quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CULTURA IORUBÁ - DA ÁFRICA PARA O NOVO MUNDO - 1ª PARTE

O que levou ao colapso o velho império Oyo? Uma versão popular da história oral é que o império caiu porque o alafim Awole (1789-c.1796), fraquíssimo imperador que sucedeu ao alafim Abiodun (c.1774-1789), rogou uma praga no povo iorubá!

Awole fora removido do cargo e, como previsto pela constituição do império, teve que cometer suicídio. Segundo a lenda, seus chefes o depuseram do cargo porque queriam que o império começasse a participar do lucrativo comércio de escravos. A constituição do império demandava a unanimidade entre o imperador e o Oyo Mèsì (seu importante Conselho de Chefes). Oyo Mèsì tinha oito membros e não sete como erroneamente foi informado por muitos escritores, estes são: Basorun, Agbakin, Samu, Alápìíni, Lágùnà, Akinnikú, Asípa e Onàa-Modéékè.

Qualquer imperador que não pudesse conseguir a unanimidade entre ele e Oyo Mèsì era deposto e tinha que cometer suicídio. Essa previsão fora inserida na constituição como uma medida "democrática" para proteção contra a autocracia real. Ainda segundo a lenda, antes de cometer suicídio, Awole proferiu a maldição: "o povo será escravizado por toda a Terra". Após proferir a maldição, ele disparou uma flecha para o Norte, Leste e Oeste e esmagou no chão um pote contendo poderes ocultos. "Assim como ninguém remenda o pote esmagado, ninguém será capaz de reverter minha maldição sobre o povo iorubá". Isto é o que se conhece por Ègún Awóle, a irreversível maldição de Awóle.

Há, naturalmente, uma melhor explicação para o porque do colapso do império. Essa explicação diz respeito a vários problemas constitucionais inerentes ao império.

A constituição continha certas medidas que tornavam difícil, senão impossível, para um dirigente fraco sobreviver muito tempo como imperador. Para começar, embora os títulos de alafim e da Oyo Mèsì fossem hereditários, a constituição continha tendências democráticas que estavam em conflito com esses cargos hereditários.

Por exemplo, suponha-se que os membros da Oyo Mèsì fossem a "boca" do povo porque suas opiniões eram moderadas e formadas por vários grupos sociais e organizações dentro da sociedade. Uma dessas organizações era a poderosa sociedade Ogbóni. Os Ogbónis eram mais ou menos cortes de apelação em cada cidade-estado do império.
Embora a cidade de Oyo fosse a capital, ela também funcionava como qualquer outra dentro da confederação que era o império. A cidade de Velho Oyo tinha seu próprio Ogbóni que limitava os poderes do Oyo Mèsì.

Depois, as decisões do Oyo Mèsì e do alafim tinham que ser tomadas unanimemente, muito embora o alafim não fosse, estritamente falando, um membro do conselho executivo. Isso acontecia porque o Oyo Mèsi deliberava independentemente do imperador, somente depois que chegavam às suas conclusões eles as apresentariam ao imperador. Se houvesse uma disputa irreconciliável entre o alafim e o Oyo Mésí, o alafim seria deposto do cargo porque o Oyo Mèsì era visto como a voz do povo.

Ademais, no dia-a-dia os assuntos do império eram conduzidos por eunucos que a literatura inapropriadamente se refere como "escravos". Estes eunucos, chamados Ìlàrí, eram dirigidos por três eunucos muito poderosos: Ona Efá (eunuco do meio), Otun Efá (eunuco da direita) e Òsì Efá (eunuco da esquerda).

Em todas as questões essenciais, estes eunucos eram mais poderosos que a Oyo Mèsì porque eram responsáveis pelas questões administrativas do império. Eles também eram coletores de impostos e enviados que viajavam por todo o império (ver Law, 1971-1977, para mais detalhes dos problemas constitucionais do velho império Oyo).

Outra lacuna do poder é que não havia separação real entre religião e Estado. O imperador e o Oyo Mèsì eram os mais altos líderes das divindades mais importantes da religião iorubá.

O alafim era reverenciado como representante de Xangô,o deus iorubá do trovão, do raio e da justiça.Cada um dos oito membros do Oyo Mèsì eram também líderes de uma importante divindade ioruba.


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......... CONTINUA

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