segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CANDOMBLES JEJE - Nossos Ritos, Voduns e Cultura


Introdução
Os deuses africanos vieram para esse continente através dos negros escravos, que
aqui chegando estabeleceram uma grande legião de seguidores, da cultura e
religião Afro. A internet por ser um veículo de grande penetração e informação,
tem ajudado a divulgar e esclarecer os verdadeiros objetivos e dogmas do
Candomblé, até então mal compreendidos e interpretados. Com isso, novos adeptos
de todas as camadas sociais vem sendo atraídos a esse maravilhoso mundo dos
deuses africanos. O Candomblé é uma religião brasileira, oficialmente
reconhecida, que presta culto aos deuses que nos legaram os africanos que para
aqui vieram no séc. XVI. É o termo genérico que define o coletivo de nações
(tribos) africanas, no Brasil. Em nosso país, essas nações foram denominadas
como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá, etc. Apesar de ser divididos em
diversas nações, o Candomblé mantém uma unidade no âmago de sua
originalidade, que acredito ser da época pré-histórica. A finalidade dessa home
page é dar uma parcela de contribuição para o melhor conhecimento da cultura dos
povos africanos que deram origem ao culto dos Voduns no Brasil, colocando para
os leitores e pesquisadores o resultados das minhas pesquisas investigativas para
achar minhas raízes, histórias e tradições no Brasil e na África. Graças a Deus e
aos deuses, tive oportunidade de entrar em contato com algumas pessoas do Benin
e EUA que se tornaram meus amigos e têm me ajudado muito nesse trabalho
enviando-me material de pesquisas e respondendo as minhas indagações. Também
no Brasil, encontrei pessoas de conhecimento e boa vontade, que deram sua
contribuição. Penso que é chegada à hora do povo Jeje se unir e começar a
SOMAR. A divisão quase extinguiu nossa nação. Vamos aprender juntos a
lindíssima cultura dos Voduns.
Agradeço a todos que de alguma forma me forneceram subsídios para que essa
home page se tornasse uma realidade. Peço que me auxiliem enviando suas críticas
e sugestões através de um e-mail ou assinando meu bookmark.
Yatemi Jurema de Yansã
O Jeje na África
A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é indispensável
para compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a migração do
Ewe/Fon. Alguns estudiosos da cultura africana achavam que todos os Voduns
cultuados em Dahomey eram deuses originários dos yorubanos. Um equívoco!
Trata-se simplesmente de uma troca de atributos culturais de cada região. Em todas
as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam ancestrais ou vindos de outras
regiões, mas preferencialmente cada região cultua seus próprios deuses, os
ancestrais. Os deuses estrangeiros podem ser aceitos inteiramente nos santuários
dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como estrangeiros. O mesmo
tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns originários de outras regiões.
Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o principal reino da história do atual Benin.
Seu poderio militar formado por bravos guerreiros e amazonas era temido por
todos os reinos vizinhos que foram sendo conquistados. O exército do rei era
dividido em duas partes: o regimento permanente e o regimento das coletas tribais
(prisioneiro). Esses prisioneiros eram treinados para serem guerreiros do rei e as
mulheres, em especial, eram enviadas ao regimento das amazonas onde aprendiam
a lutar. Os prisioneiros que se negavam a aderir as causas do rei eram
sumariamente executados ou vendidos como escravos. Os chefes das tribos
conquistadas ficavam reservados para serem executados durante o festival anual de
ancestrais, em memória dos reis mortos. Suas cabeças eram decapitadas e seu
sangue oferecido aos falecidos reis. Essa pratica aconteceu do séc. XVI até o séc.
XVII. O reino de Dahomey foi o maior exportador de escravos para o nome
mundo. Adja-Tado foi quem começou esse grande império de Dahomey. Primeiro
conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei, casou e teve 3 filhos. Quando seus
filhos já eram guerreiros, Adja-Tado foi a Allada junto com eles e estabeleceu o
reino de Allada. Seus filhos se dividiram e estabeleceram reinos separados e
tornaram-se reis. O primogênito Zozergbe foi rei de Porto Novo, o segundo filho
foi sucessor de Adja-Tado no trono de Allada e o terceiro filho, Aklim fundou o
que mais tarde seria o principal reino da região. Aklin foi para Ghana e Bahicon
(agora Benin, sul-central), com seu exército, e estabeleceu uma outra dinastia, a
cidade de Abomey, que foi a capital do império militar, conhecida como Dahomey.
Dahomey foi governada por um total de treze reis divinizados, por quase dois
séculos. Agassu, que era um dos líderes do império, dizia ser filho de um leopardo
com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela teria sido encantada por esse leopardo
originando o nascimento de Agassou. Agassou teve três filhos e deu início a uma
linhagem de homens leopardo.
Jeje Brasil
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro
e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos
povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os
conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando
o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!). Quando
os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já
estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e
assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”. Dentre os
daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade
Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. Ela
fundou: um templo para Dan; “Ceja Hundê”, mais conhecido como o “terreiro do
Ventura” ou “Axé Pó Zehen” (pó zerrêm) em Cachoeira de São Felix; um templo
para Hevioso “Zoogodo Bogun Male Hundô” em Salvador e um templo para
Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do
povo Fon. O templo de Ajunsun/Sakpata foi fundado mais tarde pela africana
Gaiacu Satu, em Cachoeira de São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais
conhecido por Corcunda de Ayá. São os Jejes Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei
da cidade Savalu/África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que
preferiu o exílio a se render aos conquistadores de Dahomey. O dialeto dos savalus
também é o Fon. No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria
Jesuína, segundo informação de Sergio Ferreti. Creio que esta casa dispensa
comentários, pois é com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o
segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashanti fundada por Euclides
Menezes Ferreira. Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de
Ghana.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o
“Terreiro do Pó Dabá” no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide
do Espírito Santo, mais conhecida como Mejitó que transferiu a casa de santo para
o bairro Coelho da Rocha. Depois veio Antonio.Pinto de Oliveira. “Tata
Fomutinho” que fundou o Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se
para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde
finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem os mais velhos, que Mejitó,
ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de
Janeiro. Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre
esses, meu pai Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da
Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha
que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô que é aquele tio que está
sempre disposto a nos atender e nos ajudar com suas memórias e conhecimentos.
Vodum
Vodou – Vodoun – Vodum – Voodoo – Voudun – Vodu – Vudu – Hoodoo - etc.
A palavra vodou é de origem Ewe/Fon e significa força divina, espírito, força
espiritual. É usada pelo povo do oeste da África para designar os deuses e
ancestrais divinizados. No século XVIII o rei Agajá consolidou as crenças de
vários clãs e aldeias, formando um “sistema espiritual dos Voduns”. Isso gerou
uma enorme variação do termo, devido a quantidade de dialetos usados por esses
clãs e aldeias, que somado a influência francesa, passaram a falar como entendiam.
Essa diversificação fonética dá-se também por conta dos idiomas de pesquisadores
que “invadiram” a África, em busca de conhecimento sobre o Vodou. No Brasil,
por exemplo, usamos o fonema Vodum. A palavra Hoodoo não é uma variante de
Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana similar as que existem no Benin
(Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde pessoas são preparadas para
ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da fauna e do
mineral. Como sou brasileira usarei daqui por diante o termo “Vodum”. Quando
foi estabelecido o grande reino de Dahomey, lá não existia o culto de Voduns.
Nessa época, o atual rei sentia a necessidade de uma assistência espiritual que o
ajudasse a combater os problemas que o atormentava. Mandou chamar um bokono
(adivinho) e pediu que esse consultasse os oráculos. A conselho dos oráculos
mandou vir de diversas regiões os Voduns e construiu seus templos. Com isso
Dahomey passou a sitiar diversos clãs e aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o rei
Agajá fez a consolidação, como já foi dito. No período da escravidão, muitos
daomeanos foram levados para o novo mundo e com eles a cultura e o culto dos
Voduns. Os Voduns cultuados no Brasil são originário da África, sua práticas e
tradições se mantiveram intacta como era no Dahomey (atual Benin) desde o
começo dos tempos. A nação Jeje sofreu por alguns anos uma queda em seus
cultos, devido a falta de informações. Os mais antigos preferiram levar para o
túmulo seus conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no
Brasil. Dos filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns,
uns mudaram de nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas
origens e levantar a bandeira da nação. Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje
voltou a crescer e a seguir a cultura que foi deixada pelos escravos. Hoje,
encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o Culto dos Voduns, esses
aprenderam na “própria carne” a passar seus conhecimentos e não deixar que nossa
nação venha a sofrer novos abalos ou quedas. Com a proliferação de estudos e
pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais velhos que ainda estão vivos
resolveram colaborar e nos passar alguns conhecimentos. A primeira coisa que os
adeptos do Jeje devem aprender é a diferença entre Voduns e Orixás, (esse assunto
vocês encontram no tópico Jeje África). Vodum é Vodum, Orixá é Orixá; Oya não
é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja, etc. Assim como na África,
também fazemos Orixás dentro dos templos de Vodum, mas isso não os transforma
em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros, aceitos em nossos templos.
Esses Orixás são tão respeitados e venerados quanto os Voduns. Não existe
discriminação nenhuma em relação aos dois deuses (Voduns/Orixás). Em templos
de Orixás, também encontramos Voduns feitos, a única diferença é que no Jeje,
não mudamos os nomes dos Orixás. Para nós Oya, Yansã são conhecida
exatamente como Oya, Yansã. Já os Voduns em templos de Orixás mudam de
nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome de Oxumarê, Sakpata
recebe o nome de Omolu, etc. Esse diferença também é registrada na Nigéria,
então, não é “coisa de brasileiro”. Falar sobre os Voduns é uma tarefa de muita
responsabilidade. No meu caso é o resultado de 30 anos vividos dentro do culto,
somado as minhas pesquisas e estudos. Os Voduns são agrupados por famílias;
Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se subdividem em linhagens. A
sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto é, dá-se por linha paterna; o
homem é casado com diversas mulheres. A sociedade organiza-se em sibs, grupos
de irmãos que têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem base territorial própria e
subdividem-se em famílias. No Brasil, as casas de santo cultuam todas as famílias,
porém, os Voduns são interligados entre si com comportamentos, costumes, gostos
e atitudes sempre gerados pelo ancestre ou chefe de da casa. Em minhas pesquisas
encontrei mais de 450 Voduns; alguns cultuados no Brasil outros não. Acredito que
com esse resgate poderemos ampliar nossos cultos e voltar a reverenciar Voduns,
que tinham desaparecido devido a falta de informações, assim como admitir em
nossos templos esses Voduns encontrados. O Brasil herdou vastos panteões de
divindades que ficaram regionalizados de maneira que somente alguns Voduns
tiveram domínio nacional A cultura dos Voduns é belíssima; penso que todos nós,
filhos da nação Jeje, devemos procurar aprender cada dia mais. Afirmo que, os
maiores fundamentos de Voduns estão embutidos nessa cultura. Comprovem!...
DAN YEWA FA
TOGUN TOHOSSOU NOHÊ
AIKUNGUMAN
TOBOSSI SAKPATA VODUNS DA
RIQUEZA
HEVIOSO AVEJI DA NANÃ
NAES DAS AGUAS
OCEANICAS
NAES DAS AGUAS
DOCES EKU E AVUN
VODUM DAN/BESSEN
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses.
Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada de
Coroa de Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino,
porém para tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como
dizem os antigos "cobra não anda sozinha, seu parceiro esta sempre por perto".
Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) – A "Cobra–Mãe". Essa
Vodum não pode ser feita em mais de duas pessoas num mesmo país. Os velhos
vodunos contam que ela é originária da Palestina. Em uma outra versão,
encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito
mais que isso. Essa família é muito grande.
Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito orgulhoso e teimoso.
Quando tratado corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo, mas se
tratado de maneira errada ou se for esquecido castiga severamente. Vodum Dan é
muito fiel a casa e a mãe/pai de santo que o fez.
Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente pithon, o traken ou draka,
patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu principal atinsa (atinsá) dentro
de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é onde o arco-íris se encontra
com a terra ("panela lendária do tesouro!"). Dan usa muitos brajás feitos de búzios.
As aighy (aigri), são importantissimas em seus assetamentos e atinsas.
Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com
Vodum Fa, quem dá aos bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa e a
Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e quando eles se agitam
provocam catástrofes como os terremotos. Eles fazem parte da criação do mundo,
pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa.
Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan.
Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha
sempre em forma humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos que na
forma humana ele é menos perigoso e entende melhor os homens, podendo assim
atender suas necessidades e suprí-las. Na forma de serpente torna-se muito
perigoso.
De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente de
olhos. São pessoas vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e inteligentes. São
muito dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho,
prateado, ou tecido liso com o arco-íris estampado. Seus fios de conta variam de
acordo com cada Vodum, não existe um modelo padrão.
Sua louvação principal é: A Hho bo boy = "Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy
= Dans, serpentes, cobras).
Abaixo citarei alguns Voduns Dans.
Aido Wedo - (encontramos várias formas de escrever o nome dele) - Deus do
Arco-íris
Dambala - esposa de Aido-Wedo, seu reflexo nas águas.
Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como Oxalá. Conhecida no
Brasil como Dan Inkó.
Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca do arco-íris e
reina no arco-íris da lua, também junto com Yewa.
Frekwen - feminina, guardiã do arco-íris em volta do sol. Também
conhecida como Frekenda.
Bosalabe - toqüeno, feminina, irmã gêmea de Bosuko, irmã de Yewa. Muito
alegre e faceira, mora nas águas doce. Muito confundida com
Oxum. também conhecida como Vodum Bosa (bôssá).
Ijykun - feminina, mora nas enseadas. Muito confundida com Yewa.
Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa
Akotokwen - masculino, considerado o pai de muitos Dans.
Afronotoy - masculino, mora no rio.
Vocabulário
traken ou draka - ferramenta pequena que Dan tras nas mãos
dahun - conjunto de 3 tambores brancos paramentados com rafia
lilás
takara - arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena espada,
com feitio próprio.
ason (assôm) - chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras de cobra
aigry (aigri) - pedras que representam o excremento de Dan e são deixadas
por ele no chão, à sua passagem; dizem que elas valem peso
de ouro. Um mito nos conta que os excrementos de Dan
transformam os grãos de milho em búzios.
1 - Dan no Benin - Ouidah
O culto de Dangbé conheceu seu apogeu em Ouidah, onde está seu templo até os
dias de hoje. Os Dadas, seus adeptos, anualmente, faziam sacrifícios de bois,
cabritos e frangos para a python. Atualmente, devido à escassez de animais para
sacrifício, os adeptos arriscam-se caçando roedores
Logo que um não adepto descobre uma Dangbé em sua casa, previne o sacerdote
Dangbénon ou a uma pessoa que conheça os costumes deste réptil. Eles pegam a
cobra como um fetiche em sua mãos ou ao redor do pescoço e levam-na, silencioso
e concentrado, até o templo. Eles acreditam que a picada da python traz imunidade
contra qualquer veneno
Dan é, freqüentemente, representado por uma serprente (python) ou um arco-íris.
A primeira vista, alguns historiadores comentam tratar-se de ofiolatria. Mas a
serpente de que se trata aqui é um espírito que habita o espaço e cujo deslocação
determina os ciclones. Dan apreende-se do princípio vital do qual depende os seres
humanos para manterem-se vivos e a terra em equilíbrio.
Para escapar de Dan, basta friccionar o corpo com boldos de cebola ou xingá-lo
com palavras bem grosseiras. Ainda sob a forma humana, Dan pode entrar em
casas. Os que o acolhem são recompensados com tesouros mas, quem o afasta, é
amaldiçoado.
Dan é muito guloso, grande apreciador de bananas e óleo de palma. Recebe estas
oferendas na frente de um pequeno par de assentamentos que representam Dan
macho e Dan fêmea
-
Sua morada é o firmamento, onde se encontra sob a forma de arco-íris (Aido
Wedo). Não se mostra nunca sem sua fêmea. Conta-se que há dois arco-íris,
mesmo que só consigamos ver um, e que antes de sua ascensão, teria vivido 41
anos no nosso mundo.
A configuração dos países, o lugar das cidades, os acidentes geográficos (montes,
vales), são os vestígios de sua estada prévia em nosso mundo e o arco-íris,
vestígios de sua estada remota.
Os homens (sobretudo os caçadores) que Dan quer enriquecer, conduzem-no por
uma força invisível ao local onde é chamado o rabo do arco-íris e são induzidos a
tocarem na terra. Os homens têm como efeito desta força invisível, um desejo de
fazerem uma profunda escavação no que acham ouro, pérolas, toda sorte de
tesouros.
Dan protege nomeadamente o Danson, o Dansi e o Dannou. A pessoa consagrada
ao Dangbé é um Dangbési.
2 - A Floresta Sagrada
A floresta foi consagrada pelo rei Kpassé, Ouidah, onde fizeram um círculo
mágico, silencioso, transparente ao ar. Os grandes deuses fixam seus duros olhos.
Heviosso, Dan, Sakpata. E também os Voduns reais como Dâguessou, protetor do
rei Ghézo, com seus poderes contidos em pequenas cabaças, fetiches em forma de
bracelete.
À entrada, o grande Legba figura numa expressão profana sob os irokos
centenários, Tokougagba conta com os irmãos e todo o panteão dos Voduns.
E toda a rota dos escravos é demarcada por esculturas de pedra, limite de uma
memória fascinante e triste.
Meus comentários: (Yatemi Jurema de Yansã)
Alguns segmentos Jeje no Brasil, não concordam que se deva tratar do casal de
Dans. Outros usam esse procedimento somente para alguns Dans.
Pelo que aprendi e pelo que lemos sobre o culto de Dan no Benin, podemos
constatar que o correto é tratar do casal realmente.
Vodum Dan (Haiti) O Haiti pertenceu ao índios de Taino, antes do encontro com
Columbus. Muito da cultura (filosofia e prática) do povo Taino, foram absorvidos,
mas tarde, à Vodou, como mostra o retrato místico do panteão da serpente,
realizado como um deus Afro-Taino. Para os haitianos, Danbala, a divina serpente
patriarcal, é um espírito antigo da água associado com a chuva, a sabedoria e a
fertilidade. Aprece entrelaçado, geralmente, com sua esposa Ayida Wedo, o arcoíris.
Danbala é sincretizada com St. Patrick (quem dominou as serpentes), outras
vezes com Moisés, o patriarca dos dez mandamentos cristão. Em muitos templos,
uma bacia com água é permanentemente mantida para este Lwa. Muitas
representações desta divindade incluem o principal alimento sacrificial de Danbala
- um ovo. As bonecas de Voodoo Um objeto simpático, foram usadas em muitas
culturas, desde os primórdios tempos. O homem pré-histórico foi conhecido
criando bonecas que representavam sua caça, para enfraquecê-las antes de saírem
para caça-las. Os reis e antigos guerreiros também usavam a "força" destas bonecas
antes de irem ao encontro de seus inimigos, nas grandes batalhas. Hoje, os
praticantes de Voodoo e as bruxas utilizam este objeto mágico e obtêm resultados
rápidos e eficazes para uma variedade de finalidades. Entretanto, as bonecas
Voodoo não possuem nenhuma mágica, elas são usadas como uma ferramenta para
canalizar energias pessoais para um objetivo específico. Danbala O espírito de
Danbala é a serpente e o arco-íris, uma força de vida. Aido Hwedo, um macho, é
descrito às vezes, como uma criatura, serpente e arco-íris, que engole sua própria
cauda. No Haiti, onde os ritos ancestrais e os cultos público se fundiram, Danbala
Hwedo e seu marido se fundiram e foram consagrados um deus superior na
hierarquia espiritual. Transformou-se no mais velho e respeitado de todos os Lwas.
Juntos, formam o grande arco-íris que cobre o oceano. Alternadamente, o arco-íris
e seu reflexo na água, que fazem o movimento de giro em um círculo. Alguns
dizem que Danbala tem um pé firmado no fim do arco-íris, na umidade da água, e
o outro pé plantado firmemente nas montanhas do Haiti. Danbala move-se assim,
entre os opostos da terra e da água, como as serpentes, unido-os em sua rotação,
movimentos urobóricos, gerando a vida. Danbala cava túneis também através da
terra, como as serpentes, conectando a terra acima com as águas abaixo. Antes de
se casarem, seus seguidores oferecem-lhe sacrifícios. textos traduzidos de Sites do
Haiti. Se você souber os endereços basta enviar-me um e-mail que colocarei aqui.
TOGUM
Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye através do mistério do ferro.
Desta forma, pode criar cidades na selva, a evolução com o desenvolvimento da
tecnologia do metal
Há um estudo científico que diz que a oxidação do ferro no fundo do oceano, gerou
bactérias de onde surgiram os primeiros seres no começo da evolução. Não se pode
afirmar que tenha sido o ferro o gerador desse fenômeno, mas algum tipo de
mineral simbolizado pelos pontos de ferro.
Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que usa um pó vermelho
extraído de uma árvore que simboliza a procriação primordial para a sobrevivência
e essa é uma das razões dele não gostar que, em seus assentamentos, hajam
ahuinhas. É dono de todos os metais, principalmente o ferro e o aço além de todos
os objetos cortantes: akiriké, farim, magoge, etc.
Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem fronteiras, entra em qualquer
lugar em busca do inimigo e da vitória. Nessas investidas, Togum conta sempre
com Legbá, seu companheiro e amigo incansável, que o ajuda nos combates mas
que se diverte com a fúria de Togum.
Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é muito impaciente e quer tudo a tempo e a
hora. Tem, em sua natureza, um sentido de competição, de vigor, de expansão e de
agressividade, sempre pela sobrevivência. É muito severo com seus filhos no
cumprimento de suas obrigações.
Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se encontrar alguma coisa fora do
lugar, fica bravo e chama a atenção, exigindo que tudo esteja corretamente em seus
lugares. Algumas vezes, ele mesmo faz tudo, colocando as coisas em ordem
Togum toma para si a guarda do kwe onde mora, disputando com Legba a
segurança. Em uma ahuan(guerra), Togum mostra toda a sua fúria e poder de luta.
Dificilmente um kwe de Jeje perde uma ahuan, pois Togum, com todo o seu
humpayme, garantem a vitória.
Todos os narrunos são regidos por Togum. Na África, somente os vodunos de
Togum podem oficiar o ritual de narruno. No Brasil, apenas algumas casas
tradicionais seguem o modelo africano.
O número três está intimamente ligado à Togum. É um número fudamental
universalmente. Exprime uma ordem intelectual e espiritual, em AvieVodum, no
cosmo ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser vivo ou resulta da conjunção de
um e de dois, produzindo, neste caso, a união do orum e do aiye. A cólera e a
irritação de um guerreiro, no seio de uma guerra, manifestam-se através de três
rugas que se formam na testa: então, ninguém ousa aproximar-se ou falar.
Existem vários Voduns pertencentes a linhagem de Togum. O mais velho deles é o
Vodum Guyugu que, como os demais Voduns, participou de várias batalhas,
saindo-se sempre vitorioso.
As cores das contas de Togum, variam de acordo com o Vodum. Podem ser:
azulão, azulão e branco, vermelho, verde e branco, podendo sofrer mudanças se o
Vodum feito assim desejar.
Suas vestimentas podem ser: branca, azul, dourada ou estampada, que é a sua
preferencia.
Seus dias de culto são: segunda ou terça-feira, dependendo do Vodum. Sua folha
predileta é a abre-caminho, sendo que existem muitas folhas para Togum.
Togum é quem abre o portal para o desenvolvimento da nossa verdade.
AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais
Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram
cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60.
As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e falavam em dialeto
africano, diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los. Sem
contar que, muitas das palavras elas falavam pela metade.
Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas grandes, que duravam vários
dias.
A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a grande matriarca da família Davice,ancestral
da família real de Dahome, é considerada a mãe de TODOS os Voduns.
As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem os
tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem com
bonecas e panelinhas.
Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o costume de dar
doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras.
Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de dançar no
quintal, em volta do pá de ginja delas.
Por serem crianças puras, tinham mais afinidade com o corpo permitindo assim,
uma ligação mais direta que os Voduns, que são adultos. Não tinham falhas, não se
irritavam.
Seu papel no culto era só "brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais elevados.
Os Voduns podem ter falhas, as meninas não.
Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns que
deixavam as filhas muito cansadas.
Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por serem mais delicadas,
porém os Voduns são mais importantes por terem mais obrigações.
Podemos observar similaridade entre as Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos
Candomblés da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco, pelo comportamento infantil.
No entanto, os Erês apresentam-se tanto com características femininas quanto
masculinas e as Tobossis são, exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas.
FEITURA DAS TOBOSSIS
O processo de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum principal
da Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as voduncirrês,
para a feitura de Tobossi.
As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze
dias, nos quais há algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de passagem
na graduação da iniciada no Mina Jeje.
O barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco
das Meninas ou Rama.
Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas Tobossis,
passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas pelas voduncirrês
gonjaí.
O último barco que se tem conhecimento foi realizado em 1913-1914.
No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas de sinhazinhas e, somente
ao fim das feituras, é que davam seus nomes africanos. Também eram por nomes
africanos que elas chamavam as filhas da Casa. Esses nomes eram escolhidos pelas
Tobossis junto com os Voduns e esses nomes eram divulgados no dia da "Festa de
dar o Nome".
Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta morria, elas não vinham
mais, sua missão ali se encerrava.
Desde a morte das últimas gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não vieram
mais.
As Tobossis só incorporam em suas gonjaí após os Voduns terem "subido". Elas
chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa.
No Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito fina
e especial.
VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS
Os trajes e apetrechos das Tobossis são muito elaborados.
As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam pulseiras chamadas dalsas,
feitas com búzios e coral, pano-da-costa colorido, o agadome, sobre os seios,
deixando o colo e os ombros livres para o ahungelê, uma manta de miçangas
coloridas, presa no pescoço, objeto de grande valor e significado. O ahungelê
também era chamado de tarrafa de contas, gola das Tobossis ou manta das
Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-cultural do Jeje. Ele conta a
história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família e a iniciada, gonjaí.
As Tobossis usavam ainda, vários rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de
miçangas curto, junto ao pescoço como uma gargantilha, usado pelas Tobossis e
pelas gonjaí durante o ano de feitura, cuja cores variam de acordo com seus
Voduns, semelhante ao quelê dos terreiros de Candomblé.
No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito vistosas, aparecendo o
agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados em sandálias finas.
Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma construção artesanal, que
segue com rigor uma linguagem cromática, própria e do domínio das Tobossis.
A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS
Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas obrigações,
destacando-se a festa do Carnaval.
As Tobossis vinham três vezes por ano:
- Nas festas de Nochê Naé - em junho e no fim do ano
- No Carnaval
As grandes festas duravam vários dias.
O Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do Barracão e
visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até as 14 hs da
quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns vinham visitá-las. Eram
recebidos pelas outras filhas da Casa, as voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação
também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de Candomblé.
As frutas ficavam no Peji para serem distribuídas na quarta-feira de cinzas.
Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e confete mas tinham medo de
bêbados e mascarados.
Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã, dançavam
em volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e depois
despachadas.
Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham durante nove dias, entre os
dias de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam durante o dia, cantavam suas
cantigas próprias, dançavam na sala grande e no quintal e brincavam com seus
brinquedos.
O reconhecimento de cada festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos. O
alimento é uma marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas
características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda com o
alimento, uma forma de comunicação com os iniciados, visitantes e amigos do
Barracão.
Fontes de consulta:
O Povo Do Santo - Raul Lody
Querebentam de Zomadonu - Sérgio Ferretti
Hevioso
As informações mais antigas que encontrei sobre os Voduns do panteão do trovão,
datam do final do séc. XV e princípio do séc XVI. Nas aldeias lacustres, nos
arredores do atual Allada, era cultuado o Vodum Setohoun (espírito da laguna).
Quando Setohoun chegou a aldeia de Hevie (reviê), os nativos o batizaram com o
nome de Hevioso ou Hebyoso (na minha opinião Hevioso seria o mais correto,
visto a sua tradução ser: hevi: nome da cidade e oso ou so: raio = raio de Hevie).
Em Dahomey ele recebeu o nome de Xevioso, quando chegou trazido por uma
nativa da aldeia de Hevie. Na cidade de Mahi era cultuado o Vodum Djiso (djisô)
na tribo Djétovi. Nesta mesma cidade, também eram cultuados os Voduns: Gbameso
(bamé-sô) que tudo indica ser o mesmo Bade que conhecemos no Brasil;
Akhombe-so (acrombé sô); Ahoute-so (aroutêsô) e Djakata-so (djacatá-sô). Vale
assinalar que em toda a região do Dahomey atual Benin, até os dias de hoje, todos
esses Voduns inclusive o Orixá Shango são chamados de SO (sô), que quer dizer
raio. Sogbo era e ainda é, para o povo daometanos a grande deusa, mãe de todos os
Voduns So e irmã de Hevioso. Junto com seu irmão lidera a família. A partir do
meado do séc. XVI o culto desses Voduns se espalhou por todas as regiões do
Dahomey. Com essa expansão, novos Voduns foram surgindo. Vejamos alguns
deles: Adantohun (adantôrrum) (seria o que conhecemos como Soboadan?!)
Ahuangan (arruangam) Alansan (alansam) Kasu Kasu (cassu cassu) Saho (sarrô)
Aden (feminina) Gbwesu (buêssu) Akele (aquêlé) Besu (bêssu) Ozo (ôzô) Kunte
(cuntê) feminina Naete (naêtê) feminina) Beyongbo (beionbó) (feminina)
Avehekete (averequéte) Dawhi (dauri) Hungbo (rumbó) Salile (salilê) Agbe (abê)
(feminina) Ahuangbe (arruambé) Contam os vodunos e Hunos que devido as tribos
litorâneas que prestavam culto aos xwala-yun (deuses do mar) adotarem o culto a
So, Agbe e Naete foram designadas a se estabelecerem no mar junto ao grande
Vodum Hun e que a partir daí, o culto dos dois panteões se fundiram nos cultos.
Ao nível de Brasil, por tudo que pude constatar em minhas pesquisas, não vi muita
diferença entre nosso culto e o dos africanos. A maioria dos So que existem no
Benin existe aqui também.
No Brasil é comum as pessoas chamarem todos os Voduns do panteão do fogo de
“Sobo”. Vejamos alguns Voduns e suas características:
Kasu Kasu (cassucassu) - Guerreiro que defende as aldeias e ou casas de santo
onde é cultuado. Os inimigos têm pavor de Kasu. Dizem que quando em luta ele
cospe fogo sobre os inimigos. Quando em guerras, Kasu coloca-se a frente da
aldeia e ou casa de santo e abre seus braços criando assim um obstáculo que
impede os inimigos de atacar. A tradução de seu nome é barreira.
Sogbo (sobo) - Vodum feminina considerada a mãe de todos os So. Faz trovejar
para alertar os homens que os deuses julgadores e da justiça estão insatisfeitos e
que o trovejar é sinal do castigo que está por vir.
Djakata-so (djacatásô) - Muito forte. Em sua ira arranca as árvores e as joga sobre
os inimigos e aldeias. Defende seus filhos mesmo que eles estejam errados, só não
podem errar com ele.
Hevioso (reviossô) - Seus raios rasgam os céus acompanhados dos trovões,
destruindo cidades inteiras e fulminando os inimigos. Dizem os Hunos que é
preciso oferecer sacrifícios ao deus do trovão para aplacar sua fúria. Ele odeia
ladrões e malfeitores e os mata. Quando esta, satisfeito, Hevioso dá a chuva e o
calor que tornam férteis a terra e o homem.
Akholongbe (acrolombé) - Ataca os inimigos ou castiga o homem enviando
granizo, ë faz os rios transbordarem. É ele quem controla a temperatura do mundo.
Quando está calmo e satisfeito, ajuda o homem dando-lhe bons movimentos
financeiros.
Ajakata (ajacatá) - O grande guardião dos céus. Somente ele possui as chaves que
permite a entrada dos homens nos céus. Quanto aborrecido envia as chuvas
torrenciais.
Gbwesu (buêssu) - É uma das mais calmas, é o murmúrio dos trovões no horizonte.
Akele (aquêlé) - É quem puxa as águas do mar para o céu e a transforma em chuva.
Alasan (alassam) - Talvez o mais velho de todos. Ensinou ao homem o culto de So.
Gbade (badé) - Jovem, guerreiro, brigão, implicante, muito barulhento. Adora
beber e quando o faz arruma bastante confusão deixando todos atordoados. Adora
esconder as coisa (pertences) e se diverte em ver as pessoas procurando. No trovão
ouve-se sua voz gritando para que os homens consertem o que está errado. Sua
morada são os vulcões.
Adeen (adêêm) - É ela quem faz escurecer os céus e envia os relâmpagos que
fulminam. Sua mãe Sogbo ralha com ela dizendo: - Ahunevi anabahanlan! (não
mate as pessoas).
Aden (adêm) - Vodum masculino do panteão do trovão, que veste roupa branca.
Dá as chuvas finas que faz as árvores frutificarem e, em conseqüência, é guardião
das árvores frutíferas. É o mesmo Vodum Adaen conhecido no Brasil. Em um
combate, mata os inimigos pelas costas, não a traição. Todo cuidado é pouco para
lidar com esse Vodum, pois a primeira vista ele não demonstra seus desagrados.
Ahuanga (arruanga) - Vodum masculino muito velho e grande feiticeiro do panteão
do trovão, filho de Saho. Em um salto transforma–se em fogo para proteger seus
adeptos e queimar seus inimigos, depois disso desaparece numa moringa. Tudo que
é seu é enterrado.
Auanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de Avehekete.
Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões.
São muitos os Voduns desse panteão.
Os So ou Sobos não gostam de malfeitores e ladrões de um modo geral eles se
irritam e matam esses elementos.
A água da chuva depositada nos telhados é um dos seus maiores beko (becó
(kisilas)). Também não gostam de feiticeiros e bruxos e se esses se meterem com
seus protegidos Ele os fulmina.
Os akututos (eguns) não constituem um beko para esses Voduns, mas eles também
não gostam muitos dos mesmo. Quando é necessária a presença de um deles para
afastar esses espíritos, se fazem presente e com muita energia os afugentam.
Sua principal dança é o hundose (rundôssé (Brasil)) e o dogbahun (dôbarrum
( África)). Pela descrição dessa ultima, acredito que seja o mesmo hundose que
conhecemos no Brasil.
Sosiovi (sôssiôvi) é nome do chocalho de So ou Sobo.
Sokpe (sopé) é o machado de Hevioso, feito com pedras de raio.
Os Sos ou Sobos representam vida, saúde, prosperidade e vitórias.
fontes de pesquisa; Centro cultural Ceja Neji
Pierre Verger
Lê Herrisé
Voduns das Águas Oceânicas
O oceano abriga uma variedade imensa de entidades, dentre estas, encontramos
muitos Voduns masculinos e femininas.
Para falarmos sobre as Naês (mães) que habitam o oceano, torna-se necessário
falarmos dos Voduns masculinos que moram com elas.
Para os adeptos do culto Vodum o oceano é o grande Hu-Non (ru-nom),
considerado o maior de todos os Voduns.
Naete (naêtê) e seu esposo Vodum Hou (rou) são os deuses que reinam esse
universo oceânico. Enquanto Naete fica nas águas calmas, Vodum Hou desbrava
todas as regiões e dá a cada Vodum suas tarefas.
Naete (naêtê) - Vodum feminino do panteão do trovão que habita as águas calmas
antes da arrebentação, esposa de Vodum Hou.
Hou (rou) - Vodum masculino do panteão do trovão casado com Naetê, pai de
Aveheketi, trindade muito cultuada e honrada nos templos do Trovão. Sua morada
são as volutas bramantes das ondas que arrebentam no litoral.
Cada Vodum habita uma região do oceano e têm uma função. Assim vamos
encontrar:
Vodum Nate (natê) - Vodum do panteão do trovão que habita o mar. Adorado
pelos pescadores e por todos que trabalham no mar. É o grande guardião que habita
em todo o oceano, mar e praias.
Sayo (saíô) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de Avhekete. Habita as
ondas do mar que fazem o nível do oceano subir. Considerada como uma sereia
Vodum Tokpodun (tópôdum) - Vodum feminina, deusa do rio. Seu frescor traz
claridade para as cabeças e sua tranqüilidade traz a paz. Símbolo de beleza,
feminilidade, fertilidade, graça e caráter. Filha de Naete deusa do oceano, irmã de
Avhekete. Foi expulsa do oceano por seus irmãos por seu caráter forte indo então,
morar no rio.
Vodum Tchahe (tchárrê) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de
Avhekete. Habita o marulhar das ondas das águas oceânicas.
Vodum Agboê (abôê) - Vodum masculino do panteão do trovão, filho de Saho.
Realiza tudo através de um talismã que preparou junto com seu pai. Dança com
muito vigor, gira em torno de si mesmo e transforma–se na água que é Hu, o mar.
Depois disso sai e pede a uma vodunsi que recolha água do mar, coloque em um
ponte e a esquente. O resultado disso é o huladje, o sal.
Vodum Avehekete (averequéte) - Vodum masculino do panteão do trovão,muito
agitado, habita a arrebentação marinha. É quem leva as mensagens de seu pai,
Vodum Hou, às divindades marítimas e aos homens. Costuma roubas as chaves de
sua mãe para da-las aos homens.
Voduns gêmeos Dôtsê e Saho (dôtissê e Sarrô) - Dôtse nasceu à noite e Saho de
manhã. Ela tem um olho em um lado da terra e Saho no outro lado. Considerados
os Voduns que olham o mundo. Panteão do trovão, habitam sobre o mar.
Vodum Yedomekwe (iêdômêqüê) - Vodum feminina que faz chover. Habita na
evaporação das águas oceânicas.
Goheji (gôrêji) - Vodum jovem muito alegre e falante, habita o encontro das águas
das lagoas com o mar. Essa mãe gosta muito de passear pelas lagoas e lagos
misturando-se com os patos d'água em seu bailado e fica muito aborrecida se
algum caçador mata ou fere uma dessas aves. Veste roupas azul, verde água,
prateado com rosa clarinho ou azul. Gosta de adornos prateados, pérolas e
perfumes suave. Pertence ao panteão da terra. Quando Goreji resolve passear em
águas oceânicas, os cavalos marinhos que a adoram ficam ao seu dispor para
transportá-la e passear com ela. Em seu assentamento podemos colocar bonecas
coloridas e outros brinquedos de menina.
Vodum Aboto - habita as águas doces profundas que desembocam no mar. É
sempre confundida tanto como Oxum quanto como Yemanja. Uma das Voduns
mais velha do panteão da terra. Veste branco, branco com amarelo, amarelo
clarinho, suas contas são amarelo pálido. Gosta de adornos dourados e perfume.
Não gosta de muito barulho perto dela. Fica fascinada com o barulho dos búzios
em movimento com as águas e faz desses seu oráculo.
Os gêmeos Dazodje (dázôdjê) e Nyohuewe Ananu (niôrruêuê ananú) - habitam nas
riquezas depositadas no fundo do mar e são considerados os Voduns da Riqueza.
Não são feitos na cabeça de ninguém.
Erzulie (erzúliê) - Vodum feminino que habita o reino abissal, pertence ao panteão
da terra. É considerada a mãe de Agué e Olokwe. Essa Vodum também é
conhecida como Erzulie-Dantor, poderosa conhecedora da alta magia. Dizem os
bakonos que ela se assemelha a Netuno, pois está sempre tentando levar toda a
humanidade para habitar o oceano. Ela diz que todos os humanos têm a capacidade
dos anfíbios e que todos se originaram do fundo do mar. Alguns acreditam que é
um Vodum andrógino. Em momento de afogamento devemos chamar por Vodum
Abe (abê) e Vodum Sayo para que essas convençam Erzulie que nosso lugar é na
terra.
Oulisa (oulissá) - Vodum masculino que habita as águas claras e frias do oceano.
Esse Vodum é sempre muito confundido com Lisa (lissá) ou Oxala. Veste branco
com detalhes prateado ou dourado. É um Guerreiro dos Mares. Panteão da terra.
Abe (abê) - Vodum feminina irmã de Bade, panteão do trovão. Habita as águas
revoltas do oceano. Sempre que acontece um naufrágio é ela junto com Vodum
Sayo que tentam salvar os náufragos. Considerada uma das mais velhas mães do
mar, sempre substitui Naete, quando essa precisa se ausentar do reino. Noche Abe
é considerada a palmatória do mundo, cabe a ela mostrar as verdades e não deixar
que essas sumam nas águas, dizem os antigos que o ditado "A verdade sempre
anda sobre as águas, nunca afunda, um dia ela aparecerá na praia" foi dito por Abe.
Assim como Erzulie, Abe é conhecedora de alta magia. Veste branco, azul muito
clarinho.
Existe uma grande confusão entre o nome desta Vodum com as Voduns Abe Huno
(abé runô), Abe Gelede (abé geledê), Abe Afefe (abé afêfê) que são Voduns
guerreiras dos raios, tempestades e ventos.
Naê Aziri - Vodum das águas doces que muito se assemelha ao Orixa Oxum.
Panteão da terra. Essa Vodum é muito confundida com a Vodum Azihi-Tobosi
(aziri-tobossi) que habita o alto mar e é a protetora de todas as embarcações que
navegam no oceano.
Afrekete (afrequéte) - é a mais jovem e mimada Vodum do panteão do trovão,
habita em todo o oceano. Junto com Nate(natê) desempenha o papel de Legba,
guardando os mares. Protege os pescadores e pune todos aqueles que insultam os
deuses e habitantes do mar. Quando vê uma embarcação pirata, agita as águas para
que essa naufrague e após esse, entrega todo o tesouro encontrado aos Voduns da
riqueza e os mortos à Abe Gelede (abé).
Aouanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de Avehekete.
Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões.
Agoen (agôêm) - Vodum filho de Saho, reina na areia branca que cobre o chão das
praias e oceanos.
Agwe (agüê) - Vodum feminina do panteão da terra que habita sobre as águas
oceânicas. Muito afetuosa, está sempre atenta as necessidade alimentares do
homem e os ajuda a prover sua mesa, usando sua arma principal, a dam (rede).
São tantos os Voduns que habitam as águas oceânicas que torna-se impraticável
descrever todos aqui nesse espaço.
Temos em nosso culto uma linda cerimônia denominada GOZIN (gozim) onde
fazemos oferendas à todas as divindades que habitam as águas. É um momento
muito sublime, de uma energia indescritível. Quando "gritamos" Agoki-Agoka
(agôqui-agôcá) podemos perceber a chegada de cada um deles.
Não poderia deixar de citar o mito do monstro marinho Mokele-Mbenbe
(môquêlêbêmbê), animal do tamanho de um elefante, um pescoço longo, um único
chifre e uma enorme calda envolada que ataca as embarcações. Muito temido e
respeitado em todo o Dahomey até os dias de hoje.
E na Hou nule ye! (Ê ná rou nûlê iê!) (Que os deuses do oceâno abençoem vocês!)
Yewa
Yewa é um vodum feminino da família Dambirá. Filha de Toy Azonze e Dambala,
irmã de Boçalabê nasceu para ser o símbolo da pureza e da beleza dos deuses. Do
nascimento a fase adulta Yewa viveu na família de Dan onde representava a faixa
branca do arco-íris onde também mora Ojiku. Recebeu de Dan Wedo o poder da
vidência, da riqueza, e todos os corais que existiam no mar que ela pegava com seu
arpão.
A beleza física de Yewa encantava a todos que olhassem em seus olhos, mas essa
nunca se encantava com ninguém pois era o símbolo da virgindade e da pureza.
Muitos homens se apaixonaram por ela e todos foram punidos pelos deuses pois
sabiam que era proibido amar a grande Virgem.
Yewa adorava ver o por do sol e sempre saía a passear pelos campos floridos
acompanhada por dois bravos guardiões que não permitiam que ninguém se
aproximasse dela. Era um casal de gansos branco, lindos e majestosos. Certo dia,
estava Yewa a apreciar o por do sol, quando uma galinha, se aproveitando da
distração dos gansos, aproximou-se e ciscou muita terra sobre as vestes brancas de
Yewa, essa se enfureceu e amaldiçoou a galinha e daí para frente nunca mais quis
ver uma em sua frente como também resolveu mudar suas roupas para as cores do
por do sol.
Certo dia, Yewa avistou um belo homem, um guerreiro e se encantou por ele.
Yewa enfrentou e desafiou todos os deuses por amor a esse homem e teve como
castigo o exílio. Foi expulsa da família de Dan e considerada a cobra má. Durante
seu exílio, Yewa teve que fugir e esconder-se da fúrias dos deuses.
Em sua primeira fuga, Yewa contou com a ajuda de um grande caçador e
guerreiro, Odé, que a escondeu nas profundeza das matas escuras, em terras
yorubanas.
Vendo-se em um lugar sombrio e sem recursos de sobrevivência a sua disposição,
Yewa aceitou um ofá que Odé ofereceu-lhe. Aprendeu a caçar junto com ele e com
os demais caçadores.
A beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos demais que viviam nas matas,
pois eles sabiam que não podiam se apaixonar por ela, temiam a fúrias dos deuses.
Odé então, fez para Yewa uma coroa de dans e folhas de palmeiras desfiadas.
Mandou que ela a coloca-se, assim ninguém se aproximaria dela com medo das
dans e as folhas desfiadas da palmeira esconderiam sua beleza contagiante. Yewa
gostou do presente pois viu nesse, a possibilidade de esconder-se dos deuses e
livrar-se de sua fúria.
Com o uso dessa coroa Yewa pode sair da escuridão das matas e ir apreciar o que
mais ela amava e representava ... o por do sol. Faltava-lhe seus guardiões, pediu
ajuda a Odé e esse caçou para ela um casal de gansos negros, pois foram os únicos
que encontrara. E assim, Yewa passou a ver e a viver o por do sol novamente em
seu exílio.
Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir por sua filha Yewa que já
tinha sido por demais castigada. Depois de muitos pedidos e oferendas aos deuses,
esses concederam a Azonze a guarda de Yewa que deveria morar com ele. Azonze
embrenhou-se nas matas a procura de sua filha e a encontrou junto a Odé.
Como agradecimento por tudo que fez por Yewa, Toy Azonze deu a Odé um par
de chifres e o poder de chamá-lo e aos espíritos da caça quando assim precisasse.
Yewa foi morar no reino dos mortos junto com Azonze e com esse passou a exigir
o cumprimento da moral e dos bons costumes. Em sua nova morada Yewa recebeu
o caracolo/aracolê onde guarda os segredos dos ancestrais e os invoca quando é
necessário, e o eruxim com o qual espanta os egum para o caminho de Oya.
Sempre que possível, Yewa engana Eku e salva uma vida.
Yewa é um Vodum raríssimo de ser encontrado no TA (cabeça) de alguém. A
feitura de Yewa deve ser sempre em TA de virgens e nunca em TA de homens.
Por ter o poder da vidência, Yewa tem o poder de nos livrar do "olho grande" e das
invejas. Quem sabe cuidar desse Vodum, se livra facilmente dos invejosos.
Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas matas e mundos subterrâneos
(aquático e terrestre), mas seu local preferido é sempre o horizonte, onde o por do
sol faz o encontro dos dois mundos e o céu se encontra com a terra, "Isso é Yewa"
dizem os antigos.
Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito confundido com Yewa, assim como
Boçalabê que é sua irmã. Ojiku é considerado a Cobra branca e Boçalabê é uma
Vodum das água doces, muito confundida com Oxum. Em muitas pesquisas e
entrevistas que fizemos pudemos constatar a confusão e controvérsias que as
pessoas fazem em relação a Yewa e esses dois Voduns.
Tohossou:
Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais
Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas em circunstâncias especiais,
eram mortas pois eram segregadas e rotuladas como seres de mau agouro, diabos
ou que perpetuavam a miséria e o sofrimento de suas famílias, tornando-se assim,
um estôrvo para seus pais. Eles eram assassinados, conforme estabelecido pelo
grupo, para serem poupados de uma vida com olhares fixos e rejeições sociais.
Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida familiar cuidando dessas
crianças carregadas de circunstâncias tão especiais.
Esta situação também estava presente na cultura dahomeana, até que um Vodum
especial, nomeou Tohossou para encarregar-se de mudar essa situação.
Os Tohossous são congregados de antepassados reais que surgiram durante o
reinado do Rei Akaba, o segundo rei do Dahomey (1685-1708). Eram conhecidos
como "as crianças e o guardião dos três rios", um lugar onde todos os antepassados
viviam, e todos que morriam passavam a viver neste sagrado reino subaquático.
Este Tohossou foi considerado muito poderoso e, frequentemente, era chamado
para batalhas quando tudo já havia falhado, pois era um vencedor certo com uma
rajada de sua poderosa espada.
O Tohossou é agrupado com o "Neusewe" dahomeano, grupo da maioria dos mais
antigos antepassados, hoje conhecido como "Loko".
A primeira criança nascida com má formação física e a fazer parte desse grupo foi
Zomadonu, filho mais velho Acoicinacaba.
Zomadonu é quem comanda este poderoso grupo de Trowo (espíritos ancestrais) .
Para este grupo eram feitos sacrifícios e honras especiais.
Infelizmente, foi durante o reinado do rei Glele que deu-se a maior perseguição às
famílias dessas crianças. Elas eram sacrificadas afim de poupar o reinado e suas
famílias.
O mais significativo, é que esses antepassados reais eram, frequentemente,
ignorados e negligenciados pelos próprios reis. Muitas tentativas foram feitas por
esses antepassados para atrairem a atenção dos reis em incentivá-los a dar-lhes as
homenagens como era a tradição, mas os reis se recusavam veementemente, então
esses antepassados se tornaram enfurecidos.
Um dia, irritados, desceram na corte real, nos corpos dos adultos fisicamente mal
formados e começaram a destruição, a devastação e a exalarem um cheiro forte e
desagradável e, acima de tudo, muita confusão e desespero, destruindo a corte e
vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bakonons de Fa para verificarem qual era o
problema e o que poderia ser feito para acalmar esses espíritos poderosos e
irritados.
Após um consulta cuidadosa, Tohossou começou a falar. Além de exigirem que
todos os reis erguessem um santuário ao Vodum maior, Zomadonu, para que eles
lhes pagassem as devidas homenagens, exigiram também que a repercussão da
"fama" que os física e mentalmente abalados tinham fosse cessada. Declarou ainda
que daquele momento em diante eles eram os seus guardiões protetores. Por
último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas condições, suas famílias
deveriam erguer um pequeno santuário em suas casas e, os que assim fizessem,
seriam recompensados e abençoados com prosperidades especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação física ou
deficiências mental têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar
é consegrado aos Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às suas famílias,
trazem bençãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças, também
ficam sob a proteção dos Tohossous.
Sakpatá
Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII,
vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy
Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos,
que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá à eles inspirações para a
descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a
própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro.
Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu
assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente
UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse assentamento. É Toy
Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão Toy Akossu, quando ele
está em terra.
Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer
quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy Abrogevi
gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a
comer e a gostar de quiabo.
São tantos Voduns desse panteão que seria praticamente impossível descrever cada
um aqui.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca
admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é
Ewá, filha de Toy Azonce.
As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem variar de acordo com
o gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo umas mais
curtas e outras mais compridas. Sakpatá usa todas as cores e o estampado, sempre
com a presença das cores escuras.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de
palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia vinifera.
No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de
ascensão, de regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da
ressurreição dos mortos. Um símbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade
do iniciado, sua utilização também é reservada aos deuses ancestrais, numa
reafirmação de sua ancestralidade, eternização e transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou
ainda, uma pequena espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto pela
palha da costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar
búzios e chaorôs (guizos).
O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado pela sua relação
com as águas e seu desenvolvimento espiralóide a partir de um ponto central.
Simboliza as grandes viagens, as grandes evoluções, interiores e exteriores.
É associado as divindades ctonianas, deuses do interior da terra. Por extensão, o
búzio simboliza o mundo subterrâneo e suas divindades.
O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo pela percepção
do som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o som, que é reflexo da
vibração primordial. A repercussão do chaorô é o som sutil da revelação, a
repercussão do Poder divino na existência. Muitas vezes têm por objetivo fazer
perceber o som das leis a serem cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as influências
malignas ou, pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida, simboliza o
apelo divino ao estudo da lei, a obediência à palavra divina, sempre uma
comunicação entre o céu e a terra, tendo também o poder de entrar em relação com
o mundo subterrâneo.
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de
eminência, de elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o
prestígio da força vital, da criação periódica, da vida inesgotável, da fecundidade.
Devemos lembrar que chifre, em hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo,
chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá
tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá,
descobrimos um processo de anexação da potência, da exaltação, da força, das
quatro direções do espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a
bondade, a calma, a força, a capacidade de trabalho e de sacrifício pacífica do
chifre do búfalo, de onde origina-se. Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é
também considerado divindade da morte, um significado de ordem espiritual, um
animal sagrado.
Na África, o búfalo (assim como o boi), é considerado um animal sagrado,
oferecido em sacrifício, ligado a todos os ritos de lavoura e fecundação da terra.
O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.
Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca) representaria as
doenças de pele eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se abrindo. Jogar o duburu
assumi o valor e o aspecto de uma oferenda, destreza e resistência. O ato de jogar
se mostra sempre , de modo consciente ou inconsciente, como uma das formas de
diálogo do homem com o invisível. Tem por alvo firmar uma atmosfera sagrada e
restabelecer a ordem habitual das coisas, é fundamentalmente um símbolo de luta,
contra a morte, contra os elementos hostis, contra si mesmo.
Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um
deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única
maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão de
Sakpatá, onde devemos comer, dançar e cantar junto com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a compartilhar
desse banquete. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas
divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os
demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da varíola
e seus descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é servido o
banquete para todos os presentes.
Após essa cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns, vestem suas roupas de festa e
vão para a Sala (barracão) comemorarem seu grande dia, junto com a comunidade
que os aguardam. Quando entram na Sala, todos gritam louvores à eles, dançam e
cantam, louvando o Deus da varíola, que traz a cura de todas as doenças.
Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes, as doenças e a cura das
mesmas. Algumas falam das lutas que esses Voduns enfrentaram com a rejeição
das comunidades com sua presença e outras falam das vitórias que tiveram sobre
todas as comunidades que a eles vieram pedir ajuda.
Os Sakpatás trabalham muito e têm um importantíssimo papel nas feituras de
Voduns. Do início ao fim de uma ahama (barco de yaô), eles atuam com rigidez e
vigor, mantendo o bom andamento, principalmente dos bons costumes morais e,
cobram "feio" caso alguém cometa alguma falha. Eles são, na verdade, as
testemunhas de uma feitura. Após a feitura, se um filho negar alguma coisa que
tenha sido feita, eles são os primeiros a cobrarem desse vodunci a mentira que ele
está dizendo, assim como também cobram a quebra de segredos.
Todas as folhas refrescantes para ferimentos, pertencem a esses Voduns.
Vale alertar que existem Orixás e Inkices também ligados a cura e doenças porém,
não são os mesmos deuses que os Voduns da família Dambirá, da nação Jeje.
Muitas confusões são feitas e, encontramos várias bibliografias relatando origens,
especificações e costumes que nada têm a ver com o Vodum Sakpatá.
AVEJI DA
Ligadas as tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões, maremotos,
erupções vulcânicas, aos ancestrais e a guerra, todas as Voduns guerreiras são
conhecidas como Aveji da. Até mesmo Oya dos yorubanos, é assim denominada
em território daometano.
Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas feita de Oya se intitulam filhas de
Vodum Jò. Digo erroneamente porque Oya é um Orixá yorubano e Vodum Jò é um
ToVodum do panteão de Aveji-da, assim como Jò Massahundo também.
Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e dos ventos.
Podemos encontrar as Aveji-da tanto na família Dambirà quanto na família
Heviosso.
As Aveji-da, da família Dambirà estão ligadas diretamente ao cultos dos akututos,
sendo que cada uma tem sua função. Algumas reinam na fronteira do djenukom
com o aikungúmã, outras nos ekúchomê, outras no hou, ôtan e tódôum., outras em
humahuan, outras junto com Naê Nana, outras junto aos kpame e "possuídos" -
essas, "talvez", sejam as que mais trabalham (opinião minha) - outras se
encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e pedidos feitos pelo povo encarnado
e desencarnados, a quem de direito e tentam trazer as soluções para cada um -
normalmente conseguem. Enfim, é uma infinidade de atribuições que essas
Voduns têm, todas sempre em prol daqueles que pedem e precisam do auxílio
delas, sejam encarnados ou desencarnados.
Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por akututòs. Elas têm todos os
poderes sobre o reino dos mortos e junto com Sakpata e Nae Nana, controlam a
vida e a morte.
As Aveji-da da família Heviosso, estão mais ligadas aos fenômenos da natureza,
como o furacão, ciclone, maremotos, erupções vulcânicas, etc. onde os eguns
recém desencarnados nesses fenômeno são encaminhados imediatamente por elas
as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois Heviosso e demais Sobos não abrem
suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas tem que ser rápido e eficiente,
para não contrariar o grande Heviosso.
Contam os velhos Vodunos e Bakonos que a fúria de Aveji-da e de Heviosso
contra as heresias humanas é que provocam esses fenômeno onde muitos
sucumbem. Nessas ocasiões é que devemos recorrer a Velha Vodum Guerreira que
com sua sabedoria e magia sabe aplacar a fúria dos deuses e acalma-los.
Essa Velha Vodum Guerreira mora junto com as demais Yamis e todas as Aveji-da
prestam culto a mesma e tomam seus conselhos e usam sua magia quando
precisam. Ela é um velha Aveji-da que se esconde nas sombras e adora a noite. Os
pássaros são seu encanto. Junto com Ágüe visita os kwes em sua rondam noturna e
se encontrar demandas ela ai se detem nos para ajudar ou cobrar. A fúria dessa
Vodum destrói os inimigos e fecha um kwe. Dificilmente um kwe fechado por ela
consegue se reerguer. Somente através de Baba Egum se consegue chegar a ela
para aplacar sua fúria. As Aveji-da são mulheres muito vaidosas, gostam do belo,
adoram a natureza, apreciam quando suas filhas imitam suas vaidades. São todas
muito vaidosas e autoritárias, não gostam de receber ordem de ninguém
principalmente dos homens, mas quando fazem suas vontades e caprichos tornamse
dócies e carinhosas. São muito maternais, perdoam com facilidade seus filhos e
os defende com toda a garra de guerreiras. Gostam de disputar com os Voduns
Guerreiros quem luta melhor e esses sempre acabam cedendo aos encantos dessas
mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As Aveji-da comem cabra ou
cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros bichos. Gostam de abara, acarajé,
alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés recheado com quiabo - existe um
infinidade de comidas para elas - Seus apetrechos são o erugim, adaga, espada de
lança curta com a ponta em forma de meia lua, faca, chicote, chifre de búfalo e de
boi, fogareiro de ferro, abano de palha, abano confeccionado em tecidos finos ou
pena (leque), abanos confeccionados em madeira, bonecas(fetiche), maruo... Usam
todas as cores em suas vestimentas. Seus colares ou fios de conta são das mais
variadas cores e formato. Gostam de todos os metais, sendo que o ferro, o cobre e a
prata são seus preferidos. Vale ressaltar que a confecção de apetrechos,vestimentas
e fios de contas são determinados pelas próprias Voduns, portanto não existe uma
"receita" para esses itens. As Oyas feitas dentro do culto de Voduns aderem todas
as características das nativas, porém recebem também o que lhes são de direito
dentro de suas origens.
Vocabulário:
djenukom - céu (orum)
aikungúmã - terra (aiye)
ekúchomê - cemitério
tódôum -rio
hou - mar
ôtan - lago, lagoa
ahuan - guerra, batalha
humahuan - campo de batalha (guerra)
kpame - doentes, enfermos
akututòs - ancestrais, egungum ekùs – eguns
Tobossis/Naês/Mami Wata
Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu,
jevivi e salobres. Aqui falaremos, especificamente ,das belas Naês das ezins doces
e salobres.
Em todas as famílias de Voduns encontramos Naês, sendo que, a maioria delas, são
da família Dambirá, panteão da terra.
No Brasil, convencionou-se chamar Oxum, dentro das casas Jeje, de Tobossi.
Tobossis são Voduns femininos, infantis e, como elas tem muito a ver com as
Naês, acredita-se que foi daí que o brasileiro passou a chamar Oxum de Tobossi.
Como a maioria dos adeptos do Candomblé sabem, Oxum é um Orixá da nação
Ijexá, muito cultuada por todas as nações, inclusive o Jeje mas, temos que entender
que existem Oxum e Naês. Quando, dentro da nação Jeje, uma pessoa é feita de
Oxum, dizemos que ela é feita de Orixá, quando a pessoa é feita de Naê, dizemos
que ela é feita de Vodum.
As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer entidade que mora nas
ezins. Nesse habitat não existe separação de nações.
As Naês ou Mami Watas, são mulheres vaidosas, exigentes, caridosas, algumas são
guerreiras, outras caçadoras. Gostam do brilho das pedras e do ouro, adoram se
enfeitar com colares, pequenas conchas e caramujos, pulseiras, pequenas penas
coloridas. Normalmente, seus adornos são feitos por elas mesmas, caso alguém
queira fazer para elas, essas exigem que seja feito exatamente como elas fariam.
Algumas Naês gostam de ficar a beira dos tódôum, sentindo e recebendo a energia
do guhê, das atinçá, do djóom, da sum, etc.. Essas são muito falantes, gostam de
dançar, cantar, caçar junto com Otolu, pescar junto com Ajaunsi, macerar folhas
junto com Agué, comer amalá com Sobo, Aveheketi e Ahevessul, etc. Gostam de
caminhar pelas matas, praias e lagoas, ondem residem outras Naês.
Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde a paz reina com toda a
plenitude da natureza, essas não gostam de se expor aos olhos de curiosos e são de
falar muito pouco.
As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais guerreiras, cultuam os
ancestrais, lidam com eguns e a magia é seu forte. Dizem os antigos, que é nas
lagoas que se escondem os grandes mistérios da magia das Naês, pois ali se
encontram as duas energias, a das ezins jeçuçu e a das ezins jevivi. Fá sempre
aconselha seus bakonos a irem à lagoa conversarem com as Naês quando existe a
necessidade da magia ser usada.
As Naês usam roupas de várias cores sendo que, algumas delas, adoram o dourado,
daí confeccionar-se roupas com tecido amarelo, o que não está totalmente correto.
As roupas das Naês devem obedecer a uma série de exigências das mesmas.
Podemos até fazer uma roupa amarela ou dourada, mas nunca podemos esquecer
os detalhes que virão complementar a simbologia da roupa a ser usada.
Seus assentamentos podem ser feitos em louças, em bustos de madeira, argila ou
cô, dependendo da Vodum que se está assentando.
Comem: bò, catraio, marreca, kôkôlo, uhui, caças, eché.
Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu (abebê), pena, ofá, lira, eché (de
preferência vivo), cobra, espada ou adaga.
Em todos os estudos que fizemos na África, encontramos a SEREIA simbolizando
as Mami Wata/Naês, tanto das água doces quanto das águas salgadas e salobre. É
comum encontrarmos, em qualquer estabelecimento comercial e residencial, a
figura de uma sereia cultuada (podemos comparar com os santinhos católicos que
os brasileiros cultuam aqui em pequenos altares em seus estabelecimentos).
Vocabulário
kôkôlo - galinha
bò - cabra ou cabrito
có - barro
eché - pássaro
uhui - peixe
ezim - água
atinçá - árvores, folhas
sum - lua
djóom - vento
tódoum - rio
catraio - galinha da angola
guhê - sol
jevivi - salgada
jeçuçu - doce
A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÇÃO
Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui dezesseis olhos e é um deus
andrógino.
Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de palma, no Orum, a fim de
observar os reinos do mar, da terra e do céu. Mais tarde, Mawu lhe diria os deveres
que deveria executar.
Gbadu está sempre na árvore.
A noite, quando dorme, seus olhos se fecham e depois não pode abri-los sozinho.
Legba foi encarregado por Mawu, para escalar a árvore de palma, a cada manhã,
para abrir os olhos de seu irmão.
Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta primeiro a Gbadu que olhos
deseja ter aberto, se os detrás, da frente, da direita ou da esquerda. Ao ouvir a
pergunta, Gabdu presta atenção ao reino do mar, da terra e do céu; não quer falar
porque outros podem ouvir.
Em resposta a Legba, põe semente da palma em sua mão. Se colocar uma semente,
significa que deseja abrir um de seus olhos e se forem duas sementes, Gabdu
deseja que dois de seus olhos sejam abertos.
Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de perto o que está
acontecendo no mar e na terra e prometeu a Gbadu, a quem nós também chamamos
de Fa, que relataria tudo à ele, inclusive o que acontece no domínio de Mawu, o
Orum. E dests maneira aconteceu.
Depois de um tempo, Gbadu começou a gerar crianças. A primeira criança era
Minona, uma filha. A segunda criança também era uma filha. Todas as outras
crianças eram filhos e foram chamados de: Aovi, Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e
Zose.
Um dia, Gabadu confidenciou a Legba que estava incomodado porque Mawu ainda
não tinha lhe designado seu trabalho.
O único que conhecia a língua de Mawu era Legba e este prometeu a Gbadu que o
ensinaria.
Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia uma grande guerra na
terra, no mar e no céu e que, se Gbadu ficasse apenas olhando do alto, esses três
reinos seriam logo destruídos.
A água do mar não sabia seu lugar e a chuva não soube cair.
Isto estava acontecendo porque os donos daqueles reinos não compreendiam a
língua de Mawu.
Mawu perguntou: "O que deve ser feito?". Legba disse que o melhor seria enviar
Gbadu à terra. Mas Mawu respondeu: "Não, deixe Gbadu permanecer aqui, mas
darei a compreensão de minha língua à alguns homens na terra, dessa maneira, os
homens saberão o futuro e como comportarem-se".
Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu.
Antes que essas crianças de Gabdu fossem para a terra, Mawu entregou as chaves
do futuro para Gabdu. Disse-lhe que aquela era uma casa com dezesseis portas e
que cada uma correspondia aos olhos de Gabdu.
A árvore de palma em que Gbadu descansou foi chamada de Fa. Assim, quando
Gbadu recebeu as chaves, Mawu disse que Legba era o "inspetor" do mundo e que
desejava que Gbadu fosse o intermediário entre os três reinos e ela mesma.
Quando os homens desejarem saber o futuro a fim de guiarem suas ações,
deveriam pegar as sementes e jogá-las aleatoriamente e isto abriria os olhos de
Gbadu que corresponde ao número de sementes e a ordem em que caíram. Porque
as sementes abririam o olho que correspondesse a uma porta na casa do futuro, o
destino para quem fossem jogadas poderia ser visto.
O que cada casa do futuro continha foi ensinado às três crianças que foram
enviadas à terra.
As crianças escolhidas para ligarem a terra Gbadu e Legba, consequentemente a
Mawu, foram Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos homens como usá-las.
Ensinaram e disseram a cada homem o que era seu sekpoli (destino). Disseram que
o sekpoli é a alma que Mawu deu a tudo, mas antes de chamar esta alma, deve-se
abrir os olhos de Gbadu. É necessário saber o número de olhos de Gbadu que estão
abertos antes de chamar esta alma, de modo que se um homem souber o número de
linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu sekpoli.
Foi dito que nenhum santuário era necessário para a adoração de sekpoli porque o
próprio corpo humano já é seu santuário.
Quando os três tinham terminado de ensinar aos homens, voltaram ao céu.
Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de Gbadu à terra. Foram conduzidos
por Legba, que os instalou.
Quando voltaram, Zose recebeu o título de Faluwono, também conhecido como
Bakonon, que quer dizer "possuidor dos segredos de Fa", que Gbadu tinha lhe
dado.
Minona tornou-se uma deusa e reside na casa das mulheres, onde ela tece algodão
em seu eixo.
Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas de Pa (crianças de Agbadu),
enquanto Kiti e Duwo foram ajudar Zose, que é Faluwono, fazer seu trabalho.
Zose joga as sementes da palma. Ele tem somente um pé e, no começo, quando
traçava linhas do destino, as pessoas não acreditavam nele.
Seu irmão, Aovi, o azarado, foi encarregado de fazer com que as pessoas
respeitassem o culto.
Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer, chama-se Aovi para puni-lo. Então você
deve respeitar o Fa.
Pa fez uma figura pequena de argila de Legba e colocou-a de um lado de sua casa ,
Aghannukwe. Abi foi chamado para dar a Minona a mesma função que Aovi tem
para o Fa.
Abi é cinzas, combustão. É isso que faz com que as mulheres respeitem Minona.
Quando uma mulher cozinha e Minona está irritada com ela, o fogo queima-a ou
sua casa pega fogo.
E é por esta razão, que quando na cerâmica é ateado fogo está se chamando Abi,
porque as cinzas, a combustão, são abundantes.
Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o "novo sistema" e porque
Aovi é muito severo, o culto passou a ser respeitado.
Assim, o culto do Fa espalhou-se em toda parte.
Um dia, veio na terra visitar o culto do Fa com Gbadu. Como era seu hábito,
compartilharam da mesma esteira para dormir. Mas, tarde da noite, levantou-se
secretamente e foi à Minona. Entretanto, Gbadu acordou e descobriu que Legba o
tinha enganado com sua própria filha.
Discutiram e foram para o Orum levar o caso a Mawu.
Legba não admitiu que tinha dormido com Minona. Mawu então, mandou que se
despisse. Quando estava nú, Mawu viu que seu pênis estava ereto e disse: "Você
me enganou e deitou-se com sua irmã. Por este motivo eu ordeno que seu pênis
será sempre ereto e você não poderá mais saciar-se".
Legba mostrou indiferença a esta punição porque jogou com Gbadu antes que
Mawu o repreendesse, ordenando que seu pênis ficasse ereto para sempre, assim já
sabia o que ia acontecer.
É por esta razão, que as danças de Legba são semelhantes a este acontecimento,
tentando-se ver o que toda mulher tem na mão.
Nohê Aikunguman
(Mãe terra)
No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento.
Acreditamos que somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para apoiar
e firmar um templo de Voduns.
Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de Aikunguman, porém existem
aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma. Dependendo do que se pretende
fazer, invocamos o Vodum correspondente. Como exemplo podemos citar:
Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes mercados. - Ë costume em todo
Benin, quando nasce uma criança, levar a mesma ao mercado e lá fazer os
mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois acreditam que esse ritual dará muito
boa sorte à vida da criança. Esse procedimento também se dá aos casais de noivos.
Os familiares das duas partes ser reúnem e vão juntos com os noivos ao mercado.
Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos trazem para casa um pouco de
terra e a coloca no solo de suas casas para que a fartura e a prosperidade façam
sempre parte de suas vidas.
Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos membros reina em uma
parte da terra, inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo
aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como
Aizan. Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da casa
de santo. Intoto é responsável pela putrefação das carnes e dos alimentos em geral;
por essa razão temos que saber cultuá-lo abaixo do solo para que essa atribuição
dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso.
Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um papel
importantíssimo dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e a
alimenta com suas sementes e magias. Em uma casa de santo cabe a ele levar o
"sabor" de cada vodunci e o apresentar à Aikunguman na passagem de sua vida
profana para a religiosa, isso é, no seu renascimento.
Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto de Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun (sangue)
dos animais sacrificados. Junto com Vodum Yian, Guiogu garante que o kun
humano não será derramado dentro daquela casa.
Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o porquê de usarmos
"poeiras", "terras" de determinados lugares para fazermos assentamentos de Santos
e Legbas. Como eu disse, cada membro da família de Aizam, rege um local - feiralivre,
mercados, açougue, bancos, cemitérios, estradas, rios, mar, cachoeira, etc.
Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a principal deusa da terra, ela é a própria
terra.
Deuses da Riqueza
(Daometanos)
Na cultura daometana, encontramos como Deuses da Riqueza, um casal de gêmeos
que foram enviados à terra por Mavu e Lissa, para que ajudassem a humanidade.
Os gêmeos Da Zodji e Nyohwe Ananu foram os primeiros Voduns a nascerem e
após chegarem a terra, deram origem a uma linhagem de Voduns ricos e
guerreiros.
Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas pessoas que recorrerem a Da
Zodje e a Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso é, caso algum caminho ou
energia do solicitante estiver atrapalhando o intercâmbio entre ele e os Deuses da
Riqueza, esses Voduns mostram os ebós que deverão ser feitos para que ele
alcance os Deuses gêmeos.
Quando chegaram a Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu habitaram o mar, onde
acharam as maiores riquezas da Terra. Nyohwe Ananu, muito feminina, encantouse
com as conchas e os caramujos que encontrou e ficava extasiada ao ouvir o som
do mar dentro dos caramujos. Seu irmão mandou que trouxessem todos os
caramujos e conchas para o palácio deles para agradar Nyohwe Ananu.
De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse o som dos caramujos esse
atendeu seu apelo e também se encantou. Daí por diante, os dois passavam todo o
tempo ouvindo esse som e não mais prestavam atenção aos pedidos das pessoas.
Incomodados com essas atitude dos Deuses gêmeos, seus descendentes resolveram
consultar um bakono.
O bakono consultou Fá e esse mandou que todos pegassem um caramujo para si e
que quando quisessem falar com os Deuses da riqueza, falassem dentro do casco
do caramujo, pois somente assim Da Zodji e Nyohwe Ananu os ouviriam.
Os descendentes obedeceram a Fá e passaram a falar com os Deuses dentro dos
caramujos e, alguns deles, começaram a colecionar caramujos por acreditarem que
quanto mais caramujos tivessem, mais poderiam conversar com eles.
Esse procedimento causou um pouco de confusão na vida dos Deuses da Riqueza
pois, quando as pessoas falavam com Da Zodji a irmã também ouvia e vice-versa.
Então, eles estabeleceram o seguinte: "Que cada um tivesse em seu poder dois
caramujos. Um deveria ficar deitado e nesse, os pedidos à Nyohwe deveriam ser
feitos e o outro caramujo deveria ficar em pé e nesse, os pedidos à Da Zodji
deveriam ser feitos".
Deram também a opção de usarem os caramujos de uma maneira só e se
comunicarem apenas com um dos Deuses.
NANÃ
Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe
Universal que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente
de vó Misan (missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi
tirado. Mistura de água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra)
ao princípio dinâmico da mutação e das transformações. Sua ligação com a água e
a lama, associa Nanã à agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos
grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou,
Buukun, Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu
principal templo, Ela é conhecida como Nanã Buruku (lê-se, buluku).
No Brasil, também existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê Naité,
Yabainha, Naê, Anabiocô, etc.
Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em seu seio os ghedes
(mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)
Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina a
"fórmula mágica", o remédio de ervas que deve tomar, os ebós e oferendas que
devem ser feitos.
Se um doente recorre a Nanã, imediatamente obtém o remédio curador.
Na África quando uma família ou alguém obtém um favor de Nanã, fica com o
compromisso de oferecer um membro da família ao culto de Nanã e esse, após sua
iniciação, receberá na frente de seu nome a palavra Nanã; assim como a criança
que nasce com a ajuda da Grande Mãe também. Todos os sacerdotes e sacerdotisas
de Nanã têm na frente de seus nomes a palavra Nanã.
Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de seus
sacerdotes e sacerdotisas são preparados para serem curandeiros. Em Ghana existe
a Sociedade dos Jou-Jou, em Allada e Dahomey a Sociedade do Bo, etc.. Nessas
sociedades as pessoas escolhidas são preparadas para a prática da medicina através
das ervas. Nanã diz que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos
animais, as doenças devem que ser tratadas em sua origem espiritual, para que a
cura seja concretizada. É lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã não
tenha sido trazida. Em outros países como Estados Unidos, Canadá, Jamaica e
Haiti encontramos essa prática.
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma série de cuidados
especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de
Vodum. Nanã Buruku não é feita na cabeça de ninguém.
Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos nos iniciados.
Todos esses Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku e são tão exigentes quanto
Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é exigido a abstinência de sexo,
bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois meses antes (na
África são exigidos 3 meses), de todos que irão participar do processo de
renascimento do iniciado. Nesse período, são feitos vários ebós no iniciado e
alguns poucos nos participantes e na casa de santo.
A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o processo de
iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada imediatamente de Nanã e
ficar reclusa em um lugar especial, fora do templo, até que cesse esse período.
Na África as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de Nanã ou
de participar de qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente fazer uma
comida de santo. Nanã diz que a bogami é um sangue impuro e aconselha as
mulheres não cozinharem para seus maridos nesse período.
Por ter muita ligação com egungum é necessário saber tratar muito bem de Buku,
entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é permitido a sua
presença, mas, ele deve ficar aposto, sua função será tomar conta de todos, para
que nenhuma exigência da Grande Mãe seja desobedecida, principalmente a
abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser tratados corretamente
para garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos rituais e preceitos. Ebós e
oferendas específicas devem ser feitos para essas duas entidades.
Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos participantes e da casa de santo não
podem ser esquecidos em hipótese alguma!
Antes, durante e depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós,
oferendas e preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e
crescimento para a casa de santo, do iniciado e dos participantes.
De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou cultuada é que se determina,
se comerá bichos macho ou fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que não
comem bicho de quatro pés, outros preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku,
por exemplo, não gosta de muito kun (sangue)
Vários textos têm sido publicados, citando o carneiro como o bicho oferecido a
Nanã, mas, se observarmos as fotos que acompanham esses texto, veremos que se
trata de cabra e cabritos. O sacrifício de carneiro é o maior beko (kisila) de Nanã.
Para essa Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã devem-se ao
fato de Ela ser muito mais velha que esses metais. Por seu caráter conservador,
quando o ferro e outros metais apareceram, ela preferiu manter o que já conhecia
em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade
ligadas a Grande Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu – Segundo os Fons esse Vodum é um deus
andrógino e seria o lado macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos rituais
de Mami Wata onde é considerado o maior de todos os deuses, os Fons o compara
a Olokun. Muitos antropólogos têm atribuído erronêamente Densu a um deus
hindu, devido seus fetíches e assentamentos apresentarem três cabeças. Esse
Vodum é muito rico e farto. Costuma presentear seus adeptos com suas riquezas.
Não é feito na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi (assuô giêbi) – Vodum
masculino velho, que habita os rios. Muito popular em Ghana e tido como o
protetor das crianças africanas que foram escravizadas. Esse Vodum pediu aos seus
sacerdotes que o levasse para os países onde os africanos foram escravizados afim
de que pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi assentado em templos de Akonedi
nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) – Vodum feminina muito velha, cultuada em
Ghana, Cotonou e Allada. Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de parto
e que por isso a missão dela é proteger e tratar as mulheres grávidas assim como
seus filhos
Nanã Adade Kofi (adadê côfi) – Vodum masculino, tem a função de proteger e
defender todos os templos de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e
outros metais. Cultuado em Ghana, Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o Vodum
da força e perseverança. Sua espada é usada pelos adeptos de Nanã, para prestarem
juramentos de obediência, submissão e devoção a Grande Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) – Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder
de tirar feitíços das pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso
terapêuticos e ritualísticos das ervas. Muito alegre e faceira, gosta de dançar e
cantar, mas fica muito séria e aborrecida quando encontra malfeitores e ladrões; ela
os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) – Vodum feminina guerreira, cultuada na região
Fanti em Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes). Detesta
quem faz aze (azê - bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) – Vodum feminina, cultuada em Togo.
Grande curandeira, trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande
Azeto (azétó - feiticeira) e seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus
nahunos, os sacerdotes prostam-se no chão ao lado dos bichos mortos e fingem
estarem mortos também, assim permanecem até que Wango incorpore em um deles
e os ressuscite. Todos levantam, os bicho são suspensos e preparados. Nanã Tongo
dança com muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com as peles dos
bichos sacrificados para ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com
muitas jóias, enfeites, roupas e talismãs que a agradam. Antes de começar os
nahunos para Wango, corujas são atadas às árvores. Nanã Akonedi Abena –
Vodum feminina jovem, cultuada em diversas partes da África. Seu principal
templo fica em Later, cidade de Ghana. Quando Akonedi chega ela percorre a vila,
esconde-se em arbustos e sobe em telhados à procura de feitíços, feiticeiros e
malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo libações e curando os doentes.
Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça Seu corpo é coberto com um pó
branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é descoberto, na cabeça usa um torço,
no corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de lenha. Sua dança é selvagem e
desenvolve-se dentro de um quadrado divino, dividido em outros quadrados
menores feito com riscos do mesmo pó que cobre seu corpo. Esse conjunto de
quadrado também é usado por suas sacerdotisas durante as danças. Seu
assentamento fica em um buraco dentro da terra, ficando somente a tampa deste
aparecendo. Os sacerdote e adeptos de Akonedi carregam-na nos ombros numa
espécie de desfile, para que todos possam admirar e louvar a grande deusa da
Justiça. Terça-feira é o dia consagrado a essa Vodum. O Culto de Akonedi foi
levado para alguns países, a pedido dos governantes desses. Quem levou o culto de
Akonedi para o novo mundo foi a maior autoridade religiosa do culto, Nanã
Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995. Mmoetea – Aldeia de pigmeus
que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma sociedade secreta especializada no
uso das ervas para diversos fins. Desenvolveram a capacidade de curar qualquer
doença física, mental e espiritual. Trabalham com os espíritos da natureza e seu
maior deus é Nanã. Os espíritos da floresta deram aos Mmoeta o poder de ler a
mente dos homens e dos animais. São grandes curandeiros e poderosos feiticeiros.
Buku – Assistente de Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varíola.
“Toma conta e presta conta” do comportamento moral das pessoas durante os
cultos de Nanã e Sakpata.
Legba Aghamasa – Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte onde
reside Nanã Buruku.
Odom – Bolsa feita com pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas e
sangue. Nessa bolsa são colocados os gris-gris venenoso e não venenoso que
decidem uma questão de justiça. Quando duas pessoas brigam pela mesma “coisa”
e recorrem a Nanã para saber quem tem razão, sua sacerdotisa pede um galo a cada
um dos queixosos, quando esses animais chegam, esses gris-gris são oferecido aos
animais. O galo que comer o venenoso, o dono dele perde a causa. Além desses
gri-gris, outros segredos de Nanã são guardados na Odom. A Odom fica sempre
nos pés do assentamento de Nanã, nunca vai a público e não pode jamais ser
tocada por homens. Abuk (abuquê) – De acordo com a cultura Fon, foi a primeira
mulher a surgir. Patrona das mulheres e dos jardins, seu fetíche é uma pequena
serpente. (teria alguma coisa a ver com Nanã?!!)
Asase (assassê) – Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos na
morte. Cultura Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) – Vara ou haste simbólica de Nanã, representa seus filhos mortos e os
ancestrais.
Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis - búzios) e palha, dificilmente
cobrem seus rostos.
Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa das mais difíceis, pois são tantas as
história a ser contadas, que somente um livro poderia caber.
Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em
seus cânticos e danças devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em poder,
aqui no Brasil, participar dessa parte que na África é reservada somente aos seus
sacerdotes e sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!
EKU E AVUN
No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um
avun. Essa é uma das razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse
animal é proibida. Porém, os sacerdotes reservam uma área fora dos templos, onde
esses animais são criados para que sejam os guardiões das almas, impedindo-as de
entrarem nos Templos além de encaminhá-las. Os Vodunos, Bokonos, Ahougans,
Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que Vodum Ewa sempre espreita o temido
Deus Eku para que esse nunca pegue ninguém desprevenido, além de sempre tentar
desviá-lo de seu caminho. Os velhos Vodunos contam-nos várias histórias para
justificar a proibição de avuns em Templos Voduns. Vejamos algumas delas: 1 -
Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um balaio com muitos uhui, que
levaria para sua aldeia, para saciar a fome dos seus. Daí, enquanto ele estava
distraído em sua pescaria, os avuns vieram e sem que ele os visse, devoraram todos
os uhui. Quando Aveheketi terminou sua pescaria e voltou-se para o balaio, o
encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se afastando com seus uhui. Desse
dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns em seus domínios, ato esse
que foi seguido por toda a sua família que é a de Heviosso. Nos kwes de Jeje,
principalmente aqueles regidos por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a
presença de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que tem avuns, nenhum membro
da família Heviosso comparece. 2 - Um avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo,
das divindades celestes ou do Grande-Espírito para trazê-lo na ponta de sua husi, e
por isso, os Voduns têm pavor de avuns. 3 - A repulsa ao avun nos Templos dos
Voduns, é a interdição implacável sofrida por esse animal, pelos muçulmanos,
povo que muito influenciou a cultura africana. Eles fazem do avun, a imagem
daquilo que a criação comporta de mais vil. O avun, devorador de oku é um animal
impuro. Por essa razão também, acreditam que os deuses jamais entram em um
Templo onde se encontra um avun. Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não
tenha associado o avun à morte, aos infernos, ao mundo subterrâneo, aos impérios
invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou selênicas. A primeira função
mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem na noite da iku,
após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas culturas, o avun
emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão aprisionar
ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais sagrados, reino dos
okus, país de gelo e de trevas. Algumas tradições chegam a criar avuns
especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no Além. Atribui-se
também ao avun como intercessor entre este mundo e o outro, atuando como
intermediário quando os vivos querem interrogar os okus e as divindades
subterrâneas do país dos okus. Na África, o avun possui a dom da clarividência e,
além de sua familiaridade com iku e com as forças invisíveis da noite, é
considerado um grande feiticeiro. É um costume africano, em seus banquetes
funerários, oferecerem aos avuns a parte que caberia ao oku, após ter pronunciado
estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke oku sòa tiwo hoho ti bo"
"Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas agora que estás morto, é tua
alma que come!" Também na cultura africana, encontramos feiticeiros com trajes
feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder divinatório outorgado a esse
animal. Em Porto Novo, Maupoil, num de seus relatos, conta que um de seus
informantes, confiou-lhe o seguinte: a fim de reforçar o poder de seu oráculo
divinatório, ele o deixaria enterrado durante alguns dias dentro da barriga de um
avun que imolara especialmente com essa finalidade. Enfim, seu conhecimento do
mundo do Além, bem como do mundo em que vivem os seres humanos, faz do
avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado a iku, a clarividência, a
feitiçaria e as forças invisíveis.
Vocabulário:
Vodunos - sacerdotes
Bakonos - sacerdote de Fá
Ahougan - sacerdote feito de Vodum
Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos de Voduns (yao)
Avun - cão
Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda
Uhui - peixe
Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris
Oku - cadáver, morto
Itans
A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans belíssimos que não poderíamos deixar
de divulgar. Estaremos sempre disponibilizando nesta página esta cultura tão rica
que a todos encanta.
Colocaremos também belíssimos Mitos Africanos.
ITANS MITOS
Borboleta Anansi
Os Primeiros Voduns Árvore da Vida
Hevioso salva Dahomey A Colheita de Estrelas
Serpente - Visão do Fim A árvore que não tinha medo do céu
Promessa feita aos Voduns A Tartaruga e o Macaco - FA
KLAMKLAMLE
(As Borboletas)
Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em seu touboumé, um exército
de klamklamle que sobrevoam os mundos e voltam para contar-lhes seus feitos ao
mesmo tempo que trazem outras klamklamle que nada mais são do que as almas
que ali irão residir.
Dizem que a própria Aveji-da, quando está muito preocupada, se transforma em
uma linda klamklam e sai pelos mundos a voar para observar melhor o djenukom e
o aikungumã.
Fá disse a um bakono que sempre que uma Aveji-da recebe uma oferenda, uma
klamklam aparece para confirmar a presença dela.
A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante. Uma ligeireza sutil, de espírito
viajante.
A klamklam brincando entre as flores é a alma da deusa nos humahuan. A deusa
acompanha o guhê na primeira metade de seu curso visível, até o guhemê. Em
seguida, desce de volta à aikungumã sobe a forma de uma klamklam.
Há uma associação analógica da klamklam e da chama, de suas cores e do bater de
suas asas tal qual a duwe de Aveji-da.
Aveji-da, assim como todas as deusas do fogo, associa-se a obsidiana, uma kpeizó,
seu emblema.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos achólupêle, a
klamklam é também um símbolo do guhê-du, atravessando os mundos
subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim, símbolo do fogo ctoniano
oculto, ligado a noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. É então a
klamklam, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Ela ilustra, ao
mesmo tempo, a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem.
O homem segue, da vida à morte, o ciclo da klamklam. Ele é, na sua infância, uma
pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em
crisálida na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai a sua alma que voa sob
a forma de uma klamklam. A postura de ovos dessa klamklam é a expressão de sua
reencarnação.
Dizem os velhos Vodunos:
- Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na klamklam!
(- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma de uma borboleta)
Quando uma klamklam aparece no templo dos Voduns, todos saúdam a bela Deusa
do degi, dos johon, e das djizônukon num só grito "Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!".
Vocabulário
klamklam - borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam)
Klamklamle - borboletas
Touboumé - reino
Djenukom - céu (orum)
aikungumã - terra (aiye)
Humahuane - guerra, campo de batalha
Guhê - sol
Guhemê - meio-dia
Duwe - dança
Guhê-du - sol negro
kpe-izó - pedra de fogo
achólupê - soldado, guerreiro
achólupêle - soldados, guerreiros
Oku - morto, cadáver
Ete - que
Ekùs - alma, egum
jo - deixar
Nhû - corpo físico
Bochiô - forma, escultura
Na - uma (artigo)
Degi - ar
Johon - vento
Mikan - salve!
djizônukon - tempestade
OS PRIMEIROS VODUNS
De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu é um deus supremo e
criador. Mawu representa a lua que traz a noite e a temperatura fresca, no mundo
africano. Reside no oeste e é descrita como uma velha fria e indiferente o que é
considerado pelos povos Fon, sinônimo de sabedoria e idade.
Alguns itans contam que Mawu tem um irmão gêmeo chamado Lisá, em outros,
encontramos que se trata de um deus andrógino, que sua parte feminina é Mawu e
a parte masculina é Lisá. Lisá é tido, pelos povos africanos, como feroz e áspero,
residente no leste, representa o sol.
Mawu e Lisá são considerados como uma unidade inseparável na base do universo,
representantes do uno e da ordem. Foram trazidos por Nanã, que criou o mundo.
Quando há um eclipse do sol ou da lua, os povos de Fon acreditam que Mawu e
Lisá estão fazendo amor. E conceberam... As primeiras crianças a nascerem,
gêmeos, foi um menino chamado Da Zodji e
uma menina chamada Nyohwe Ananu.
O segundo a nascer, teve a mesma característica de seus pais, andrógeno, era Sobo.
O terceiro nascimento, também gemeos, foi um menino, Agbe e uma menina,
Naete.
O quarto a nascer era velho e experiente.
O quinto, também era um homem, Gu. Todo em forma de corpo, não tinha cabeça.
No lugar da cabeça, uma enorme espada saía de sua garganta e seu tronco era uma
pedra.
O sexto nascimento não foi de um ser. Era Djo, o ar, a atmosfera, o necessário para
criar os homens.
O sétimo a nascer tinha chifre, era Legba. Era o preferido de Mawu, por ser o mais
novo.
Um dia, Mawu-Lisá reuniu todas as crianças a fim de dividir seus reinos.
Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e disse-lhes para irem habitar a terra.
Disse-lhes que a terra era para eles.
À Sobo, Mawu disse que devia permanecer no céu porque era homem e mulher
como seu pai.
Aos gemeos Agbe e Naete, disse-lhes para irem habitar o mar, comandar as águas.
Para o quarto filho, velho e experiente, deu o comando de todos os animais e
pássaros, e disse-lhe para viver no arbusto como um caçador.
A Gu, Mawu disse-lhe que era sua força, e era assim porque não foi lhe dado uma
cabeça como aos outros. Por isso, a terra não permaneceria para sempre só com
arbustos selvagens. Era ele quem ensinaria os homens a serem felizes.
À Djo, Mawu disse-lhe para viver no espaço, entre a terra e o céu. A ele confiaria o
livre arbítrio do homem. Seus irmãos seriam invisíveis e a ele cabia vesti-los.
Depois que Mawu disse isso às crianças, ela deu aos gemeos de Sagbata a língua
que devia ser usada na terra, e removeu de sua memória a linguagem do céu.
Deu a Hevioso a língua que ele falaria e tirou de sua memória a língua falada pelo
pai. O mesmo foi feito para Agbe e Naete, para o mais velho e para Gu.
Agora, disse a Legba, você é a minha criança mais nova e como você é levado e
nunca soube o que é punição, não posso transformá-lo como a seus irmãos. Ficarás
sempre comigo. Seu trabalho será visitar todos os reinos governados por seus
irmãos e dar-me ciência do que acontece. Assim, Legba sabe todas as línguas
faladas por seus irmãos e a língua de Mawu. Legba é lingüísta de Mawu. Se um
dos irmãos desejar falar com Mawu-Lisá, deve dar a mensagem a Legba, porque
nenhum deles sabe mais dirigir-se a Mawu-Lisa. Por isso que Legba está em toda
parte.
E é também por isso que encontramos Legba na porta de todas as casas de Vodum,
porque todos os seres humanos e deuses devem dirigir-se a ele antes que possam se
aproximarem dos deuses.
HEVIOSO SALVA DAHOMEY
Houve uma grande seca no reino de Dahomey, quase quatro anos sem chover. A
fome assolava a região, o povo desesperado fazia junto com o rei, oferendas aos
deuses pedindo que enviassem a chuva, mas nada funcionava, parecia que os
deuses não aceitavam as ofertas. O rei já não sabia mais o que fazer, todos os
recursos já tinham sido usados sem nenhum sucesso. Em seu desespero o rei rogou
aos seus ancestrais que mostrassem o que ele deveria fazer para salvar seu povo e o
reino. Um dia o rei acordou com gritos de uma de suas noiva e foi ver o que
acontecia. Encontrou sua noiva lutando com os soldados que não a deixam passar
para acordar o rei, interpelou-a, ela respondeu que tivera um sonho com um deus
muito poderoso e que trazia um recado ao rei. Huenu era uma jovem e bela virgem
portadora de poderes mágicos, que se tornaria esposa do rei tão logo a chuva
chegasse. Huenu contou ao rei que sonhará com um deus muito alto e forte que
cuspia fogo e lançava raios e trovões com suas mãos. Este deus disse a Huenu que
se o rei erguesse um templo para ele em Dahomey e passasse a cultuá-lo, traria a
chuva e o sol que iriam fertilizar o solo e que nunca mais a seca voltaria a castigar
o reino. Após ouvir atentamente o relato da noiva, o rei considerou que era uma
resposta de seus ancestrais, mandou chamar os sacerdotes do reino e contou o
sonho de Huenu. Após varias conversas, os sacerdotes admitiram que não sabiam
quem era esse deus, resolveram consultar o bakono que vivia afastado da cidade. O
rei mandou o buscá-lo. Após consultar ao oráculo de Fá, o bakono disse tratar-se
de Hevioso o deus do trovão e que o rei deveria obedecê-lo. Os sacerdotes do rei
não sabiam como fazer para tratar e cultuar o novo deus, pediram auxilio
novamente ao bakono que fez nova consulta a Fá. Fá mandou que o rei fizesse ebó
para Elegba e viajasse para Hevie onde ele encontraria Hevioso e aprenderia sobre
seu culto. O rei viajou com seus sacerdotes. Ao chegar em Hevie, foram recebidos
por um Hunon que já os aguardava. O rei e seus sacerdotes foram iniciados no
culto de Hevioso e aprenderam seu culto. Quando estavam prontos, o Hunon
avisou que já poderiam partir, mas, teriam que levar consigo uma sacerdotisa de
Hevioso e essa levaria para Dahomey o assentamento do deus do trovão que
deveria ser estabelecido no reino. Ao chegarem a Dahomey, o rei colocou Hevioso
em seu palácio e mandou preparar oferendas conforme a sacerdotisa havia
indicado, depois mandou que todo o povo viesse conhecer o novo deus e prestar
homenagens, assim foi feito. Naquela mesma noite raios e trovões rasgaram os
céus de Dahomey e a chuva caiu em abundância fertilizando o solo. O rei não
cabia em si de contentamento, mandou um mensageiro a Hevie contar ao Hunon o
sucedido e pedindo que esse viesse a Dahomey assentar toda a família de Hevioso.
Hunon chegou a Dahomey trazendo consigo os assentamentos dos demais
membros da família de Hevioso. Um grande templo foi construído para Hevioso e
uma grande festa que durou seis dias e seis noites, foi feita para saudar aqueles
novos deuses. Hunuon por ordem de Hevioso casou-se com Huenu que se tornou
uma grande sacerdotisa de Hevioso. Depois desse período nunca mais Dahomey
conheceu a fome, Hevioso prometeu e cumpriu. Ele envia a chuva e sol que
fertilizam a terra.
Mito da Serpente - Visão do Fim
O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não é macho e nem fêmea.
Nana Buluku gerou dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem modelou o mundo com a
ajuda de seus quatorze filhos, os Voduns, deuses menores.
Antes de Mawu ter dado vida à seus filhos, a Serpente do arco-íris já existia, criada
para servir a Nana-Buluku. Levava o criador por toda a parte em sua boca. Rios,
montanhas, entre os vales e curvas, exatamente o movimento circular da Serpente.
Onde eles paravam pela noite, montanhas surgiam de esterco da Serpente. Por este
motivo, quando você escava profundamente as montanhas, acha riquezas. Quando
Nana acabou de criar o mundo, é óbvio que a terra não podia suportar o peso de
tudo, montanhas, árvores, seres humanos e animais. O criador designou que Da
envolvesse o mundo para mantê-lo, amortecê-lo.
Daí o costume africano do uso do torso quando estão levando uma carga pesada.
Para que Da não permanecesse no calor, Mawu criou o oceano para ele. E lá Da
permanecem desde o início dos tempos, com sua cauda na boca. Mesmo a água
mantendo-a fresca, as vezes se desloca em torno de si mesma tentando ficar
confortável, o que causa os terremotos.
Da precisa manter-se alimentada, o que obriga a Nana e aos ferreiros forjarem
barras de ferro para mantê-la alimentada. Mais cedo ou mais tarde o suprimento de
ferro irá se esgotar e Da não vai ter nada o que comer. Com fome, ela vai comer
sua cauda, suas convulsões serão terríveis, toda a Terra vai inclinar, pela
sobrecarga de coisas e pessoas. A terra vai ser engolida pelo mar.
Não Devemos Quebrar Promessas
Feitas aos Voduns
Está é a história de um homem pobre que se chamava Kakpo. Esse fato aconteceu
em Tendji.
Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada.
Havia um homem pobre que trabalhava com o machado. Ele cortava árvores para
conseguir madeira. Um dia, encontrou uma árvore boa para cortar. Ele foi cortar
Loko.
Loko lhe disse: - Não me corte. Nenhum homem deve me cortar.
Há três Voduns que vivem na árvore de Loko: Dan, Dangbe e Tohwivo, do clã de
Ayato, uma vila em Abomey. Loko tem sete tipos de pequenas cabaças duplas.
Loko disse ao homem: - Vire-se para mim. Se eu lhe der riquezas, você fará tudo
que eu mandar?
O homem lhe respondeu: - Sim!
Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e disse-lhe: - Encontre um bom
lugar e quebre uma na terra. Se eu der as riquezas você me dará um boi
anualmente?
- Sim, respondeu o homem.
Aquele lugar onde o pobre homem quebrou a primeira cabaça tinha se tornado
sagrado. Quebrou então a segunda. Muitas casas apareceram.
Quando quebrou a terceira cabaça as casas foram cercadas por paredes.
Com a quarta, redes, bancos e almofadas apareceram, tudo que era necessário à um
rei.
Quebrou a quinta cabaça e viu muitas pessoas nas casas. Com a sexta surgiram
cavalos. Montou um cavalo.
Quando quebrou a sétima cabaça encontrou Fa e Legba, e não apenas as coisas
para adorá-los.
Mas Kakpo não deu a Loko o boi que lhe tinha prometido.
Loko se transforma em um homem pobre, usando roupas de ráfia, e vai pedir água
a Kakpo.
Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei.
O Minga disse: - Sai daqui! Que tipo de homem é você que veste-se com roupa de
ráfia?
E Loko foi afastado. Voltou uma segunda vez. O Minga surrou-o com um chicote.
Loko foi embora. Voltou uma terceira vez. Os aldeões estavam ocupados em
cultivar para o chefe. Bateram em Loko novamente.
Desta vez, Loko começou a cantar uma canção:
- "Ponham aqui as sementes, venham aqui e dancem para mim, seus dançarino que
dançam bem".
Loko cantava assim e, enquanto cantou, todas as pessoas que cultivavam
desapareceram.
Kakpo ficou pobre outra vez. Loko deixou-o somente com um pano de ráfia. Fa
retornou ao seu reino.
Kakpo foi outra vez à Loko. Diante dele, encostou sua testa na terra e implorou que
Loko o perdoasse. Disse: - Eu lhe darei o boi que havia prometido.
Mas Loko recusou.
Kakpo e sua vila viveram o resto de suas vidas pobremente.
Não se Deve Enganar um Bakonon
O Macaco e a Tartaruga
O macaco pode subir em árvores, mas a tartaruga não pode. Os dois não eram
amigos.
Uma vez, durante uma escassez, o macaco encontrou um milharal onde a colheita
estava muito boa. Ele não podia comer o milho porque as pessoas sempre
expulsavam os macacos dali.
Assim, o macaco foi a um bakonon para perguntar o que ele podia fazer.
A tartaruga disse: - Eu sou um grande bakonon, mas eu não saio de minha casa. Se
você quiser algo, deve vir à minha casa. Estou aqui para os pobres, para todos
aqueles que precisem de algo. Seu tivesse ido com você, tu não me alimentarias,
porque sabes subir em árvores e eu não.
A tartaruga não queria ir mas o macaco tanto insistiu até que, finalmente, ela foi
com ele. Ela consultou o Fa por longo tempo.
Quando chegaram ao milharal, o macaco começou a comer. Disse a tartaruga que
esperasse por ele mas não deu nada à ela. Assim, deu meio-dia e a tartaruga não
tinha nada para comer.
Um leopardo chegou ao local onde a tartaruga estava. Disse à tartaruga: - Eu estou
com uma criança doente em minha casa. Já fui a sua casa duas vezes mas não a
encontrei.
O macaco, de cima da árvore, prestava atenção na conversa do leopardo com a
tartaruga.
A tartaruga chamou o leopardo para baixo da árvore onde estava o macaco. Lá
jogarei o Fa para você, disse a tartaruga.
Quando lá chegaram começou a jogar. Ela disse: - nós devemos encontrar um
macaco para curar sua criança.
O leopardo indagou: - Devo encontrar um macaco? E onde posso encontrar um?
A tartaruga respondeu: - Oh! não é difícil. Você é forte. Sem isso não posso fazer
nada. Eu sei onde encontrar um macaco. O que você me dá se eu lhe disser onde
encontrar o que precisa?
Pediu mil cauris.
O leopardo deu-lhe os mil cauris.
- Olhe acima de minha cabeça e verá um macaco, disse a tartaruga.
O leopardo falou para o macaco: - Ah! venha já aqui, você está tão perto!
O macaco não quis descer porque tinha ouvido toda a conversa.
O leopardo começou a se irritar e gritava: - Você não está me ouvindo? Está de
macaquice comigo? Um macaco não é mais que meu filho! O Fa disse que você é a
solução. Preciso de sua cabeça e sua cauda, o resto deixo com você.
Ouvindo essas palavras, o macaco fugiu. Disse: - Eu não estou aqui para dar-lhe
minha cabeça e minha cauda.
O macaco correu e o leopardo foi atrás dele. O leopardo conseguiu alcançá-lo e
trouxe-o para a tartaruga.
A tartaruga disse: - Bem, amarre-o!
Assim o leopardo fez, amarrou o macaco.
Então a tartaruga teve descanso para comer e a criança doente foi curada.
Por essa razão, ninguém deve enganar um bakonon.
ANANSI
Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti, povo de Ghana, também
chamado "O Aranha".
É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda Anansi para levar
chuva para apagar o fogo em florestas e determina os lugares que Anansi deve
"fazer" barreiras em oceanos e rios, em grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do camaleão, alguns dizem que o
camaleão roubou as funções de Anansi.
Sua mãe, Asase Ya, é considerada, por vezes, a criadora do Sol, da Lua e das
Estrelas, bem como aquela que instituiu a sucessão do dia e da noite. Diz-se que
Asase Ya também criou o primeiro homem e que Nyame deu o sopro de vida.
Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a humanidade como semear grãos e como
usar a pá nos campos.
Anansi é o mito africano mais popular.
Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre as crianças e jovens, por
ter tido sua performance caricaturada a uma aranha infantil, que conta histórias,
mitos e fábulas dos diversos lugares, civilizações e culturas africana.
A ÁRVORE DA VIDA
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não
havia floresta, apenas colinas e planaltos a perder de vista, e um rio que
atravessava estas terras desoladas. Perto do rio, onde a terra era branca, vermelha e
preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador de todas as coisas.
Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar que
criasse uma grande floresta...
- Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos dar uma floresta, povoada
por milhares de árvores... - pediuMbere, com o coração cheio de esperança.
- Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os fortes, por favor, nos dê uma
floresta povoada por milhares de animais... - pediu Nkwa, com o coração cheio de
sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba, olhando firme para eles, com
seus olhos escuros como a noite.
- E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso?
- Nós somos tão pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. -
Podíamos nos esconder na sombra das árvores...
- E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa - podíamos escapar dos nossos
inimigos gigantes...
- Os gigantes receberam a força, na divisão, mas vou dar algo muito melhor aos
pigmeus...
E o Criador ergueu a mão.
- Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês não terem mais frio. E dou os
animais que caminham, que pulam, que voam, que nadam, para que jamais a fome
entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as árvores, como abrigo e como amigas.
Vocês serão os senhores da floresta e, no reino dela, os pigmeus estarão em casa,
livres.
Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum boquiabertos, com a impressão de
estarem vivendo um sonho. Eles, os menores entre os homens, iam se tornar os reis
da floresta!
Ardendo de impaciência e devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar em
casa e voltar em seguida, trazendo uma árvore minúscula, que acabara de se
formar.
- Esta aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a guardiã da coisa vermelha que
esquenta, que cozinha e que ilumina.
E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois pedaços de pau.
Depois, plantou a arvorezinha na margem de três cores e foi se sentar, com os
braços cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se crescesse
muito, não era uma floresta.
- Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos.
- Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra nuvem. Depois de uma
árvore, outra árvore...
Os dois pigmeus não perguntaram mais nada. Curvados, com a testa apoiada no
chão, rezavam para Khmvum, quando um barulho estranho estranho os fez levantar
a cabeça.
Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a crescer com uma velocidade
prodigiosa.
Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que seis pigmeus não bastariam
para rodeá-lo com os braços. O sol do meio-dia desaparecera por trás da folhagem
espessa que já enchia de sombra as duas margens do rio. E a árvore continuava
crescendo.
Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do
horizonte, Khmvum Vali, aquele que dá a vida, aproximou-se e tocou a árvore com
a palma da mão.
Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície um dilúvio de grãos. Mbere e
Nkwa caíram de joelhos, maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma
nova árvore. Onde antes não havia nada, nascia agora um mundo ao redor deles,
uma floresta profunda, que crescia a olhos vistos!
Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes, sacudiu com as mãos o tronco
da grande ancestral e as folhas começaram a cair de uma a uma.
Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao nascimento do mundo animal:
assim que uma folha tocava o solo, começava a se arrastar, a saltar, a andar ... e ia
crescendo e se transformando em serpente, em macaco, em elefante... As que
ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros de todo tipo, e as que caíam no
rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E toda a vida da floresta nasceu da
árvore Tii.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
A COLHEITA DE ESTRELAS
Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais de cansaço...
No começo, os pigmeus não prestaram muita atenção. Talvez estivesse um pouco
menos claro, seguramente fazia menos calor que antes, mas, afinal de contas,
sempre houve dias menos bonitos que outros, não era motivo para ninguém se
apavorar.
Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus mais otimistas tinham que
reconhecer que o fenômeno estava continuando de uma forma anormal.
Consultaram então o Nzorx, o advinho curandeiro, que foi consultar seu espelho de
vidência. O que leu nele não devia ser muito animador, porque apertou as mãos
sobre o seu talismã de chifre de antílope, como se quisesse se proteger e proteger
sua tribo de uma grande desgraça.
- E então? O que foi que o espelho de vidência revelou? - perguntaram seus
irmãos, esperando o pior.
Com um sorriso forçado, o Nzorx quis tranquilizá-los: desde que existia a memória
dos homens, nunca o Sol deixara de brilhar. Bako era velho e robusto como o
mundo, não havia nenhuma razão para que de repente adoecesse...
- Mas não dá para negar que Bako não anda com um aspecto muito bom - insistiu
um pigmeu, com a voz preocupada. - Está tão pálido...
- Só um pouco de cansaço, isso passa.
- E no fim do dia está vermelho, afogueado, como se estivesse sem fôlego!
- Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada grave.
No entanto, os sintomas preocupantes se multiplicavam: o calor era cada vez
menor... a luz enfraquecia a olhos vistos... Bako cada dia deitava-se mais cedo,
como se estivesse esmagado pelo peso de um trabalho que ficara pesado demais
para ele. Então o pressentimento virou certeza: o estado do Sol piorava de maneira
catastrófica.
- Hum... alguma coisa anormal está acontecendo... - murmurou um pigmeu, e
depois outro, e mais outro.
- Bako só é a sombra do que era - sussurraram outros.
- E se ele apagasse?
Mal foi formulada, essa idéia lançou o terror nos espíritos. A vida era inconcebível
sem Bako para iluminar e aquecer os humanos. Nessa noite, os pigmeus ficaram
esperando o alvorecer e tremendo: se o Sol não comparecesse ao encontro, seria
simplesmente o fim do mundo.
Como o dia demorava a aparecer! Com um atraso angustiante, o astro levantou-se
mais uma vez, mas em que estado! Irreconhecível, lívido, gasto, subia
penosamente pelo céu, mal conseguindo dardejar seus grandes raios...
Horrorizados, os pigmeus finalmente o viram desaparecer numa luz crepuscular de
muito mau agouro. Desta vez, foi o pânico. O Sol morria no horizonte! Jamais teria
a força de subir novamente ao firmamento se sua chama não fosse reavivada.
Aliás, nem haveria amanhã, pois com toda certeza o dia não nasceria nunca mais.
Era absolutamente indispensável que se tentasse alguma coisa logo, mas o que?
Intimado a encontrar uma solução, já que era o advinho e curandeiro, o pobre
Nzrox ergueu as mãos para o Céu, em sinal de impotência.
- Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako.
Khmvoum... À simples evocação do Deus supremo, os pigmeus readquiriram
confiança, tão rapidamente quanto haviam se desesperado. Isso mesmo, apenas o
Grande Caçador celeste poderia impedir o desastre. Bastava que ele ouvisse o
pedido de socorro de seus filhos: tudo voltaria à ordem e...
De repente, uma risada sinistra rasgou o silêncio da noite: era Tore, o espírito da
Floresta! Só ele poderia achar graça num momento daqueles... Pouco lhe
importava que a luz abandonasse o mundo, ele era um pássaro noturno, um
monstro da mata, que se alegrava com as trevas.
- Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o ogro Ngoogounogumbar vai
devorar nossos filhos...
- E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em réptil para nos morder no
escuro!
Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um olhar de súplica. Entrecortada pelas
risadas de Tore, sua prece subiu ao Céu:
Ó Sol... Ó Sol...
A morte vem, o fim já chega,
O astro cai e morre.
O fogo escurece, a mata fica negra,
A chama vai se apagar, é nossa desgraça!
É nossa desgraça... Oh! Khmvoum!
Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos e siu seu desespero.
Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção ao Sol. Em sua mão direita,
brilhava o Arco-íris. Na esquerda, tinha uma sacola enorme, que lançou sobre os
ombros: a colheita do Grande Semeador celeste ia começar...
Khmvoum penetrou nas grandes florestas do Céu. Dirigiu-se para o oriente, lá no
fim do mundo, onde normalmente Bako deveria reaparecer. Em sinal de aliança
com seu povo, plantou lá o Arco-íris que, de manhã, diria que os belos dias tinham
voltado e que não havia mais nada a temer. Depois, com passos decididos,
enveredou pela Via Láctea; o caminho todo pavimentado de estrelas.
Khmvoum deteve-se numa região celeste rica em milhões de astros, todos muito
brilhantes. Havia tantos, de todo lado, que era só esticar a mão, colhê-los aos
punhados e guardá-los na sacola. Bem que as estrelas, assustadas, tentavam fugir,
mas não era fácil escapar ao Grande Semeador, e elas logo eram aprisionadas.
Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o suficiente, mais um punhado
de estrelas e pronto. Unindo o gesto ao pensamento, agarrou um cometa que
passava voando e mais duas ou três estrelas cadentes, para completar!
Khmvoum prestou atenção. Por cima da tempestade que rugia lá embaixo,
distinguiu o coro de seus filhos desesperados, suplicando:
É nossa desgraça ... Oh! Khmvoum!
A morte já vem, o fim vai chegando,
A chama vai se apagar!
Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o mensageiro celeste que fala na
tempestade, de explicar aos pigmeus que o fim do mundo não viria nesse dia. Gor
dirigiu a tromba para a Terra, para mandar a mensagem de esperança... Na mesma
hora, atingidos por uma chuva diluviana, os pigmeus recitavam sua prece com
fervor crescente. O alvorecer já devia estar ali... não restava mais muito tempo para
salvar Bako. Então, quando o trovão estourou com sua força assustadora,
acreditaram que a hora de seu fim tinha chegado. Mas o Nzorx apontou um dedo
inspirado em direção ao céu.
- É a voz de Gor! - exultou, com o rosto encharcado de chuva. - E nos diz que
Khmvoum está à cabeceira de Bako.
Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas. Bem a leste do mundo,
tinha encontrado o astro moribundo, mais pálido que a Lua, e lançado o conteúdo
de sua sacola na fogueira quase extinta do Sol. As estrelas crepitaram, explodiram
em centelhas que se transformaram em chamas gigantescas. Bako foi ficando cada
vez mais vermelho, como uma brasa incandescente. A chuva de estrelas, que não
parava de cair sobre ele, o regenerou. Ele embrasou-se, inflamou-se, reencontrou
seu esplendor original. E no oriente houve uma ebulição de calor, uma luz
ofuscante!
Lá embaixo na floresta, as risadas cruéis de Tore, o espírito da Floresta,
estrangularam-se em sua garganta. A longa noite acabava de ter fim, a hora do
grande declínio ainda não chegara.
Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol levantou-se no horizonte. Mais
brilhante do que nunca, rasgou o manto das trevas, furou as nuvens negras,
dissipou os medos, explodiu e resplandeceu no dia nascente.
- Arco-íris! O Arco-íris! - entoaram os pigmeus, encantados, descobrindo o sinal
de Khmvoum a leste do céu.
Tu que brilhas no alto bem alto,
Acima da floresta tão grande,
Arco poderoso do Grande Caçador celeste,
Diz a ele que agradecemos!
Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse estrelas no céu e enquanto
Khmvoum velasse sobre seu povo.
Texto - Franck Jouve e Michael Welply
Tradução - Ana Maria Machado
A ÁRVORE QUE NÃO TINHA MEDO DO CÉU
O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão bonita e cheia de vida.
No começo, o Céu ficava muito perto da Terra e pesava sobre ela como se fosse
uma grande tampa, de tal modo que as árvores só conseguiam crescer para os
lados. Então seus galhos ficavam uns por cima dos outros, suas folhas varriam o
chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e secavam...
Era assim desde o começo dos tempos - e seria até hoje se uma sumaúma, cansada
de viver apertada, não tivesse forçado seu destino.
"Quem sabe se não há mais espaço do outro lado do teto do mundo?", sonhava ela.
Firmando bem sua copa, a árvore tentou furar um buraco e então - mas que
prodígio! - o Céu recuou alguns metros! Era o que bastava para que a valente
sumaúma se endireitasse em todo o seu tamanho e passasse lá para cima, para
aspirar o ar das alturas.
Espantadas ao verem que se afastava o tirano que as oprimia desde sempre, as
outras árvores aproveitaram para se sacudir e se esticar, lançando seus galhos para
o alto. Os troncos se firmaram, as raízes ancoraram majestosamente no solo, os
brotos atrofiados se desdobraram, embriagados de felicidade, e deixaram assim
nascer milhares de folhas. Em volta da sumaúna, em pouco tempo a Terra era uma
vasta floresta virgem, que finalmente começava a respirar.
Enquanto isso, do outro lado do Céu, um jovem casal de órfãos avançava
cautelosamente pelas grandes pradarias celestes. Ao avistar o que tanto
procuravam, ficaram imóveis. Um lagarto grande , preguiçoso, tomava sol
estendido sobre uma nuvem. O caçador ergueu sua azagaia, enquanto sua
companheira punha uma flecha no arco. Consultaram-se com um olhar e fizeram
pontaria... O lagarto deu um salto e rolou sobre si mesmo, no instante em que os
dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos não acreditaram no que viam: não apenas
tinham errado o alvo, mas seus tiros haviam desaparecido num buraco!
Esquecendo a presa, aproximaram-se da abertura...
Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde ondulava a perder de vista.
Olhando mais de perto, descobriram a flecha e a lança fincadas no meio daquele
oceano esquisito. Não era um mar líquido. O que seria então?
- E se nós descêssemos? - sugeriu a moça, fascinada.
Não precisou dizer duas vezes. Era isso mesmo o que ele queria. Pousou o pé num
galho da sumaúma, para testar se era firme, e depois estendeu os braços para a
companheira, a fim de ajudá-la. De galho em galho, penetraram assim no coração
daquele reino verde, até pisarem em terra firme. Durante todo o dia, exploraram
cada recanto da floresta, maravilhados com sua beleza e com o frescor que nela
reinava. A mesma idéia lhes ocorreu, ao mesmo tempo: por que não se mudavam
para viver ali embaixo?
O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de muitas horas de buscas inúteis,
tiveram de se render às evidências: não havia viv'alma naquele lugar... Nem um
animal nos ocos, nem ao menos um inseto! Um silêncio mortal planava sobre a
floresta desabitada.
Muito desapontados, os órfãos se sentaram num tronco de árvore para pensar.
Mesmo que eles se alimentassem apenas de frutas e bagas, morreriam de tédio e
solidão. E como começavam a ter fome, a moça de repente se lembrou de que tinha
no bolso uma espiga de migo celeste. Ia dividi-la ao meio, mas mudou de idéia e a
cortou em três pedaços. Deu um ao companheiro, guardou o outro para si e plantou
o último na beirada do bosque. Talvez surgisse um campo de milho daquela terra
semeada, num sinal de que pudessem ficar lá embaixo.
Enquanto as primeiras folhinhas do pé de milho apontavam timidamente em busca
da luz, a sumaúna continuava a crescer, empurrando o Céu, lá nas alturas. Até que
chegou um momento em que o Céu se cansou e não quis mais chegar para trás.
Curvou-se todo para resistir ao ataque daquela insolente... mas a árvore acabou
conseguindo transpassá-lo e sair do outro lado.
Foi assim que uma copa gloriosa e triunfante irrompeu bem no meio da pradaria do
céu - para grande alegria dos animais que lá viviam e que vieram correndo se
abrigar dentro dela. Até que enfim, aparecia um lugar fresco e sombreado!
Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem, quando o Céu resolveu de
uma só vez se afastar para bem longe da sumaúma, indo parar no lugar onde está
até hoje.
Abandonados, sentindo-se presos numa armadilha, os animais não tiveram outro
remédio: trataram de descer, de qualquer jeito, pelo troco da sumaúma e foram
viver na floresta. Os que não conseguiram, nem sabiam voar, tiveram de esperar
que os órfãos fossem buscá-los, um a um.
Foi assim que o mudou o mundo todo, graças a uma árvore que não tinha medo do
Céu.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
INSTRUMENTOS
A cultura africana é muito rica.
Neste espaço disponibilizaremos alguns dos instrumentos musicais usados em
rituais e comemorações de nossa nação.
Para cada um deles, contamos um pouco de sua história e utilização. É, de fato,
uma viagem no tempo e na história da cultura afro-brasileira.
DANHOUN
O danhoun pertence a família dos instrumentos de percussão. É uma série de três
tambores de tamanhos diferentes sendo o maior chamado de hounon, o médio o
sanga e o menor o alekle. Eles são cobertos com ráfia tingida, apenas tocados por
adeptos preparados (ogans) e sua melodia só pode ser dançada por pessoas feitas.
Este instrumento só é tocado durante as cerimônias em honra ao deus Dan,
representado pelo arco-íris ou por Dangbe, a cobra python, para as Tovoduns das
águas doces ou para Legba, deus dos caminhos. Nestas cerimônias os adeptos
também usam roupas de ráfia tingidas de roxo.
A intensidade do ritmo do danhoun proporciona o transe aos voduncis.
O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o primeiro a iniciar um ogan para tocar
seu instrumento de adoração.
Na África, tocar o danhoun para outros deuses que não os citados, é considerado
sacrilégio. Seu caráter altamente religioso faz deste tambor um instrumento muito
especial.
TATCHOOTA
tatchoota é uma espécie de gongo.
Este instrumento musical é usado, principalmente durantes os rituais fúnebres e
celebrações.
Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e forma especiais. É composto de
duas peças independentes sendo a primeira sempre usada no dedo indicador e a
segunda, circular, no polegar.
O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente, possui 8 cm de diâmetro e 20
cm de comprimento. Os primeiros tatchootas a serem confeccionados pelos antigos
ferreiros reais, eram muito maiores.
É um instrumento misterioso e maravilhoso.
O tatchoota também é utilizado pelos betamaribes (caçadores), que sinalizam um
animal abatido aos outros betamaribes pedindo ajuda.
Na cerimônia de passagem da infância para a maturidade, o difoni, os jovens Fon
recebem um tatchoota para simbolizar esta nova etapa de vida e saem em
procissão, tocando o instrumento.
O ritmo produzido pelo tatchoota é chamado tipenti, muito apreciado e dançado
nas cerimônias em homenagem aos Voduns e também no fim da estação das
chuvas.
Outro momento importante onde o tatchoota é tocado é no sacrifício de animais e
na entrega das oferendas aos deuses.
GOTA
O gota, também conhecido como kago, que é a base do ritmo tchinkoume.
Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça redonda de cerâmica, utilizado
para fornecer o ritmo zinli, música tocada pelos antepassados que vieram de Tado,
uma aldeia Mahi, onde nasceu o gota. Depois foi introduzido em Savalou onde era
tocado quando haviam inimigos na cidade. Daí nasceu o ritmo particular do zin.
O material principal utilizado para confeccionar o gota é produzido pelo cabaceiro,
chamado katin na língua Fon.
Uma pele animal seca é esticada cobrindo a abertura depois das sementes terem
sido removidas. E é aí que o som é produzido, com batidas firmes.
Juntamente com este instrumento principal, outras duas cabaças menores,
emborcadas em recipientes cheios de água, proporcionam um som diferente, o
tohoun. Este ritmo é dançado por mulheres ágeis por ser um ritmo muito rápido.
O gota é tocado principalmente nas cerimônias em homenagem aos voduns,
funerais e para acalmar os espíritos dos mortos.
Durante as cerimônias funerais toca o ritmo tchinkoume além do yonoutcho e o
ahidjekpe, que são o primeiro e segundo estágios, respectivamente, do ritual dos
mortos na tradição Mahi. Seu som oco e fundo representa o outro mundo para os
Mahis.
Normalmente é tocado apenas por mulheres.
KANKANGUI
É também chamado de kankank, kakasi, kakati, kakake.
O kankangui é um instrumento de sopro, confeccionado em latão com
aproximadamente 1,95 cm de comprimento, bem fino e brilhante. É uma herança
cultural do reino Nikki, no antigo Dahomey.
É um instrumento sagrado e só pode ser tocado por pessoas iniciadas.
O kankangui é especial, não só por sua forma mas também pelo seu tamanho além
de produzir um som completamente diferente dos instrumentos de sopro
conhecidos.
O iniciado que toca este instrumento é chamado de kiriku e usa um bácom (espécie
de chapéu) na cabeça.
Ele era tocado para agradar os reis e a aristocracia durante suas grandes cerimônias
e procissões religiosas.
Ainda hoje é tocado nas procissões, festivais e cerimônias em homenagem aos
Voduns.
Nas noites de quinta-feira, ele é tocado como um mensageiro sagrado, levando aos
deuses todos os pedidos dos adeptos ao culto dos Voduns.
ADJALIN
O adjalin é um instrumento muito antigo, criado pelo grupo étnico Goun.
Ainda hoje, este instrumento é tocado em quase todas as cerimônias e rituais em
homenagem aos Voduns. Normalmente, são os Gouns mais velhos que o tocam.
É um instrumento que exemplifica a grande imaginação e genialidade de um povo.
Confeccionado apenas de hastes de bambu, ao olharmos o adjalin temos a
impressão de estarmos vendo uma pilha de lenha mas, o adjalin é muito mais que
isso. Tem uma forma retangular, quinze hastes de bambu são dispostas
horizontalmente. O adjalin tem em média 65 cm de comprimento por 25 cm de
largura, e as hastes de bambu são amarradas por fibras de legumes.
O som deste instrumento é muito harmonioso, agradando à muitas pessoas. Elas
são atraídas pela melodia suave e fascinante, encantadora, um verdadeiro som
mágico.
Quando tocado junto com os tambores, não há quem resista a dançar. É, sem
dúvida, um dos melhores instrumentos oriundos do antigo Dahomey.
ALOUNLOUN
O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo adjogan.
O alounloun é uma barra de ferro comprida, de um metro de comprimento, com
um alongamento, toda trabalhada, sua parte central é de cobre e argolas deslizam
para cima e para baixo para produzir a harmonia de sua música. Tem um cabo na
forma de um pássaro, símbolo de Kokpon.
Para falar das origens deste instrumento devemos voltar na história.
No início, o alounloun era um cajado que simbolizava a força do rei de Allada.
Este cajado foi herdado por Te-Agdanlin de seu pai Kokpon quando da disputa,
entre os dois irmãos, formaram então os reinos de Allada e Dahomey,
respectivamente, no século dezessete.
Um descendente de Te-Agdanlin, De-Gbeyon, transformou o cajado em um
instrumento musical, durante seu reinado (1765-1775).
Naquele tempo, era usado para acompanhar canções que elogiavam o rei. Era
tocado unicamente por mulheres.
Ele pegou o alounloun durante a migração e veio para o sul do Benin onde criou o
reino de Hogbonou (atual Porto Novo).
Quando ele morreu, de uma geração para a outra, o alounloun sofreu várias
transformações contando com o gosto e aspirações de cada rei. Foi realmente
transformado em um instrumento musical pelo rei De-Gbeyon para homenagear
seus antepassados.
Naquela época ele não era tocado só para homenagear os reis mortos mas também
para os reis vivos, para as ahossis (rainhas) e na consagração dos ministros do rei.
O alounloun foi tocado durante cinco dinastias de Porto Novo.
Hoje é tocado em muitas cerimônias em homenagem aos voduns, nos ritos
fúnebres, procissões e festivais.
BALAFON
O verdadeiro nome deste instrumento é balan, incorretamente chamado de balafon,
palavra francesa que indica quem toca o instrumento: balan é o instrumento, fo o
tocador.
Sua forma é trapezóide e seu som melódico, ativo e excitante.
Ele é confeccionado de barras de madeira que produzem notas quando tocadas. As
barras são dispostas paralelamente e sob ele coloca-se cabaças de vários tamanhos
para criar um sistema de amplificação do som.
As barras são feitas de uma madeira dura chamada gouene-yori, na língua bambara
e koyehoun, em Fon.
Os fios que seguram as barras são feitos de pele de cabra ou cervo, que é mais
resistente.
O balafon é tocado em cerimônias festivas em homenagem aos deuses,
acompanhado de outros instrumentos.
Podemos encontrar o balafon em vários modelos.
DJEMBE
O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada, tocado com a mão e junto
com o doudoumba, outro instrumento de percussão, fornecendo o tom baixo. O
topo do djembe é coberto com uma pele de cabra curtida, segura por argolas de
ferro anexadas por nós de corda.
Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu nome vem do som do
instrumento quando vibra. É um instrumento muito expressivo.
O djembe deve estar sempre em um local seco e limpo.
É tocado em diversas cerimônias e rituais em homenagem aos voduns.
KPANOUHOUN
O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por vários grupos étnicos: Fon,
Mahi, Goun, Mina, Yoruba, etc.
É composto de uma parte semelhante a um prato fundo e uma margem com
buracos onde aparecem argolas de ferro. Uma parte da margem não contém
buracos e é aí que deve ser segurado com a mão direita. Com a palma da mão
esquerda é tocado.
Não se pode dizer com exatidão onde este instrumento se originou. Ele emite um
som muito agradável, falicitador de nossos sonhos.
É um dos raros instrumentos tocados exclusivamente por mulheres, em cerimônias
de casamentos, iniciações, funerais de idosos e festivais.
Pode ser acompanhado por um gongo de uma ou duas câmpulas.
SATO
O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito de madeira e coberto de
couro. O tambor maior mede cerca de 1,75 cm de altura.
Ele possui duas formas: uma masculina e outra feminina sendo que, ainda podemos
encontrar uma forma hermafrodita, exibindo seus atributos sexuais na maneira de
se tocar.
Este tambor é tocado com pequenas varas curvas, e emite um ritmo do mesmo
nome, durante os festivais anuais em homenagem aos antepassados. Nesta ocasião,
todos dançam o ritmo sato, tocado pelo tambor de mesmo nome acompanhado de
outros instrumentos musicais: gbehoun, ahlomidon, alangandan e o gongo.
O tambor sato participa da passagem do morto do mundo visível para o invisível e
é por isso que é tocado nos ritos funerais, para garantir a separação da alma deste
mundo e sua transição para o outro mundo.
A ninguém é permitido olhar dentro do sato pois lá estão os espíritos dos mortos e
é por isso que ele é guardado em posição ereta e só pode ser transportado a noite.
Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é imutável.
YABARA
O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da humanidade).
É um instrumento de percussão, sua forma e tamanho são variáveis.
Ele é confeccionado de uma cabaça e revestido por uma rede de pérolas ou
sementes de frutas, envolvendo a cabaça até o pescoço.
Para se tocar o yabara, pega-se o pescoço da cabaça com uma das mãos e com a
outra a ponta da rede para permitir que o som das pérolas ou sementes seja
amplificado.
Este é outro instrumento bastante utilizado nas cerimônias e rituais dos Voduns.
KPEZIN
O kpezin é um instrumento importante na vida cultural e religiosa do Benin.
É um tambor em forma de pote, uma caixa de som com um longo pescoço e uma
base redonda. A base é revestida com vime trançado e o instrumento é assentado
em uma "almofada" de casca de bananeira seca e enrolada, presa no instrumento
por fios de fibra de folhas de bananeira.
O topo tem um diâmetro de 73 cm e é coberto por pele de antílope. Há dois tipos
de kpezin: o maior chamado de kpezinnon e o menor kpezinvi, que podem ser
tocados ao mesmo tempo.
A base do kpezin, coberta de pele, pode ser batida no centro ou nas margens para
produzir sons diferentes durante as cerimônias especiais, exigindo muita habilidade
de seus tocadores.
O kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira quando é tocado
para que as forças dos deuses sejam "armazenadas" nos assentamentos. Da mesma
maneira, ele é tocado para os assentamentos destes tambores que são guardados
sob eles quando não estão sendo tocados.
Ele também é tocado em cerimônias e rituais aos voduns e funerais. Nos rituais
fúnebres ele é tocado acompanhado pelo zinli, para afastar as aflições, moléstias e
ofensas.
A maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob uma árvore.
Também é utilizado em rituais agrícolas e de purificação.
O kpezin é um instrumento muito antigo, já tocado pelos adjohoun (da cidade de
Adja), trazido de Allada pelo rei Dakodonou, primeiro rei do Dahomey, morto em
1645.
No reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado, inclusive para consertos em
frente ao palácio.
Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento sagrado. Na cerimônia do aziza
honou (Aziza é o deus da canção, da música, dos caminhos musicais), é tocado na
madrugada. Esta cerimônia confere grande força aos instrumentos.
GANKEKE
O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum pêndulo em seu interior, feito
em duas peças de ferro, redondas e finas ao longo, como um funil, unidos no fim
com um espaço entre elas, formando um cabo onde o tocador segura o instrumento.
O pescoço do instrumento é encurvado e os tocadores dão batidinhas com uma
peça de madeira. Também encontramos gankeke com apenas uma câmpula.
Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento. Este maior é tocado
especialmente nas cerimônias fúnebres.
Ele produz um som agradável, 'kay' 'kay' 'kay', de onde sai seu nome, acrescido de
gan, que quer dizer ferro.
Este instrumento é tocado principalmente por homens que, numa mão têm o
gankeke e na outra o zangbetohoun, que é um outro instrumento musical, secreto,
exclusivo da sociedade do Zangbeto. Seu propósito está em garantir a segurança do
reino.
Além de instrumento musical, o gankeke era utilizado para que as ordens do rei
fossem comunicadas por um músico chamado kpalingan, uma espécie de repentista
que vagueava pelo humpayme, cantando para todo o reino as ordens e notícias do
rei.
O kpalingan também era responsável por cantar sobre toda a genealogia dos reis do
Dahomey.
Assim, hoje, cada cantiga, cada reverência cantada tem um significado, uma
mensagem precisa que pode ser compreendida apenas pelos iniciados.
O gankeke também toca o ritmo gangbo, quando os Zangbeto, vigias da noite,
saem em patrulha.
O instrumento gangbo, de onde vem o ritmo de mesmo nome, também é uma
espécie de gongo utilizado pelos Zangbeto.
Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke é um instrumento tocado
pelas sacerdotizas pela manhã e a noite, nos templos de Doudoua e de Dan, para
saúde ou culto de adoração à esses deuses, além de procissões.
Era também com o gankeke que as sacerdotizas "espantavam" a má sorte e os
espíritos ruins dos palácio reais.
Artigos
As matérias apresentadas foram selecionadas por mim e tiveram autorizações
de seus respectivos autores. As pessoas que quiserem colocar suas matérias
neste site, poderão enviar-me a mesma para uma previa seleção. Só serão
aceitas matérias relacionadas a cultura dos Voduns e seus seguidores.
Simbolismo
Espaço Sagrado
Escolha do Nome
Comidas de Santo
Ervas, História e Ritos
Vodou - Arte e Deuses
Dia Nacional dos Voduns
Simbolismo
A palavra "símbolo" origina-se do grego symbolon, um sinal de reconhecimento
onde observamos que sua etimologia mostra o símbolo como algo composto. É um
sinal visível de uma realidade invisível que jamais se esgota em seus significados.
O objeto e seu significado não podem ser separados.
As imagens, os emblemas, os objetos, os símbolos, os mitos não são meras
criações de nossa alma, nosso espírito ou nossa mente, eles nos falam de todas as
nossas necessidades. São objetos de nosso cotidiano, percebidos pelos sentidos,
mas que apontam para algo encoberto, enigmático, para um significado e para um
excesso de significados, tudo que não pode ser esgotado no primeiro momento.
Algo externo revela algo interno, algo corporal em algo espiritual, algo particular
em algo geral.
Geramos energias específicas ao visualizarmos, mentalizarmos, canalizarmos ou
sentirmos um símbolo, eles nos levam a entrar em ressonância com o Cosmo, que é
o grande objetivo.
Através dos símbolos desenvolvemos uma maior capacidade de percepções,
revelações e transformações. Eles fazem parte de toda a nossa realidade, de nossa
vida interior, mística e religiosa, nos orientam no campo do conhecimento e no
campo religioso. Somos conduzidos à diversas dimensões à mundos distantes, à
passados remotos e ao nosso interior onde a "palavra ainda não se transformou em
palavras".
Os inúmeros símbolos existentes (lingüísticos, musicais, religiosos, mitológicos,
matemáticos, etc), ocultam verdades iniciáticas e contam, sozinhos e interligados,
passagens de toda humanidade além de formarem um único símbolo, o UNO.
Quando trabalhamos bem nossas energias, elas se transformam em símbolos de
vida, de pensamento, de sabedoria e o poder ativo dos símbolos projetam seu
significado no Cosmo que nos devolve em energia do saber infinito.
Os símbolos são universais e difundidos em todo o mundo, em todas as culturas.
Não podem ser substituídos mediante um acordo. São suporte e difusores de
energias que nos revelam os segredos da matéria e do espírito, do físico e do
espiritual.
No universo tudo é vida e se manifesta simbolicamente. O homem, desvendando a
linguagem oculta dos símbolos, desperta seu inconsciente para a unicidade, adquire
esclarecimentos suplementares sobre a natureza secreta de nossa identidade
espiritual, nosso EU.
O africanos e seus descendentes transplantaram toda uma cultura em símbolos que
fazem parte de nossa sociedade cultural e religiosa.
Através de diversas etnias e de processos sociais e históricos, nosso país, nosso
povo, nossa formação é profundamente marcada por instituições que transportam e
recriam a riquíssima herança africana.
As casa de candomblé são os maiores difusores desta herança cultural africana
através de um farto e complexo sistema simbólico.
Todo grupo, toda etnia, associação ou comunidade, para se constituir como tal,
deve estabelecer modo de comunicação - gestos, sons, exclamações, ritmos, cores,
formas - e constitui-se numa linguagem. Essa linguagem compreende um conjunto
de signos cujo intercâmbios ou relações simbólicas configuram as divindades.
Desta forma, o grupo expressa seus desejos. O consenso simbólico permite que o
grupo fale entre si.
No candomblé o simbolismo é realizado fundamentalmente pela prática religiosa.
A comunicação se dá por atividades individuais ou em grupo, pelas cerimônias e
ritos públicos e privados, pelos quartos sagrados, objetos, trajes e emblemas rituais.
Dança, ritmos, cor, conta, gesto, folha, som, emblemas e objetos se articulam para
significar o sagrado. São instrumentos de comunicação que, através de sua forma
significante, manifestam e contribuem para manifestar e transmitir a complexa
trama simbólica que ultrapassa gerações, transcendendo o tempo e a origem.
A caracterização sagrada de um símbolo é dada através de rituais religiosos
especiais que transmitem poderes místicos à esses símbolos. Desta forma, não
podem ser tratados como objetos-divindades ou meros amuletos onipotentes que
controlam os adeptos e sim como objetos preparados e aceitos como símbolos de
forças espirituais. Eles são mais que meras representações materiais, são objetos
essenciais em que o sagrado está representado. O religioso reverencia não à
matéria e sim à essência mística que ele simboliza, que têm finalidades e funções.
São portadores de forças místicas, estimulam a memória grupal e o processo de
ligação às divindades.
Os símbolos são um "microcosmo" que, decodificados, falam de todo um sistema
religioso - estético de uma determinada nação.
Não é possível definir intelectualmente o processo de criação desses símbolos
assim como, não podemos compreender seu conteúdo sagrado como uma equação
matemática. Cada um deles possui conteúdos aparentes, visíveis ou manifestos em
níveis consciente, latentes, ocultos ou reprimidos no nível inconsciente.
A religião, a mitologia e a arte são os veículos mais sensíveis através dos quais
uma cultura manifesta seus conteúdos e necessidades latentes. Eles abrigam os
mais ocultos conflitos de nosso mundo presente e passado, um gigantesco arquivo
onde parte de nossa história ancestral - o inconsciente coletivo - se elabora e
transmite. Símbolos de uma cultura que emprestam sua matéria para que o místico
se revele.
Para vivenciarmos os símbolos realmente como tais, devemos estar prontos para
nos deixarmos tocar emocionalmente por eles, questionarmos nosso nível de vida
concreto para depois nos ocuparmos com o que está oculto. Quando estabelecemos
relação com um símbolo, tudo que está ligado a ele torna-se repentinamente vivo.
Ainda hoje, a grande maioria do povo candomblecista, desconhecem a simbologia
dos objetos de nossa religião, assumindo atitudes meramente repetitivas de
tradições passadas oralmente, sem serem decodificadas. Acreditamos que a cada
símbolo compreendido e apreendido, crescemos em emanações de energias interior
e exterior.
- Fontes de consulta: Dicionário de Símbolos - Jean Chevalier
Os Nagôs e a Morte - Juana Elbein
AS MÃOS
A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo tempo que as de poder e de
dominação.
Certos escritos taoístas dão à elas o sentindo do alquimista de coagulação e de
dissolução, correspondendo a primeira fase ao esforço de concentração espiritual, a
segunda à não intervenção ao livre desenvolvimento da experiência interior dentro
de um microcosmo que escapa ao condicionamento espacial e temporal.
É preciso lembrar ainda que a palavra manifestação tem a mesma raiz que mão:
manifesta-se aquilo que pode ser seguro ou alcançado pela mão.
A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo mão e poder.
A mão esquerda é tradicionalmente associada com a justiça e a direita com a
misericórdia; a mão do rigor e a da maleabilidade, o equilíbrio quando juntas.
A mão fechada é o símbolo do segredo.
A mão serve, enfim, à invocação. Por vezes ela é comparada com o olho: ela vê. É
uma interpretação que a psicánalise reteve, considerando que a mão que aparece
nos sonhos é equivalente ao olho. Daí o belo título: "O cego com dedos de luz".
Segundo Gregorio de Nissa, as mãos do homem estão ligadas ao conhecimento, à
visão, pois elas têm como fim a linguagem.
As mãos têm uma "transferência" e também uma "troca" de energia.
A mão é como uma síntese, exclusivamente humana, do masculina e do feminino,
ela é passiva naquilo que contêm e ativa no que segura.
As mãos possuem milhares de pontos ocultos de canais sutis por onde circula a
energia vital. Esses centros de consciência, superpostos ao longo da coluna
vertebral até o topo da cabeça, podem ser qualificados de "turbilhões de matéria
etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios (jogo) dentro, estamos ativando esses
pontos, liberando e trocando energia, a concentração espiritual, a manifestação, o
poder, o segredo, a invocação, o conhecimento, a visão e o equilíbrio, para termos
como fim a "linguagem" da leitura dos búzios.
Se todos os pais/mães de santo procurassem entender mais sobre o significado de
tudo que fazem e manipulam, com certeza o "poder" que têm em suas mãos seria
muito melhor explorado e aplicado em beneficío de seus filhos, de si próprio e da
humanidade.
fonte de consulta: Símbolos - Jean Chevalier
O ESPAÇO SAGRADO
Ataliba Fernando Costa*
A sacralização do espaço remonta, é certo, aos primórdios do aparecimento na
Terra dos seres humanos modernos (Homo sapiens) isso na era Cenozóica, período
quaternário.O Homem é considerado como uma das últimas espécies a surgir no
planeta, e na sua curta trajetória sobre a superfície deste planeta apenas ele possui
as ideais condições e capacidade para agir sobre o meio e manipular objetos,
Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas afirma que o Homem diferenciase
das demais espécies animais, visto que só o Homem é dotado de imaginação e
inteligência simbólicas.
Trataremos então a seguir de manipulações do Homem sobre o meio, e a
sacralização não só do espaço, mas também do momento, de um certo momento
que capturado e representado pode trazer presságios para um ato ou uma vida.
Comentaremos sobre as mais antigas representações conhecidas, as gravadas nas
paredes das cavernas, representações conhecidas como arte rupestre; além de muito
estudadas em nossos dias, trazem algumas incógnitas que ainda não foram
plenamente elucidadas. Uma delas, refere-se à dificuldade de precisar a idade
desses desenhos. No entanto, alguns pesquisadores afirmam que desenhos como
esses datam de períodos anteriores ao Neolítico.
Relevando os problemas de exatidão da idade dessas representações, a arte rupestre
prima por nos fornecer, como salienta Brézillon, "informações sobre a fauna e o
gênero de vida das populações representadas".
Estas formas primitivas de representação, feitas nas paredes das cavernas, usando
de pigmentos extraídos da natureza e entalhes feitos com ferramentas de pedra,
como muitos pesquisadores como Brézillon, Hauser, Garcia, Motes e outros
puderam observar, não tinham nenhuma intenção ornamental estética, e sim um
caráter místico, onde as imagens ali presentes representavam, para o Homem préhistórico,
amuletos; presságios positivos em suas empreitadas, uma vez que se
encontram em salas ocultas, de difícil acesso; nunca em lugares expostos à
apreciação, como mostra Hauser.
Sobre todo el hecho de que las pinturas estén a menudo completamente escondidas
en rincones inaccesibles y totalmente oscuros de las cavernas, en los que hubieram
podido de ninguna manera ser una "decoración. Tambien habla contra semejante
explicación el hecho de su superposición a la manera de los palimpsestos,
superposición que destruye de antemano toda función decorativa; esta
superposición no era, sin embargo, necesaria, pues el pintor disponía de espacio
suficiente. El amontonamiento de una figura sobre outra indica claramente que las
pinturas no eran creadas com la inteción de proporcionar a los ojos un goce
estético, sino persiguiendo un propósito en el que lo más importante era que as
pinturas estuviesen situadas en ciertas cavernas y en ciertas partes específicas de
las cavernas, indudablemente en determinados lugares considerados como
especialmente convenientes para la magia.
De posse destas afirmações exemplificadas podemos então, concluir que poderiam
ser estes ambientes os primeiros templos, lugares sacralizados, que manipulados
pelo homem estavam prenhes de magia e energia possibilitadora de presságios
positivos. Ainda buscando subsídios nas informações de Hauser, podemos também
dizer que se o templo, ou seja, locais onde tais imagens eram impressas, o local
representado também continha a energia sagrada, um local
sacro santo.
Ainda citando Hauser, quando este disserta sobre os autores das tais pinturas
rupestres podemos apreender que os executores dessas obras deveriam possuir
além das posições de caçador e até mesmo de geógrafo o título de sacerdote,
aquele eu distinguia e prendia mentalmente todas as particularidades de um lugar
para assim pender no templo de seu clã toda a mítica do lugar.
l pintor paleolítico era cazador y debia, como tal, ser um buen observador; debía
conocer los animales y sus características, sus habituales paradas y sus
emigraciones a través de las más leves huellas y rastros; debía tener una vista
aguda para distinguir semejanzas y diferencias.
Com essas informações podemos concluir que as representações primitivas são
parte das conquistas do Homem, que lenta e gradativamente foi se
intelectualizando e criando condições de agir sobre o meio, evoluindo,
conseqüentemente, na forma de representar o espaço à sua volta. Os desenhos
impressos pelo Homem primitivo, são representações do espaço no qual ele age, e,
como não poderia deixar de ser, está cheio de elementos emocionais, um espaço
relacionado com as necessidades e interesses do Homem pré-histórico.
Dizer que as câmaras das cavernas utilizadas pelo homem como templo, seria o
primeiro templo seria um pouco incoerente uma vez que o divino, o sagrado
estava, na realidade do outro lado daquelas paredes de pedra. Concluímos sim, que
tais câmaras eram na realidade a captura de espaços especiais que deviam ser
transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço podemos afirmar que a
categoria Espaço, Paisagem e até mesmo Lugar (unidade elementar) servem como
pano de fundo para as atividades humanas, portanto o profano e o sagrado
coexistem, e quem transforma e dá caráter profano ou sagrado a um ambiente é o
homem que o manipula ao se bel prazer. Citando HARVEY, quando este fala das
classificações do espaço, este escreve:
O espaço não é nem absoluto, relativo ou relacional em si mesmo, mas pode
tornar-se em um ou em outro, dependendo das circunstâncias. O problema da
correta conceituação do espaço é resolvido através da prática humana em relação a
ele. Em outras palavras, não há respostas filosóficas para questões filosóficas que
surgem sobre natureza do espaço. As respostas estão na prática humana.
* Ataliba Fernando Costa é Geógrafo, licenciado pela UFJF, com especialização
em
geografia e Gestão do território – em curso.
AGUIAR, V. T. B. Atlas Geográfico Escolar. Rio Claro: UNESP, 1996. Tese de
Doutorado. P. 95.
É o que podemos chamar de arte ou escrita primitiva e indígena. São motivos
geométricos representações zoomorfas e antropomorfas.
BRÉZILLON, Michel. A Arte Rupestre Pós-glacial. IN: LEROI-GOURHA, A. et
al.. Pré
História. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981. P. 298-307.
HAUSER, Arnold. História Social de la Literatura e la Arte .. p. 29.
HARVEY, D. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980, p. 5.
A Escolha do Nome de Uma Criança no Benin
- cultura Ewe/Fon/Mina
A escolha do nome a ser dado à uma criança para o povo Ewe/Fon/Mina, é um dos
eventos social e espiritual dos mais importantes. Marca o início do destino da
criança aqui na terra.
Do momento da concepção, quando a mãe descobre que está grávida, até seu
nascimento, todos os eventos são marcas significativas na vida daquele novo Ser,
que muito influenciarão sua passagem neste planeta
Diariamente, sua mãe vai caminhando ao mercado, pegar pequenas poções de
água. Esta pequena, porém sutil atividade tem um significado grande, revela o "Se"
(alma/espírito) da criança que está para nascer. Está água é oferecida à uma
personalidade importante e, desta forma, eles acreditam que a alma da criança se
iguala à do antepassado escolhido, que acompanhará está criança em seu
nascimento. A culminância destes importantes momentos, o nascimento da criança,
é a escolha do nome. Por exemplo, o nome atribuído à criança pode ser baseado no
dia da semana que a criança nasceu. A criança é também cuidadosamente
examinada por dzoto (alma ancestral), pertencente à cosmologia Ewe. Desta forma,
totalmente assistida e acompanhada por seu dzoto, a criança nasce para realizar seu
destino aqui na terra.
Do momento em que toma conhecimento deste sagrado momento, a criança é
orientada a evitar comer determinados alimentos e lhe é dado amuletos que devem
ser usados em seus braços, pescoço e quadril, onde quer que vá; desta forma, os
maus espíritos não a perturbarão.
Outras situações bem observadas são: de que forma esta criança sai do ventre de
sua mãe, se possuem má formação, marcas de nascimento (sinais), tamanho do
corpo, como choram, etc. Todas estas características também contribuem para
determinar a personalidade da criança ou mesmo podem revelar sugestões para o
seu futuro destino, de sua família e de sua comunidade.
O nome da criança também pode ser dado baseado na ordem de seu nascimento.
Por exemplo, um menino que tenha sido o terceiro a nascer em uma família poderá
ser chamado "Mensah" ou se for o quinto "Anani". A menina poderá ser chamada
de "Mania", "Masa" se for a quarta a nascer ou "Mansa Abla".
A todas as crianças é dado o nome de seu Vodum, aquele que o acompanhou em
seu nascimento ou de quem sua natureza mais assemelha. Mesmo as crianças
nascida em circunstâncias excepcionais ou inferiores, também recebem o nome de
seu Vodum. Por exemplo, as crianças nascidas com má formação física ou mental,
anões, são chamados "Tohosou", espíritos de antigos ancestrais de Dahomey, que
apresentavam as mesmas deficiências.
Crianças nascidas de maneira incomum, algumas de vezes até "engraçadas",
também podiam ser nomeadas de acordo com as circunstâncias. Por exemplo, se
uma mãe esta trabalhando em uma estrada, ou a caminho do mercado, se for
menino pode se chamar "Alifoe" (homem do caminho) ou "Aliposi" (mulher do
caminho) se for uma menina.
Se o pai da criança morrer antes de seu nascimento, se for menino pode ser
chamado "Apedo" (a casa está vazia) ou "Apedomesi" se for uma menina. Se for o
último a nascer pode ser nomeado "Agosu" e "Agosa" se for uma menino, "Agosi"
ou "Agosivi" se for uma menina.
Se a criança for filha de pais muito pobres pode ser chamada "Lavagnon" (as
coisas vão melhorar) ou "Agbsi" (nas mãos de Deus), ou ainda "Agbebavi" (você
compensa toda a vida que choramos).
Crianças que nascem com uma propensão a atrair espíritos negativos devem ser
chamadas "Abalo" ou "Aboki" que significa, mover os espíritos ruins para longe.
Finalmente, quando a criança é apresentada ao bokono, já tem um nome do espírito
(família totem) de sua família sanguínea, de sua linhagem. Tradicionalmente, na
cultura Ewe, é a avó ou o avô quem escolhe o nome da criança, na falta desses,
outra pessoa poderá dar os nomes desde que receba uma inspiração e mantenha a
tradição de nomes, circunstâncias incomuns, dias da semana, etc. para ele é muito
importante e significativo para todo cumprimento de sua vida espiritual e material
na Terra.
Atualmente, devido a grande mortalidade infantil, os beninenses esperam suas
criança completarem três meses de vida para dar início as cerimônias na qual a
criança se tornará um membro oficial da família.
Centro Cultural Ceja Neji
COMIDA DE SANTO
Explorando o assunto Comida de Santo, pode-se encontrar na literatura alguns
textos. Fazendo-se agora um resumo e algumas colocações. Nina Rodrigues, em
seus estudos, ao abordar à arte da culinária africana, achou difícil precisar, devido
ao estado atual dos costumes, à quais grupos pertenceriam determinadas comidas.
Já Manuel Querino assinalava que a contribuição dos grupos bantos, angolanos e
jejes eram maiores que as dos nagôs, contrariando a tese dos que insistiam na sua
predominância.
Nos terreiros, esta cozinha, marcada por uma série de preceitos e interdições, vai
aparecer relacionada diretamente aos deuses através das chamadas comidas do
santo. Assim, cada um deles irá receber em dias especiais (ou não) pratos de sua
preferência. Não se trata, porém só de comer e sim o que se come, o que não se
come, quando se come, com quem, participam de um todo integrado que diz
respeito a códigos imprescindíveis dentro da culinária dos deuses. E mais ainda,
esta comida dentro da dinâmica dos terreiros é um dos veículos de vital
importância para a transmissão e distribuição de axé. Seja essa comida reelaborada
a partir de técnicas e maneiras predominantemente banto, jeje ou yorubá, esse
negros modificaram as refeições do reino como já exposto. Outro fato que deve ser
considerado é a falta de mantimentos num país desde o começo assolado pela
fome. Da nova terra, o português ao lado das caças e muitos frutos, só pôde
aproveitar a mandioca e o milho que eram alimentos básicos para o sustento e o
qual era oferecido aos negros. Adotar os mantimentos da terra, ao lado de importar
tantos outros como, por exemplo, o gengibre, arroz, inhame, banana, coco, dendê,
foi à solução encontrada pelos portugueses para suprir a falta de alimentos.
Cascudo (1970) diz que ao fim do séc XVIII os produtos americanos já estavam
tão difundidos na África portuguesa que participavam das refeições nos negros,
escravos ou livres. Os ingredientes africanos vindos da áfrica, como o quiabo, o
inhame, erva-doce, gengibre, gergelim, amendoim, melancia, dendê e outros foram
entrando aos poucos no Brasil de acordo com as exigências do tráfico ou da
população aqui estabelecida. Não é possível, no entanto, se pensar nesta cozinha e
nem em uma outra somente a partir de tais elementos. Ela é mais do que um
conjunto de matérias naturais que podem ser adaptados e substituídos. Esse próprio
fato obedece a uma certa ordem inscrita nos mais remotos tempos, fazendo com
que a comida não perca seu sentido nem se afaste da visão do mundo que ela
representa. O que dá identidade à determinada comida não é a origem dos vários
ingredientes combinados, mas a maneira como estes elementos são combinados. E
estas maneiras obedecem a determinados ritos que lhe dão sentido e, como tais,
apresentam-se como algo criativo. Assim, é completamente arbitrário buscar
precisar datas para essa culinária, entendendo esta como algo parado, fechado, se o
próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la. As condições de possibilidade para se
pensar uma cozinha africana não podem ser pensadas em nível cronológico, assim
como não podem prescindir desse tempo. Elas vão acontecendo, se dando, de
acordo com o tipo de situação servil ou livre e o lugar em que vivia o africano,
variando, desde o primeiro momento em que dividiu a cozinha com as africanas
cozinheiras, até quando pôde, ante as novas condições suscitadas pelo processo
histórico, negociar um tabuleiro. O processo de criação das comidas africanas
também se deve a importância dos jejuns e das festas regulados pelas igrejas
( outra questão complexa que não cabe abrir aqui). Os africanos tiveram também
que adaptar às vezes sua alimentação, a hora e quantidade que se podia comer
impostas pela igreja. Todavia, quando puderam providenciar seus próprios
alimentos. é muito provável que tenham lançado mão do conhecimento acumulado
e das várias experiências trazidas de suas terras, já somadas a tantas outras. Tudo
isso que foi colocado pelos autores não se trata de um retorno à África, mas fazer
com que comida se faça africana, ou seja, remonte a histórias e passagens, visões
de mundo associadas aos ancestrais, princípios universais ou antepassados, aos
primórdios dos tempos quando estes fundaram a humanidade, constituíram as
cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de mundo juntadas a inúmeras
outras experiências históricas constituídas no Novo Mundo. É este fazer que faz
com que tal comida seja comida de santo. A comida de santo diferencia-se, assim,
daquela do dia a dia. Uma coisa é cozinhar um inhame e dividi-lo em pedaços e
come-lo no café da manhã. Outra é preparar esse mesmo inhame para Oxalá,
quando variam desde o tamanho, a forma das raízes, os procedimentos observados
para sua feitura e por fim, as palavras ditas para encantar a comida. Fazer um feijão
no azeite não é o mesmo que preparar um Omolocum. Neste nada pode se escapar,
se escolhe bem os grãos, pois Oxun liga-se à fecundidade. Os deuses comem
comida mais elaborada. Embora os ingredientes sejam os mesmos, mudam o
tratamento que estes recebem. E a forma como estes são tratados expressa seu
sentido através de um ritual onde nada é por acaso. Assim, Exu pode comer de
tudo com já dizia um de seus mitos. Ogun pode receber feijoada, uma vez que as
carnes gordas lhe pertencem. E Oxossi por se ligar a terra, recebe todos os frutos
dados pelo Novo Mundo. Gonzegan Carla de Tobosi FONTE: Faces da Tradição
Afro-Brasileira – CNPq Santo Também Come - Raul Lody
ERVAS: HISTÓRIA E RITO
Wanda de Otolu
Vem dos tempos mais primórdios, a história da utilização das plantas, tanto é que
os próprios animais, quando apresentam alguma enfermidade, buscam ervas para
auto-tratamento. Também o ser humano assim o fez, desde sempre. É certo que
doenças sempre existiram, e que, ao longo do tempo, foram sendo divididas em
outras tantas.
Certo também que a alopatia (medicina convencional) não nasceu junto com o
primeiro "homus sapiens" a habitar o Planeta. Desta forma, como os seres
primórdios curavam suas doenças, senão pela utilização das ervas existentes?
Partindo-se deste raciocínio, não se precisa ir tão longe, para se concluir que as
plantas sempre acompanharam o ser humano, seja na alimentação (autosubsistência),
quanto no tratamento de suas doenças. Junto com isso, foram
surgindo, como é de conhecimento histórico, as tribos, os guetos, já que,
cientificamente, tem-se conhecimento hoje de que a vida humana surgiu mesmo no
Continente Africano.
Dentro desta visão, sabe-se também, através dos historidadores, que buscam
resgatar a história humana no seu princípio, que, em cada tribo, ou gueto, haviam
os denominados hoje "curandeiros". A partir dos rituais desenvolvidos, novamente
as ervas foram inseridas em todo o processo histórico.
Baseando-se neste conhecimento, tem-se a idéia exata da dimensão da importância
de todas as plantas. Inclusive, cientificamente, já se descobriu até a "aura" de cada
planta, através de equipamentos especiais que captam até as diferenças
vibracionais de cada erva. Com todos esses elementos reunidos, é impossível que,
ainda hoje, as criaturas humanas não valorizem o conhecido "chazinho", ou até,
quem sabe, não utilizem as cascas, os frutos, as folhas, ou mesmo as flores e as
raízes, em outras atividades.
No Candomblé, a árvore em si é de suma importância, tanto que existem as árvores
sagradas, desde a raiz, até o caule, as folhas e os frutos. Os vegetais são
imprescindíveis na prática religiosa. O ritual das ervas é importante como elemento
nos trabalhos espirituais. As folhas podem ser utilizadas, tanto secas, como verdes.
O caule é utilizado como marco numa Casa de Santo e como sustentação em tenda,
etc. A raiz é direcionada em cada fim ritualístico.
As ervas, com seus elementos vitais, trazem a essência para o crescimento
espiritual.Cada elemento é atribuído à determinada natureza, de acordo com a
essência de cada Vodum, Orixá ou Inkice. Sem os rituais das ervas, não seria
possível o mínimo trabalho dentro de uma Casa de Santo. Em tudo, a erva sempre
presente, aproximando a essência de cada Ser Espiritual.
Vodou - Arte e Deuses
A arte tradicional de Vodun é a pedra fundamental desta religião, é a encarnação
das idéias religiosas mantidas por seguidores de Vodun.
O significado dos objetos usados nos cultos de Vodun é explicado geralmente
desta maneira: Os seguidores de Vodun procuram imagens dos deuses e dos sinais
de mistérios divinos. Fiéis, são capazes de incitar um espírito em modelos
esculpidos e, assim sendo, o metal e a madeira aparentemente brutos são
transformados em um meio de comunicação com os deuses e seus antepassados. Se
observarmos cuidadosamente estes objetos, certamente nos aproximaremos do
poder irradiado pelos cultos e cerimoniais.
Os deuses tentam incorporar em seus seguidores humanos, os dançarinos
mascarados são mensageiros que carregam sinais divinos, os corpos dos dançarinos
servem como mediadores para os deuses de Vodun, as figuras gigantescas do deus
Legba dão aos dançarinos uma nova energia e os espetáculos naturais como o
trovão e o relâmpago são interpretados como expressões da vontade ou da punição
divina.
O Vodun une seres humanos, matéria e natureza em um contexto orgânico de uma
vista coerente do mundo. Ao contrário das religiões monoteístas como o islamismo
ou o cristianismo, o Vodun tem um santuário de deuses povoado por numerosas
divindades.
As escavações arqueológicas na costa ocidental africana mostraram que a religião e
suas divindades tem mais de quatro mil anos. Pode-se dizer com certeza que a
tradição local, por exemplo em Heviosso e em Shango, vai além de muitos séculos.
Os realtos dos comerciantes e dos viajantes europeus que visitaram Benin no
primeiro século também atestam a existência destes deuses. Em alguns casos, os
templos e os cerimoniais que são descritos nestes relatos estão até hoje quase que
inalterados, como por exemplo o templo Dangbe em Ouidah.
Estes deuses parecem ser confusos, contraditórios e criativos, com nenhuma
hierarquia aparente, são passíveis de estar irados em um momento e dóceis no
momento seguinte. Nenhum dos deuses são semelhantes, cada um tem um papel
diferente. Alguns são relacionados ou têm crianças, outros são bi sexuados ou
podem mudar seu sexo à vontade. Por exemplo, Legba, o mensageiro dos deuses,
desencadeia seu inacreditável poder quando transforma-se literalmente em dois
deuses durante um cerimonial. Neste caso, um sacerdote retorna da dança em um
dançarino mascarado grande e outro pequeno que se põe a girar. Fez-se uma
criança? É o comentário alegre de todos os participantes do ceremonial para este
sinal da fertilidade divina, sabem que trará graças aos seres humanos também. Para
comprovação disto, todas as imagens moldadas possuem penis eretos como
símbolos da vitalidade e potência.
O Vodou é mais do que uma religião, é uma maneira de vida que inspirou artistas
do Haiti em muitos trabalhos. Depois da segunda guerra mundial, estes trabalhos
chamaram atenção de negociantes estrangeiros que comentaram o renascimento do
Haiti. Dois dos mais célebres destes artistas são o pintor Hyppolite e o escultor
Georges Liautaud. Outros artistas da atual geração são Antoine Oleyant cujas
bandeiras foram inspiradas pelos sonhos e visões de Vodou e Pierrot Barra que,
com a colaboração de sua esposa Marie Cassaise criam fantasias de Vodou com
sucatas recicladas.
O renascimento do Haiti é expresso nas modernas telas de Edouard Duval Carrie,
cujo surrealismo captura perfeitamente características do recente pesadelo político
recente do Haiti.
O conteúdo escrito desta página, traduzido e condensado pelos webmasters de
Luiá, aqui apresentado fazem parte do acervo do American Museum of Natural
History
DIA NACIONAL DOS VODUNS
O Dia Nacional dos Voduns no Benin/África é comemorado em 10 de janeiro.
Durante todo o dia em várias regiões do Benin, o povo entusiasmado se aglomeram
nas portas dos templos executando rítmos, cânticos e danças em louvor aos
Voduns. Todas as ruas e vilas são decoradas com motivos que lembram os
ancestrais e os Voduns. As mulheres fazem as melhores iguarias e os homens
preparam o vinho de palma, que serão degustados no decorrer das festividades. As
mulheres usam suas melhores roupas nativas e se enfeitam para agradar os deuses,
os homens tocam os mais variados instrumentos musicais emitindo ritmos divinos
e cantigas regionais que falam da tradição dos Voduns. Nas primeiras horas da
madrugada os sacerdotes e sacerdotisas saúdam e homenageiam Legba, Sagbeto e
os Ancestrais, acompanhados pelo povo. No amanhecer oferecem sacrifícios e
presentes aos Voduns. Começa a festa. Em Ouidah os adeptos de Mami Wata
(mães das águas) improvisam altares nas areias das praias, rios e córregos onde são
oferecidos balaios enfeitados com fitas, flores e presentes para os Voduns das
águas. Diante desses altares, o povo canta e dança louvando os deuses. O ponto
culminante dessa comemoração é a hora em que esses presentes são colocados em
pequenas embarcações e levados para alto mar onde serão oferecidos aos deuses; o
povo acompanha todo esse movimento com gritos frenéticos e louvores. Essa data
foi estabelecida após ser proclamada a independência do Benin. O governo
constituído por beninenses elegeu Sossa Guedehouhoungue como Presidente
Nacional do Culto aos Voduns, oficializando assim a religião. Os principais
templos aguardam a chegada de Sossa para dar início os rituais culminantes de
comemoraçao ao Dia Nacional dos Voduns. Sossa se apresenta em praças públicas,
onde os adoradores de Vodum o aguardam para saudá-lo por sua luta em prol da
religião. Sossa Guedehouhoungue faleceu em 27/01/2001 e foi sepultado em
25/02/2001 na cidade de Dotou. Sua urna mortuária viajou por quase toda a África,
onde o grande líder recebeu rituais fúnebres como a ultima homenagem de um
povo que tanto lutou para que seus direitos religiosos fossem respeitados. O dia 10
de janeiro é o marco de uma grande vitória religiosa e Sossa sempre será lembrado
como o grande Sacerdote de Vodum. Comemorar e honrar os antepassados e
Voduns, é uma prática natural para o povo Fon.
O Humgebê
O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje. Ele representa o elo entre o
orum e o aiye. É o fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do
mundo espiritual, invisível e transcendente. O céu cósmico particularmente em
suas relações com a terra.
Somente vodunsis recebem o humgebê. Temos visto ogans e ekedis usando
erradamente o humgebê. Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o
humgebê pois acaba de nascer no mundo do santo. Quando o vodunsi morre, o
humgebê o acompanha. Ele nos liga ao orum, nos traz o orum e nos leva de volta
ao orum.
Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente, algumas casas de Jeje darem o
humgebê aos seus filhos somente na obrigação de sete anos. Cabe aqui uma
pergunta de uma velha Doné de Salvador ao relatarmos esse fato: - "Oxente!!!!
Vocês no Rio só nascem aos sete anos?".
A preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui
obrigações, currans, zandros, etc. Há necessidade também, de alguns preceitos de
humdemê. O poder do humgebê ultrapassa a mente humana. Ele sempre nos avisa
quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no kwe. A
voz do humgebê está num grande segredo da nação Jeje.
Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma,
pode ser usado por outra pessoa ou tocado.
Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial
para ser reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características rígidas. Deve ter a quantidade
certa de miçangas entre os corais e seu fechamento também é um só. Não se fecha
humgebê com contas na cor do santo do yao e sim como um segui, como temos
visto em alguns candomblés. Também observamos humgebês enrolados no
pescoço, atitude que quebra todo o seu significado sagrado. A quantidade de corais
que compõem um humgebê, ao contrário que muitos pensam, não é fixa. O
comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da pessoa, devendo
sempre estar um pouco abaixo do umbigo.
Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois seguis, um
no fechamento e outro no meio, o que também é correto.
O humgebê é composto de contas, corais e segui. O coral é a "árvore das águas",
participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas
profundas (origem do mundo). Sua cor vermelha aparenta com o sangue. Segundo
uma lenda grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa.
O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara
particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos: animal,
vegetal e mineral. Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da cor
vermelha.
Como símbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo entre a vida e a
morte. Sua cor vermelha é o símbolo universal do princípio de vida, com sua força,
seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue. Representa não a expressão, mas o
mistério da vida e da morte. Um lado seduz, encoraja, provoca; o outro lado alerta,
detém, incita à vigilância. Este é, com efeito, a ambivalência do vermelho do
sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado significa a morte.
O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar
qualquer obstáculo, perdendo até o infinito. É também a cor mais imaterial e fria e,
em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro. O
conjunto de suas aplicações simbólicas depende dessas qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as,
desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna. É o caminho do infinito, onde o
real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que
é sobre-humana.
É também a cor da verdade. A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e
é por isso que, a cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o
governam, do Além, seu destino. Há também um simbolismo de castração,
imposição e de um longo sacrifício, um certo heroísmo, embutido no azul do segui.
Como podemos observar, há uma enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso
Hungebê
Mulheres na Sociedade Jeje
As mulheres na sociedade Jeje são representadas pela Mãe, ou pela Rainha. Os
ministros, homens que elevam ao trono, elegem a sucessora antes da atual rainha
morrer e nomeiam-na somente após a sua morte, com nome de alguma rainha
antepassada muito respeitada. Geralmente, nomeiam a mulher mais velha do clã.
Hoje, fatores como a instrução e a influência nacional podem vir a frente da
antigüidade. A rainha conduz e organiza as mulheres em atividades sociais como
irem ao mercado, manterem tudo limpo e organizado, etc. São tarefas importantes
porque o mercado é um centro social vital para a comunidade. Fora ser um lugar
onde os bens são "trocados"; o mercado é também um lugar de reunião comum. Os
futuros noivos encontram-se pela primeira vez, no mercado. Em tempos de crises,
a rainha mãe orienta as mulheres a irem ao mercado mesmo que apenas
socialmente. Quando os homens vão guerrear, como era freqüente no passado, ou
quando iam em visitas à corte real do Duque, o que fazem ainda hoje, a rainha
organiza as mulheres para trabalhos administrativos. Pela manhã e a noite dirige
uma cerimônia religiosa, pedindo proteção para que os homens voltem em
segurança. Posição difícil ocupa a rainha. Extremamente dedicada, vive com sua
vida pessoal comprometida pelas responsabilidade com o clã. Oscilando entre o
prazer, a responsabilidade e os conflitos, tem o encargo maior de ajudar aos aflitos
que lhe procuram, na esperança de solucionarem problemas dos mais diversos.
Exerce um papel misto que vai desde a doçura maternal até o rigor característico
de uma líder. No candomblé, não é diferente. O cargo maior na herarquia religiosa
é perfeito para mulheres, até pela sua própria natureza, pela maternidade. "No
contexto africano, as mulheres merecem atenção especial quando da realização das
formas artísticas, visualizadas em sua fertilidade, ora seios volumosos, fartos de
amor e leite, ora o ventre protetor, ora símbolos de sociedades secretas, enfim a
matrilinearidade personificada no poder de criar vidas e conduzi-las até a
ancestralidade". (Jaime Sodré) Ela é a política e o cotidiano. Este arquétipo da
mulher, foi trazido para o Brasil. Muito mais que simples influências biológicas,
culinárias, afetivas, etc, a mulher tem a responsabilidade maior na formação e
postura religiosa no candomblé. Essa responsabilidade e valor feminino remontam
à formação do mundo, sempre enfrentando agressões, até mesmo físicas, com
desacatos morais mas, é delas os mais importantes cargos para a realização corretas
dos cultos sagrados. Na África as mulheres reúnem-se em sociedades secretas de
prestígio e poder. Maior destaque devemos dar quando observamos que a mulher,
em outras religiões, tem participação restrita ou proibida. No Brasil, embora haja a
participação masculina, o matriarcado é predominante, um exemplo da soberania
feminina africana. "As mulheres do candomblé são o exercício da liderança
religiosa-cultural e civil a serviço da vida, preparadas e escolhidas para amar, lutar
e servir, assim pensou Mawu-Lissa e assim se fez". (Jaime Sodré) "Podemos ainda
acrescentar que, sem o poder feminino, sem o princípio de criação, não brotam
plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade.
Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e da preservação do mundo:
sem a mulher não existe vida, devendo, segundo os mitos, ser reverenciada e
respeitada pelos Voduns e pelos homens'. (Helena Theodoro). Na África, a
sucessão de mulheres nas lideranças dos cultos, dá-se através de um conselho de
Bakonons, que jogam e "anunciam" a nova líder do clã, escolhida pelos Voduns.
No Brasil, poucas são as casas que preservam o modelo cultural africano de
sucessão. Política e interesses passaram a frente da religiosidade, razão pela qual,
infelizmente, algumas casas tradicionais fecham suas portas.
HUMBÊ E HUDJÈ
Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a cultura afro-brasileira, muita
pessoas perguntando sobre o que é o Humbê. Temos visto também, explicações
que não têm nada a ver com a realidade do Humbê. Por esse motivo, resolvemos
esclarecer esse assunto, dentro do que nos é permitido.
Humbê é o segundo maior segredo da nação dos Voduns, aqui no Brasil,
denominada Jeje ou Djedje. Toda pessoa feita em Jeje deveria receber o Humbê,
porém alguns pai/mães de santo optaram em dar esse fundamento à alguns filhos
somente após esses fazerem por onde merecer recebê-lo pois, como sabemos,
infelizmente, as pessoas hoje mudam de casa, raíz, pai/mãe de santo como se isso
fosse a coisa mais natural do mundo. Somente aqueles que percebem a
importância, o valor de uma família, de uma raíz, são merecedores de receber o
Humbê, pois esses jamais sairão de suas casas e, principalmente, da nação Jeje.
Não podemos aqui descrever o Humbê, apenas podemos dizer que é um axé
pertencente única e exclusivamente a nação Jeje e que fica muito bem resguardado
dentro do Templo dos Voduns.
Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o mesmo que Oyè da nação
Ketu, isso é, a expressão "Tomar Humbê" seria o mesmo que "Tomar cargo". Já
vimos inclusive pessoas da própria nação Jeje fazerem essa afirmação. No Jeje a
expressão "Tomar HUDJÈ" é a correta para se dizer que a pessoa está tomando
cargo. Cremos que, o fato da grafia das duas palavras como também a pronúncia
serem muito parecidas, gerou toda essa confusão.
Quem passa por um Humdémè, um Humbê e um Agêuntò, nunca abandona a
nação Jeje e jamais revela esses segredos para alguém, salvo para seus
descendentes.
Aquele que falar, com CERTEZA não tomou HUMBÊ.
Pano da Costa
Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afrobrasileira,
o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da
mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou
dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido,
que atua em tão diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais
significativos e necessários para a sobrevivencia dos rituais africano. O pano-da
costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos,
Costa Mina, Costa do Ouro. O tecido original foi substituido por outros tipos de
tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela naum esteja de roupa de
santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da
mulher como símbolo do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da
fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As Yaos,
ao terminar o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o
mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o
prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no
grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de sua feitura quando
em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa
envolvente mágica, aparece guardando as mulheres das presenças de egum.
Amigos, se voces podem encontrar mais informações sobre o pano-da-costa no
livros O Povo do Santo de Raul Lody da PALLAS-Editora e Distribuidora Ltda.
Agora vamos aos meus comentarios.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma
das principais funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres,
das Yamis.
Concordo com toda essa parte a cima transcrita do livro. Nos rituais de
sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus
ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e
seios.
O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na cintura pelas mulheres com
obrigações de 7 anos e pelas ekedes. Bem ai eu discordo. Primeiro se tem que ser
usado na cintura, então que seja um pano-da-costa enrolado e não uma tira de pano
como muitas usam. O pano-da-costa deve ter no minino 60 cm de largura para que
possa proteger os orgãos que necessitam de proteção. As famosas mães de santo
não usam o pano- da -costa na cintura nunca.
Aqui no Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de
acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda
são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo
independente da idade de feitura, quando muito, pode-se enrolar até abaixo dos
seios.
Eu mesmo muita vezes coloco meu pano-da-costa na cintura, mas coloco-o aberto
e não enrolado e nunca o uso assim em candomble.
De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até
agora explicou o porque de usa-lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso
exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o
pano-da costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao
homem) ou amarrado para tras, ou simplesmente ficam com o peito nu adornados
pelas conta e brajas.
Em algumsa casa encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento
esta errado. As abians ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante
uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda.
ATINS
Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou madeira. No Brasil, essa palavra
é usada para definir porções mágicas usadas pelos vários segmentos do
Candomblé.
Essas porções mágicas são mais uma das heranças que nos deixaram os africanos
que trouxeram seus deuses para o novo mundo. São compostas de ingredientes
vegetais, minerais e animais, usadas para várias finalidades.
Os chamados "atins de feitura", tem como finalidade purificar o corpo físico do
iniciado e ao mesmo tempo facilitar o transe. Os africanos acreditam que, quanto
mais djasi(djassi) eles passarem no corpo, mais aumenta a força de seu Vodum no
transe.
A diferença no uso dessas porções no Brasil e na África, é que aqui são usadas
somente durante os rituais interno e na África são usadas em público, isto é,
durante os rituais e festas é colocado um recipiente contendo porções mágicas que
os vodunsis passam com abundância em seus corpos quando os Voduns começam
a manifestar-se em seus filho.
O djasi é muito usado em algumas regiões do Benin. Consiste em uma pasta feita
com farinha de milho, óleo de palma e ervas sagradas.
Os Ata (atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun (mácum (sementes)), nhido
[(nidô), nhifo (nifô) e nhijou(nijou) - elementos animais], nhijou toubome (nrijoutoubômê
(manteiga do reino)), nhizou (nizou )chifre)), yicca (iicá (mandioca ralada
e seca)) e o zume (zumê (matos e folhas)); são alguns dos gris-gris(glisglis
(ingredientes para pós mágico e amuletos)) vendidos nos mercados de todas as
cidades no Benin.
Os Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e as Dehes (dérés) são alguns(as)
dos sacerdotes responsáveis pela fabricação dessas porções mágicas. O Akpagan é
uma espécie de médico curandeiro que conhece as propriedades terapêutica de
todos os gris-gris.
Existem ainda aos porções mágicas denominadas "Zoha (zorra)", pós mágicos
usados para feitiços. São preparados pelos sacerdo-tes e adivinhos que os usam
para afastar pessoas, desocupar casas, desmanchar feitiços, etc. A zorra é um
poderoso elemento quando bem feito e usado. Devemos lembrar que, feitiço, não é
sinônimo de maldade ou coisa ruim. No feitiço, também encontramos a cura para
doenças e a solução para vários problemas.
Finalizando, concluímos que os chamados atins são mais um recurso utilizados por
nós e por nossos deuses para um intercâmbios maior entre nós e eles, como
também para a solução de vários problemas.