim de
dividir seus reinos.
Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e
disse-lhes para irem habitar a terra.
Disse-lhes que a terra era para eles.
À Sobo, Mawu disse que devia permanecer no céu
porque era homem e mulher
como seu pai.
Aos gemeos Agbe e Naete, disse-lhes para irem
habitar o mar, comandar as águas.
Para o quarto filho, velho e experiente, deu o
comando de todos os animais e
pássaros, e disse-lhe para viver no arbusto como um
caçador.
A Gu, Mawu disse-lhe que era sua força, e era assim
porque não foi lhe dado uma
cabeça como aos outros. Por isso, a terra não
permaneceria para sempre só com
arbustos selvagens. Era ele quem ensinaria os
homens a serem felizes.
À Djo, Mawu disse-lhe para viver no espaço, entre a
terra e o céu. A ele confiaria o
livre arbítrio do homem. Seus irmãos seriam
invisíveis e a ele cabia vesti-los.
Depois que Mawu disse isso às crianças, ela deu aos
gemeos de Sagbata a língua
que devia ser usada na terra, e removeu de sua
memória a linguagem do céu.
Deu a Hevioso a língua que ele falaria e tirou de
sua memória a língua falada pelo
pai. O mesmo foi feito para Agbe e Naete, para o
mais velho e para Gu.
Agora, disse a Legba, você é a minha criança mais
nova e como você é levado e
nunca soube o que é punição, não posso
transformá-lo como a seus irmãos. Ficarás
sempre comigo. Seu trabalho será visitar todos os
reinos governados por seus
irmãos e dar-me ciência do que acontece. Assim,
Legba sabe todas as línguas
faladas por seus irmãos e a língua de Mawu. Legba é
lingüísta de Mawu. Se um
dos irmãos desejar falar com Mawu-Lisá, deve dar a
mensagem a Legba, porque
nenhum deles sabe mais dirigir-se a Mawu-Lisa. Por
isso que Legba está em toda
parte.
E é também por isso que encontramos Legba na porta
de todas as casas de Vodum,
porque todos os seres humanos e deuses devem
dirigir-se a ele antes que possam se
aproximarem dos deuses.
HEVIOSO SALVA DAHOMEY
Houve uma grande seca no reino de Dahomey, quase
quatro anos sem chover. A
fome assolava a região, o povo desesperado fazia
junto com o rei, oferendas aos
deuses pedindo que enviassem a chuva, mas nada
funcionava, parecia que os
deuses não aceitavam as ofertas. O rei já não sabia
mais o que fazer, todos os
recursos já tinham sido usados sem nenhum sucesso.
Em seu desespero o rei rogou
aos seus ancestrais que mostrassem o que ele
deveria fazer para salvar seu povo e o
reino. Um dia o rei acordou com gritos de uma de
suas noiva e foi ver o que
acontecia. Encontrou sua noiva lutando com os
soldados que não a deixam passar
para acordar o rei, interpelou-a, ela respondeu que
tivera um sonho com um deus
muito poderoso e que trazia um recado ao rei. Huenu
era uma jovem e bela virgem
portadora de poderes mágicos, que se tornaria
esposa do rei tão logo a chuva
chegasse. Huenu contou ao rei que sonhará com um
deus muito alto e forte que
cuspia fogo e lançava raios e trovões com suas
mãos. Este deus disse a Huenu que
se o rei erguesse um templo para ele em Dahomey e
passasse a cultuá-lo, traria a
chuva e o sol que iriam fertilizar o solo e que
nunca mais a seca voltaria a castigar
o reino. Após ouvir atentamente o relato da noiva,
o rei considerou que era uma
resposta de seus ancestrais, mandou chamar os
sacerdotes do reino e contou o
sonho de Huenu. Após varias conversas, os
sacerdotes admitiram que não sabiam
quem era esse deus, resolveram consultar o bakono
que vivia afastado da cidade. O
rei mandou o buscá-lo. Após consultar ao oráculo de
Fá, o bakono disse tratar-se
de Hevioso o deus do trovão e que o rei deveria
obedecê-lo. Os sacerdotes do rei
não sabiam como fazer para tratar e cultuar o novo
deus, pediram auxilio
novamente ao bakono que fez nova consulta a Fá. Fá
mandou que o rei fizesse ebó
para Elegba e viajasse para Hevie onde ele
encontraria Hevioso e aprenderia sobre
seu culto. O rei viajou com seus sacerdotes. Ao
chegar em Hevie, foram recebidos
por um Hunon que já os aguardava. O rei e seus
sacerdotes foram iniciados no
culto de Hevioso e aprenderam seu culto. Quando
estavam prontos, o Hunon
avisou que já poderiam partir, mas, teriam que
levar consigo uma sacerdotisa de
Hevioso e essa levaria para Dahomey o assentamento
do deus do trovão que
deveria ser estabelecido no reino. Ao chegarem a
Dahomey, o rei colocou Hevioso
em seu palácio e mandou preparar oferendas conforme
a sacerdotisa havia
indicado, depois mandou que todo o povo viesse
conhecer o novo deus e prestar
homenagens, assim foi feito. Naquela mesma noite
raios e trovões rasgaram os
céus de Dahomey e a chuva caiu em abundância
fertilizando o solo. O rei não
cabia em si de contentamento, mandou um mensageiro
a Hevie contar ao Hunon o
sucedido e pedindo que esse viesse a Dahomey
assentar toda a família de Hevioso.
Hunon chegou a Dahomey trazendo consigo os
assentamentos dos demais
membros da família de Hevioso. Um grande templo foi
construído para Hevioso e
uma grande festa que durou seis dias e seis noites,
foi feita para saudar aqueles
novos deuses. Hunuon por ordem de Hevioso casou-se
com Huenu que se tornou
uma grande sacerdotisa de Hevioso. Depois desse
período nunca mais Dahomey
conheceu a fome, Hevioso prometeu e cumpriu. Ele
envia a chuva e sol que
fertilizam a terra.
Mito da Serpente - Visão do Fim
O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não
é macho e nem fêmea.
Nana Buluku gerou dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem
modelou o mundo com a
ajuda de seus quatorze filhos, os Voduns, deuses
menores.
Antes de Mawu ter dado vida à seus filhos, a
Serpente do arco-íris já existia, criada
para servir a Nana-Buluku. Levava o criador por
toda a parte em sua boca. Rios,
montanhas, entre os vales e curvas, exatamente o
movimento circular da Serpente.
Onde eles paravam pela noite, montanhas surgiam de
esterco da Serpente. Por este
motivo, quando você escava profundamente as
montanhas, acha riquezas. Quando
Nana acabou de criar o mundo, é óbvio que a terra
não podia suportar o peso de
tudo, montanhas, árvores, seres humanos e animais.
O criador designou que Da
envolvesse o mundo para mantê-lo, amortecê-lo.
Daí o costume africano do uso do torso quando estão
levando uma carga pesada.
Para que Da não permanecesse no calor, Mawu criou o
oceano para ele. E lá Da
permanecem desde o início dos tempos, com sua cauda
na boca. Mesmo a água
mantendo-a fresca, as vezes se desloca em torno de
si mesma tentando ficar
confortável, o que causa os terremotos.
Da precisa manter-se alimentada, o que obriga a
Nana e aos ferreiros forjarem
barras de ferro para mantê-la alimentada. Mais cedo
ou mais tarde o suprimento de
ferro irá se esgotar e Da não vai ter nada o que
comer. Com fome, ela vai comer
sua cauda, suas convulsões serão terríveis, toda a
Terra vai inclinar, pela
sobrecarga de coisas e pessoas. A terra vai ser
engolida pelo mar.
Não Devemos Quebrar Promessas
Feitas aos Voduns
Está é a história de um homem pobre que se chamava
Kakpo. Esse fato aconteceu
em Tendji.
Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada.
Havia um homem pobre que trabalhava com o machado.
Ele cortava árvores para
conseguir madeira. Um dia, encontrou uma árvore boa
para cortar. Ele foi cortar
Loko.
Loko lhe disse: - Não me corte. Nenhum homem deve
me cortar.
Há três Voduns que vivem na árvore de Loko: Dan,
Dangbe e Tohwivo, do clã de
Ayato, uma vila em Abomey. Loko tem sete tipos de
pequenas cabaças duplas.
Loko disse ao homem: - Vire-se para mim. Se eu lhe
der riquezas, você fará tudo
que eu mandar?
O homem lhe respondeu: - Sim!
Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e
disse-lhe: - Encontre um bom
lugar e quebre uma na terra. Se eu der as riquezas
você me dará um boi
anualmente?
- Sim, respondeu o homem.
Aquele lugar onde o pobre homem quebrou a primeira
cabaça tinha se tornado
sagrado. Quebrou então a segunda. Muitas casas
apareceram.
Quando quebrou a terceira cabaça as casas foram
cercadas por paredes.
Com a quarta, redes, bancos e almofadas apareceram,
tudo que era necessário à um
rei.
Quebrou a quinta cabaça e viu muitas pessoas nas
casas. Com a sexta surgiram
cavalos. Montou um cavalo.
Quando quebrou a sétima cabaça encontrou Fa e
Legba, e não apenas as coisas
para adorá-los.
Mas Kakpo não deu a Loko o boi que lhe tinha
prometido.
Loko se transforma em um homem pobre, usando roupas
de ráfia, e vai pedir água
a Kakpo.
Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei.
O Minga disse: - Sai daqui! Que tipo de homem é
você que veste-se com roupa de
ráfia?
E Loko foi afastado. Voltou uma segunda vez. O
Minga surrou-o com um chicote.
Loko foi embora. Voltou uma terceira vez. Os
aldeões estavam ocupados em
cultivar para o chefe. Bateram em Loko novamente.
Desta vez, Loko começou a cantar uma canção:
- "Ponham aqui as sementes, venham aqui e
dancem para mim, seus dançarino que
dançam bem".
Loko cantava assim e, enquanto cantou, todas as
pessoas que cultivavam
desapareceram.
Kakpo ficou pobre outra vez. Loko deixou-o somente
com um pano de ráfia. Fa
retornou ao seu reino.
Kakpo foi outra vez à Loko. Diante dele, encostou
sua testa na terra e implorou que
Loko o perdoasse. Disse: - Eu lhe darei o boi que
havia prometido.
Mas Loko recusou.
Kakpo e sua vila viveram o resto de suas vidas
pobremente.
Não se Deve Enganar um Bakonon
O Macaco e a Tartaruga
O macaco pode subir em árvores, mas a tartaruga não
pode. Os dois não eram
amigos.
Uma vez, durante uma escassez, o macaco encontrou
um milharal onde a colheita
estava muito boa. Ele não podia comer o milho
porque as pessoas sempre
expulsavam os macacos dali.
Assim, o macaco foi a um bakonon para perguntar o
que ele podia fazer.
A tartaruga disse: - Eu sou um grande bakonon, mas
eu não saio de minha casa. Se
você quiser algo, deve vir à minha casa. Estou aqui
para os pobres, para todos
aqueles que precisem de algo. Seu tivesse ido com
você, tu não me alimentarias,
porque sabes subir em árvores e eu não.
A tartaruga não queria ir mas o macaco tanto
insistiu até que, finalmente, ela foi
com ele. Ela consultou o Fa por longo tempo.
Quando chegaram ao milharal, o macaco começou a
comer. Disse a tartaruga que
esperasse por ele mas não deu nada à ela. Assim,
deu meio-dia e a tartaruga não
tinha nada para comer.
Um leopardo chegou ao local onde a tartaruga
estava. Disse à tartaruga: - Eu estou
com uma criança doente em minha casa. Já fui a sua
casa duas vezes mas não a
encontrei.
O macaco, de cima da árvore, prestava atenção na
conversa do leopardo com a
tartaruga.
A tartaruga chamou o leopardo para baixo da árvore
onde estava o macaco. Lá
jogarei o Fa para você, disse a tartaruga.
Quando lá chegaram começou a jogar. Ela disse: -
nós devemos encontrar um
macaco para curar sua criança.
O leopardo indagou: - Devo encontrar um macaco? E
onde posso encontrar um?
A tartaruga respondeu: - Oh! não é difícil. Você é
forte. Sem isso não posso fazer
nada. Eu sei onde encontrar um macaco. O que você
me dá se eu lhe disser onde
encontrar o que precisa?
Pediu mil cauris.
O leopardo deu-lhe os mil cauris.
- Olhe acima de minha cabeça e verá um macaco,
disse a tartaruga.
O leopardo falou para o macaco: - Ah! venha já
aqui, você está tão perto!
O macaco não quis descer porque tinha ouvido toda a
conversa.
O leopardo começou a se irritar e gritava: - Você
não está me ouvindo? Está de
macaquice comigo? Um macaco não é mais que meu
filho! O Fa disse que você é a
solução. Preciso de sua cabeça e sua cauda, o resto
deixo com você.
Ouvindo essas palavras, o macaco fugiu. Disse: - Eu
não estou aqui para dar-lhe
minha cabeça e minha cauda.
O macaco correu e o leopardo foi atrás dele. O
leopardo conseguiu alcançá-lo e
trouxe-o para a tartaruga.
A tartaruga disse: - Bem, amarre-o!
Assim o leopardo fez, amarrou o macaco.
Então a tartaruga teve descanso para comer e a
criança doente foi curada.
Por essa razão, ninguém deve enganar um bakonon.
ANANSI
Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti,
povo de Ghana, também
chamado "O Aranha".
É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai,
que comanda Anansi para levar
chuva para apagar o fogo em florestas e determina
os lugares que Anansi deve
"fazer" barreiras em oceanos e rios, em
grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do
camaleão, alguns dizem que o
camaleão roubou as funções de Anansi.
Sua mãe, Asase Ya, é considerada, por vezes, a
criadora do Sol, da Lua e das
Estrelas, bem como aquela que instituiu a sucessão
do dia e da noite. Diz-se que
Asase Ya também criou o primeiro homem e que Nyame
deu o sopro de vida.
Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a humanidade
como semear grãos e como
usar a pá nos campos.
Anansi é o mito africano mais popular.
Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida
entre as crianças e jovens, por
ter tido sua performance caricaturada a uma aranha
infantil, que conta histórias,
mitos e fábulas dos diversos lugares, civilizações
e culturas africana.
A ÁRVORE DA VIDA
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando
foi e nunca soube - não
havia floresta, apenas colinas e planaltos a perder
de vista, e um rio que
atravessava estas terras desoladas. Perto do rio,
onde a terra era branca, vermelha e
preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador de
todas as coisas.
Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo
dia, para lhe suplicar que
criasse uma grande floresta...
- Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos
dar uma floresta, povoada
por milhares de árvores... - pediuMbere, com o
coração cheio de esperança.
- Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os
fortes, por favor, nos dê uma
floresta povoada por milhares de animais... - pediu
Nkwa, com o coração cheio de
sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba,
olhando firme para eles, com
seus olhos escuros como a noite.
- E por que os meus filhos pigmeus estão querendo
isso?
- Nós somos tão pequeninos... Os menores dos
menores... - começou Mbere. -
Podíamos nos esconder na sombra das árvores...
- E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa -
podíamos escapar dos nossos
inimigos gigantes...
- Os gigantes receberam a força, na divisão, mas
vou dar algo muito melhor aos
pigmeus...
E o Criador ergueu a mão.
- Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês
não terem mais frio. E dou os
animais que caminham, que pulam, que voam, que
nadam, para que jamais a fome
entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as
árvores, como abrigo e como amigas.
Vocês serão os senhores da floresta e, no reino
dela, os pigmeus estarão em casa,
livres.
Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum
boquiabertos, com a impressão de
estarem vivendo um sonho. Eles, os menores entre os
homens, iam se tornar os reis
da floresta!
Ardendo de impaciência e devorados pela
curiosidade, viram o Criador entrar em
casa e voltar em seguida, trazendo uma árvore
minúscula, que acabara de se
formar.
- Esta aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a
guardiã da coisa vermelha que
esquenta, que cozinha e que ilumina.
E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer,
esfregando dois pedaços de pau.
Depois, plantou a arvorezinha na margem de três
cores e foi se sentar, com os
braços cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma
única árvore, mesmo se crescesse
muito, não era uma floresta.
- Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais
não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos.
- Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem,
outra nuvem. Depois de uma
árvore, outra árvore...
Os dois pigmeus não perguntaram mais nada.
Curvados, com a testa apoiada no
chão, rezavam para Khmvum, quando um barulho
estranho estranho os fez levantar
a cabeça.
Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a
crescer com uma velocidade
prodigiosa.
Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que
seis pigmeus não bastariam
para rodeá-lo com os braços. O sol do meio-dia
desaparecera por trás da folhagem
espessa que já enchia de sombra as duas margens do
rio. E a árvore continuava
crescendo.
Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu
pelo quatro cantos do
horizonte, Khmvum Vali, aquele que dá a vida,
aproximou-se e tocou a árvore com
a palma da mão.
Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície
um dilúvio de grãos. Mbere e
Nkwa caíram de joelhos, maravilhados. Num instante,
cada grão dava vida a uma
nova árvore. Onde antes não havia nada, nascia
agora um mundo ao redor deles,
uma floresta profunda, que crescia a olhos vistos!
Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes,
sacudiu com as mãos o tronco
da grande ancestral e as folhas começaram a cair de
uma a uma.
Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao
nascimento do mundo animal:
assim que uma folha tocava o solo, começava a se
arrastar, a saltar, a andar ... e ia
crescendo e se transformando em serpente, em
macaco, em elefante... As que
ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros de
todo tipo, e as que caíam no
rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E
toda a vida da floresta nasceu da
árvore Tii.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
A COLHEITA DE ESTRELAS
Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais
de cansaço...
No começo, os pigmeus não prestaram muita atenção.
Talvez estivesse um pouco
menos claro, seguramente fazia menos calor que
antes, mas, afinal de contas,
sempre houve dias menos bonitos que outros, não era
motivo para ninguém se
apavorar.
Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus
mais otimistas tinham que
reconhecer que o fenômeno estava continuando de uma
forma anormal.
Consultaram então o Nzorx, o advinho curandeiro,
que foi consultar seu espelho de
vidência. O que leu nele não devia ser muito
animador, porque apertou as mãos
sobre o seu talismã de chifre de antílope, como se
quisesse se proteger e proteger
sua tribo de uma grande desgraça.
- E então? O que foi que o espelho de vidência
revelou? - perguntaram seus
irmãos, esperando o pior.
Com um sorriso forçado, o Nzorx quis
tranquilizá-los: desde que existia a memória
dos homens, nunca o Sol deixara de brilhar. Bako
era velho e robusto como o
mundo, não havia nenhuma razão para que de repente
adoecesse...
- Mas não dá para negar que Bako não anda com um
aspecto muito bom - insistiu
um pigmeu, com a voz preocupada. - Está tão
pálido...
- Só um pouco de cansaço, isso passa.
- E no fim do dia está vermelho, afogueado, como se
estivesse sem fôlego!
- Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada
grave.
No entanto, os sintomas preocupantes se
multiplicavam: o calor era cada vez
menor... a luz enfraquecia a olhos vistos... Bako
cada dia deitava-se mais cedo,
como se estivesse esmagado pelo peso de um trabalho
que ficara pesado demais
para ele. Então o pressentimento virou certeza: o
estado do Sol piorava de maneira
catastrófica.
- Hum... alguma coisa anormal está acontecendo... -
murmurou um pigmeu, e
depois outro, e mais outro.
- Bako só é a sombra do que era - sussurraram
outros.
- E se ele apagasse?
Mal foi formulada, essa idéia lançou o terror nos
espíritos. A vida era inconcebível
sem Bako para iluminar e aquecer os humanos. Nessa
noite, os pigmeus ficaram
esperando o alvorecer e tremendo: se o Sol não
comparecesse ao encontro, seria
simplesmente o fim do mundo.
Como o dia demorava a aparecer! Com um atraso
angustiante, o astro levantou-se
mais uma vez, mas em que estado! Irreconhecível,
lívido, gasto, subia
penosamente pelo céu, mal conseguindo dardejar seus
grandes raios...
Horrorizados, os pigmeus finalmente o viram
desaparecer numa luz crepuscular de
muito mau agouro. Desta vez, foi o pânico. O Sol
morria no horizonte! Jamais teria
a força de subir novamente ao firmamento se sua
chama não fosse reavivada.
Aliás, nem haveria amanhã, pois com toda certeza o
dia não nasceria nunca mais.
Era absolutamente indispensável que se tentasse
alguma coisa logo, mas o que?
Intimado a encontrar uma solução, já que era o
advinho e curandeiro, o pobre
Nzrox ergueu as mãos para o Céu, em sinal de
impotência.
- Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako.
Khmvoum... À simples evocação do Deus supremo, os
pigmeus readquiriram
confiança, tão rapidamente quanto haviam se
desesperado. Isso mesmo, apenas o
Grande Caçador celeste poderia impedir o desastre.
Bastava que ele ouvisse o
pedido de socorro de seus filhos: tudo voltaria à
ordem e...
De repente, uma risada sinistra rasgou o silêncio
da noite: era Tore, o espírito da
Floresta! Só ele poderia achar graça num momento
daqueles... Pouco lhe
importava que a luz abandonasse o mundo, ele era um
pássaro noturno, um
monstro da mata, que se alegrava com as trevas.
- Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o
ogro Ngoogounogumbar vai
devorar nossos filhos...
- E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em
réptil para nos morder no
escuro!
Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um olhar de
súplica. Entrecortada pelas
risadas de Tore, sua prece subiu ao Céu:
Ó Sol... Ó Sol...
A morte vem, o fim já chega,
O astro cai e morre.
O fogo escurece, a mata fica negra,
A chama vai se apagar, é nossa desgraça!
É nossa desgraça... Oh! Khmvoum!
Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos
e siu seu desespero.
Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção
ao Sol. Em sua mão direita,
brilhava o Arco-íris. Na esquerda, tinha uma sacola
enorme, que lançou sobre os
ombros: a colheita do Grande Semeador celeste ia
começar...
Khmvoum penetrou nas grandes florestas do Céu.
Dirigiu-se para o oriente, lá no
fim do mundo, onde normalmente Bako deveria
reaparecer. Em sinal de aliança
com seu povo, plantou lá o Arco-íris que, de manhã,
diria que os belos dias tinham
voltado e que não havia mais nada a temer. Depois,
com passos decididos,
enveredou pela Via Láctea; o caminho todo
pavimentado de estrelas.
Khmvoum deteve-se numa região celeste rica em
milhões de astros, todos muito
brilhantes. Havia tantos, de todo lado, que era só
esticar a mão, colhê-los aos
punhados e guardá-los na sacola. Bem que as
estrelas, assustadas, tentavam fugir,
mas não era fácil escapar ao Grande Semeador, e
elas logo eram aprisionadas.
Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o
suficiente, mais um punhado
de estrelas e pronto. Unindo o gesto ao pensamento,
agarrou um cometa que
passava voando e mais duas ou três estrelas
cadentes, para completar!
Khmvoum prestou atenção. Por cima da tempestade que
rugia lá embaixo,
distinguiu o coro de seus filhos desesperados,
suplicando:
É nossa desgraça ... Oh! Khmvoum!
A morte já vem, o fim vai chegando,
A chama vai se apagar!
Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o
mensageiro celeste que fala na
tempestade, de explicar aos pigmeus que o fim do
mundo não viria nesse dia. Gor
dirigiu a tromba para a Terra, para mandar a
mensagem de esperança... Na mesma
hora, atingidos por uma chuva diluviana, os pigmeus
recitavam sua prece com
fervor crescente. O alvorecer já devia estar ali...
não restava mais muito tempo para
salvar Bako. Então, quando o trovão estourou com
sua força assustadora,
acreditaram que a hora de seu fim tinha chegado.
Mas o Nzorx apontou um dedo
inspirado em direção ao céu.
- É a voz de Gor! - exultou, com o rosto encharcado
de chuva. - E nos diz que
Khmvoum está à cabeceira de Bako.
Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas.
Bem a leste do mundo,
tinha encontrado o astro moribundo, mais pálido que
a Lua, e lançado o conteúdo
de sua sacola na fogueira quase extinta do Sol. As
estrelas crepitaram, explodiram
em centelhas que se transformaram em chamas
gigantescas. Bako foi ficando cada
vez mais vermelho, como uma brasa incandescente. A chuva
de estrelas, que não
parava de cair sobre ele, o regenerou. Ele
embrasou-se, inflamou-se, reencontrou
seu esplendor original. E no oriente houve uma
ebulição de calor, uma luz
ofuscante!
Lá embaixo na floresta, as risadas cruéis de Tore,
o espírito da Floresta,
estrangularam-se em sua garganta. A longa noite
acabava de ter fim, a hora do
grande declínio ainda não chegara.
Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol
levantou-se no horizonte. Mais
brilhante do que nunca, rasgou o manto das trevas,
furou as nuvens negras,
dissipou os medos, explodiu e resplandeceu no dia
nascente.
- Arco-íris! O Arco-íris! - entoaram os pigmeus,
encantados, descobrindo o sinal
de Khmvoum a leste do céu.
Tu que brilhas no alto bem alto,
Acima da floresta tão grande,
Arco poderoso do Grande Caçador celeste,
Diz a ele que agradecemos!
Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse
estrelas no céu e enquanto
Khmvoum velasse sobre seu povo.
Texto - Franck Jouve e Michael Welply
Tradução - Ana Maria Machado
A ÁRVORE QUE NÃO TINHA MEDO DO CÉU
O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão
bonita e cheia de vida.
No começo, o Céu ficava muito perto da Terra e
pesava sobre ela como se fosse
uma grande tampa, de tal modo que as árvores só
conseguiam crescer para os
lados. Então seus galhos ficavam uns por cima dos
outros, suas folhas varriam o
chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e
secavam...
Era assim desde o começo dos tempos - e seria até
hoje se uma sumaúma, cansada
de viver apertada, não tivesse forçado seu destino.
"Quem sabe se não há mais espaço do outro lado
do teto do mundo?", sonhava ela.
Firmando bem sua copa, a árvore tentou furar um
buraco e então - mas que
prodígio! - o Céu recuou alguns metros! Era o que
bastava para que a valente
sumaúma se endireitasse em todo o seu tamanho e
passasse lá para cima, para
aspirar o ar das alturas.
Espantadas ao verem que se afastava o tirano que as
oprimia desde sempre, as
outras árvores aproveitaram para se sacudir e se
esticar, lançando seus galhos para
o alto. Os troncos se firmaram, as raízes ancoraram
majestosamente no solo, os
brotos atrofiados se desdobraram, embriagados de
felicidade, e deixaram assim
nascer milhares de folhas. Em volta da sumaúna, em
pouco tempo a Terra era uma
vasta floresta virgem, que finalmente começava a
respirar.
Enquanto isso, do outro lado do Céu, um jovem casal
de órfãos avançava
cautelosamente pelas grandes pradarias celestes. Ao
avistar o que tanto
procuravam, ficaram imóveis. Um lagarto grande ,
preguiçoso, tomava sol
estendido sobre uma nuvem. O caçador ergueu sua
azagaia, enquanto sua
companheira punha uma flecha no arco.
Consultaram-se com um olhar e fizeram
pontaria... O lagarto deu um salto e rolou sobre si
mesmo, no instante em que os
dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos não
acreditaram no que viam: não apenas
tinham errado o alvo, mas seus tiros haviam
desaparecido num buraco!
Esquecendo a presa, aproximaram-se da abertura...
Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde
ondulava a perder de vista.
Olhando mais de perto, descobriram a flecha e a
lança fincadas no meio daquele
oceano esquisito. Não era um mar líquido. O que
seria então?
- E se nós descêssemos? - sugeriu a moça,
fascinada.
Não precisou dizer duas vezes. Era isso mesmo o que
ele queria. Pousou o pé num
galho da sumaúma, para testar se era firme, e
depois estendeu os braços para a
companheira, a fim de ajudá-la. De galho em galho,
penetraram assim no coração
daquele reino verde, até pisarem em terra firme.
Durante todo o dia, exploraram
cada recanto da floresta, maravilhados com sua
beleza e com o frescor que nela
reinava. A mesma idéia lhes ocorreu, ao mesmo
tempo: por que não se mudavam
para viver ali embaixo?
O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de
muitas horas de buscas inúteis,
tiveram de se render às evidências: não havia
viv'alma naquele lugar... Nem um
animal nos ocos, nem ao menos um inseto! Um
silêncio mortal planava sobre a
floresta desabitada.
Muito desapontados, os órfãos se sentaram num
tronco de árvore para pensar.
Mesmo que eles se alimentassem apenas de frutas e
bagas, morreriam de tédio e
solidão. E como começavam a ter fome, a moça de
repente se lembrou de que tinha
no bolso uma espiga de migo celeste. Ia dividi-la
ao meio, mas mudou de idéia e a
cortou em três pedaços. Deu um ao companheiro,
guardou o outro para si e plantou
o último na beirada do bosque. Talvez surgisse um
campo de milho daquela terra
semeada, num sinal de que pudessem ficar lá
embaixo.
Enquanto as primeiras folhinhas do pé de milho
apontavam timidamente em busca
da luz, a sumaúna continuava a crescer, empurrando
o Céu, lá nas alturas. Até que
chegou um momento em que o Céu se cansou e não quis
mais chegar para trás.
Curvou-se todo para resistir ao ataque daquela
insolente... mas a árvore acabou
conseguindo transpassá-lo e sair do outro lado.
Foi assim que uma copa gloriosa e triunfante
irrompeu bem no meio da pradaria do
céu - para grande alegria dos animais que lá viviam
e que vieram correndo se
abrigar dentro dela. Até que enfim, aparecia um
lugar fresco e sombreado!
Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem,
quando o Céu resolveu de
uma só vez se afastar para bem longe da sumaúma,
indo parar no lugar onde está
até hoje.
Abandonados, sentindo-se presos numa armadilha, os animais
não tiveram outro
remédio: trataram de descer, de qualquer jeito,
pelo troco da sumaúma e foram
viver na floresta. Os que não conseguiram, nem
sabiam voar, tiveram de esperar
que os órfãos fossem buscá-los, um a um.
Foi assim que o mudou o mundo todo, graças a uma
árvore que não tinha medo do
Céu.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
INSTRUMENTOS
A cultura africana é muito rica.
Neste espaço disponibilizaremos alguns dos
instrumentos musicais usados em
rituais e comemorações de nossa nação.
Para cada um deles, contamos um pouco de sua
história e utilização. É, de fato,
uma viagem no tempo e na história da cultura
afro-brasileira.
DANHOUN
O danhoun pertence a família dos instrumentos de
percussão. É uma série de três
tambores de tamanhos diferentes sendo o maior
chamado de hounon, o médio o
sanga e o menor o alekle. Eles são cobertos com
ráfia tingida, apenas tocados por
adeptos preparados (ogans) e sua melodia só pode
ser dançada por pessoas feitas.
Este instrumento só é tocado durante as cerimônias
em honra ao deus Dan,
representado pelo arco-íris ou por Dangbe, a cobra
python, para as Tovoduns das
águas doces ou para Legba, deus dos caminhos.
Nestas cerimônias os adeptos
também usam roupas de ráfia tingidas de roxo.
A intensidade do ritmo do danhoun proporciona o
transe aos voduncis.
O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o
primeiro a iniciar um ogan para tocar
seu instrumento de adoração.
Na África, tocar o danhoun para outros deuses que
não os citados, é considerado
sacrilégio. Seu caráter altamente religioso faz
deste tambor um instrumento muito
especial.
TATCHOOTA
tatchoota é uma espécie de gongo.
Este instrumento musical é usado, principalmente
durantes os rituais fúnebres e
celebrações.
Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e
forma especiais. É composto de
duas peças independentes sendo a primeira sempre
usada no dedo indicador e a
segunda, circular, no polegar.
O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente,
possui 8 cm de diâmetro e 20
cm de comprimento. Os primeiros tatchootas a serem
confeccionados pelos antigos
ferreiros reais, eram muito maiores.
É um instrumento misterioso e maravilhoso.
O tatchoota também é utilizado pelos betamaribes
(caçadores), que sinalizam um
animal abatido aos outros betamaribes pedindo
ajuda.
Na cerimônia de passagem da infância para a
maturidade, o difoni, os jovens Fon
recebem um tatchoota para simbolizar esta nova
etapa de vida e saem em
procissão, tocando o instrumento.
O ritmo produzido pelo tatchoota é chamado tipenti,
muito apreciado e dançado
nas cerimônias em homenagem aos Voduns e também no
fim da estação das
chuvas.
Outro momento importante onde o tatchoota é tocado
é no sacrifício de animais e
na entrega das oferendas aos deuses.
GOTA
O gota, também conhecido como kago, que é a base do
ritmo tchinkoume.
Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça
redonda de cerâmica, utilizado
para fornecer o ritmo zinli, música tocada pelos
antepassados que vieram de Tado,
uma aldeia Mahi, onde nasceu o gota. Depois foi
introduzido em Savalou onde era
tocado quando haviam inimigos na cidade. Daí nasceu
o ritmo particular do zin.
O material principal utilizado para confeccionar o
gota é produzido pelo cabaceiro,
chamado katin na língua Fon.
Uma pele animal seca é esticada cobrindo a abertura
depois das sementes terem
sido removidas. E é aí que o som é produzido, com
batidas firmes.
Juntamente com este instrumento principal, outras
duas cabaças menores,
emborcadas em recipientes cheios de água, proporcionam
um som diferente, o
tohoun. Este ritmo é dançado por mulheres ágeis por
ser um ritmo muito rápido.
O gota é tocado principalmente nas cerimônias em
homenagem aos voduns,
funerais e para acalmar os espíritos dos mortos.
Durante as cerimônias funerais toca o ritmo
tchinkoume além do yonoutcho e o
ahidjekpe, que são o primeiro e segundo estágios,
respectivamente, do ritual dos
mortos na tradição Mahi. Seu som oco e fundo
representa o outro mundo para os
Mahis.
Normalmente é tocado apenas por mulheres.
KANKANGUI
É também chamado de kankank, kakasi, kakati,
kakake.
O kankangui é um instrumento de sopro,
confeccionado em latão com
aproximadamente 1,95 cm de comprimento, bem fino e
brilhante. É uma herança
cultural do reino Nikki, no antigo Dahomey.
É um instrumento sagrado e só pode ser tocado por
pessoas iniciadas.
O kankangui é especial, não só por sua forma mas
também pelo seu tamanho além
de produzir um som completamente diferente dos
instrumentos de sopro
conhecidos.
O iniciado que toca este instrumento é chamado de
kiriku e usa um bácom (espécie
de chapéu) na cabeça.
Ele era tocado para agradar os reis e a
aristocracia durante suas grandes cerimônias
e procissões religiosas.
Ainda hoje é tocado nas procissões, festivais e
cerimônias em homenagem aos
Voduns.
Nas noites de quinta-feira, ele é tocado como um
mensageiro sagrado, levando aos
deuses todos os pedidos dos adeptos ao culto dos
Voduns.
ADJALIN
O adjalin é um instrumento muito antigo, criado
pelo grupo étnico Goun.
Ainda hoje, este instrumento é tocado em quase
todas as cerimônias e rituais em
homenagem aos Voduns. Normalmente, são os Gouns
mais velhos que o tocam.
É um instrumento que exemplifica a grande
imaginação e genialidade de um povo.
Confeccionado apenas de hastes de bambu, ao
olharmos o adjalin temos a
impressão de estarmos vendo uma pilha de lenha mas,
o adjalin é muito mais que
isso. Tem uma forma retangular, quinze hastes de
bambu são dispostas
horizontalmente. O adjalin tem em média 65 cm de
comprimento por 25 cm de
largura, e as hastes de bambu são amarradas por
fibras de legumes.
O som deste instrumento é muito harmonioso,
agradando à muitas pessoas. Elas
são atraídas pela melodia suave e fascinante,
encantadora, um verdadeiro som
mágico.
Quando tocado junto com os tambores, não há quem
resista a dançar. É, sem
dúvida, um dos melhores instrumentos oriundos do
antigo Dahomey.
ALOUNLOUN
O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo
adjogan.
O alounloun é uma barra de ferro comprida, de um
metro de comprimento, com
um alongamento, toda trabalhada, sua parte central
é de cobre e argolas deslizam
para cima e para baixo para produzir a harmonia de
sua música. Tem um cabo na
forma de um pássaro, símbolo de Kokpon.
Para falar das origens deste instrumento devemos
voltar na história.
No início, o alounloun era um cajado que
simbolizava a força do rei de Allada.
Este cajado foi herdado por Te-Agdanlin de seu pai
Kokpon quando da disputa,
entre os dois irmãos, formaram então os reinos de
Allada e Dahomey,
respectivamente, no século dezessete.
Um descendente de Te-Agdanlin, De-Gbeyon,
transformou o cajado em um
instrumento musical, durante seu reinado
(1765-1775).
Naquele tempo, era usado para acompanhar canções
que elogiavam o rei. Era
tocado unicamente por mulheres.
Ele pegou o alounloun durante a migração e veio
para o sul do Benin onde criou o
reino de Hogbonou (atual Porto Novo).
Quando ele morreu, de uma geração para a outra, o
alounloun sofreu várias
transformações contando com o gosto e aspirações de
cada rei. Foi realmente
transformado em um instrumento musical pelo rei
De-Gbeyon para homenagear
seus antepassados.
Naquela época ele não era tocado só para homenagear
os reis mortos mas também
para os reis vivos, para as ahossis (rainhas) e na
consagração dos ministros do rei.
O alounloun foi tocado durante cinco dinastias de
Porto Novo.
Hoje é tocado em muitas cerimônias em homenagem aos
voduns, nos ritos
fúnebres, procissões e festivais.
BALAFON
O verdadeiro nome deste instrumento é balan,
incorretamente chamado de balafon,
palavra francesa que indica quem toca o
instrumento: balan é o instrumento, fo o
tocador.
Sua forma é trapezóide e seu som melódico, ativo e
excitante.
Ele é confeccionado de barras de madeira que
produzem notas quando tocadas. As
barras são dispostas paralelamente e sob ele
coloca-se cabaças de vários tamanhos
para criar um sistema de amplificação do som.
As barras são feitas de uma madeira dura chamada
gouene-yori, na língua bambara
e koyehoun, em Fon.
Os fios que seguram as barras são feitos de pele de
cabra ou cervo, que é mais
resistente.
O balafon é tocado em cerimônias festivas em
homenagem aos deuses,
acompanhado de outros instrumentos.
Podemos encontrar o balafon em vários modelos.
DJEMBE
O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada,
tocado com a mão e junto
com o doudoumba, outro instrumento de percussão,
fornecendo o tom baixo. O
topo do djembe é coberto com uma pele de cabra
curtida, segura por argolas de
ferro anexadas por nós de corda.
Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu
nome vem do som do
instrumento quando vibra. É um instrumento muito
expressivo.
O djembe deve estar sempre em um local seco e
limpo.
É tocado em diversas cerimônias e rituais em
homenagem aos voduns.
KPANOUHOUN
O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por
vários grupos étnicos: Fon,
Mahi, Goun, Mina, Yoruba, etc.
É composto de uma parte semelhante a um prato fundo
e uma margem com
buracos onde aparecem argolas de ferro. Uma parte
da margem não contém
buracos e é aí que deve ser segurado com a mão
direita. Com a palma da mão
esquerda é tocado.
Não se pode dizer com exatidão onde este
instrumento se originou. Ele emite um
som muito agradável, falicitador de nossos sonhos.
É um dos raros instrumentos tocados exclusivamente
por mulheres, em cerimônias
de casamentos, iniciações, funerais de idosos e
festivais.
Pode ser acompanhado por um gongo de uma ou duas
câmpulas.
SATO
O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito
de madeira e coberto de
couro. O tambor maior mede cerca de 1,75 cm de
altura.
Ele possui duas formas: uma masculina e outra
feminina sendo que, ainda podemos
encontrar uma forma hermafrodita, exibindo seus
atributos sexuais na maneira de
se tocar.
Este tambor é tocado com pequenas varas curvas, e
emite um ritmo do mesmo
nome, durante os festivais anuais em homenagem aos
antepassados. Nesta ocasião,
todos dançam o ritmo sato, tocado pelo tambor de
mesmo nome acompanhado de
outros instrumentos musicais: gbehoun, ahlomidon,
alangandan e o gongo.
O tambor sato participa da passagem do morto do
mundo visível para o invisível e
é por isso que é tocado nos ritos funerais, para
garantir a separação da alma deste
mundo e sua transição para o outro mundo.
A ninguém é permitido olhar dentro do sato pois lá
estão os espíritos dos mortos e
é por isso que ele é guardado em posição ereta e só
pode ser transportado a noite.
Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é
imutável.
YABARA
O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da
humanidade).
É um instrumento de percussão, sua forma e tamanho
são variáveis.
Ele é confeccionado de uma cabaça e revestido por
uma rede de pérolas ou
sementes de frutas, envolvendo a cabaça até o pescoço.
Para se tocar o yabara, pega-se o pescoço da cabaça
com uma das mãos e com a
outra a ponta da rede para permitir que o som das
pérolas ou sementes seja
amplificado.
Este é outro instrumento bastante utilizado nas
cerimônias e rituais dos Voduns.
KPEZIN
O kpezin é um instrumento importante na vida
cultural e religiosa do Benin.
É um tambor em forma de pote, uma caixa de som com
um longo pescoço e uma
base redonda. A base é revestida com vime trançado
e o instrumento é assentado
em uma "almofada" de casca de bananeira
seca e enrolada, presa no instrumento
por fios de fibra de folhas de bananeira.
O topo tem um diâmetro de 73 cm e é coberto por
pele de antílope. Há dois tipos
de kpezin: o maior chamado de kpezinnon e o menor
kpezinvi, que podem ser
tocados ao mesmo tempo.
A base do kpezin, coberta de pele, pode ser batida
no centro ou nas margens para
produzir sons diferentes durante as cerimônias
especiais, exigindo muita habilidade
de seus tocadores.
O kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira
quando é tocado
para que as forças dos deuses sejam
"armazenadas" nos assentamentos. Da mesma
maneira, ele é tocado para os assentamentos destes
tambores que são guardados
sob eles quando não estão sendo tocados.
Ele também é tocado em cerimônias e rituais aos
voduns e funerais. Nos rituais
fúnebres ele é tocado acompanhado pelo zinli, para
afastar as aflições, moléstias e
ofensas.
A maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob
uma árvore.
Também é utilizado em rituais agrícolas e de
purificação.
O kpezin é um instrumento muito antigo, já tocado
pelos adjohoun (da cidade de
Adja), trazido de Allada pelo rei Dakodonou,
primeiro rei do Dahomey, morto em
1645.
No reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado,
inclusive para consertos em
frente ao palácio.
Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento
sagrado. Na cerimônia do aziza
honou (Aziza é o deus da canção, da música, dos
caminhos musicais), é tocado na
madrugada. Esta cerimônia confere grande força aos
instrumentos.
GANKEKE
O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum
pêndulo em seu interior, feito
em duas peças de ferro, redondas e finas ao longo,
como um funil, unidos no fim
com um espaço entre elas, formando um cabo onde o
tocador segura o instrumento.
O pescoço do instrumento é encurvado e os tocadores
dão batidinhas com uma
peça de madeira. Também encontramos gankeke com
apenas uma câmpula.
Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento.
Este maior é tocado
especialmente nas cerimônias fúnebres.
Ele produz um som agradável, 'kay' 'kay' 'kay', de
onde sai seu nome, acrescido de
gan, que quer dizer ferro.
Este instrumento é tocado principalmente por homens
que, numa mão têm o
gankeke e na outra o zangbetohoun, que é um outro
instrumento musical, secreto,
exclusivo da sociedade do Zangbeto. Seu propósito
está em garantir a segurança do
reino.
Além de instrumento musical, o gankeke era
utilizado para que as ordens do rei
fossem comunicadas por um músico chamado kpalingan,
uma espécie de repentista
que vagueava pelo humpayme, cantando para todo o
reino as ordens e notícias do
rei.
O kpalingan também era responsável por cantar sobre
toda a genealogia dos reis do
Dahomey.
Assim, hoje, cada cantiga, cada reverência cantada
tem um significado, uma
mensagem precisa que pode ser compreendida apenas
pelos iniciados.
O gankeke também toca o ritmo gangbo, quando os
Zangbeto, vigias da noite,
saem em patrulha.
O instrumento gangbo, de onde vem o ritmo de mesmo
nome, também é uma
espécie de gongo utilizado pelos Zangbeto.
Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke
é um instrumento tocado
pelas sacerdotizas pela manhã e a noite, nos
templos de Doudoua e de Dan, para
saúde ou culto de adoração à esses deuses, além de
procissões.
Era também com o gankeke que as sacerdotizas
"espantavam" a má sorte e os
espíritos ruins dos palácio reais.
Artigos
As matérias apresentadas foram selecionadas por mim
e tiveram autorizações
de seus respectivos autores. As pessoas que
quiserem colocar suas matérias
neste site, poderão enviar-me a mesma para uma
previa seleção. Só serão
aceitas matérias relacionadas a cultura dos Voduns
e seus seguidores.
Simbolismo
Espaço Sagrado
Escolha do Nome
Comidas de Santo
Ervas, História e Ritos
Vodou - Arte e Deuses
Dia Nacional dos Voduns
Simbolismo
A palavra "símbolo" origina-se do grego
symbolon, um sinal de reconhecimento
onde observamos que sua etimologia mostra o símbolo
como algo composto. É um
sinal visível de uma realidade invisível que jamais
se esgota em seus significados.
O objeto e seu significado não podem ser separados.
As imagens, os emblemas, os objetos, os símbolos,
os mitos não são meras
criações de nossa alma, nosso espírito ou nossa
mente, eles nos falam de todas as
nossas necessidades. São objetos de nosso
cotidiano, percebidos pelos sentidos,
mas que apontam para algo encoberto, enigmático,
para um significado e para um
excesso de significados, tudo que não pode ser
esgotado no primeiro momento.
Algo externo revela algo interno, algo corporal em
algo espiritual, algo particular
em algo geral.
Geramos energias específicas ao visualizarmos,
mentalizarmos, canalizarmos ou
sentirmos um símbolo, eles nos levam a entrar em
ressonância com o Cosmo, que é
o grande objetivo.
Através dos símbolos desenvolvemos uma maior
capacidade de percepções,
revelações e transformações. Eles fazem parte de
toda a nossa realidade, de nossa
vida interior, mística e religiosa, nos orientam no
campo do conhecimento e no
campo religioso. Somos conduzidos à diversas
dimensões à mundos distantes, à
passados remotos e ao nosso interior onde a
"palavra ainda não se transformou em
palavras".
Os inúmeros símbolos existentes (lingüísticos,
musicais, religiosos, mitológicos,
matemáticos, etc), ocultam verdades iniciáticas e
contam, sozinhos e interligados,
passagens de toda humanidade além de formarem um
único símbolo, o UNO.
Quando trabalhamos bem nossas energias, elas se
transformam em símbolos de
vida, de pensamento, de sabedoria e o poder ativo
dos símbolos projetam seu
significado no Cosmo que nos devolve em energia do
saber infinito.
Os símbolos são universais e difundidos em todo o
mundo, em todas as culturas.
Não podem ser substituídos mediante um acordo. São
suporte e difusores de
energias que nos revelam os segredos da matéria e
do espírito, do físico e do
espiritual.
No universo tudo é vida e se manifesta
simbolicamente. O homem, desvendando a
linguagem oculta dos símbolos, desperta seu
inconsciente para a unicidade, adquire
esclarecimentos suplementares sobre a natureza
secreta de nossa identidade
espiritual, nosso EU.
O africanos e seus descendentes transplantaram toda
uma cultura em símbolos que
fazem parte de nossa sociedade cultural e
religiosa.
Através de diversas etnias e de processos sociais e
históricos, nosso país, nosso
povo, nossa formação é profundamente marcada por
instituições que transportam e
recriam a riquíssima herança africana.
As casa de candomblé são os maiores difusores desta
herança cultural africana
através de um farto e complexo sistema simbólico.
Todo grupo, toda etnia, associação ou comunidade,
para se constituir como tal,
deve estabelecer modo de comunicação - gestos, sons,
exclamações, ritmos, cores,
formas - e constitui-se numa linguagem. Essa
linguagem compreende um conjunto
de signos cujo intercâmbios ou relações simbólicas
configuram as divindades.
Desta forma, o grupo expressa seus desejos. O
consenso simbólico permite que o
grupo fale entre si.
No candomblé o simbolismo é realizado
fundamentalmente pela prática religiosa.
A comunicação se dá por atividades individuais ou
em grupo, pelas cerimônias e
ritos públicos e privados, pelos quartos sagrados,
objetos, trajes e emblemas rituais.
Dança, ritmos, cor, conta, gesto, folha, som,
emblemas e objetos se articulam para
significar o sagrado. São instrumentos de
comunicação que, através de sua forma
significante, manifestam e contribuem para
manifestar e transmitir a complexa
trama simbólica que ultrapassa gerações,
transcendendo o tempo e a origem.
A caracterização sagrada de um símbolo é dada
através de rituais religiosos
especiais que transmitem poderes místicos à esses
símbolos. Desta forma, não
podem ser tratados como objetos-divindades ou meros
amuletos onipotentes que
controlam os adeptos e sim como objetos preparados
e aceitos como símbolos de
forças espirituais. Eles são mais que meras
representações materiais, são objetos
essenciais em que o sagrado está representado. O
religioso reverencia não à
matéria e sim à essência mística que ele simboliza,
que têm finalidades e funções.
São portadores de forças místicas, estimulam a
memória grupal e o processo de
ligação às divindades.
Os símbolos são um "microcosmo" que,
decodificados, falam de todo um sistema
religioso - estético de uma determinada nação.
Não é possível definir intelectualmente o processo
de criação desses símbolos
assim como, não podemos compreender seu conteúdo sagrado
como uma equação
matemática. Cada um deles possui conteúdos
aparentes, visíveis ou manifestos em
níveis consciente, latentes, ocultos ou reprimidos
no nível inconsciente.
A religião, a mitologia e a arte são os veículos
mais sensíveis através dos quais
uma cultura manifesta seus conteúdos e necessidades
latentes. Eles abrigam os
mais ocultos conflitos de nosso mundo presente e
passado, um gigantesco arquivo
onde parte de nossa história ancestral - o
inconsciente coletivo - se elabora e
transmite. Símbolos de uma cultura que emprestam
sua matéria para que o místico
se revele.
Para vivenciarmos os símbolos realmente como tais,
devemos estar prontos para
nos deixarmos tocar emocionalmente por eles,
questionarmos nosso nível de vida
concreto para depois nos ocuparmos com o que está
oculto. Quando estabelecemos
relação com um símbolo, tudo que está ligado a ele
torna-se repentinamente vivo.
Ainda hoje, a grande maioria do povo
candomblecista, desconhecem a simbologia
dos objetos de nossa religião, assumindo atitudes
meramente repetitivas de
tradições passadas oralmente, sem serem
decodificadas. Acreditamos que a cada
símbolo compreendido e apreendido, crescemos em
emanações de energias interior
e exterior.
- Fontes de consulta: Dicionário de Símbolos - Jean
Chevalier
Os Nagôs e a Morte - Juana Elbein
AS MÃOS
A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo
tempo que as de poder e de
dominação.
Certos escritos taoístas dão à elas o sentindo do
alquimista de coagulação e de
dissolução, correspondendo a primeira fase ao
esforço de concentração espiritual, a
segunda à não intervenção ao livre desenvolvimento
da experiência interior dentro
de um microcosmo que escapa ao condicionamento
espacial e temporal.
É preciso lembrar ainda que a palavra manifestação
tem a mesma raiz que mão:
manifesta-se aquilo que pode ser seguro ou
alcançado pela mão.
A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo
mão e poder.
A mão esquerda é tradicionalmente associada com a
justiça e a direita com a
misericórdia; a mão do rigor e a da maleabilidade,
o equilíbrio quando juntas.
A mão fechada é o símbolo do segredo.
A mão serve, enfim, à invocação. Por vezes ela é
comparada com o olho: ela vê. É
uma interpretação que a psicánalise reteve,
considerando que a mão que aparece
nos sonhos é equivalente ao olho. Daí o belo
título: "O cego com dedos de luz".
Segundo Gregorio de Nissa, as mãos do homem estão
ligadas ao conhecimento, à
visão, pois elas têm como fim a linguagem.
As mãos têm uma "transferência" e também
uma "troca" de energia.
A mão é como uma síntese, exclusivamente humana, do
masculina e do feminino,
ela é passiva naquilo que contêm e ativa no que
segura.
As mãos possuem milhares de pontos ocultos de
canais sutis por onde circula a
energia vital. Esses centros de consciência,
superpostos ao longo da coluna
vertebral até o topo da cabeça, podem ser
qualificados de "turbilhões de matéria
etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios
(jogo) dentro, estamos ativando esses
pontos, liberando e trocando energia, a
concentração espiritual, a manifestação, o
poder, o segredo, a invocação, o conhecimento, a
visão e o equilíbrio, para termos
como fim a "linguagem" da leitura dos
búzios.
Se todos os pais/mães de santo procurassem entender
mais sobre o significado de
tudo que fazem e manipulam, com certeza o
"poder" que têm em suas mãos seria
muito melhor explorado e aplicado em beneficío de
seus filhos, de si próprio e da
humanidade.
fonte de consulta: Símbolos - Jean Chevalier
O ESPAÇO SAGRADO
Ataliba Fernando Costa*
A sacralização do espaço remonta, é certo, aos
primórdios do aparecimento na
Terra dos seres humanos modernos (Homo sapiens)
isso na era Cenozóica, período
quaternário.O Homem é considerado como uma das
últimas espécies a surgir no
planeta, e na sua curta trajetória sobre a
superfície deste planeta apenas ele possui
as ideais condições e capacidade para agir sobre o
meio e manipular objetos,
Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas
afirma que o Homem diferenciase
das demais espécies animais, visto que só o Homem é
dotado de imaginação e
inteligência simbólicas.
Trataremos então a seguir de manipulações do Homem
sobre o meio, e a
sacralização não só do espaço, mas também do
momento, de um certo momento
que capturado e representado pode trazer presságios
para um ato ou uma vida.
Comentaremos sobre as mais antigas representações
conhecidas, as gravadas nas
paredes das cavernas, representações conhecidas
como arte rupestre; além de muito
estudadas em nossos dias, trazem algumas incógnitas
que ainda não foram
plenamente elucidadas. Uma delas, refere-se à
dificuldade de precisar a idade
desses desenhos. No entanto, alguns pesquisadores
afirmam que desenhos como
esses datam de períodos anteriores ao Neolítico.
Relevando os problemas de exatidão da idade dessas
representações, a arte rupestre
prima por nos fornecer, como salienta Brézillon,
"informações sobre a fauna e o
gênero de vida das populações representadas".
Estas formas primitivas de representação, feitas
nas paredes das cavernas, usando
de pigmentos extraídos da natureza e entalhes
feitos com ferramentas de pedra,
como muitos pesquisadores como Brézillon, Hauser,
Garcia, Motes e outros
puderam observar, não tinham nenhuma intenção
ornamental estética, e sim um
caráter místico, onde as imagens ali presentes
representavam, para o Homem préhistórico,
amuletos; presságios positivos em suas empreitadas,
uma vez que se
encontram em salas ocultas, de difícil acesso;
nunca em lugares expostos à
apreciação, como mostra Hauser.
Sobre todo el hecho de que las pinturas estén a
menudo completamente escondidas
en rincones inaccesibles y totalmente oscuros de
las cavernas, en los que hubieram
podido de ninguna manera ser una "decoración.
Tambien habla contra semejante
explicación el hecho de su superposición a la
manera de los palimpsestos,
superposición que destruye de antemano toda función
decorativa; esta
superposición no era, sin embargo, necesaria, pues
el pintor disponía de espacio
suficiente. El amontonamiento de una figura sobre
outra indica claramente que las
pinturas no eran creadas com la inteción de
proporcionar a los ojos un goce
estético, sino persiguiendo un propósito en el que
lo más importante era que as
pinturas estuviesen situadas en ciertas cavernas y
en ciertas partes específicas de
las cavernas, indudablemente en determinados
lugares considerados como
especialmente convenientes para la magia.
De posse destas afirmações exemplificadas podemos
então, concluir que poderiam
ser estes ambientes os primeiros templos, lugares
sacralizados, que manipulados
pelo homem estavam prenhes de magia e energia
possibilitadora de presságios
positivos. Ainda buscando subsídios nas informações
de Hauser, podemos também
dizer que se o templo, ou seja, locais onde tais
imagens eram impressas, o local
representado também continha a energia sagrada, um
local
sacro santo.
Ainda citando Hauser, quando este disserta sobre os
autores das tais pinturas
rupestres podemos apreender que os executores
dessas obras deveriam possuir
além das posições de caçador e até mesmo de
geógrafo o título de sacerdote,
aquele eu distinguia e prendia mentalmente todas as
particularidades de um lugar
para assim pender no templo de seu clã toda a
mítica do lugar.
l pintor paleolítico era cazador y debia, como tal,
ser um buen observador; debía
conocer los animales y sus características, sus
habituales paradas y sus
emigraciones a través de las más leves huellas y
rastros; debía tener una vista
aguda para distinguir semejanzas y diferencias.
Com essas informações podemos concluir que as
representações primitivas são
parte das conquistas do Homem, que lenta e
gradativamente foi se
intelectualizando e criando condições de agir sobre
o meio, evoluindo,
conseqüentemente, na forma de representar o espaço
à sua volta. Os desenhos
impressos pelo Homem primitivo, são representações
do espaço no qual ele age, e,
como não poderia deixar de ser, está cheio de
elementos emocionais, um espaço
relacionado com as necessidades e interesses do
Homem pré-histórico.
Dizer que as câmaras das cavernas utilizadas pelo
homem como templo, seria o
primeiro templo seria um pouco incoerente uma vez
que o divino, o sagrado
estava, na realidade do outro lado daquelas paredes
de pedra. Concluímos sim, que
tais câmaras eram na realidade a captura de espaços
especiais que deviam ser
transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço
podemos afirmar que a
categoria Espaço, Paisagem e até mesmo Lugar
(unidade elementar) servem como
pano de fundo para as atividades humanas, portanto
o profano e o sagrado
coexistem, e quem transforma e dá caráter profano
ou sagrado a um ambiente é o
homem que o manipula ao se bel prazer. Citando
HARVEY, quando este fala das
classificações do espaço, este escreve:
O espaço não é nem absoluto, relativo ou relacional
em si mesmo, mas pode
tornar-se em um ou em outro, dependendo das
circunstâncias. O problema da
correta conceituação do espaço é resolvido através
da prática humana em relação a
ele. Em outras palavras, não há respostas
filosóficas para questões filosóficas que
surgem sobre natureza do espaço. As respostas estão
na prática humana.
* Ataliba Fernando Costa é Geógrafo, licenciado
pela UFJF, com especialização
em
geografia e Gestão do território – em curso.
AGUIAR, V. T. B. Atlas Geográfico Escolar. Rio
Claro: UNESP, 1996. Tese de
Doutorado. P. 95.
É o que podemos chamar de arte ou escrita primitiva
e indígena. São motivos
geométricos representações zoomorfas e
antropomorfas.
BRÉZILLON, Michel. A Arte Rupestre Pós-glacial. IN:
LEROI-GOURHA, A. et
al.. Pré
História. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981. P.
298-307.
HAUSER, Arnold. História Social de la Literatura e
la Arte .. p. 29.
HARVEY, D. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo:
Hucitec, 1980, p. 5.
A Escolha do Nome de Uma Criança no Benin
- cultura Ewe/Fon/Mina
A escolha do nome a ser dado à uma criança para o
povo Ewe/Fon/Mina, é um dos
eventos social e espiritual dos mais importantes.
Marca o início do destino da
criança aqui na terra.
Do momento da concepção, quando a mãe descobre que
está grávida, até seu
nascimento, todos os eventos são marcas
significativas na vida daquele novo Ser,
que muito influenciarão sua passagem neste planeta
Diariamente, sua mãe vai caminhando ao mercado,
pegar pequenas poções de
água. Esta pequena, porém sutil atividade tem um
significado grande, revela o "Se"
(alma/espírito) da criança que está para nascer.
Está água é oferecida à uma
personalidade importante e, desta forma, eles
acreditam que a alma da criança se
iguala à do antepassado escolhido, que acompanhará
está criança em seu
nascimento. A culminância destes importantes
momentos, o nascimento da criança,
é a escolha do nome. Por exemplo, o nome atribuído
à criança pode ser baseado no
dia da semana que a criança nasceu. A criança é
também cuidadosamente
examinada por dzoto (alma ancestral), pertencente à
cosmologia Ewe. Desta forma,
totalmente assistida e acompanhada por seu dzoto, a
criança nasce para realizar seu
destino aqui na terra.
Do momento em que toma conhecimento deste sagrado
momento, a criança é
orientada a evitar comer determinados alimentos e
lhe é dado amuletos que devem
ser usados em seus braços, pescoço e quadril, onde
quer que vá; desta forma, os
maus espíritos não a perturbarão.
Outras situações bem observadas são: de que forma
esta criança sai do ventre de
sua mãe, se possuem má formação, marcas de
nascimento (sinais), tamanho do
corpo, como choram, etc. Todas estas
características também contribuem para
determinar a personalidade da criança ou mesmo
podem revelar sugestões para o
seu futuro destino, de sua família e de sua
comunidade.
O nome da criança também pode ser dado baseado na
ordem de seu nascimento.
Por exemplo, um menino que tenha sido o terceiro a
nascer em uma família poderá
ser chamado "Mensah" ou se for o quinto
"Anani". A menina poderá ser chamada
de "Mania", "Masa" se for a
quarta a nascer ou "Mansa Abla".
A todas as crianças é dado o nome de seu Vodum,
aquele que o acompanhou em
seu nascimento ou de quem sua natureza mais
assemelha. Mesmo as crianças
nascida em circunstâncias excepcionais ou
inferiores, também recebem o nome de
seu Vodum. Por exemplo, as crianças nascidas com má
formação física ou mental,
anões, são chamados "Tohosou", espíritos
de antigos ancestrais de Dahomey, que
apresentavam as mesmas deficiências.
Crianças nascidas de maneira incomum, algumas de
vezes até "engraçadas",
também podiam ser nomeadas de acordo com as
circunstâncias. Por exemplo, se
uma mãe esta trabalhando em uma estrada, ou a
caminho do mercado, se for
menino pode se chamar "Alifoe" (homem do
caminho) ou "Aliposi" (mulher do
caminho) se for uma menina.
Se o pai da criança morrer antes de seu nascimento,
se for menino pode ser
chamado "Apedo" (a casa está vazia) ou
"Apedomesi" se for uma menina. Se for o
último a nascer pode ser nomeado "Agosu"
e "Agosa" se for uma menino, "Agosi"
ou "Agosivi" se for uma menina.
Se a criança for filha de pais muito pobres pode
ser chamada "Lavagnon" (as
coisas vão melhorar) ou "Agbsi" (nas mãos
de Deus), ou ainda "Agbebavi" (você
compensa toda a vida que choramos).
Crianças que nascem com uma propensão a atrair
espíritos negativos devem ser
chamadas "Abalo" ou "Aboki" que
significa, mover os espíritos ruins para longe.
Finalmente, quando a criança é apresentada ao
bokono, já tem um nome do espírito
(família totem) de sua família sanguínea, de sua
linhagem. Tradicionalmente, na
cultura Ewe, é a avó ou o avô quem escolhe o nome
da criança, na falta desses,
outra pessoa poderá dar os nomes desde que receba
uma inspiração e mantenha a
tradição de nomes, circunstâncias incomuns, dias da
semana, etc. para ele é muito
importante e significativo para todo cumprimento de
sua vida espiritual e material
na Terra.
Atualmente, devido a grande mortalidade infantil,
os beninenses esperam suas
criança completarem três meses de vida para dar
início as cerimônias na qual a
criança se tornará um membro oficial da família.
Centro Cultural Ceja Neji
COMIDA DE SANTO
Explorando o assunto Comida de Santo, pode-se
encontrar na literatura alguns
textos. Fazendo-se agora um resumo e algumas
colocações. Nina Rodrigues, em
seus estudos, ao abordar à arte da culinária
africana, achou difícil precisar, devido
ao estado atual dos costumes, à quais grupos
pertenceriam determinadas comidas.
Já Manuel Querino assinalava que a contribuição dos
grupos bantos, angolanos e
jejes eram maiores que as dos nagôs, contrariando a
tese dos que insistiam na sua
predominância.
Nos terreiros, esta cozinha, marcada por uma série
de preceitos e interdições, vai
aparecer relacionada diretamente aos deuses através
das chamadas comidas do
santo. Assim, cada um deles irá receber em dias
especiais (ou não) pratos de sua
preferência. Não se trata, porém só de comer e sim
o que se come, o que não se
come, quando se come, com quem, participam de um
todo integrado que diz
respeito a códigos imprescindíveis dentro da
culinária dos deuses. E mais ainda,
esta comida dentro da dinâmica dos terreiros é um
dos veículos de vital
importância para a transmissão e distribuição de
axé. Seja essa comida reelaborada
a partir de técnicas e maneiras predominantemente
banto, jeje ou yorubá, esse
negros modificaram as refeições do reino como já
exposto. Outro fato que deve ser
considerado é a falta de mantimentos num país desde
o começo assolado pela
fome. Da nova terra, o português ao lado das caças
e muitos frutos, só pôde
aproveitar a mandioca e o milho que eram alimentos
básicos para o sustento e o
qual era oferecido aos negros. Adotar os
mantimentos da terra, ao lado de importar
tantos outros como, por exemplo, o gengibre, arroz,
inhame, banana, coco, dendê,
foi à solução encontrada pelos portugueses para
suprir a falta de alimentos.
Cascudo (1970) diz que ao fim do séc XVIII os
produtos americanos já estavam
tão difundidos na África portuguesa que
participavam das refeições nos negros,
escravos ou livres. Os ingredientes africanos
vindos da áfrica, como o quiabo, o
inhame, erva-doce, gengibre, gergelim, amendoim,
melancia, dendê e outros foram
entrando aos poucos no Brasil de acordo com as
exigências do tráfico ou da
população aqui estabelecida. Não é possível, no
entanto, se pensar nesta cozinha e
nem em uma outra somente a partir de tais
elementos. Ela é mais do que um
conjunto de matérias naturais que podem ser
adaptados e substituídos. Esse próprio
fato obedece a uma certa ordem inscrita nos mais
remotos tempos, fazendo com
que a comida não perca seu sentido nem se afaste da
visão do mundo que ela
representa. O que dá identidade à determinada
comida não é a origem dos vários
ingredientes combinados, mas a maneira como estes
elementos são combinados. E
estas maneiras obedecem a determinados ritos que
lhe dão sentido e, como tais,
apresentam-se como algo criativo. Assim, é
completamente arbitrário buscar
precisar datas para essa culinária, entendendo esta
como algo parado, fechado, se o
próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la. As
condições de possibilidade para se
pensar uma cozinha africana não podem ser pensadas
em nível cronológico, assim
como não podem prescindir desse tempo. Elas vão
acontecendo, se dando, de
acordo com o tipo de situação servil ou livre e o
lugar em que vivia o africano,
variando, desde o primeiro momento em que dividiu a
cozinha com as africanas
cozinheiras, até quando pôde, ante as novas
condições suscitadas pelo processo
histórico, negociar um tabuleiro. O processo de
criação das comidas africanas
também se deve a importância dos jejuns e das
festas regulados pelas igrejas
( outra questão complexa que não cabe abrir aqui).
Os africanos tiveram também
que adaptar às vezes sua alimentação, a hora e
quantidade que se podia comer
impostas pela igreja. Todavia, quando puderam
providenciar seus próprios
alimentos. é muito provável que tenham lançado mão
do conhecimento acumulado
e das várias experiências trazidas de suas terras,
já somadas a tantas outras. Tudo
isso que foi colocado pelos autores não se trata de
um retorno à África, mas fazer
com que comida se faça africana, ou seja, remonte a
histórias e passagens, visões
de mundo associadas aos ancestrais, princípios
universais ou antepassados, aos
primórdios dos tempos quando estes fundaram a
humanidade, constituíram as
cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de
mundo juntadas a inúmeras
outras experiências históricas constituídas no Novo
Mundo. É este fazer que faz
com que tal comida seja comida de santo. A comida
de santo diferencia-se, assim,
daquela do dia a dia. Uma coisa é cozinhar um
inhame e dividi-lo em pedaços e
come-lo no café da manhã. Outra é preparar esse
mesmo inhame para Oxalá,
quando variam desde o tamanho, a forma das raízes,
os procedimentos observados
para sua feitura e por fim, as palavras ditas para
encantar a comida. Fazer um feijão
no azeite não é o mesmo que preparar um Omolocum.
Neste nada pode se escapar,
se escolhe bem os grãos, pois Oxun liga-se à
fecundidade. Os deuses comem
comida mais elaborada. Embora os ingredientes sejam
os mesmos, mudam o
tratamento que estes recebem. E a forma como estes
são tratados expressa seu
sentido através de um ritual onde nada é por acaso.
Assim, Exu pode comer de
tudo com já dizia um de seus mitos. Ogun pode
receber feijoada, uma vez que as
carnes gordas lhe pertencem. E Oxossi por se ligar
a terra, recebe todos os frutos
dados pelo Novo Mundo. Gonzegan Carla de Tobosi
FONTE: Faces da Tradição
Afro-Brasileira – CNPq Santo Também Come - Raul
Lody
ERVAS: HISTÓRIA E RITO
Wanda de Otolu
Vem dos tempos mais primórdios, a história da
utilização das plantas, tanto é que
os próprios animais, quando apresentam alguma
enfermidade, buscam ervas para
auto-tratamento. Também o ser humano assim o fez,
desde sempre. É certo que
doenças sempre existiram, e que, ao longo do tempo,
foram sendo divididas em
outras tantas.
Certo também que a alopatia (medicina convencional)
não nasceu junto com o
primeiro "homus sapiens" a habitar o
Planeta. Desta forma, como os seres
primórdios curavam suas doenças, senão pela
utilização das ervas existentes?
Partindo-se deste raciocínio, não se precisa ir tão
longe, para se concluir que as
plantas sempre acompanharam o ser humano, seja na
alimentação (autosubsistência),
quanto no tratamento de suas doenças. Junto com
isso, foram
surgindo, como é de conhecimento histórico, as
tribos, os guetos, já que,
cientificamente, tem-se conhecimento hoje de que a
vida humana surgiu mesmo no
Continente Africano.
Dentro desta visão, sabe-se também, através dos
historidadores, que buscam
resgatar a história humana no seu princípio, que,
em cada tribo, ou gueto, haviam
os denominados hoje "curandeiros". A
partir dos rituais desenvolvidos, novamente
as ervas foram inseridas em todo o processo
histórico.
Baseando-se neste conhecimento, tem-se a idéia
exata da dimensão da importância
de todas as plantas. Inclusive, cientificamente, já
se descobriu até a "aura" de cada
planta, através de equipamentos especiais que
captam até as diferenças
vibracionais de cada erva. Com todos esses
elementos reunidos, é impossível que,
ainda hoje, as criaturas humanas não valorizem o
conhecido "chazinho", ou até,
quem sabe, não utilizem as cascas, os frutos, as
folhas, ou mesmo as flores e as
raízes, em outras atividades.
No Candomblé, a árvore em si é de suma importância,
tanto que existem as árvores
sagradas, desde a raiz, até o caule, as folhas e os
frutos. Os vegetais são
imprescindíveis na prática religiosa. O ritual das
ervas é importante como elemento
nos trabalhos espirituais. As folhas podem ser
utilizadas, tanto secas, como verdes.
O caule é utilizado como marco numa Casa de Santo e
como sustentação em tenda,
etc. A raiz é direcionada em cada fim ritualístico.
As ervas, com seus elementos vitais, trazem a
essência para o crescimento
espiritual.Cada elemento é atribuído à determinada
natureza, de acordo com a
essência de cada Vodum, Orixá ou Inkice. Sem os
rituais das ervas, não seria
possível o mínimo trabalho dentro de uma Casa de
Santo. Em tudo, a erva sempre
presente, aproximando a essência de cada Ser
Espiritual.
Vodou - Arte e Deuses
A arte tradicional de Vodun é a pedra fundamental
desta religião, é a encarnação
das idéias religiosas mantidas por seguidores de Vodun.
O significado dos objetos usados nos cultos de
Vodun é explicado geralmente
desta maneira: Os seguidores de Vodun procuram
imagens dos deuses e dos sinais
de mistérios divinos. Fiéis, são capazes de incitar
um espírito em modelos
esculpidos e, assim sendo, o metal e a madeira
aparentemente brutos são
transformados em um meio de comunicação com os
deuses e seus antepassados. Se
observarmos cuidadosamente estes objetos,
certamente nos aproximaremos do
poder irradiado pelos cultos e cerimoniais.
Os deuses tentam incorporar em seus seguidores
humanos, os dançarinos
mascarados são mensageiros que carregam sinais
divinos, os corpos dos dançarinos
servem como mediadores para os deuses de Vodun, as
figuras gigantescas do deus
Legba dão aos dançarinos uma nova energia e os
espetáculos naturais como o
trovão e o relâmpago são interpretados como
expressões da vontade ou da punição
divina.
O Vodun une seres humanos, matéria e natureza em um
contexto orgânico de uma
vista coerente do mundo. Ao contrário das religiões
monoteístas como o islamismo
ou o cristianismo, o Vodun tem um santuário de
deuses povoado por numerosas
divindades.
As escavações arqueológicas na costa ocidental
africana mostraram que a religião e
suas divindades tem mais de quatro mil anos. Pode-se
dizer com certeza que a
tradição local, por exemplo em Heviosso e em
Shango, vai além de muitos séculos.
Os realtos dos comerciantes e dos viajantes
europeus que visitaram Benin no
primeiro século também atestam a existência destes
deuses. Em alguns casos, os
templos e os cerimoniais que são descritos nestes
relatos estão até hoje quase que
inalterados, como por exemplo o templo Dangbe em
Ouidah.
Estes deuses parecem ser confusos, contraditórios e
criativos, com nenhuma
hierarquia aparente, são passíveis de estar irados
em um momento e dóceis no
momento seguinte. Nenhum dos deuses são
semelhantes, cada um tem um papel
diferente. Alguns são relacionados ou têm crianças,
outros são bi sexuados ou
podem mudar seu sexo à vontade. Por exemplo, Legba,
o mensageiro dos deuses,
desencadeia seu inacreditável poder quando
transforma-se literalmente em dois
deuses durante um cerimonial. Neste caso, um
sacerdote retorna da dança em um
dançarino mascarado grande e outro pequeno que se
põe a girar. Fez-se uma
criança? É o comentário alegre de todos os
participantes do ceremonial para este
sinal da fertilidade divina, sabem que trará graças
aos seres humanos também. Para
comprovação disto, todas as imagens moldadas
possuem penis eretos como
símbolos da vitalidade e potência.
O Vodou é mais do que uma religião, é uma maneira
de vida que inspirou artistas
do Haiti em muitos trabalhos. Depois da segunda
guerra mundial, estes trabalhos
chamaram atenção de negociantes estrangeiros que
comentaram o renascimento do
Haiti. Dois dos mais célebres destes artistas são o
pintor Hyppolite e o escultor
Georges Liautaud. Outros artistas da atual geração
são Antoine Oleyant cujas
bandeiras foram inspiradas pelos sonhos e visões de
Vodou e Pierrot Barra que,
com a colaboração de sua esposa Marie Cassaise
criam fantasias de Vodou com
sucatas recicladas.
O renascimento do Haiti é expresso nas modernas
telas de Edouard Duval Carrie,
cujo surrealismo captura perfeitamente
características do recente pesadelo político
recente do Haiti.
O conteúdo escrito desta página, traduzido e
condensado pelos webmasters de
Luiá, aqui apresentado fazem parte do acervo do
American Museum of Natural
History
DIA NACIONAL DOS VODUNS
O Dia Nacional dos Voduns no Benin/África é
comemorado em 10 de janeiro.
Durante todo o dia em várias regiões do Benin, o
povo entusiasmado se aglomeram
nas portas dos templos executando rítmos, cânticos
e danças em louvor aos
Voduns. Todas as ruas e vilas são decoradas com
motivos que lembram os
ancestrais e os Voduns. As mulheres fazem as
melhores iguarias e os homens
preparam o vinho de palma, que serão degustados no
decorrer das festividades. As
mulheres usam suas melhores roupas nativas e se
enfeitam para agradar os deuses,
os homens tocam os mais variados instrumentos
musicais emitindo ritmos divinos
e cantigas regionais que falam da tradição dos
Voduns. Nas primeiras horas da
madrugada os sacerdotes e sacerdotisas saúdam e
homenageiam Legba, Sagbeto e
os Ancestrais, acompanhados pelo povo. No amanhecer
oferecem sacrifícios e
presentes aos Voduns. Começa a festa. Em Ouidah os
adeptos de Mami Wata
(mães das águas) improvisam altares nas areias das
praias, rios e córregos onde são
oferecidos balaios enfeitados com fitas, flores e
presentes para os Voduns das
águas. Diante desses altares, o povo canta e dança
louvando os deuses. O ponto
culminante dessa comemoração é a hora em que esses
presentes são colocados em
pequenas embarcações e levados para alto mar onde
serão oferecidos aos deuses; o
povo acompanha todo esse movimento com gritos
frenéticos e louvores. Essa data
foi estabelecida após ser proclamada a
independência do Benin. O governo
constituído por beninenses elegeu Sossa Guedehouhoungue
como Presidente
Nacional do Culto aos Voduns, oficializando assim a
religião. Os principais
templos aguardam a chegada de Sossa para dar início
os rituais culminantes de
comemoraçao ao Dia Nacional dos Voduns. Sossa se
apresenta em praças públicas,
onde os adoradores de Vodum o aguardam para
saudá-lo por sua luta em prol da
religião. Sossa Guedehouhoungue faleceu em
27/01/2001 e foi sepultado em
25/02/2001 na cidade de Dotou. Sua urna mortuária
viajou por quase toda a África,
onde o grande líder recebeu rituais fúnebres como a
ultima homenagem de um
povo que tanto lutou para que seus direitos
religiosos fossem respeitados. O dia 10
de janeiro é o marco de uma grande vitória
religiosa e Sossa sempre será lembrado
como o grande Sacerdote de Vodum. Comemorar e
honrar os antepassados e
Voduns, é uma prática natural para o povo Fon.
O Humgebê
O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje.
Ele representa o elo entre o
orum e o aiye. É o fio de conta da vida e da morte,
símbolo do próprio céu, do
mundo espiritual, invisível e transcendente. O céu
cósmico particularmente em
suas relações com a terra.
Somente vodunsis recebem o humgebê. Temos visto
ogans e ekedis usando
erradamente o humgebê. Quando o inciado torna-se um
vodunsi, ele recebe o
humgebê pois acaba de nascer no mundo do santo.
Quando o vodunsi morre, o
humgebê o acompanha. Ele nos liga ao orum, nos traz
o orum e nos leva de volta
ao orum.
Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente,
algumas casas de Jeje darem o
humgebê aos seus filhos somente na obrigação de
sete anos. Cabe aqui uma
pergunta de uma velha Doné de Salvador ao
relatarmos esse fato: - "Oxente!!!!
Vocês no Rio só nascem aos sete anos?".
A preparação de um humgebê é igual ou maior que a
feitura de um Vodum, inclui
obrigações, currans, zandros, etc. Há necessidade
também, de alguns preceitos de
humdemê. O poder do humgebê ultrapassa a mente
humana. Ele sempre nos avisa
quando vai acontece algo de muito grave na vida
daquele vodunsi ou no kwe. A
voz do humgebê está num grande segredo da nação
Jeje.
Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi
e, em hipótese alguma,
pode ser usado por outra pessoa ou tocado.
Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por
todo um processo especial
para ser reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características
rígidas. Deve ter a quantidade
certa de miçangas entre os corais e seu fechamento
também é um só. Não se fecha
humgebê com contas na cor do santo do yao e sim
como um segui, como temos
visto em alguns candomblés. Também observamos
humgebês enrolados no
pescoço, atitude que quebra todo o seu significado
sagrado. A quantidade de corais
que compõem um humgebê, ao contrário que muitos
pensam, não é fixa. O
comprimento de um humgebê varia de acordo com a
altura da pessoa, devendo
sempre estar um pouco abaixo do umbigo.
Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê
composto por dois seguis, um
no fechamento e outro no meio, o que também é
correto.
O humgebê é composto de contas, corais e segui. O
coral é a "árvore das águas",
participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e
do simbolismo das águas
profundas (origem do mundo). Sua cor vermelha
aparenta com o sangue. Segundo
uma lenda grega, o coral teria surgido das gotas de
sangue derramado pela Medusa.
O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor
quanto com a rara
particularidade que tem de fazer coincidir, na sua
natureza, os três reinos: animal,
vegetal e mineral. Devemos lembrar também, do
simbolismo guerreiro da cor
vermelha.
Como símbolo da árvore da vida e das águas
profundas, faz o elo entre a vida e a
morte. Sua cor vermelha é o símbolo universal do
princípio de vida, com sua força,
seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue.
Representa não a expressão, mas o
mistério da vida e da morte. Um lado seduz,
encoraja, provoca; o outro lado alerta,
detém, incita à vigilância. Este é, com efeito, a
ambivalência do vermelho do
sangue profundo: escondido ele é a condição da
vida; espalhado significa a morte.
O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele,
o olhar mergulha sem encontrar
qualquer obstáculo, perdendo até o infinito. É
também a cor mais imaterial e fria e,
em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do
vazio total do branco neutro. O
conjunto de suas aplicações simbólicas depende dessas
qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas,
abrindo-as e desfazendo-as,
desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna. É
o caminho do infinito, onde o
real se torna imaginário, um pouco como passar para
o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de
eternidade tranquila e altaneira que
é sobre-humana.
É também a cor da verdade. A verdade, a morte e os
deuses andam sempre juntos e
é por isso que, a cor azul também é o limiar que
separa os homens daqueles que o
governam, do Além, seu destino. Há também um
simbolismo de castração,
imposição e de um longo sacrifício, um certo
heroísmo, embutido no azul do segui.
Como podemos observar, há uma enorme simbologia
religiosa e cósmica no nosso
Hungebê
Mulheres na Sociedade Jeje
As mulheres na sociedade Jeje são representadas
pela Mãe, ou pela Rainha. Os
ministros, homens que elevam ao trono, elegem a
sucessora antes da atual rainha
morrer e nomeiam-na somente após a sua morte, com
nome de alguma rainha
antepassada muito respeitada. Geralmente, nomeiam a
mulher mais velha do clã.
Hoje, fatores como a instrução e a influência
nacional podem vir a frente da
antigüidade. A rainha conduz e organiza as mulheres
em atividades sociais como
irem ao mercado, manterem tudo limpo e organizado,
etc. São tarefas importantes
porque o mercado é um centro social vital para a
comunidade. Fora ser um lugar
onde os bens são "trocados"; o mercado é
também um lugar de reunião comum. Os
futuros noivos encontram-se pela primeira vez, no
mercado. Em tempos de crises,
a rainha mãe orienta as mulheres a irem ao mercado
mesmo que apenas
socialmente. Quando os homens vão guerrear, como
era freqüente no passado, ou
quando iam em visitas à corte real do Duque, o que
fazem ainda hoje, a rainha
organiza as mulheres para trabalhos
administrativos. Pela manhã e a noite dirige
uma cerimônia religiosa, pedindo proteção para que
os homens voltem em
segurança. Posição difícil ocupa a rainha.
Extremamente dedicada, vive com sua
vida pessoal comprometida pelas responsabilidade
com o clã. Oscilando entre o
prazer, a responsabilidade e os conflitos, tem o
encargo maior de ajudar aos aflitos
que lhe procuram, na esperança de solucionarem
problemas dos mais diversos.
Exerce um papel misto que vai desde a doçura
maternal até o rigor característico
de uma líder. No candomblé, não é diferente. O
cargo maior na herarquia religiosa
é perfeito para mulheres, até pela sua própria
natureza, pela maternidade. "No
contexto africano, as mulheres merecem atenção especial
quando da realização das
formas artísticas, visualizadas em sua fertilidade,
ora seios volumosos, fartos de
amor e leite, ora o ventre protetor, ora símbolos
de sociedades secretas, enfim a
matrilinearidade personificada no poder de criar
vidas e conduzi-las até a
ancestralidade". (Jaime Sodré) Ela é a
política e o cotidiano. Este arquétipo da
mulher, foi trazido para o Brasil. Muito mais que
simples influências biológicas,
culinárias, afetivas, etc, a mulher tem a
responsabilidade maior na formação e
postura religiosa no candomblé. Essa
responsabilidade e valor feminino remontam
à formação do mundo, sempre enfrentando agressões,
até mesmo físicas, com
desacatos morais mas, é delas os mais importantes
cargos para a realização corretas
dos cultos sagrados. Na África as mulheres
reúnem-se em sociedades secretas de
prestígio e poder. Maior destaque devemos dar
quando observamos que a mulher,
em outras religiões, tem participação restrita ou
proibida. No Brasil, embora haja a
participação masculina, o matriarcado é
predominante, um exemplo da soberania
feminina africana. "As mulheres do candomblé
são o exercício da liderança
religiosa-cultural e civil a serviço da vida,
preparadas e escolhidas para amar, lutar
e servir, assim pensou Mawu-Lissa e assim se
fez". (Jaime Sodré) "Podemos ainda
acrescentar que, sem o poder feminino, sem o
princípio de criação, não brotam
plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade
não tem continuidade.
Assim, o princípio feminino é o princípio da
criação e da preservação do mundo:
sem a mulher não existe vida, devendo, segundo os
mitos, ser reverenciada e
respeitada pelos Voduns e pelos homens'. (Helena
Theodoro). Na África, a
sucessão de mulheres nas lideranças dos cultos,
dá-se através de um conselho de
Bakonons, que jogam e "anunciam" a nova
líder do clã, escolhida pelos Voduns.
No Brasil, poucas são as casas que preservam o
modelo cultural africano de
sucessão. Política e interesses passaram a frente
da religiosidade, razão pela qual,
infelizmente, algumas casas tradicionais fecham
suas portas.
HUMBÊ E HUDJÈ
Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a
cultura afro-brasileira, muita
pessoas perguntando sobre o que é o Humbê. Temos
visto também, explicações
que não têm nada a ver com a realidade do Humbê.
Por esse motivo, resolvemos
esclarecer esse assunto, dentro do que nos é
permitido.
Humbê é o segundo maior segredo da nação dos
Voduns, aqui no Brasil,
denominada Jeje ou Djedje. Toda pessoa feita em
Jeje deveria receber o Humbê,
porém alguns pai/mães de santo optaram em dar esse
fundamento à alguns filhos
somente após esses fazerem por onde merecer
recebê-lo pois, como sabemos,
infelizmente, as pessoas hoje mudam de casa, raíz,
pai/mãe de santo como se isso
fosse a coisa mais natural do mundo. Somente
aqueles que percebem a
importância, o valor de uma família, de uma raíz,
são merecedores de receber o
Humbê, pois esses jamais sairão de suas casas e,
principalmente, da nação Jeje.
Não podemos aqui descrever o Humbê, apenas podemos
dizer que é um axé
pertencente única e exclusivamente a nação Jeje e
que fica muito bem resguardado
dentro do Templo dos Voduns.
Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o
mesmo que Oyè da nação
Ketu, isso é, a expressão "Tomar Humbê"
seria o mesmo que "Tomar cargo". Já
vimos inclusive pessoas da própria nação Jeje
fazerem essa afirmação. No Jeje a
expressão "Tomar HUDJÈ" é a correta para
se dizer que a pessoa está tomando
cargo. Cremos que, o fato da grafia das duas
palavras como também a pronúncia
serem muito parecidas, gerou toda essa confusão.
Quem passa por um Humdémè, um Humbê e um Agêuntò,
nunca abandona a
nação Jeje e jamais revela esses segredos para
alguém, salvo para seus
descendentes.
Aquele que falar, com CERTEZA não tomou HUMBÊ.
Pano da Costa
Presença e distintivo do posicionamento feminino
nas comunidades religiosas afrobrasileira,
o pano-da-costa, não é apenas um complemento da
indumentária da
mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da
mulher como iniciada ou
dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa
desse simples pedaço de tecido,
que atua em tão diversificadas situações,
desempenhando papéis dos mais
significativos e necessários para a sobrevivencia
dos rituais africano. O pano-da
costa é assim chamado por ter sido um tipo de
tecido vindo da costa dos escravos,
Costa Mina, Costa do Ouro. O tecido original foi
substituido por outros tipos de
tecidos, o que não diminui em nada as funções do
pano-da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo
que ela naum esteja de roupa de
santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância,
se colocarmos a presença da
mulher como símbolo do poder sócioreligioso e
arquétipo dos valores mágicos da
fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas
características da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto
que merece atenção. As Yaos,
ao terminar o período de feitura começam a travar
seus primeiros contatos com o
mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa
branco, que representa o
prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo
praticamente todo o seu corpo no
grande pano-da-costa, procura manter os valores
religiosos de sua feitura quando
em contato com os valores profanos encontrados extramuros
dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do
pano-da-costa, ateado como capa
envolvente mágica, aparece guardando as mulheres
das presenças de egum.
Amigos, se voces podem encontrar mais informações
sobre o pano-da-costa no
livros O Povo do Santo de Raul Lody da
PALLAS-Editora e Distribuidora Ltda.
Agora vamos aos meus comentarios.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos
cultos africanos, porque uma
das principais funções do mesmo é proteger os orgão
reprodutores das mulheres,
das Yamis.
Concordo com toda essa parte a cima transcrita do
livro. Nos rituais de
sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas
branco: um protegendo seus
ventres e outro sobre os ombros como uma capa que
envolve todo o seu colo e
seios.
O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na
cintura pelas mulheres com
obrigações de 7 anos e pelas ekedes. Bem ai eu
discordo. Primeiro se tem que ser
usado na cintura, então que seja um pano-da-costa
enrolado e não uma tira de pano
como muitas usam. O pano-da-costa deve ter no
minino 60 cm de largura para que
possa proteger os orgãos que necessitam de
proteção. As famosas mães de santo
não usam o pano- da -costa na cintura nunca.
Aqui no Rio de Janeiro convencionou-se que o
pano-da-costa deve ser usado de
acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso
acima dos seios aquelas que ainda
são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser
usado dessa forma mesmo
independente da idade de feitura, quando muito,
pode-se enrolar até abaixo dos
seios.
Eu mesmo muita vezes coloco meu pano-da-costa na
cintura, mas coloco-o aberto
e não enrolado e nunca o uso assim em candomble.
De alguns anos para cá os homem aderiram o
pano-da-costa, mas nenhum deles até
agora explicou o porque de usa-lo e nem podem
explicar pois o mesmo é de uso
exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o
pano-da-costa, os santos homens usam o
pano-da costa amarrados no ombro lembrando um Alaka
(esse sim pertence ao
homem) ou amarrado para tras, ou simplesmente ficam
com o peito nu adornados
pelas conta e brajas.
Em algumsa casa encontramos abians usando pano da
costa, esse procedimento
esta errado. As abians ainda não tiveram seus
pontos de energias abertos durante
uma feitura, portanto as mesmas não necessitam
dessa proteção ainda.
ATINS
Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou
madeira. No Brasil, essa palavra
é usada para definir porções mágicas usadas pelos
vários segmentos do
Candomblé.
Essas porções mágicas são mais uma das heranças que
nos deixaram os africanos
que trouxeram seus deuses para o novo mundo. São
compostas de ingredientes
vegetais, minerais e animais, usadas para várias
finalidades.
Os chamados "atins de feitura", tem como
finalidade purificar o corpo físico do
iniciado e ao mesmo tempo facilitar o transe. Os
africanos acreditam que, quanto
mais djasi(djassi) eles passarem no corpo, mais
aumenta a força de seu Vodum no
transe.
A diferença no uso dessas porções no Brasil e na
África, é que aqui são usadas
somente durante os rituais interno e na África são
usadas em público, isto é,
durante os rituais e festas é colocado um
recipiente contendo porções mágicas que
os vodunsis passam com abundância em seus corpos
quando os Voduns começam
a manifestar-se em seus filho.
O djasi é muito usado em algumas regiões do Benin.
Consiste em uma pasta feita
com farinha de milho, óleo de palma e ervas
sagradas.
Os Ata (atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun
(mácum (sementes)), nhido
[(nidô), nhifo (nifô) e nhijou(nijou) - elementos
animais], nhijou toubome (nrijoutoubômê
(manteiga do reino)), nhizou (nizou )chifre)),
yicca (iicá (mandioca ralada
e seca)) e o zume (zumê (matos e folhas)); são
alguns dos gris-gris(glisglis
(ingredientes para pós mágico e amuletos)) vendidos
nos mercados de todas as
cidades no Benin.
Os Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e as
Dehes (dérés) são alguns(as)
dos sacerdotes responsáveis pela fabricação dessas
porções mágicas. O Akpagan é
uma espécie de médico curandeiro que conhece as
propriedades terapêutica de
todos os gris-gris.
Existem ainda aos porções mágicas denominadas
"Zoha (zorra)", pós mágicos
usados para feitiços. São preparados pelos
sacerdo-tes e adivinhos que os usam
para afastar pessoas, desocupar casas, desmanchar
feitiços, etc. A zorra é um
poderoso elemento quando bem feito e usado. Devemos
lembrar que, feitiço, não é
sinônimo de maldade ou coisa ruim. No feitiço,
também encontramos a cura para
doenças e a solução para vários problemas.
Finalizando, concluímos que os chamados atins são
mais um recurso utilizados por
nós e por nossos deuses para um intercâmbios maior
entre nós e eles, como
também para a solução de vários problemas.
RESPEITO o fato de citar minha mãe Jurema, autora do texto e pesquisa e exaustiva,de toda uma vida.
ResponderExcluirGratíssima
Donè Tobosy T'Ezulie, atual e única raiz por ela deixada assumi uma responsabilidade imensa, mas me honro em ser a matriarca de um galhinho da vertente Mahi.