quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O RITUAL DO SACRIFÍCIO - COPAGEM - 3ª parte


3a parte


Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é sacrificado um cordeiro para Alláh. Mas ninguém gosta de agredir o Islã. E sabem muito bem o porquê !


Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos templos verdadeiramente consagrados aos Orixás. Tiradas as partes sagradas dos animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos ofertantes. Não há desperdício nos Ilé Orixá, em respeito à natureza, conforme nos determinam as Divindades.


Os animais ofertados não podem sofrer para serem imolados, conforme nos determina o Orixá Ogun Olóòbe, o Senhor da Faca. O ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência, onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados devidamente preparados por anos cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não cabe a qualquer pessoa despreparada.


Há uma liturgia a ser seguida a risca em detalhes, onde o epo pupa (azeite de dendê), iyò (o sal), oyin (o mel), omi (a água), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são rezados e encantados recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura, fertilidade, alegrias e paz, afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos em troca da oferta.


Sem que nunca se esqueça de ofertar para Onílè (o globo terrestre) sua parte, pois é ele quem sustenta os nossos pés. Esta frase metafórica Yorùbá nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma reencarnação no Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela durante os ritos de oferendas.
Só pode ver maldade em uma ritualistica dessa quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo realizado num ritual em nome de Deus.


Pois graças a esse Deus, Olodùmarè, nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa cultora religiosa. Para a cultura Religiosa Yorùbá Deus não "permitiria que os Anjos Caíssem". Quem faz mal aos homens é o próprio Homem ! Nós somos raízes da Energia Universal (Oloorum) e por isso mesmo temos o poder criador.


O diabo foi criado nada menos que pelos Cristãos, pela necessidade de justificar suas deficiências e erros e o mesmo (diabo) vem criando poderes através da energia emitida por determinados evangélicos modernos que o mentaliza e o supre energeticamente através da suas invocações e exorcismos diários. Nosso Deus jamais criaria o Demônio, pois o mesmo é a antítese de Deus, senão o mesmo não seria Onisciente, Onipotente e Onipresente!


A Religião dos Orixás não deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel em mais uma passagem pela vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos deixados pelos Orixás.


Desejamos somente crescer nas experiências de viver. Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos criados sendo deuses.


Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.

O RITUAL DO SACRIFÍCIO - COPAGEM - 2ª parte



2ª parte

A Religião dos Orixá é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de obter fins lucrativos. O que era feito há 6000 anos é mantido até hoje por nós, mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já desgastada. Hoje o Homem é culto, busca informar-se e encontra a verdade relativa ao nosso mundo religioso.

O Orixá nunca esteve envolto ao mundo da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado a demônios somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal. Nós pregamos os ensinamentos dos Orixás que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de autoria duvidosa.

Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade do Homem fiel a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e transmitindo-os pela oralidade. Não temos livros sagrados adaptados a cada momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas.

Não expulsamos demônios em forma de "teatro" para enganar pobres coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos, sem provas. Não "amarramos" espíritos ruins em nome de Deus. 




O que desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião dos Orixás, tem como objetivo ( RELIGAR) o Homem a Deus através da manutenção de ritos tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das verdadeiras Ègbé (Sociedades).

Desejamos mostrar com clareza que nossos verdadeiros Sacerdotes são homens sábios, estudiosos e perseverantes na sua religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos ( Orixás Yorùbá ).

Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por Deus, conforme também era praticado em Israel. Além do mais, a energia pura do Orixa, absorve a essência espiritual do animal a ele imolado e a eleva espiritualmente, evoluindo-o rapidamente, o que deveria levar milhões de anos para evoluir na escala espiritual, sem contar que, a carne do animal é consumida durante as festas, proporcionando a energia da satisfação alimentar, que o Orixá absorve e transforma em realizações das necessidades materiais dos ofertantes. O sacrifício é necessário, tanto para a evolução espiritual do animal, como para a alimentação dos participantes (comer animal vivo, sem sacrificá-lo é realmente impossível!)

Continua,

O RITUAL DO SACRIFÍCIO - COPAGEM - 1ª parte


O RITUAL DO SACRIFÍCIO
1a parte


Um dos objetivos deste estudo, é dar subsídios para que os iniciados, os estudiosos e os freqüentadores do Candomblé, possam argumentar sobre assuntos polêmicos que envolvem nossa Religião, a Religião dos Orixás. Dentre os vários assuntos, temos os rituais que envolvem os sacrifícios animais praticados habitualmente em nossos Rituais. Os Cristãos, Católicos e Protestantes, são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o seu Antigo Testamento, em específico o "Levítico", onde os sacrifícios, não só de animais, são relatados.


O Livro "The Lion Handbook to the Bible", Lion Publishing – England Herts – 1973 de autoria de David e Pat Alexander, relata que o Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo através de Moisés no Sinai. As cerimônias e outros ritos e normas não eram um fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado que o separava da presença de Deus.


Os israelitas infringiam a aliança com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a morte de um animal perfeito e inocente, em lugar da vida do pecador. Suas leis mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo, diz o livro.



Levítico 1-7 – Os Sacrifícios
1 - O Holocausto (capítulo 1 e 6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.
2 - Oferta de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhava muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).
3 - O sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)
4 - O sacrifício do pecado (4,1-5,13 e 6, 17-23)
5 – O sacrifício da reparação ( 5,14-26 e 7, 1-10)


O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante do tabernáculo. Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o representava e depois o imolava (sacrificava). Se o sacrifício era público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia com o sangue e com ele espargia o altar, queimando a seguir algumas partes específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote junto com os ofertantes.


Os sacrifícios exprimiam a gratidão do indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas de devoção e homenagem. O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.
O Sacerdote como representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram aceitos ou rejeitados por Deus.


A prática do sacrifício animal remonta ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas relações com Deus.


Este é um pequeno espaço histórico, para a dignificação da Religião dos Orixás, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs, principalmente pelas Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a mesma simbologia .


Continua, 

Vodun no Benin


Vodun no Benin

Uma característica existencial do homem desde o despertar de sua consciência é a religiosidade que brota a partir do limite que cede a ascensão necessária ao transcendente,não sendo limitado a um culto ou a um veículo estabelecido todos os homens são religiosos de alguma forma,mesmo que uns sejam mais do que outros.A religião de cada homem deve muito ás culturas das quais eles são essências.

No caso do Benin,é evidente que encontraremos algumas divergências no fenômeno Vodum.
A maior parte do povo beninense têm as raízes culturais muito semelhantes e praticamente a mesma origem histórica,por essas razões nessa região dos fons a religiosidade é manifestada totalmente em Vodum,mesmo para aqueles que se converteram a outras religiões.
Vodum é adorado e venerado como divindade. Isso também define o todo social o psicológico,e está em torno da estrutura sobrenatural deste tipo popular de religiosidade.Na verdade oVodum está no todo.

Antes da chegada de outras religiões no Benin, principalmente o cristianismo,todas as famílias faziam parte do culto Vodum.Quando esses missionários chegaram,tentaram converter a população alegando que Vodum era demônio. Encontram muita resistência por parte dos fons que tinham e têm raízes profundas no culto de seus ancestrais. Vejamos agora uma breve explanação sobre no que consiste o Vodum e seus objetivos.

Mawu,o Deus Supremo
A cultura do sul do Benin,representada pelos Fons,Gun,Mina e Ewe é considerada por uma mesma concepção de divindades. A convicção na existência de um Deus superior é geral,este Deus,conhecido como um Ser Supremo Transcendente,é chamado de Mawu,Ele criou tudo. Este Deus já existia entre esse povo muito antes da chegada das grandes religiões monoteístas (Cristianismo, Islamismo)

Para os Fon,este Deus Mawu também éconhecido como: Dada Segbô,Sêmêdô ou Gbedoto
dependendo a que obra de Mawu a pessoa esta se referindo.
Dada Segbo - enfatizando a criação do mundo.
Sêmêdô - enfatizando o princípio da existência.
Gbedoto - enfatizando o princípio da vida.

Mas,se não há nenhuma dúvida acerca do Deus Supremo Mawu na mentalidade desses povos,
então de onde vem esta prática de Vodum?Responder esta pergunta significa mostrar a
relação existente entre Mawu e Vodum.

Mawu e Vodum
Mawu é considerado o grande Deus supremo pelos fons e sendo assim não deve ser
incomodado a toda hora com os problemas pessoais.
Os fons acreditam que o ser humano não pode alcançá-lo se não for através dos Voduns.

Para o povo do Benin Mawu delegou sua força/ energia aos Voduns para que esses tomassem conta dos homens e os ajudassem. Vodum é identificado como uma criatura de Mawu de acordo com a expressão “Mawu wê do Vodu lê”(os representantes de Mawu estão entre os homens para atender suas necessidades) Vodum representa tudo que é sagrado e toda asenergias que vêem do mundo invisível para influências o mundo dos vivos.

Os Voduns recebem cultos devido à sua proximidade com os homens. Qualidades divinas são atribuídas a eles, caracterizados por serem espíritos que estão acima de todas as leis naturais. Não existe um culto específico para Mawu,a não ser orações e referências espontâneas como: “Mawu na blô”(Deus ajudará, Deus te ajude),“Kpê Mawu ton” (Deus pode tudo) que são utilizadas em diversas ocasiões.

Vejamos os setes primeiros Voduns que Mawu enviou a terra:
Sakpata - É o filho mais velho de Mawu,a quem a terra foi confiada,AyiVodum (Vodum da terra).
Sua energia é temida, seus atributos são a varíola e as manchas brancas e vermelhas na pele.Sakpata tem muitos filhos,incluindo Ada Tangni Vodum da lepra) e Sinji Aglosumato( Vodum das chagas incuráveis).

Xevioso(ou Hevioso/Xebioso) - Este é o JiVodum(Vodum do céu)que se manifesta como trovão e relâmpago. É o segundo filho de Mawu,considerado o Vodum da justiça,que castiga ladrões,mentirosos e criminosos. Xevioso tem vários filhos,incluindo Aklobé e Aveheketi.Seus atributos são:o raio,o machado duplo o carneiro a cor vermelha e o fogo.


Agbe - Este é ToVodum (Vodum das águas)
É representado por uma serpente símbolo de tudo que dá vida.Entre seus filhos está Dan Toxosu,que representa e protege os deficientes físicos e mentais.


Gu - É o Vodum do ferro e da guerra,que dá ao homem a sua tecnologia.Ele não aceita a cumplicidade com o mal.Por conseguinte é capaz de destruir todos os culpados por atos infames e criminosos.Esta personalidade de Gu é expressa pelos Fons como “da Gu do”(Gu castiga,Gu mata).


Age - Quinto filho de Mawu.É o Vodum da
agricultura e das florestas.Reina sobre osanimais e pássaros.


Djo - É o Vodum responsável pelo ar.


Legba - O filho mais novo de Mawu,o sétimo. Não ganhou nenhuma atribuição na terra,como os irmãos,por ser extremamente ciumento e cometer atos que prejudicavam os irmãos e os homens.
Recebeu de Mawu a guarda do portal entre os dois mundos;o dos homens e o de Mawu, ele passou a ser o mensageiro entre os irmãos,os homens e Mawu.Ele é tudo aquilo que está além do bem e do mal.






Ao lado dos filhos de Mawu se encontram Voduns protetores de clãs.Estes são os Toxwyo(antepassados divinizados)
Cabe a estes manterem o vínculo entre o mundo invisível e a vida diária dos que vivem no mundo visível.
De acordo com o que foi apresentado acima, podemos classificar os Voduns como:


Interétnico - Voduns associados à natureza: JiVodum,AyiVodum e ToVodum.
Interétnico - Voduns associados às histórias místicas:Leba e Gu.
Étnico-AkoVodum - Os Voduns ancestrais divinizados: Toxwyo,Agasu e outros.
GoroVodum - São Voduns mais modernos cultuados principalmente em Ghana.
Eles protegem contra feitiçarias:Kokun,o Vodum das forças misteriosas e violentas é um deles.


Após estas investigações, parece ser importante uma pergunta:então o que é Vodumexatamente?
Pode ser dito que Vodum constitui uma classe especial de criaturas de Mawu, vivendo entre os homens. Ele está acima da humanidade,mas não é “Deus”. As expressões Fon definem: “Vodum gongon, Vodum d’ablu” (Vodum é mistério, Vodum é segredo)É por isso que Mgr. Robert Sastre disse: “devemos nos referir ao contexto social e cultural que invoca Vodum a fim de aprender o que realmente é Vodum”.


Dentro do que foi dito acima, surgem algumas questões: Quais as práticas ou implicações que ilustram suas manifestações? Vodum pode ser assimilado como fetichismo ou até mesmo naturalismo? Que relação estabelece entre o indivíduo iniciado em seu culto e o seu todo cósmico, social e ambiente espiritual?


Estes podem ser naturalismo, fetichismo, expressões e manifestações animistas,mas a visão básica é o argumento do naturalismo e fetichismo Vodum ligado a alguns epifenômenos em sua prática.
Vodum está relacionado a diversos elementos do universo e a objetos materiais nos cultos de devoção,onde são retratados e sacrifícios lhes são oferecidos (montículos de terra,barras de metais,árvores,pedras etc)


Isso nos impele a outras perguntas:Vodum é uma pessoa?Ele está no mesmo patamar que o homem?Ou está acima ou abaixo dele? A resposta a estas questões podia ser aquela em que Vodum é a estrutura ética e religiosa que estabelece uma sociedade,mas esta seria uma visão limitada de Vodum.


Certas pessoas erroneamente igualam Vodum a Fetiche. Realmente, alguns vêem o culto do Vodum como uma idolatria primitiva de objetos materiais ou como um culto de matéria,sem se importarem com sua rica funcionalidade que ilustraremos abaixo. Alem disso, convém notar que estas visões erradas devem-se às abordagen etnológicas do fenômeno de Vodum que se abstém à sua função apenas física, cósmica e social na mediação religiosa.

É verdade que“Me we no ylo do Vodu b’e non nyin Vodu”(não é porque o homem o chama Vodum que é Vodum)mas por ver nele forças geradas pela interação complexa de sentido, intenções,gestos e palavras ditas. Está além de uma questão de suporte antropológico o qual coloca Vodum num sistema simbólico onde deve ser a sua performance a mediação necessária do físico e,em sendo assim,da matéria em geral. Deste modo seria mais correto traduzir“Me we no ylo do Vodu b’e non nyin Vodu” como: Uma atitude pessoal de identificação e aceitação do sagrado com o símbolo.


Vodum evoca o mistério e tudo que se refere ao divino.Desta maneira,a suspeita é retirada pelo menos no que diz respeito à essência ainda que permaneça nas manifestações um tanto que desviadas do fenômeno Vodum.E a globalização dasrelações de que Vodum é um símbolo é ainda uma outra prova disto.


A palavra“Gbe”que significa“a vida” significa igualmente “O Universo” E é este segundo significado que focalizamos aqui.O universo criado no seu desenvolvimento cósmico não é estranho ao desenvolvimento de Vodum.


Nas expressões concretas do universo há um Vodum da terra(Sakpata)um Vodum do céu (Xevioso)um Vodum da águas(Agbe)e Voduns que representam os antepassados (Toxwyo) como vimos.


Na verdade, todos os elementos do universo são implicados no fenômeno Vodum. Não é o que a mentalidade da imaginação do sul do Benin concebe de uma cosmogênese de Vodum: Vodum não é o gerador nem o criador do universo,mas seu elo com tudo da natureza,é uma mediação e a proteção do homem. Com efeito,a sua relação com“Gbe”encontra apenas o seu significado pela sua relação com o“Gbeto”(o homem).


Vodum e o Homem
A religiosidade se manifesta num homem através do fenômeno Vodum,a motivação
para que ele faça e use símbolos que representem seu Vodum.Além disso os homens dizem que Vodum é um mistério,é o inefável quando se concentram noselementos naturais,é o extraordinário, o herói e o poderoso em questões de existência humana. Enquanto o homem não conhece o nome de seu Vodum, ele o chama de“nu me sen”o venerável o adorado. Isso durante o princípio de sua iniciação no culto.


Depois de identificado o Vodum,o homem passa a ser dominado por ele.Doravante nenhum aspecto da vida do homem acontece sem que seu Vodum saiba e participe.


O Fá,mensageiro do Vodum,intervém enquanto a criança está no útero materno. Identifica o destino e se necessário,o altera. Semelhante a todos os nascimentos e através das situações existentes, Fá participa das iniciações dos Voduns. Curiosamente e paradoxalmente Vodum não acompanha seu iniciado na morte física. No enterro de um vodunsi são feitos rituais para remover o Vodum do morto.Aqui encontramos dois significados importantes:


1)O Vodum toma conta dos vivos e não dos mortos.
2)Vodum é um intermediário entre seu iniciado e Mawu e,quando ocorre a morte física,Vodum volta para Mawu. Como princípio de mediação,Vodum tem um papel importante na organização da sociedade humana.


Agbasa-Yiyi (sala da vida)
O agbasa-yiyi é de suma importância na vida do povo Fon.É o primeiro de uma série de três rituais de iniciação ao culto Fá. Meninos e meninas podem ser iniciados até a segunda etapa do culto, porém somente os homens poderão chegar à terceira etapa.


A cerimônia do agbasa-yiyi não tem rigorosamente data fixada porém não poderá ser feita após os três meses do nascimento.








A proposta do Agbasa-Yiyi é apresentar a criança na “sala da vida”(agbasa)e aos ancestrais.É um rito da integração de uma ou de várias crianças da mesma geração dentro da comunidade familiar,incluindo os antepassados e os espíritos protetores da família.


A consulta do Bokono revela o Joto da criança, em outras palavras,o Vodum ou o Mexo (antepassado às vezes divinizado)


1a parte - Portal do não retorno-Rep.Benin
2a.parte - Vodunsi Sakpata - Abomey-Rep.Benin
3a.parte - Vodunsis -Cotonou-Rep.Benin

O Joto é a referência de uma forçaprotetora.É um elemento dinâmico que intervém na formação da personalidade do indivíduo. O Joto é a parte vital que anima a criança.Ele pode ser chamado de Sê-Joto ou Sê Mekokanto (SÊ-o que molda o corpo humano com a argila).É ele quem apresenta para o Deus criador o barro do qual foi modelado o corpo do recém-chegado para a vida terrena(Gbe-Tome).Ele é a energia vital e espiritual que molda e conduz a existência da pessoa. O Joto é o pai da vida para a existência o colaborador direto de Mawu na geração da criança.


Uma vez que o JOTO é conhecido, diz-se a seguinte saudação“SÊ Doo Nú We” (seja bem-vindo, oh, SÊ!).Esta saudação de boas-vindas é feita pelo ritual do Jono Kpikpe (encontro,boas-vindas ao estranho, ao convidado) Em princípio a criança não recebe o nome de seu Joto, o nome será dado após esse(o Joto)ser consagrado e cultuado,quando então a criança usará este nome dentro da religião e foradela. Se o indivíduo for chamado por um outro nome haverá severas penalidades.


Apesar da terminologia ambígua do termo Joto, qualquer idéia de reencarnação esta absolutamente descartada.A criança não é a reencarnação do seu Joto ancestral.


A religião Fon está convicta de que o SÊ é imortal. Quando uma pessoa morre e vai para o Yêsùnyimê(mundo dos espíritos, mundo metafísico) o SÊ volta para Segbo (o grande SÊ, que é Deus) em outras palavras para suasorigens seu estado original.






O papel do Joto é colocar suas mãos na cabeça do candidato à vida (alodotanumêto),e oconduzir na terra, ser sua sombra protetora. Não há reencarnação, mas uma transmissão de personalidade.A alma individual do Joto não se reencarna em seu protegido,mas transmite sua parte social e seu status. Uma prova disto é que muitas pessoas podem ter o mesmo Joto.


O Sê-Mekokanto (ancestral que reuniu o barro e modelou o corpo da criança recém-nascida) coloca na criança sua personalidade social,a que Ele se tornou através de seu processo histórico,o qual aquele personifica por toda a vida,e que é mantido pelo grupo que irá educar a criança recém-nascida.


A personalidade social e a consciência histórica que o ancestral leva ao seu descendente constituem uma herança fisiológica que dá significado à sua vida e coincide com o que foi mencionado acima. O ancestral protetor vem para materializar o direito da segurança e manutenção da vida. Assim o Sê-Mekokanto assegura a continuidade da vida da família da qual ele foi um dos primeiros elos importantes.


O Joto é às vezes ajudado em sua missão por um outro ancestral ou espírito divinizado, agindo como um Joto auxiliar ou companheiro do primeiro,uma realidade que é vista pelo FON como um valor inestimável.
Para identificar o Joto,primeiro precisamos determinar o DÚ,que é o nome dado ao signo ou figura encontrada no sistema divinatório do FÁ.


Existem vários signos que servem para revelar o Joto da pessoa.A partir de agora,o DÚ que foi revelado e o Joto constituem dois componentes inseparáveis do pessoal,social e destino religioso do indivíduo. Enquanto o Joto é a parte tipológica do indivíduo,o DÚ é a vontade de buscar e saudar a desejada terceira parte (SÊGBO).


Manifestado perto do Joto,o DÚ é a palavra do oráculo, a voz do ser supremo sobre cadapessoa. Como a voz do Sê,DÚ é também o caminho que Sê traça para o homem seguir. DÚ é a palavra de vida dada como uma medida de direção para quem acaba de entrar na terra da vida (gbêtomê)e dentro do mundo dos homens (gbêtolê mê)Ele traça o caminho a ser seguido em outras palavras,ele estabelece a lei (SU).
Até a criança atingir a idade da razão, é a mãe que respeita os mandamentos de seu DÚ. Em geral as mães tomam para elas a responsabilidade de seguir estes mandamentos para o resto de suas vidas. Sendo assim elas demonstram que a vida deve ser preservada e todos devem cooperar para que isso seja mantido.

AGOO-MA-YI-SOGWÉ é o estágio que denota o final da adolescência (por volta dos 20 anos).
Neste período a segunda iniciação para FÁ acontece e é chamada de Fá-Sinsên(adoração a FÁ) ou Fá-Yiyi(recepção do FÁ).


Neste período de suas vidas,rapazes e meninas estão geralmente vivendo uma crise dejuventude.
Diz-se que a juventude é“perturbada” por FÁ.O adolescente deverá “receber” e “adorar”FÁ em ato público religioso,lutando contra si mesmo pois deverá proferir o mais profundo“SIM” à vontade de DEUS (GBÊ)para que se tornem mais fortes.A consulta do FÁ revela o signo(DÚ)sob o qual os rapazes ou moças se apresentarão.Este será o DÚ (palavra do oráculo)dos adolescentes. Para cada um e com cada um,o Bokono(adivinhador)retira o adrá,em outras palavras ele oferece o sacrifício que tira os obstáculos dos caminhos,acidentes e infortúnios(adrá).A eles é dado o FÁ e eles o recebem,é a palavra de Mawu-Gbêdoto(Deus)para cada um que definitivamente deixa a infância e entra para a vida adulta.






A terceira iniciação para o FÁ é reservadasomente aos candidatos homens.Eles atingiram a fase adulta.É a porta,ainda que uma porta estreita para os segredos do sistema divinatório de FÁ,é chamada Fá-Titê(consulta do Fá)um rito através do qual o Fávi (filho de FÁ)recebe a revelação de todo seu destino.


Desnecessário dizer,dado o caráter esotérico desta iniciação comparada às anteriores,que os não iniciados e as mulheres não são nemmesmo aceitos como espectadores. A cerimônia acontece no Fázun (floresta de FÁ)Como um iniciado o candidato tem um Bokono responsável por ele.O Bokono pega com asmãos juntas as nozes sagradas, reza três vezes para Mawu-Gbêdoto (Deus Do Criador)pedindo que envie o Joto do Fávi ao lado de seu protegido. Assim, sob a proteção de seu Joto,o Fávi manipula o Fágbo (oráculo de Fá com 36 nozes)para extrair a figura parcial do DÚ (signo do oráculo) e conforme Fá vai respondendo os signos são traçados no solo.Uma vez que o signo é formado,o Jogbona (o assistente do Bokono na cerimônia) o lê em voz alta.


Após a leitura dos signos traçados no solo,o Jogbona junta a terra onde o DÚ foi escrito e coloca em um saco de tecido.Isso constitui oKpoli do Fávi(sinal visível do princípio espiritual que está no homem,o visível sinal de SÊ) Após este,outra consulta é feita para assegurar que o sinal que saiu é para o bem do Fávi.Uma resposta positiva de FÁ é saudada com alegria e satisfação por todos.Para uma resposta negativa, será feita uma oferta de sacrifícios para tirar Ku (morte), Azon (doença), Hwê (culpa), Hen (pobreza, miséria).


Ao final deste sacrifício de exorcismo,o Fávi passará por um ritual de banho de água fresca.O cabelo do Fávi,unhas,e tudo que nele epresente impurezas,são enterrados na floresta sagrada. Todos voltam para casa do Bokono,que é o pai espiritual do Fávi. Se o significado esotérico do sinal não for legível para todos os participantes da cerimônia,e por causa do FÁVI, depois que saem da Fázun(floresta sagrada)eles se reúnem na casa do Bokono onde os mais velhos dão as devidas explicações e no caso de dúvidas o Bokono se pronuncia.


Ao longo do período de iniciação,o sexo não é permitido ao Fávi,ele está num período de clausura e num relacionamento especial com o sagrado.A abstinência sexual proporciona ao candidato a preservação de toda a sua energia vital, força Divina.A liberação do sexo acontece após o terceiro dia de seu retorno da Fázun.


Isso acontece após uma próxima consulta de FÁ para ter certeza que o DÚ do Fávi veio para seu bem.Após esta consulta e a liberação do sexo o Bokono faz recomendações para o Fávi. Isto é um tipo de tradição na constituição de seu novo estado.Deverá haver um sentido de irmandade entre os outros Fávi havendo também respeito ao pai espiritual,bem como para os outros Bokonos.


Finalmente o Fávi está vestido com suas roupas de tecido branco,então ele irá par a casa com seu FÁ. Ele é um iniciado completo doravante sabe o significado da vida.


O Noviciado,O vodunsi - Escola da Vida No dia exato em que uma criança entra no Hun-Kpame,ou Vodum-Kpame(convento,templo)o Vodum toma posse da criança que por trêsmeses será chamada de KAJEKAJI(neófito)O que nós chamamos de “noviciado”é o processo que os fará tornar-se na verdade o que eles misticamente já são.


Os neófitos são cuidados pelo Xwegan(que é o cabeça do templo) o Kangan (responsável pela disciplina) o(a) Hunso e a(o) Nagbo que são mestre e mestra do noviço respectivamente. O Hunkpame(convento)é uma escola severa de renúncia e resistência.Dentro dela os eleitos são iniciados no culto dos Voduns,a quem foram consagrados para a vida toda.


Iniciar-se para o Vodum é o momento de particular importância e de profundas marcas na vida do indivíduo.É o desejo de gradualmente conduzir sua existência profana para sua existência como pessoa sagrada.O noviço passa por várias separações, cada separação significa uma morte da vida profana que levava antes.


Primeiramente o vodunsi deverá fazer vários juramentos de absoluto silêncio no que concerne ao que ele viu e ouviu ou verá ou ouvirá no convento.Qualquer vodunsi que não guardar seu juramento será considerado um traidor.Aquele que fracassar em sua iniciação em sua consagração e não souber como se comportar em ambiente profano,será considerado uma pessoa infiel e uma ameaça para a autoridade, não do homem,mas da divindade.Aquele que se portar com rebeldia ou com raiva será culpado e somente conseguirá amenizar sua situação após vários ritos de Fá (conjuração) Ewusla (purificação). Na pedagogia da iniciação,o neófito deveráprovar sua capacidade de resistência nos caminhos de sua formação que serão os caminhos de sua vida.


O treinamento contínuo,que é uma característica geral do sistema educacional Fon,é a expressão mais forte dentro do Hunkpame,disciplina e tenacidade são essências,punições corporais servem para desenvolver estas características.A este respeito pode ser dito:o corpo registra conhecimento.Cada vodunsi armazena em seu corpo o solo onde a iniciação foi semeada por meio de gestos,atitudes,palavras e,se necessário for,flagelação.As palavras e gestos dos professores deverão ser memorizados e reproduzidos exatamente pelos estudantes.


A pedagogia da iniciação envolve a transmissão de gestos e palavras,o que requer esforço de ambas as partes, iniciador e iniciando “mente, coração e o corpo trabalham juntos para construir o homem em seu total” Além de aprender a linguagem do Vodum,os cantos culturais e as danças,para satisfazer as necessidades materiais do convento e do Hunnon (sacerdote de Vodum)o jovem deverá dedicar-se a si mesmo,trabalhando no campo em períodos fixados,fazendo cestos,esteiras e roupas de ráfia, que serão vendidos no mercado local pelos serviçais do convento.Não há “vida fácil” no período de iniciação;a preguiça deverá ser odiada como se fosse uma praga;“kajekaji mo no do hwememelo” que quer dizer: “O neófito não tem descanso” O vodunsi, masculino ou feminino, deverá mostrar maturidade e seriedade com as coisas dareligião. Desta maneira eles contribuirão com o equilíbrio, ordem social,cultural e integridade religiosa de sua comunidade e seu povo. Antes de retornar ao mundo dos não iniciados, depois de sua consagração e sua iniciação,entre outras recomendações,eles deverão cultivar o senso de irmandade com todos os outrosvodunsi respeitar o Vodum e sentirem-se responsáveis pela terra de seus ancestrais.


A cerimônia de dar areia para o ex-kajekaji acontece em datas estabelecidas pelos Voduns. Podem demorar de 10 a 20 anos para acontecer. No período desta cerimônia, o Vodunon manda chamar todos os que foram iniciados no mesmo período e os coloca em retiro(xwe mi faz xo)algumas horas,depois o Vodunon coloca um pouco de terra nas mãos de cada iniciado e diz:“Danxome ko tonye die emi so do alome nu hwima nu e je ayi gbede

Vodum da Hennu (Família), do To (país) - Sociologia HENNU designa a família, a primeira unidade da organização social. É umacomunidade co-sanguínea,unida por um único ancestral,com as mesmas proibições
alimentares e morais, e que cultua Voduns e divindades aos quais é leal. TO é um agrupamento de várias famílias ou muitos Xwe (ruê - parentes próximos). Como na hennu, também existe uma hierarquia de proibições (tosu) prescrita pela prática sagrada(SIN),Vodum(s)protetor(s)e sacerdotes dedicados ao culto.
Aqui, mais que um nível familiar, a influência recíproca dá autoridade política e religiosa aos parentes.Sempre é o Vodum que prevalece na consagração de chefes habituais e geralmente os oráculos do Vodum também são irrevogáveis: devido ao medo que eles inspiram, provam um aumento mais fácil do controle do social.


Desta maneira, na sociedade tradicional, uma categoria social sem seus Voduns está frágil e destinada a desaparecer. Deve-se notar aqui que, à parte do ético ou do Vodum interético, a maioria dos Voduns são mais eficientes quando eles são de origem estrangeira, em outras palavras, importados.De fato, com estes
exemplos, o papel funcional do Vodum nos fará admitir uma dimensão instrumental do fenômeno.


Vodum e o Monoteísmo Identificando o Vodum como um fetichismo de idolatria ou um animismo supersticioso, alguns etimologistas chegaram à conclusão de que o culto ao Vodum é perfeitamente a ilustração do politeísmo. Isso talvez seja verdadeiro se tiver como referência o panteão dos deuses gregos. Mas, em qualquer analogia explorada e dentro de certas proporções, até mesmo um deus desconhecido, ao qual um templo em Atenas foi dedicado na epoca do Apóstolo Paulo, não tem o mesmo valor que o MAWU do sul do Benin, a quem nenhum culto é feito mesmo que chamado por todos os sacerdotes de todos os Voduns.


Na verdade o fenômeno do Vodum tem um único objetivo,embora com uma multiplicidade de expressões e manifestações na imaginação coletiva das pessoas. O culto feito para as divindades conhecidas como Vodum é um atalho ao Deus verdadeiro, cuja revelação ainda está faltando. Devido a isso, é para este Deus que todo culto é dirigido, toda adoração é feita a Ele. Assim,na mesma maneira é o grande Deus que criou todos os homens e todos estes Voduns, e deu ao homem estas divindades como intermediários.


Devemos notar que há alguma dificuldade para que seja aceito Jesus Cristo como o único mediador entre o homem e Deus, deve ser notado que os termos desta comparação estão desproporcionados: CRISTO está além dos modelos. Está claro que continuar falando de politeísmo no contexto Vodum está fortemente correto, ainda que pareça ser um monoteísmo poliedral, que indique um ativo relacionamento com o cosmo, natureza e o fenômeno da morte da existência humana dentro de um contraste com a relação direta com Deus. Ninguém pode dizer absolutamente que estamos na presença de um panteísta (Deus em todas as coisas), sendo um tanto PAN-IN-TOEIST (todas as coisas em Deus). Neste estágio não estamos distantes de retirar a convicção cristã de um único deus. Mas isso não é nada mais que uma apologia do Vodum, o qual não seria i ngênuo e enganador se o Vodum estiveste limitado a esta substância positiva que o caracteriza.

Abordagem Crítica da Funcionalidade do Vodum apesar de suas ramificações funcionais, que acabamos de ver, bem como seu valor ético que continuaremos a abordar,também tem o lado negativo. Abordaremos somente os dois principais.


Do Sagrado para a Violência  Vendo a prática do ponto moral e cultural (comportamental),poderia ser admitido que o culto Vodum seria um ditador do sagrado.


Geralmente, em religiões tradicionais, o sagrado é o que nos supera,é a quem nós confiamos nossas forças,e que assegura nossa felicidade. Sendo assim, entendemos que a soberania dos reinos não está longe do sagrado.No caso do Vodum, o sagrado assume uma dimensão de terror.Um certo Vodum poderábuscar
vinganças,outro poderá matar,ainda outro poderá requerer sacrifício humano.


O homem que conseguir servir ao Vodum, e ter o crédito popular por isto, poderá finalmente obter qualquer liberdade. Esquecem que estão falando em nome do sagrado. A violência torna-se normal, principalmente sobre aqueles que ousam perguntar o porquê do que acontece.


Esta violência manifesta-se dentro do convento Vodum, bem como nas suas adjacências. Até mesmo quando o culto Vodum é demonstrado como folclore ou comoatividade cultural,a violência está presente.
Face a esta violência, a liberdade humana inexiste, inclusive pelo fato do indivíduo ser forçado a entrar para o convento.


Com a vinda do cristianismo, a autoridade da igreja tinha que lutar com os chefes dos templos Voduns,em casos onde os catequizadores eram seqüestrados.Em comparação com estes casos de violência física, a dimensão misteriosa do culto Vodum era ainda mais assustadora.


Vodum e Feitiçaria Com a funcionalidade do Vodum descrita acima, poder-se-ia dizer simplesmente ser ele uma religião naturalista. Por mais que o poder do fenômeno esteja baseado nas duas realidades, Magia e Feitiçaria, são elas que dão força e crédito e viabilizam toda uma estrutura de hierarquia com a população. É um universo
complexo, onde nem todos podem entrar e sair. O pior é o que se faz de mal com este poder.


As duas palavras chaves são: BÔ (magia) e AZÉ (feitiçaria) O culto, em sua formalidade, deveria ser feito para a proteção contra todo o mal, mas quem conhece o veneno também conhece seu antídoto.
Não há nada mais perigoso neste mundo que o mau tomar forma de bom e se impor como um código de conduta.


É precisamente esta conivência entre o culto Vodum e o círculo esotérico que dificulta profundamente uma culturação, dado que no culto do Vodum os aspectos estão amplamente misturados com algumas culturas.
Distinguindo o Culto da Cultura na área cultural do sul do Benin, a profunda influência do fenômeno religioso sobre a estrutura social, econômica e política é inegável.


O tempo atual está solidamente enraizado no tempo dos ancestrais venerados; quase tudo que acontece é minuciosamente detalhado,explicado, entendido e vivido na comunidade de acordo com o desejo do Vodum.


A farmacopéia constitui a força maior dos conventos. Cada família, cada filho ou cada grande grupo sócio-geografico (To) tem seu Vodum especial que se impõe em todas as questões do cotidiano. A base da sabedoria é o medo do Vodum.Espera-se que a vida econômica receba ajuda do Vodum, em outras palavras, a política é marcada pela realidade do Vodum. Destas várias pesquisas coletadas na fonte,
conclui-se que a religião Vodum suplanta a cultura.


Tal dedução é muito mais teórica do que real. O Vodum não absorve tudo aquiloque é cultural. Existe uma forte tendência para que a religião substitua a cultura. O culto religioso pode reivindicar, por si próprio, atos significativos (gestos,palavras,atitudes...) pelos quais o homem mostra sua relação de comunhão com o transcendental. No Vodum este é um ato específico de devoção e religiosidade.

Os atos essenciais de culto na religião Vodum são sacrifícios (ação de graça, renúncias) oferendas e orações. Refeições comunitárias e ritos de purificações anuais completam a vasta forma do culto ritualístico.O impacto do culto na vida cultural vai além das proibições morais que emanam especificamente do Vodum. Esta distinção necessária entre o culto e a cultura é a condição de um diálogo sincero entre esta cultura e o cristianismo,de forma a começar um processo de culturação. Mas esta definição precisa não é de modo algum uma insinuação de que a religião como um todo é negativa e idólatra.


Se a verdade é para ser dita deve-se reconhecer que as deficiências e falhas do Vodun(encanto,magia,feitiçaria e fetichismo) exploram os sentidos úteis, na questão pelo poder.
Há uma substituição de símbolos que representam a natureza. Isto leva a atitudes supersticiosas e mágicas infusão difundida de maldade e terror na prática do Vodum. Esta verdade defende a perplexidade e ceticismo quando encarada com a moral que o Vodum passa aos seguidores.


No Hennu, o Ako (linhagem) e o To, o Vodum, constituem elementos da coesão social. Numa cerimônia habitual de cada grupo social de seu Vodum particular,promove-se grandes momentos de uma irmandade em ação. Os seguidores de um mesmo Vodum compartilham as mesmas proibições e prescrições legais.
As regras do Vodum estabelecem uma vida de solidariedade entre os indivíduos.Brigas entre os seguidores do mesmo Vodum são geralmente sanadas no convento ou na casa de um Vodunon em contrapartida,o Vodum não tolera nenhuma transgressão de suas proibições;o que mantém entre os adeptos sinceros do Vodum uma permanente cultura de fidelidade.


Podemos observar isso nos próprios africanos que se converteram ao cristianismo,pois eles não mais praticam o culto Vodum,mas continuam sendo fiéis aos tabus determinados pelo Vodum. Finalmente,deve-se notar que o Vodum não se opõe às regras da vida conhecidas como Gbesu (a vida do homem), ele aceita tudo que faz parte do cotidiano do homem. O Gbesu segura a destruição da vida e abomina a traição dos amigos. As características a serem focalizadas por issosão os valores de fraternidade,solidariedade, comunhão e fidelidade religiosa,sem o esquecimento das proibições sociais ditadas pelo Vodum.


CONCLUSÃO


Para concluir o comentário sobre a religião tradicional do Benin, devo dizer que não foi possível falar tudo. Ainda assim, apesar de todos os excessos ao seu descrédito,o Vodum na sua pureza permanece num solo fértil, apesar da presença dos evangelizadores que insistem em acabar com o culto Vodum,o que parece ser uma utopia, muito mais hoje do que foi no passado.


Na verdade, os dezessete anos de permanência dos policiais Marxistas-Leninistas no Benin, 1972/1989, com uma campanha anti-religião e caça às bruxas,contribuiu para a diminuição da importância e reduziu a influência do Vodum. Mas com a renovação democrática,iniciada em 1990, o Vodum ganhou vitalidade.
De 28 de maio a 01 de junho/1991um simpósio dos grandes líderes dos cultos Vodum aconteceu com o propósito de restaurar a legalidade do reconhecimento desta religião tradicional. Em 1992 outro grande festival internacional do Vodum foi organizado e aconteceu no Benin "Ouidah-1992"


O objetivo deste foi mostrar a renovação do culto. No mesmo ano ocorreu a visita do Papa João Paulo II ao Benin, onde houve um encontro com os líderes e muitos seguidores do Vodum, não como um sinal de diálogo, mas como a indicação de que a igreja ao menos reconhece que o culto Vodum tem seu lugar.
Esta combinação de circunstâncias significa que o Vodum no Benin é atualmente organizado e estruturado, por si mesmo, mais e mais como uma religião tradicional,há até O Dia Nacional do Vodum (10 de janeiro) Em suma,para alcançar os adeptos do Vodum, a igreja cristã não conseguirá mais usar a bíblia e a água benta,mas sobretudo precisará de diálogo.


Fim.