sábado, 16 de outubro de 2010

Fatumbi: O destino de Verger - Continuação 4


imagens capturadas são belas não porque a fotografia as revela assim, mas porque a Beleza se expressa nos
seres de diferentes formas.
“Quando fotografo, não sou eu quem está fotografando. É alguma coisa dentro de mim que aperta o
disparador. Não sou eu quem decide. Eu não tento centrar a imagem de um jeito bonito. O momento
de clicar é algo que parece evidente através do visor. Então o clique deixa a foto em suspenso. Ela
só vai existir muito tempo depois, na câmara escura. É quando ela realmente nasce” (Verger, 1993).
Para ele, fotografar é um ato do espírito e não da razão. É um processo que não se explica e faz
aflorar dimensões do inconsciente que, diz, nem a psicanálise seria capaz de trazer à tona.
“Quando se faz uma fotografia o papel do inconsciente toma grande parte e isso não tem,
evidentemente, nada a ver com a razão. Este fato advém de [que] quando se faz uma fotografia é
freqüentemente sem saber o porquê no momento” (Verger, 1991a: 169).
Fotografar, para Verger é, ainda, uma fabricação da memória. As fotografias, em sua opinião,
produzem uma espécie de ressurreição ao oferecer um ponto de observação preciso, capaz de servir de
apoio para as cogitações sobre como as coisas aconteceram naquela forma. É significativo que, enquanto
Verger cortava mil e quinhentos milímetros da fita métrica que representavam dias de sua vida e os
espalhava pelo mundo, abandonando-se por toda parte, realizasse sessenta e duas mil fotografias ao longo
de sua vida, cada uma delas multiplicando suas ressurreições por meio da reconstrução de sua memória. E
que, tendo um dia julgado a velhice inaceitável, tenha vivido até os 93 anos de idade.
Verger faz do ato de fotografar uma forma de estar entre as pessoas, falar delas e com elas, e ao
mesmo tempo tornar-se quase invisível, para que o outro surgisse em toda a sua espontaneidade e
singularidade.
“É preciso ser antes espectador que ator; acredito que um bom fotógrafo é um voyeur sublimado. É
preciso viver com as pessoas antes de fotografá-las, para que elas estejam habituadas com sua
presença. Não é necessário procurar compreendê-las, mas senti-las, tornar-se um simples
observador” (Verger, 1991a: 167).
Fotografar e viajar permitiram, portanto, a Verger, descobrir a si mesmo e ao outro por meio da
ampliação de seu olhar, renascendo através dos múltiplos olhares que se voltaram para ele.

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