A CASA EM FESTA - OS SÚDITOS - 1ª PARTE
O sol se põe, e começa a escurecer na casa de Obaladô . A casa de
Xangô , especialmente iluminada nestedia,
aguardava o início da festa. As árvores do terreiro foram plantadas por Obaladô
a mais de 21 anos,quando recebera de Xangô , seu orixá, a ordem de abrir
uma casa – de – santo.Lenta e calmamente, interrompe suas divagações, dirigindo-se para frente da
casa – de – Airá sentando-se
em um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira,
armada be cedo e jácontendo os axés próprios do orixá do
fogo.A um aceno seu , uma filha de Oiá traz o seu Adjarim Obaladô ,
com delicadeza, apanha a sineta que, aoser vibrada, anuncia o
início de uma reza.As esteiras são
estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a
cabeça nochão, em direção a Obaladô. Sua voz faz-se ouvir, então, salmodiando
cada verso como um lamento, umcanto em solo é ouvido e que se
repetirá por três vezes. È um lento responsório, em que o oficiante cantaprimeiro,
acompanhado em um segundo momento , pelos presentes.
Oba kawòó o
Ó Rei, meus cumprimentos.
Oba kawòó o
Ó Rei, meus cumprimentos.
O, o, Kabíyèsílè
Sua majestade, o Rei mandou construir uma casa.
Oba ni kóléOba séré
O Rei do xere, o Rei prometeu e traz boa sorte,
Oba njéje
o dono do pilão.
Se´re aládóBongbose O ( wo ) bitiko
Bamboxé abidikô, meus cumprimentos ( ao )
Osé Kawòó
Oxé, sua majestade.
O, o, Kábíyèsilé
Meus cumprimentos.
O som do Adjarim marca
o início do paó, palmas compassadas que a anunciam uma nova reza para oorixá do fogo.......
o cântico continua:
Ó níìka, ó Níìka
Ele é cruel, ele é cruel(o trovão ).
Áwè jè atètú
Eu jejuo para o punidor.
Badé, badé ìyá Tèmi
Badé, badé, meu espírito sofre
Ó níìka, ó níìka árá ìn álàde o
Ele é cruel, o trovão é cruel sim. O dono da coroa é cruel.
Ó níìka àwe jé atètu
Ele é cruel, ele é cruel(o trovão )Eu jejuo para o punidor.
Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó Ma sè
Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó Ma sè
Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
Yèyé, kèrè-kèrè lo ni joko ayagba
O pássaro vagarosamente senta e chora para as grandes mães.
Ale odó ma sè
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
A reza diz que o trovão é cruel, implorando a Badé... "ele é a voz estrepitosa e aterrorizante do Trovão, é aforça que
deflagra a carga irregular dos raios". Os nagôs dizem
ser Badé é um vodum , isto é, de origem
jêje , e que os jêjes
do maranhão, dizem que é um orixá nagô e
que, quando ele se apresenta na Casa –das –Minas , fala
por sinais para não revelar os segredos dos nagôs.Os pássaros lembram as feiticeiras que ameaçam os seres humanos, é
necessário implorar as grandesmães senhora dos pássaros, para que não
flagelem os homens.
Airá também é mencionado no texto sagrado, recolhido entre os que se originam
do axé de IÁ Nasô . Este orixá ocupa um lugar especial nesta comunidade,
estando ligado a primeira no nominação... Axé AiráIntilé. Novamente o Adjarim anuncia que o Rei Xangô continuará
sendo louvado, e uma nova reza começa:
Oba ìrú l´òkò
O Rei lançou uma pedra.
Oba ìrú l´òkò
O Rei lançou uma pedra.
Ìyámasse kò wà
Iyámasse cavou ao pé de uma grande
Ìrà oje
árvore e encontrou.
Aganju ko má nje lekan
Aganju vai brilhar, então , mais uma vez como trovão.
Árá l´okò láàyá
Lançou uma pedra com força (coragem)
Tóbi òrìsà,
O Grande Orixá do orum (terra dos ancestrais) vigia.
Oba só òrun
O Rei dos trovões, está no pé
Árá oba oje
de uma grande árvore ( pedra de raio )
A oração saúda o Rei dos trovões, como sendo Aganju, o Alafin de Oió, filho deAjaká e
sobrinho deXangô Iamassê considerada
sua mãe é quem revela aos mortais, que a pedra de raio, símbolo do seupoder, é
encontrada ao pé de uma grande árvore. O brilho dos raios e o barulho dos
trovões lembram que Aganju vigia do orum , terra dos
ancestrais, seus súditos fiéis.O Adjarim
marca um novo momento,
Obaladô levanta-se e se dirige a casa de Xangô pousando no chãoda mesma
uma gamela cheia de Amalá , a comida predileta deste orixá.
Béè ni je a! pá bo
Sim, comer(amalá)dentro(de uma gamela) com satisfação, de uma só
vez,adorando.
Je bí o o ni a! pá bo
Comer, nascer dele, dentro(de uma gamela)com satisfação, de uma só
vez,adorando.
E ni pá léèrín àdá bá lài
Cortado muitas vezes(o quiabo),sempre com cutelo, dentro da gamela
Ìmó wá mònà mòwé
Procurar conhecimento,
Kó je nà mímò àsé
certamente torna inteligente.
Kó je nà mímò àsé
A comida (amalá) faz adquirir
Kó je nà mímò àsé
e aumenta o conhecimento do Axé.
A reza indica
que, ao se desfrutar da comida sagrada, descobre-se o axé, isto é, a força, que
dáconhecimento e
sabedoria aos que delas usufruem.Nos últimos acordes da reza, os ogans de Xangô pousam os xeres e acendem a
fogueira. Varias vozes gritam.
Kawòó Kàbíyèsilè !!! Kawòó Kàbíyèsilè !!!
Meus cumprimentos à sua majestade !!!
Alguns minutos decorrem entre as imagens fortes do
fogo e o início do xiré do Rei de Oió , no barracão. Oritmo da Hamunha convida a todos, os da casa e os
convidados a iniciarem a roda de Xangô
.Começa o xirê, louvando Ogum ,
em seguida, Oxossi, Obaluaiê, Ossaim , até que, repentinamente,
ouve-se o som do batá ritmo próprio de Xangô.
Àwa dúpé ó oba dodé
Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.
A dúpé ó oba dodé
Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.
A dupé ni mòn oba e kú alé A dupé ni mòn oba e kú alé
Nós agradecemos por conhecer o Rei, boa noite a vossa majestade.
Ó wá , wá nilè
Ele veio, está na terra.
A dupé ni mòn oba e kú ale
Nós agradecemos por conhecer o Rei
Os primeiros cânticos dirigem-se ao Rei, a Xangô .
Sua presença é louvada e a sua saga mítica serácontava através do canto
e da dança. Não será somente o seu aspecto guerreiro que será
homenageado,outros serão lembrados.... O Xangô justiceiro será um deles.
CONTINUA
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