quinta-feira, 29 de maio de 2014

A fogueira de Xangô ... o orixá do fogo


A CASA EM FESTA - OS SÚDITOS  - 1ª PARTE

O sol se põe, e começa a escurecer na casa de Obaladô . A casa de Xangô , especialmente iluminada nestedia, aguardava o início da festa. As árvores do terreiro foram plantadas por Obaladô a mais de 21 anos,quando recebera de Xangô , seu orixá, a ordem de abrir uma casa – de – santo.Lenta e calmamente, interrompe suas divagações, dirigindo-se para frente da casa – de – Airá sentando-se em um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira, armada be cedo e jácontendo os axés próprios do orixá do fogo.A um aceno seu , uma filha de Oiá traz o seu Adjarim Obaladô , com delicadeza, apanha a sineta que, aoser vibrada, anuncia o início de uma reza.As esteiras são estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a cabeça nochão, em direção a Obaladô. Sua voz faz-se ouvir, então, salmodiando cada verso como um lamento, umcanto em solo é ouvido e que se repetirá por três vezes. È um lento responsório, em que o oficiante cantaprimeiro, acompanhado em um segundo momento , pelos presentes.

Oba kawòó o
Ó Rei, meus cumprimentos.
Oba kawòó o
Ó Rei, meus cumprimentos.
O, o, Kabíyèsílè
Sua majestade, o Rei mandou construir uma casa.
Oba ni kóléOba séré
O Rei do xere, o Rei prometeu e traz boa sorte,
Oba njéje
o dono do pilão.
Se´re aládóBongbose O ( wo ) bitiko
Bamboxé abidikô, meus cumprimentos ( ao )
Osé Kawòó
Oxé, sua majestade.
O, o, Kábíyèsilé
Meus cumprimentos.

O som do Adjarim marca o início do paó, palmas compassadas que a anunciam uma nova reza para oorixá do fogo....... o cântico continua:

Ó níìka, ó Níìka
Ele é cruel, ele é cruel(o trovão ).
 Áwè jè atètú
Eu jejuo para o punidor.
Badé, badé ìyá Tèmi 
Badé, badé, meu espírito sofre

Ó níìka, ó níìka árá ìn álàde o
Ele é cruel, o trovão é cruel sim. O dono da coroa é cruel.
Ó níìka àwe jé atètu
Ele é cruel, ele é cruel(o trovão )Eu jejuo para o punidor.
 Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó  Ma sè
Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
 Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó  Ma sè
Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
Yèyé, kèrè-kèrè lo ni joko ayagba
O pássaro vagarosamente senta e chora para as grandes mães.
 Ale odó ma sè
Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).

A reza diz que o trovão é cruel, implorando a Badé... "ele é a voz estrepitosa e aterrorizante do Trovão, é aforça que deflagra a carga irregular dos raios". Os nagôs dizem ser Badé é um vodum , isto é, de origem  jêje , e que os jêjes do maranhão, dizem que é um orixá nagô e que, quando ele se apresenta na Casa –das –Minas , fala por sinais para não revelar os segredos dos nagôs.Os pássaros lembram as feiticeiras que ameaçam os seres humanos, é necessário implorar as grandesmães senhora dos pássaros, para que não flagelem os homens.
Airá também é mencionado no texto sagrado, recolhido entre os que se originam do axé de IÁ Nasô . Este orixá ocupa um lugar especial nesta comunidade, estando ligado a primeira no nominação... Axé AiráIntilé. Novamente o Adjarim  anuncia que o Rei Xangô continuará sendo louvado, e uma nova reza começa:

Oba ìrú l´òkò
O Rei lançou uma pedra.
Oba ìrú l´òkò
O Rei lançou uma pedra.
Ìyámasse kò wà
Iyámasse cavou ao pé de uma grande
Ìrà oje
árvore e encontrou.
 Aganju ko má nje lekan
Aganju vai brilhar, então , mais uma vez como trovão.
 Árá l´okò láàyá
Lançou uma pedra com força (coragem)
Tóbi òrìsà,
O Grande Orixá do orum (terra dos ancestrais) vigia.
Oba só òrun
O Rei dos trovões, está no pé
 Árá oba oje
de uma grande árvore ( pedra de raio )

A oração saúda o Rei dos trovões, como sendo Aganju, o Alafin de Oió, filho deAjaká e sobrinho deXangô Iamassê considerada sua mãe é quem revela aos mortais, que a pedra de raio, símbolo do seupoder, é encontrada ao pé de uma grande árvore. O brilho dos raios e o barulho dos trovões lembram que Aganju vigia do orum , terra dos ancestrais, seus súditos fiéis.O Adjarim  marca um novo momento,
Obaladô levanta-se e se dirige a casa de Xangô pousando no chãoda mesma uma gamela cheia de Amalá , a comida predileta deste orixá.

Béè ni je a! pá bo
Sim, comer(amalá)dentro(de uma gamela) com satisfação, de uma só vez,adorando.
Je bí o o ni a! pá bo
Comer, nascer dele, dentro(de uma gamela)com satisfação, de uma só vez,adorando.
E ni pá léèrín àdá bá lài 
Cortado muitas vezes(o quiabo),sempre com cutelo, dentro da gamela
Ìmó wá mònà mòwé
Procurar conhecimento,
Kó je nà mímò àsé
certamente torna inteligente.
Kó je nà mímò àsé
A comida (amalá) faz adquirir 
Kó je nà mímò àsé
e aumenta o conhecimento do Axé.

A reza indica que, ao se desfrutar da comida sagrada, descobre-se o axé, isto é, a força, que dáconhecimento e sabedoria aos que delas usufruem.Nos últimos acordes da reza, os ogans de Xangô pousam os xeres e acendem a fogueira. Varias vozes gritam.

Kawòó Kàbíyèsilè !!! Kawòó Kàbíyèsilè !!! 
Meus cumprimentos à sua majestade !!!

Alguns minutos decorrem entre as imagens fortes do fogo e o início do xiré do Rei de Oió , no barracão. Oritmo da Hamunha  convida a todos, os da casa e os convidados a iniciarem a roda de  Xangô .Começa o xirê, louvando Ogum , em seguida, Oxossi, Obaluaiê, Ossaim , até que, repentinamente, ouve-se o som do batá  ritmo próprio de Xangô.

Àwa dúpé ó oba dodé
Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.
A dúpé ó oba dodé
Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.
A dupé ni mòn oba e kú alé A dupé ni mòn oba e kú alé
Nós agradecemos por conhecer o Rei, boa noite a vossa majestade.
Ó wá , wá nilè
Ele veio, está na terra.
A dupé ni mòn oba e kú ale
Nós agradecemos por conhecer o Rei

Os primeiros cânticos dirigem-se ao Rei, a Xangô . Sua presença é louvada e a sua saga mítica serácontava através do canto e da dança. Não será somente o seu aspecto guerreiro que será homenageado,outros serão lembrados.... O Xangô justiceiro será um deles.

CONTINUA














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