Candomblé Jeje, é o candomblé que cultua os Voduns do Reino de Dahomey levados para o Brasil pelos africanos escravizados em várias regiões da África Ocidental e África Central. Essas divindades são da rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Os vários grupos étnicos - como fon, ewe, fanti, ashanti, mina - ao chegarem no Brasil, eram chamados djedje (do yoruba ajeji, 'estrangeiro, estranho'), designação que os yoruba, no Daomé atribuíam aos povos vizinhos, Introduziram o seu culto em Salvador, Cachoeira e São Felix, na Bahia, em São Luís, no Maranhão, e, posteriormente, em vários outros estados do Brasil.
Assim, como os Nagôs ou yorubas, os Jejes língua ewe, língua fon, língua mina e os fanti ashantis, formam grupos sudaneses que englobam a África Ocidental hoje denominada de Nigéria,Gana, Benin e Togo. Sua entrada no Brasil ocorreu em meados do século XVII.
A palavra djedje (jeje) recebeu uma conotação pejorativa, como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” ("Olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil ou Nação Jeje.
- um templo para Dan; Kwé Cejá Hundé, mais conhecido como a Roça do Ventura ou Pó Zehen [pó zerrêm] de Jeje Mahi, em Cachoeira e São Felix;
- um templo para Heviossô Zoogodo Bogun Male Hundô Terreiro do Bogum, em Salvador;
- um templo para Ajunsun, que não se sabe por que não foi efetivamente criado. Esse é o segmento Jeje Mahi do povo Fon.
O templo de Ajunsun-Sakpata foi criado mais tarde pela africana Gaiaku Satu, em salvador e recebeu o nome mais conhecido por Cacunda de Yayá, que tem como sua representante a iyalorixá Maria de Lourdes Buana (Iyá Ominibu Kafae foobá), filha de Mãe Tança de Nanã (Jaoci), que era filha de Gaiaku Satu.A Cacunda de YáYá funcionou muitos anos no bairro da "Sussuarana" em Salvador, onde tiveram que se deslocar do lugar original pela construção da rodovia, onde foram indenizados pelo governo bahiano, e foram se instalar na parte mais alta do terreno, que dizem ser tão grande que não sabiam a dimensão exata, tinha mata, fontes, riachos, tudo no terreno da Cacunda.
Dona Lourdes, tem roça em Salvador, no Bairro Cabrito, e também em Nilópolis, no Rio de Janeiro, funcionando com toda a força, apesar de seus quase 80 anos, e marcando sua tradição no Kwe Foobá, com diversos descendentes do Jeje Savalu.
São os Jeje Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade de Savalu na África, segundo alguns historiadores, e foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos conquistadores do Daomé. O dialeto dos savalus também é o Fon.
Na Rua do Curuzu, no bairro da Liberdade, em Salvador, Amilton de Sogbo segue a luta pela preservação da tradição do Jeje Savalu, na condição de Doté, à frente do Kwe Vodun Zo (Templo do Vodun/Espírito do Fogo). Amilton é descendente espiritual da Cacunda de Yayá, onde teve o seu nascimento para zelar do Panteão Savaluno, pelas mãos de Jaoci Mãe Tança de Nanã.
No Maranhão encontramos a Casa das Minas, fundada por Maria Jesuína, segundo informação de Sergio Ferretti. É com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a Casa Fanti Ashanti fundada por Euclides Menezes Ferreira (Talabian). Esse é o segmento jeje Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana, que inicialmente teria ligações com o Sítio de Pai Adão, da Nação Nagô-Egbá.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o Terreiro do Kpodabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide São Martinho do Espírito Santo, também conhecida como Ontinha de Oiá (Oya Devodê), mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha, e esse axé foi herdado por Glorinha Toqüeno, com terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. O Kpodabá é a casa matriz , mas deixou ramificações, como o Kwesinfá fundado em Agostinho Porto, por Natalina de Aziri (Ezintoede) tendo como herdeira Helena de Bessem que transferiu o axé para Parque Paulista, em Duque de Caxias, hoje Filha de Santo de Glorinha Tokuenu. Tendo ramificações do Axé em Brasilia, fundado pelo sacerdote Rui D'Osaguian filho de Natalina de Aziri. Em Manaus/Amazonas o kwensinfá teve sua ramificação através do Babalorixá Edmilson D´Oxossi, filho do sacerdote Rui D´Osaguian.
Depois veio Antonio Pinto de Oliveira. Tata Fomotinho que fundou o Kwe Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba.
Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomotinho no começo de sua vida de santo no Rio de Janeiro.
Ele deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, Jorge de Iemanjá que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zézinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô.
Ressaltamos ainda, a importância do Jeje Mahi quanto ao Vodun Azunsun ou Ajunsun - Azônce Sakpatá. [Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá. Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele lhes dá inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro.]
Andréia Camargo conhecida como Andreia de Montecatini tinha sua roça em Campo Grande no Rio de Janeiro. Foi iniciada por Alberto de Oxumare - Secigenan, na época seu avô de santo pai de sua Yatemi Cleia de Oba. Anos mais tarde tornou-se filha de Mae Dalva T' Obaluae conhecida como dofonitinha, filha do Rei do Jeje no Brasil pai Zézinho da Boa Viagem. Mae Dalva tinha sua roça em Magalhaes Bastos. Anos após mãe Andréia fundou o asé Kwe Ceja Dan Gbèsèn na Italia na cidade de Montecatini motivo pelo qual vem sopranominada de Andréia de Montecatini.
Pai Vavá de Bessém era da nação Jeje Savalu de Cachoeira de São Félix iniciado aos 3 anos como era comum na época, quando jovem foi para Salvador onde teve um terreiro de candomblé e viveu por muitos anos, depois foi morar no Rio de Janeiro e por último em São Paulo onde morou até morrer.
Os Voduns no Jeje são basicamente os da Mitologia Ewe e Fon.
- Dangbé,O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
- Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon.
- Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação.
- Loko, É o primogênito dos voduns.dono da joia de mahi que e o rungbe
- Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
- Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
- Sakpatá, Vodun da varíola.
- Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
- Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.
- Agbê, Vodun dono dos mares.
- Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
- Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Dahomey.
- Aguê, Vodun que representa a terra firme.
- Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.
- Fa , Vodun da adivinhação e do destino.
- Aziri , vodun das águas doces.
- Possun , vodun do po e da terra seca representado pelo tigre.
- Bessem, É o dono das águas doces em Abomey e Ouidah, do qual é patrono.
- Sogbô, Vodun do trovão da família de Heviossô.
- Tobossi, Naê ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e salobres.
- Nanã, Vodun considera por todos os adeptos do Culto Vodun como a grande Mãe Universal.
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos "kpamahin", e alguns animais que são muito importantes no culto.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado.
Os Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas exceções, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura. Informação de Doté Dorivaldo.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa, longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetidos à uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Hierarquia
- Bokonon - Sacerdote do Vodun Fa equivalente ao Babalawo
- Doté Sacerdotes (homens) da família de Sogbô e Doné Sacerdotisas (mulheres) esse título é usado no Terreiro do Bogum onde também são usados os títulos Gaiaku e Mejitó.
- Noche - Sacerdotisas do Jeje-Mina
- Vodunsi - após 1 ano da iniciação.
- Kajekaji - iniciado que ainda não completou o ciclo de obrigações.
Curiosidades: Tasén = cerimonia equivalente ao bori dos yoruba.
Hundote (rundote) = O mesmo que abiasé dos yorubas, quando a mae é iniciada com o filho no ventre, esse filho se torna um hundote.
Ahehun (Arerrum) = o mesmo que yao.
Ahuretè- ahè ( arrurete, arre ) = termo usado para pessoas nao iniciadas, o mesmo que abian dos yoruba.
Adla' = o mesmo que ebo' dos yoruba.
Azan = o mesmo que mariow dos yorubas. agrala = o mesmo que pade dos yoruba. ta', ita' = o mesmo que ori dos yoruba. hundeme= ronco mlam mlam = rezas dope= o mesmo que pao' aban= prato abaman= caneca abieé = o mesmo que ago, perdao odohozan ( odorozan)= o mesmo que xire dos yoruba.
Durozan= despachar
Referências
- Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Candombl%C3%A9_Jeje
- CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de cultos afro-brasileiros.
- "Mana Jeje: repensando nações e transnacionalismo", por J. Lorand Matory.