Oxalá cria a galinha d’angola e espanta a Morte
Há muito tempo, a Morte instalou-se numa cidade e dali não quis mais ir embora. A mortandade que ela provocava era sem tamanho e todas as pessoas do lugar estavam apavoradas, a cada instante tombava mais um morto.
Para a Morte não fazia diferença alguma se o defunto fosse homem ou mulher, se o falecido fosse velho, adulto ou criança. A população, desesperada e impotente, recorreu a Oxalá, rogando-lhe que ajudasse o povo daquela infeliz cidade.
Oxalá, então, mandou que fizessem oferendas, que ofertassem uma galinha preta e o pó de giz efum, fizeram tudo como ordenava Oxalá. Com o efum pintaram as pontas das penas da galinha preta e em seguida a soltaram no mercado.
Quando a Morte viu aquele estranho bicho, assustou-se e imediatamente foi-se embora, deixando em paz o povo daquela cidade. Foi assim que Oxalá fez surgir a galinha d’angola. Desde então, as iaôs, sacerdotisas dos orixás, são pintadas como ela para que todos se lembrem da sabedoria de Oxalá e da sua compaixão
Orixalá ganha o mel de Odé
Orixalá vivia com Odé debaixo do pé de algodão, Odé ia para a caça e levava sempre Oxalá, eles eram grandes companheiros, mas Odé reclamava sempre de Orixalá, que era muito lento e andava devagar, estava muito velho o orixá do pano branco, e Orixalá reclamava de Odé Oxossi, que era muito rápido e sempre andava bem depressa, era muito jovem o caçador, então os dois resolveram se separar, mas Odé estava muito triste, porque fora criado por Orixalá, e Orixalá estava muito triste, porque fora ele quem criara Odé.
Odé disse então a Orixalá que todo o mel que ele colhesse seria sempre dado a Orixalá e que ele mesmo nunca mais provaria uma gota, reservando tudo o que coletasse ao velho orixá, e que Orixalá sempre dele se lembrasse, quando comesse seu arroz com mel do caçador.
Nunca mais Odé comeu do mel, nunca mais Orixalá de Odé se esqueceu.
Oxaguiã manda libertar o amigo preso injustamente
O filho de Oxalá tornou-se um guerreiro forte e decidiu um dia conquistar um reino para si. Partiu em companhia de seu amigo Auoledjê, conquistou Ejigbô, tornando-se seu rei, o Elejigbô. O rei tinha uma grande paixão, comer inhame pilado, e comia com gula, tanto que o chamavam Oxaguiã, que quer dizer “Oxalá Comedor de Inhame Pilado”.
Um dia Auoledjê, que era grande babalaô, precisou partir de Ejigbô, antes disso, aconselhou Oxaguiã que fizesse oferendas, que tornariam o reino próspero.
Assim, como previa Auoledjê, Ejigbô tornou-se uma grande cidade, rica e bem guardada pelos bravos soldados de Oxaguiã. O rei Elejigbô vivia em fausto entre seus súditos, por quem era chamado de “Kabiyesi”, que é o mesmo que Sua Majestade.
Na intimidade os amigos o chamavam de “Comedor de Inhame Pilado”, mas em público isso era uma heresia. anos mais tarde, Auoledjê retornou a Ejigbô. ao adentrar a cidade, procurou logo por oxaguiã, “Onde está o Comedor de Inhame Pilado?”, perguntou, os soldados, que não o conheciam, ficaram furiosos com tamanha insolência. Isso era jeito de se referir ao rei?
Prenderam e maltrataram o desconhecido amigo de Kabiyesi, Auoledjê ressentiu-se da humilhação, com seus poderes mágicos, vingou-se. Durante sete anos todas as catástrofes conhecidas, e não faltando a seca, assolaram o reino de Oxaguiã.
Oxaguiã, desesperado, procurou os adivinhos, e pelo oráculo eles viram a prisão de Auoledjê, um amigo de rei estava preso injustamente. Oxaguiã correu para prisão para libertar o velho amigo. Oxaguiã libertou-o, mas ainda ressentido, escondeu-se na mata.
Elejigbô buscou o velho amigo, suplicando seu perdão, Auoledjê cedeu com uma condição: que nuca aquele povo se esquecesse dessa injustiça, Todos os anos o povo deveria flagelar-se, em memória do funesto acontecido.
Assim, todos os anos, o rei deveria mandar pessoas à floresta cortar varetas. os súditos, divididos em dois grupos, tomariam as varas, simulariam golpes uns nos outros, sem parar, até que as varetas se quebrassem, para que nunca se esquecessem daquela injustiça praticada contra o amigo de Oxaguiã.
Assim foi feito e o reino de Oxaguiã voltou à tranqüilidade e Oxaguiã foi o maior dos reis de Ejigbô. Quando ele foi para o Orum, transformado em orixá, seu culto não se esqueceu do velho amigo babalaô, coma as varetas de Oxaguiã, com atoris, seus adeptos renovam sempre a memória da injustiça, para que ela não volte a acontecer.
Oxaguiã inventa o pilão
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra, ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer, gostava muito de uma mesa farta, comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado, jamais se sentava para comer se faltasse inhame.
Seus jantares se estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame, Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.
Oxalá então consultou os babalaôs, fez oferendas a Exu e trouxe para humanidade uma nova invenção. O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras.
Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de “Orixá Comedor de Inhame Pilado”, o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Maravilhoso o seu blog, meu irmão.
ResponderExcluirGostei muito das postagem. São pessoas como você que fazem toda a diferença dentro da nossa religião.
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Forte abraço.